Checkmate escrita por Zev


Capítulo 6
Role-playing game


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores ^^
De novo, tenho que pedir desculpas pela demora para postar.
Espero que gostem do capítulo!



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Entrei na caminhonete que já conhecia bem antes do sol dar seu primeiro sinal no horizonte. Daquela vez, sentei-me no banco da frente, não na caçamba, como qualquer pessoa normal faria. Me disseram que seria levada a capital do Cazaquistão, porque era o único local com embaixada americana, que estava a 12 horas de carro de onde estava, seria uma longa viagem.

Chegaríamos à cidade quando já estivesse tarde, por volta das duas ou três. Não me fora oferecido sequer um pedaço de pão, nem água. Aquelas pessoas pareciam contentes por se livrar de mim. O jovem que conhecera no dia anterior sentou-se ao volante, e sua irmã, que também iria para a cidade, por algum motivo que eu não soube, sentou-se atrás.

Tudo o que vira durante horas fora mato, terra e o brilho fortíssimo do sol. Os vidros abertos, para que o calor intenso se amansasse faziam meus cabelos voarem por todos os cantos, incomodando minha visão. Experimentei torcê-los e colocá-los dentro da camisa. Eram curtos demais para permanecerem ali, e a sensação era desagradável, mas tudo o que podia fazer. O radio sintonizado em notícias russas que não me diziam respeito algum, já que eu nada compreendia, estava me dando nos nervos. Não adiantaria pedir que desligasse, ele agia como se não soubesse que eu estava ao seu lado, e ela não falava inglês, na realidade também parecia não ter nenhum interesse em tentar se comunicar comigo.

Acabei dormindo pelo resto do caminho, preferindo descansar a permanecer irritando-me por causa do desprezo ao qual me submetiam.

Faltavam ainda dois quilômetros de estrada, e o fluxo de carros aumentara gradativamente, senti uma virada brusca no veiculo e ele saindo da rota, não sendo, por sorte, atingido por outro carro, e sendo freado pela areia. Eu tinha acabado de acordar do meu cochilo.

A moça estava tendo alguma espécie de convulsão, e o outro tentava socorrê-la, preocupado. Nervoso, tentava pegar sinal no telefone, ligar para algum hospital, ambulância, algo.

Tentei fazê-la acordar, e chequei sua respiração. Era tarde. Sem ter como pedir ajuda, e descontrolada pelo choque, eu era inútil. Seria impossível consolar o rapaz. Enfurecido, mandou-me embora, aconselhando-me a seguir reto até a entrada da cidade, e explicou brevemente o que fazer depois disso. Então, mandou-me sumir dali. Pelo menos não pensou que eu fosse à culpada. Eu não era.

Sentia-me um ser estúpido, incapaz, completamente tonto. Acredito que estar sem as roupas de baixo colaborava para tais sensações. Não sabia quais os níveis de segurança daquele país, mas se fosse um quinto do que imaginava, jamais conseguiria um passaporte americano. Não tinha nenhuma informação que pudesse apresentar para conseguir um. Nenhum nome, nenhum contato, nada. A única arma que possuía era meu incontestável sotaque estadunidense, isso poderia se tivesse sorte, ajudar.

Andei e andei e andei. Minhas pernas sofreram, e debaixo daquele sol, sabia que poderia ter desmaiado a qualquer momento. Eu era mais forte do que pensava afinal, porque por alguma razão, tinha a capacidade de correr, andar e sobreviver sob condições anormais. Isso não serviu de consolo. Continuava só, sem rumo e sem passado.

Depois de entrar na cidade, ficou mais fácil a caminhada e as direções dadas eram coerentes e certas.

Com o nervosismo ficando pela primeira vez incontrolável, já em frente à embaixada americana, precisei de minutos para respirar antes de seguir meu caminho, aquilo requisitaria uma frieza que talvez eu não tivesse... Não. Não tinha jeito de escapar dessa... Eu não tinha mesmo para onde ir.

Ocorreu-me um pensamento insensato de que poderia contar diretamente minha situação e, assumindo que eu de fato era dos Estados Unidos, poderia facilitar tudo o que acontecesse a seguir. Mas pensando melhor, eu não tinha tanta certeza de que me levariam a serio. Eu estava num estado de desgaste e confusão, tão infeliz, pensar ainda não era coisa fácil.

Todos ali falavam inglês perfeitamente, me ofereceram café e biscoitos, as primeiras coisas que eu ingerira aquele dia, mas apesar da cordialidade, não conseguia me sentir a vontade de modo algum, pelo contrario, me sentia ainda mais sob pressão, como se a todo o momento, alguém fosse gritar “segurem essa pessoa, ela é perigosa!”, me prendessem e eu nunca saísse de lá. Era um pensamento possível, que só me prejudicaria, mas não conseguia afastá-lo.

Aleguei que minha carteira havia sido roubada. Perguntaram-me quando, que horas e aonde. Começara então o jogo de perguntas e respostas que fazia com que me sentisse em uma sala vazia, que a cada momento encolhia mais, deixando minhas possibilidades mais restritas. Respondi que naquela manhã, próxima a uma das avenidas principais da cidade. Por sorte, lembrava do nome de algumas grandes avenidas por onde passara. Desde então, eu disse, buscava ajuda, na policia e então ali, na embaixada.

Perguntaram o que eu fazia no Cazaquistão, se eu estava com alguém ou se tinha família ali, respondi que estava só, a turismo. Afirmaram que eu devia ter tomado mais cuidado, batedores de carteira estavam por todos os lugares, e me repreenderam por transitar portando meu passaporte e documentos originais.

Foi então que se deram conta de que não haviam perguntado meu nome, nem qual o meu hotel nem se alguém naquele país poderia confirmar quem eu era. Queriam saber meu nome e quando eu chegara ao Cazaquistão, assim poderiam confirmar minha identidade e recriar meus documentos. Aquele então, senti, era o fim da linha.

Precisava de tempo para decidir o que fazer. Comecei a chorar, forjando um surto histérico, o roubo fora horrível, fora humilhante e eu queria meu dinheiro de volta. Ninguém sabia o horror pela qual eu havia passado naquelas ultimas horas, queria que alguém agisse logo, eu gritava. Os cortes e o suor em meu rosto pareciam apenas dar mais veracidade ao show. Sem duvida me julgavam uma pessoa completamente insana por ter reagido tão bravamente.

Tentaram me acalmar durante cinco longos minutos. Eu precisaria contar a verdade. Se ao menos soubesse meu nome...

– Senhorita Nicole... Se acalme, por favor, me parece que hoje é o seu dia de sorte. – Um homem uniformizado entrou no escritório onde eu estava, depositou uma carteira e um passaporte sobre a mesa e afastou-se.

Abri a carteira de couro preta, com fivela dourada e, como se aquilo realmente me pertencesse, abri para ver o que havia dentro dela. Analisei-a rapidamente, com as mãos tremendo sem parar. Abri o cartão de identidade do passaporte.

Nicole Blatt Turner... 1990... 23 anos... A foto... Se parecia tanto comigo... Exceto pelos detalhes que a maquiagem cobria e um nariz menos torto, além do cabelo comprido, talvez uns quilos a mais, ninguém jamais notaria tão sutis diferenças... O tom loiro do cabelo, o formato dos olhos...

– Meus... Meus documentos! Como foi que... – solucei – Como encontraram? Lembro-me de ter alguns dólares nessa carteira... Mas agora não há nenhum.

– Um grupo de jovens passou por aqui e deixou. Hoje, por volta das duas da tarde. Você é uma mulher de sorte, agradeça por seus documentos estarem ai, ao invés de reclamar a falta de alguns dólares. – todos pareciam satisfeitos pelo fim do escândalo, e ansiosos para me ver ir embora, o sermão, contudo, continuou – Não se sai por ai com os documentos, a senhora deveria saber disso. Ora essa. Passaportes originais largados por ai.

Certamente havia alguma coisa muito errada com aqueles documentos. Ali tinha ainda cartões e uma passagem de avião para os Estados Unidos, Nova York. Todas em meu suposto nome. A data do vôo era para as 21h daquele dia.

Devia ser tudo armação...

...Mas eu precisava daqueles documentos para chegar onde queria.

Planejei me desvincular daquilo tudo assim que chegasse à América, e isso incluía os cartões e dinheiro. Não desejava recorrer a essas farsas que certamente seriam usadas contra mim nem para chegar a América, contudo não imaginava nenhuma outra saída. Permanecer, ainda que tão poucas horas naquele país, me dava uma insegurança desgraçada.

Um táxi que a própria embaixada oferecera para me guiar até o hotel, acabou por me levar ao aeroporto. Eu não tinha malas, mas o motorista não fez perguntas.

Meu vôo seria em poucas horas, e não seria uma viagem tranquila, pois precisaria ainda descer em Hong Kong, na China e pegar outro avião. Por que eu sentia sono todo o tempo, em todo lugar? Tinham me dopado? Ou fora o cansaço daquele dia?

A viagem de Astana a Hong Kong foi pacifica. Eu não tive nenhuma restrição quanto ao passaporte, ou a passagem, e o vôo correu bem. Me serviram comida, e eu finalmente recuperei um pouco de energia.

Em Hong Kong me disseram que precisaria pegar minhas malas e fazer novamente check–inn porque todos os passageiros trocariam de avião. Vi algumas pessoas puxando suas bagagens coloridas da esteira rolante. Eu não tinha mala nenhuma, nem coisa alguma. Só o que tinha era um nome falso. “Olá, eu sou Nicole.” Treinei olhando meu reflexo no espelho do banheiro.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Assim que possível, postarei o próximo.
Até mais!
;)



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