Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 16
Parte 16


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores? Quem tá lendo a fic? Quase nada de comentários :/
A seguir mais mistérios e Harry cada vez mais próximo da verdade. Todas as suposições imagináveis para o grande mistério são válidas nos comentários.

Abraços!



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No chalé havia uma cozinha com fogão à lenha, uma saleta dotada de uma lareira de pedra, banheiro e quarto. A temperatura caia drasticamente ao anoitecer, portanto as achas ficavam aparadas num cavalete de ferro, prontas para alimentar o fogo aquecedor dentro da lareira.

Ao norte, sul, leste e oeste estendiam-se plantações e mais plantações de uva. O local fora construído no alto do terreno dispondo propositalmente uma linda vista a quem olhasse pela janela. Gina olhava por essa janela. Estava no nada, sem avistar construções trouxas ou bruxas para defini-la num tempo e espaço. Um prazer purificante e magnífico. Sua alma nunca se encontrara tão leve.

Usando um vestido solto, sandálias brancas e um chapéu para protegê-la do sol, saiu do chalé caminhando por uma ruela da videira. O ventinho bom que tocou os cabelos dizia poesias misteriosas acerca de Roma. Acerca de Emmanuel.

Com muito cuidado, ela identificou um cacho maduro da fruta, como ele havia lhe ensinado, e retirou-o dos arames. Levou a colheita para dentro da casa e lavou-a delicadamente. Arainhas de fruto escapuliram entre seus dedos, fugindo da limpeza inoportuna. Sem demora ela capturou uma uva e comeu saboreando seu suco.

Recordou o dia em que ele lhe instruíra sobre o cultivo. Era seu primeiro dia como hóspede ali, assim o constrangimento persistia. Mas Emmanuel deixou-a a vontade desde aquele momento. Enquanto Gina esperava na sala, o bruxo desapareceu de vista e resurgiu do único quarto do chalé trajando calças de zuarte, uma camisa surrada, suspensórios e uma boina marrom. O italiano elegante em capas de seda reluzentes o havia abandonado, ficando no lugar um simplório agricultor de aparência trouxa. Ele parecia muito familiarizado na vestimenta. Seu olhar, entretanto, jamais perdia a pompa confiante.

— Vou lhe ensinar desde já como se escolher as uvas.

Tímida, porém determinada, Gina o seguiu pela videira acompanhando atentamente o curso sobre cultivo e colheita de suas uvas. O ofício parecia enraizado no italiano por anos de prática. E ele era tão novo, e sabia tanto.

Foi uma tarde calma e exclusiva. Mesmo com todas as ocupações profissionais dele, as horas agendadas para eles parecia infinita. Fecharam o dia se empanturrando de cachos de uva e conversando sobre a vida dela.

Sem se dar conta, a ruiva havia lhe contado todas as suas amarguras no casamento de um jeito duro, sentencioso. Ele foi um bom ouvinte, atirando um sorriso otimista quando ela deu seu desfecho.

— Vocês se entenderão.

— E se não nos entendermos?

— Então outro caminho melhor pode surgir.

E assim Emmanuel Battitori lhe cedeu aquele lugarzinho perdido em incontáveis terras em Roma para que Gina pudesse pensar sobre sua vida.

A ideia fora dela, ou de Mel, sua empresária. Para ser honesta, a ruiva não lembrava direito de onde surgira a iniciativa, mas o poderoso bruxo que havia comprado seu contrato de artilheira mostrou-se imensamente compassivo em escondê-la de todos. Pareciam amigos de longa data e sem nenhum segredo, quando conversavam todas as tardes, que era o momento que Emmanuel aparatava para visitá-la livrando-lhe da solidão.

O relógio da sala marcou quatro horas da tarde. Como de costume ele aparatou diante do chalé.

Um vistoso rapaz de cabelos castanhos e capa ondulante entrou educadamente na atual morada dela.

— Ginevra. — saudou-a.

— Já disse que não gosto do nome, Emmanuel.

— Eu acho charmoso.

Ele sentou-se diante de uma mesinha na sala, a ruiva o acompanhou ainda comendo seu cacho de uvas.

— Aceita? Está uma delícia.

— Claro.

— Tem tido notícia do Harry? — perguntou pausadamente, tentando não parecer afobada.

O italiano lhe sorriu calmamente.

— Parece que o ministério inglês está ocupando seus aurores com um caso de roubo de trestálios. Não sei dele.

— Nem uma pergunta? Ele não foi atrás de você?

— Porque isso importa se sua intenção é se afastar? Deixe isso distante de sua vida, pelo menos por enquanto. Estou te achando mais radiante do que nunca sem esse peso chamado Harry Potter.

Ela corou.

— Mas ele é meu marido. E tem meus pais. Talvez...

— Eu já avisei seus pais. Sua empresária avisou, aliás. Eles concordaram em ficar em sigilo pelo tempo que você precisar.

— Como ela conseguiu convencer Molly Weasley? — questionou-o com incredulidade.

— Sua mãe é mais maleável do que imagina. Todos eles. Exceto Potter, por isso é importante esse espaço só seu agora.

— Tem certeza que a Melanie não vai contar onde estou?

— Absoluta. Ela lhe prometeu sigilo, não prometeu? Então confie na amizade dela.

Gina sentiu uma leve dor no alto da cabeça, que repentinamente passou. Emmanuel capturou outra uva e degustou.

— Está ficando habilidosa na seleção dos cachos.

Gina fitou-a condescendente.

— Porque alguém tão cavalheiro quanto você não tem ninguém?

— Ninguém nunca me quis.

— Impossível.

O italiano salpicou-a de um sedutor olhar.

— Sou mais complicado do que pareço.

— É rico, ocupado e importante. — ela julgou.

— Devoto, apaixonado e fervoroso, na verdade. — corrigiu-a.

— Isso lá é defeito que faça uma mulher se afastar?

Sua risada foi de uma sonoridade luxuriante.

— Diga isso às damas que já passaram pela minha vida. Poucos estão dispostos a dividir coisas boas com a gente, por mais que lhe mostremos o quão boa essas coisas são.

— Está misterioso outra vez. — provocou-o.

Cada dia a mais perto de Emmanuel, Gina se descobria feminina e desejável. Aquele bruxo, aquele homem, exalava um poder erógeno sobre as lacunas dela.

— Quer conhecer um dos meus segredos?

No lugar de sabiamente recuar, ela instigou:

— Aposto que tem muitos, Emmanuel. Seu dinheiro o permite ter alguns insondáveis, não?

— Nada disso, Gina. Vamos esquecer do dinheiro e dos meus bens. Nem tudo que um ser humano possui é palpável e material. Sei que sabe disso.

— Qual é o segredo? — mordeu o lábio.

Ele aproximou-se dela e seu hálito adocicado invadiu-a. Se não fosse casada... Se não fosse por Harry... Quem sabe não se perderia agora no ser altivo dele.

— Não vou te contar. Vou te mostrar.

— Agora?

— Imediatamente.

***

A inesperada aparatação deixou Gina completamente nauseada. Sem perceber onde estava, fincou as mãos no joelho e abaixou a cabeça para o enjoou passar. Só então abriu os olhos, ficando confusa. Não havia luz.

E não era só isso. O clima tépido e poético da tarde com as videiras fora substituído por um frio bolorento e maligno.

— Lumus. — a varinha de Emmanuel acendeu perfurando a escuridão.

O bruxo postava-se magnanimamente ereto sobre sua aura de confiança mais reluzente do que nunca.

— Para onde aparatamos? — a pergunta dela ecoou distante dando a Gina a intimidante sensação de profundidade.

— Para o meu segredo. — ele disse soturnamente.

A artilheira se encolheu perto dele, o único calor vivo que parecia existir ali. Deixou sua própria varinha no chalé e via-se estranhamente exposta numa espécie de vazio gélido.

— É sério, Emmanuel. Que lugar é esse?

— Me siga. Vou lhe mostrar.

Ela não arredou o pé, forçando a vista para definir os locais que a luz fraca da varinha penetrava. Reconheceu apenas paredes de tijolos muito gastos.

— Isso não fica perto do chalé. É o seu castelo?

— Eu ia lhe pedir para apenas me seguir. — os olhos dele ambicionavam no breu — Mas como está tão desconfiada vou adiantar alguma coisa.

— Desculpe, não quis desconfiar de você.

— Aqui é uma catacumba. Se lembra da nossa conversa, no nosso primeiro encontro de meses atrás?

— Os tumultos dos trouxas? — ela espantou-se. Não era de se intimidar com pouco, porém seu senso de perigo estava alertando-a loucamente.

— Não é preciso temer.

— Emmanuel... Que tipo de segredo alguém como você pode guardar aqui?

— Um do tipo glorioso, do qual há muito me via ansioso em partilhar com você. Venha, Gina. Não é preciso ter medo. Sou um cavalheiro, jamais te farei mal.

Começaram a caminhar. Ela enlaçou o braço no dele para se guiar no facho de Lumus.

***

Harry trancou-se em seu escritório no ministério, porque sentia náuseas e repulsa. Náuseas pelo perigo evidente ao qual Gina provavelmente estava vivendo e repulsa por teorizar que supostamente ela pudesse vir a estar compactuando com isso.

A descrição do velho arquivista não poderia ser mais clara:

“Os bruxos que dominavam essa técnica escolhiam muito bem suas vítimas, porque elas precisavam ter grande inclinação para a ideia que eles pretendiam implantar. Só assim funcionava verdadeiramente.”

Então sua ruiva certamente pensava em não ser mais sua. Só assim Harry poderia perdê-la. Somente deste modo apenas que Emmanuel conseguiria entrar na mente dela como uma nuvenzinha enegrecida e converter todo o ressentimento que o próprio Harry causara nela em descaso, e depois abandono.

Entretanto o campo das suposições era tido como terreno traiçoeiro, onde os “e se” e os “então só pode ser” enveredavam mentes confusas a se desestimular. Harry Potter não era assim. Não depois de ter perdido uma família na sua essência trágica. Homens como ele lutavam mais pela verdade e pela sua família do que os demais, porque já haviam sido avariados uma vez. Ou mais. E Gina era sua família no momento.

A porta do escritório bateu suave e insistentemente ao qual ele abriu. Um memorando voou delicadamente para sua mesa. Em seu pálido torpor de abandono, o auror abriu o documento que lhe avisava para buscar uma correspondência em seu nome na recepção do ministério. Quando chegou para pegar sua encomenda foi apresentado a um extenso malote de pergaminhos, diários, livros e anotações. Retornou carregando o pacote e sentindo outra vibração lhe chacoalhar: O malote vinha endereçado pelo Sr. Monvitedelle. O atencioso velho fora eficiente em reunir os pertences da irmã relacionados com seus estranhos estudos antes do desaparecimento, assim como Harry gentilmente pedira.

Mais animado, ele jogou-se em sua cadeira e dedicou as próximas horas a extensas investigações sobre aquele material.

Havia dois livros puídos e amarelados que cobriam o tema sobre hereditariedade bruxa. Lexia, até onde as pesquisas do auror foram, era bruxa legítima dos dois lados da família.

Um maço de pergaminhos amarrotados trazia muitas anotações numa caligrafia inclinada e frenética traçando fluxogramas sobre consanguinidade e genética. Harry teve uma recordação de sua tia Petúnia tentando fazer Duda entender a relação entre cruzamentos de ervilhas e um tal cientista trouxa chamado Mendel. Outro maço de pergaminhos com diversos rabiscos sobre poções mágicas. Ele identificou alguns ingredientes da poção polissuco ali.

— Lexia... O que você queria? O que estava fazendo? — murmurou para si.

Sem esperar maiores resultados, ele abriu uma espécie de caderno de anotações e deparou-se com um desenho que enrijeceu seus músculos: um corpo feminino multilado nos braços. Uma grafia grotesca de um fragmento de seu sonho noites atrás.

O que aquelas peças avulsas tinham em comum? Onde estavam os encaixes do quebra-cabeça? Ele precisava ver!

A porta abriu-se sem uma batida previu o assustando de seus sinistros devaneios. Hermione e Rony entravam com ares de preocupação.

— Harry, você está bem? — perguntou a amiga.

Ele voltou a concentrar-se nos papéis.

— Estou fazendo uma pesquisa nos documentos da antiga jogadora de Batittori que desapareceu há alguns anos.

— Ei, Harry, aqueles documentos estão ultrapassados. O ministério precisa rever aqueles arquivos e investigar melhor muita coisa dali... — Hermione continuou.

O comentário o fez deduzir que Rony se encarregara de um rápido relatório acerca do Imperius funcionar apenas se Gina estivesse cogitando um afastamento dele. Nada mais explicava a piedade nos olhos da moça.

— No momento minha preocupação é com o paradeiro dela mesmo. — disse seriamente.

Rony e ela se entreolharam receosos. Hermione, como sempre, era muito insistente.

— Posso ajudar em algo? — tomou alguns papéis para si e pôs a folheá-los.

— Só não entendo o que são todos esses recortes trouxas. — rendeu-se a ajuda dela, lhe mostrando páginas de revistas com fotos intactas de corredores sombrios e remotos.

— Hum... Interessante. — ela pegou das mãos dele para ver melhor.

O ruivo ficou encostado na parede, brincando com um botão de sua capa, mas exalando tensão.

— São fotos de catacumbas.

— Dá pra perceber, mas porque Lexia queria saber disso? Será que estava planejando esconder corpos? De quem? Pra quem?

— Você sabe o que eram as catacumbas, não é Harry? — Hermione olhou-o com seu desdém de cê-dê-efe.

— Dá um tempo, tá legal. Não me venha com aulas de história trouxas sobre pagãos e cristãos. — resmungou carrancudo.

— Claro que não! As catacumbas existiam muito antes dos trouxas cristãos chegarem lá. Eles quiseram levar o mérito pelos túneis para não dar o braço a torcer que, na cabeça deles, haviam sido outros povos pagãos que construíram aquilo. Na verdade os bruxos foram os verdadeiros construtores, há muitos e muitos séculos antes. Costumavam usar os túneis para guardar magias incandescentes, numa época em que qualquer nova mágica era um olho sadio em terra de cego.

— MAGIA INCANDESCENTE! — exclamaram Harry e Rony extasiados.

A magia incandescente era um feitiço em sua forma mais pura, a mais primitiva. Após a criação de uma nova mágica uma bola expurgando luminescência ficava turgida do feitiço bruto esperando as varinhas virem absorvê-la. Fazia também muitos séculos que um feitiço novo não era criado, então a “Magia Incandescente” tornara-se apenas relatos literários.

— Porque estão assim? No que pensaram? — questionou a bruxa com grande perplexidade.

— Mione, e se o Imperius e magia incandescente tiver haver com isso? — Rony comentou esperançoso com a possibilidade, agarrando-a pelos ombros e lhe beijando a bochecha com força.

— Aí. — ela queixou-se com a doce brutalidade.

— Mas isso ainda não resolve o principal: Se a investigação puder nos levar para catacumbas, onde investigar?

— É como procurar uma agulha no palheiro. — Hermione alertou — Só na Europa existem dezenas delas, e com quilômetros de extensão.

— Já sei! Existem em Roma?

— Com certeza. Tem uma famosa, a de Úmbria, ela...

— Por Merlin, Hermione! Quando você vai deixar de ser uma enciclopédia ambulante? Espero que nunca. Nunca! — Harry saltou de sua poltrona e lascou um beijo no rosto dela também.

— Aí. — ela esfregou o local.

— Ron! Vamos investigar! Procurar saber mais detalhes geográficos dessa tal catacumba e aparatar o quanto antes. — e pegou, com muita animação, sua capa de auror no mancebo.

— É pra já. — o ruivo aceitou.

Logo os dois saíam quase correndo, feito crianças desesperadas pela merenda após o sino escolar. Hermione ficou sozinha, extremamente satisfeita por vê-los naquela maravilhosa sinergia outra vez. Contudo, sem deixar suas constantes preocupações de lado, saiu calmamente, mas resoluta em realizar uma pesquisa particular sobre a catacumba de Úmbria e seu antepassado bruxo.


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