Xeque-Mate escrita por Mariii


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Só preparem-se... ;)



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– Sherlock

Pego um táxi para voltar à Baker Street. Normalmente eu iria andando, mas não posso me atrasar hoje. Tudo teria que ser perfeito. Sentia uma ansiedade que me era estranha, nunca tinha sentido nada parecido com isso nem mesmo quando estava na iminência de elucidar algum crime. E misturada a esse sentimento havia um tipo de alegria inexplicável que me fez beijar o rosto da Sra. Hudson com vontade ao entrar em Baker Street, chegando a assustá-la. Não me contive e ri de sua reação.

– O que houve, Sherlock? Está tudo bem?

– Tudo ótimo, Sra. Hudson! Tudo ótimo! E a tendência é que melhore ainda mais. – Eu sorria feito bobo e a Sra. Hudson me olhava como se tivesse avistado um alienígena.

Subi as escadas correndo e cantarolando alguma música que ouvi sabe Deus onde, o ritmo era animado como eu me sentia. Estava verdadeiramente feliz.

No meu quarto escolhi com esmero a roupa que usaria, mesmo que ainda fosse cedo, eu estava cada vez mais nervoso. Andei de um lado para o outro, sentei em minha poltrona, toquei violino, cheguei até ligar a TV... Nada adiantava. Revirei meu palácio mental atrás de ideias de como deveria tratá-la, do que dizer, do que fazer. Será que eu deveria levar uma flor? Lembranças me invadiram.

–-- --- ---

Era um dia comum em que eu estava enrolando no laboratório, como sempre, enquanto Molly trabalhava de verdade. No fim do dia, Mike Stamford apareceu com um buquê de rosas vermelha e eu já ergui os olhos do microscópio pensando se seria preciso deixá-lo inconsciente, caso as rosas fossem para Molly. Senti um incontrolável ciúme despertar dentro de mim e minhas mãos se fecharam com força.

– Molly! Preciso que você me diga... O que acha? – Ele diz, mostrando o enorme buquê para ela.

Molly olha para ele com os lábios apertados, tentando esconder o riso é visível em seus olhos. Eu adoro quando ela faz isso. Sinto vontade de beijá-la no mesmo momento.

– São lindas, Mike!

– Ah... Ufa... - Ele parece realmente aliviado e eu só observo, tentando perceber o momento que enfiaria um bisturi no pescoço dele. - São para Aileen, estamos saindo juntos há duas semanas.

– Tenho certeza que Aileen vai adorar!

– Obrigado, Molly! Agora me sinto mais tranquilo.

Ele sai quase saltitante da sala. Ok, dessa vez Aileen - seja lá quem for - o salvou.

– Eu odeio rosas vermelhas. - Ouço Molly dizer rindo e a encaro. - São tão comuns. Todo mundo dá rosas vermelhas de presente... As amarelas, por exemplo, são muito mais bonitas e criativas.

–-- --- ---

Rosas amarelas. Mas onde eu acharia uma a essa hora? Não era algo que eu pudesse resolver sozinho. Talvez a Sra. Hudson me ajudasse quando a isso. Desço as escadas e bato furiosamente em sua porta.

– Sra. Hudson! - Exclamo assim que ela abre a porta, parecendo preocupada, de novo como se estivesse vendo um alienígena. - Preciso de uma rosa amarela!

Ela me olha espantada por alguns segundos e então seus olhos amolecem, como se de repente ela estivesse com pena de mim. Acho que ela deve estar pensando que eu estou completamente louco. Talvez eu esteja mesmo, não estou bem certo quanto a isso. Sinto uma vontade incontrolável de rir, comprovando que eu não estava no meu estado normal.

– Vamos lá, Sra. Hudson, me ajude!

– Sherlock, eu não sou sua florista! Onde você espera que eu arrume uma rosa amarela? E que tipo de experiência você vai fazer com uma rosa? Espetá-la em algum corpo para ver a eficácia dos espinhos?

Encosto-me na parede e começo a rir. Céus. Sinto-me tão leve e feliz.

– Não é pra nada disso, Sra. Hudson. – Digo em meio ao riso, com ela ainda me encarando. - Pelo menos não para esse tipo de experiência. Vamos lá, me dê uma luz.

Ela parece pensar por um momento, tentando buscar em seu próprio palácio mental a solução para o meu problema. Vejo um brilho passar em seus olhos e tenho certeza que ela se lembrou de algo, espero com ansiedade que ela fale.

– Apenas o Sr. Thompson da esquina tem uma floricultura, que eu me lembre. Mas já está fechada e...

– Obrigado, Sra. Hudson! Você acaba de salvar minha noite! - Deixo um beijo em seu rosto e saio correndo pela rua atrás do tal Sr. Thompson.

O mesmo não gostou muito quando eu bati em sua porta atrás de uma única rosa amarela àquela hora da noite. Porém, após ver o quanto eu estava disposto a pagar por essa única rosa, ele tornou-se solícito e correu abrir a loja para buscar uma para mim.

Voltei sorridente para meu apartamento e subi as escadas para começar a me arrumar. Tomei banho e fiz minha barba com cuidado. Passei o meu melhor perfume, vesti a roupa que tinha escolhido mais cedo e baguncei meus cabelos. Não demorou para que eu estivesse pronto e com o coração saindo pela boca.

Ainda faltava um pouco para as 21 horas, mas acho que não havia mal em chegar um pouco mais cedo, não é? Eu precisava também visitar meus amigos, certo? Eles com certeza me segurariam ali por algum tempo e eu estava ansioso para ficar sozinho com Molly.

Peguei meu carro e dirigi até lá com uma ansiedade crescente. A noite seria perfeita, eu tinha certeza disso.

Estacionei e pensei por um momento se levaria a rosa agora ou não. Decidi que sim. Isso faria John e Mary me encherem mais ainda depois, mas tudo bem. O olhar de surpresa de Molly valeria por tudo isso. Andei pela calçada a passos largos. Queria vê-la logo.

♫ ♪ ♫

Toquei a campainha e aguardei. Quando ninguém atendeu eu bati à porta e ela se abriu um pouco. O suficiente. O primeiro corpo que vi caído foi de John. Havia sangue. Muito sangue. A sala estava tingida de vermelho. Meu mundo começou a rodar em câmera lenta. A rosa caiu da minha mão quando todo meu corpo pareceu perder os movimentos. Tive a impressão que ela demorou anos para chegar ao chão. Quase pude ouvir o som quando ela o tocou. Ouvia meus batimentos cardíacos dentro de minha cabeça em um ritmo frenético.

O cheiro metálico. O cheiro inconfundível da morte que fazia meus sentidos todos trabalharem voltados para isso. Passo a mão pelo rosto, tentando reunir coragem. Todo meu corpo está rígido. Não consigo assimilar tudo que estou vendo. Eu sei que John está morto, posso ver de onde estou que ele já não respira. E você sabe quando vê a morte, você a identifica, você não se engana.

Percebi que minha mão tremia e, tentando me manter firme, eu empurrei a porta para que ela se abrisse ao todo. A imagem fez meu coração parar e meus pés se movimentarem, finalmente. Meus pés escorregaram no sangue algumas vezes em meu desespero para chegar até ela logo. Ajoelhei ao seu lado, não me importando com todo o sangue que estava no chão. Meus olhos queimavam com lágrimas que queriam ser derramadas, mas não era hora de me deixar ser tomado por sentimentos. Eu não podia amolecer agora. Molly precisava de mim.

– Molly... Solte-a... - Ela embalava o corpo já sem vida de Mary, em uma poça de sangue. Tentei tocá-la e ela se afastou, com medo. Passei a mão pelos cabelos, em sinal de desespero. Aguardei alguns segundos e a segurei pelos ombros devagar. Molly se balançava para frente e para trás, com os olhos vidrados, suas pupilas dilatadas. Não parecia me ver nem me ouvir. Estava em estado de choque. Busquei meu celular e disquei com dificuldades para Lestrade, o aparelho escapava das minhas mãos. Olhei para o corpo de Molly em busca de algum ferimento, mas o sangue não vinha dela. Ela estava bem.

– Corra para a casa do John. Eles foram mortos. Envie uma ambulância, Molly está em choque. - Minha voz saiu sentimento ao telefone. Eu tentava bloquear tudo que pudesse me atrapalhar e não sabia até quando conseguiria. Desliguei sem responder aos questionamentos de Lestrade, precisava ajudar Molly. Precisava tirá-la daquele sangue.

– Eu vou te tirar daqui, tudo bem? - Todo meu corpo tremia agora, assim como minha voz. Vi que minhas mãos já estavam manchadas de sangue também. Com dificuldades eu me ergui e peguei Molly no colo, fazendo com que ela largasse o corpo sem vida de Mary. As mãos dela se agarraram em minha camisa e vi as manchas vermelhas se formarem. Era o sangue de meus amigos. Em minha camisa. Em minhas mãos. Em minhas pernas. Em meus pés.

Sentia o meu cérebro querendo se render ao choque, implorando para que eu desligasse. Perdi dois amigos. Sinto minha alma rachar em pedaços que não sei como juntarei. Não posso pensar nisso agora. Luto contra minha mente, contra meu corpo. Era fundamental que Molly estivesse segura. Ela era minha prioridade agora. Era ela, apenas ela.

Ouvi as sirenes ao longe enquanto atravessava a sala com Molly no colo. Ela puxa ainda mais minha camisa, fazendo com que eu a olhe. Seu olhar ainda é sem vida, quase infantil, como se ela não soubesse o que está acontecendo. Como se estivesse em algum outro mundo.

– Sherlock... - A voz dela é quebrada e isso arranca mais um pedaço de mim. - Eu não gosto de rosa vermelha...

A frase dela me assusta. Sigo seu olhar e vejo...

A rosa que era amarela caída no chão agora está em um trágico tom rubro.


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Notas finais do capítulo

E não me matem... kkkkkkkk



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