JisaBaka - O Homem Suicida e a Eterna Idiota escrita por Akira Noda


Capítulo 3
Capítulo 2 - Olhares que Julgam


Notas iniciais do capítulo

- Jistatsu no Otoko to Fumetsu no Baka -

— O Homem Suicida e a Eterna Idiota -

por Diogo Lima.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/505053/chapter/3

Parte Dois -

O sol do verão castiga aqueles que ousam desafia-lo saindo de casa num dia pela manhã. "Você deveria estar dormindo", ele diz. Eu não posso discordar, mas às vezes algumas coisas simplesmente saem do nosso controle.

Atrás de mim, uma melodia constante e irritante era cantarolada pela encarnação de todos os meus pesadelos.

Eu parei de caminhar. Minhas pernas protestavam, meu estômago roncava, e, sinceramente, minha paciência chegou ao limite.

Eu não olhei para trás. Se olhasse, com certeza perderia o controle e cometeria um assassinato ali mesmo.

— O que você pensa que está fazendo? — eu ouvi os passos e a melodia logo atrás de mim cessarem.

— Hmm? Do que está falando?

— Eu quero dizer, por que você está me seguindo? — eu apertei os punhos dentro dos bolsos. Controle, respiração...

— Ué, não posso? — a garota perguntou, inocentemente.

— Mas é claro que não pode! — eu me virei bruscamente para trás, gritando e cuspindo gotas de saliva no rosto dela. Ela fez uma cara de nojo em resposta. — Pra começar, você destruiu meu Pepperoni! Isso é imperdoável! — eu contive uma lágrima de escorrer do meu olho. — E olhe o que você me fez passar! Eu estou aqui fora por sua culpa! Agora eu vou morrer assado e ensopado!

— Eu... realmente acho que você devia escolher apenas um jeito para se cozinhar.

— Não, espere... Por que eu estou aqui fora? Eu sou um homem morto, de qualquer jeito... Sim, é isso... Eu sou um homem suicida! Morrer cozido ou de fome não faz diferença...

— Ah! Então você é um espírito, ou algo assim? — os olhos da garota estranhamente brilharam, quase como se quisesse que eu estivesse biologicamente morto.

Na verdade, agora que eu paro pra pensar... Essa garota nem mesmo deve existir. Sim, ela é a representação de uma vida sem sentido, da fome e do calor do verão entrando dentro do meu cérebro. Agora que eu me dei conta disso, ela certamente irá desaparecer.

— Vou pra casa... — eu dei meia volta e retornei, certo de que a distância até uma loja de conveniência seria trabalhosa demais para valer a pena.

— Espere, senhor espírito! Aonde você vai?

Eu me virei para trás, fitando o rosto da garota que ainda insistia em me seguir.

— O quê, você ainda está aqui? — eu me virei. Talvez ela não seja exatamente uma alucinação minha, no fim das contas.

— Eu conheço um ótimo lugar! Ele fica a apenas alguns minutos daqui! — ela apontou na direção em que eu estava seguindo antes, com um rosto tão iluminado que chegava a ser inconveniente.

"Alguns" minutos, ela disse?

— Não vai dar.

— Eh!? Por favor! — ela agarrou minhas calças e começou a me puxar.

Me pergunto aonde ela pararia se eu a chutasse com toda a minha força...

— Eu prefiro morrer a ter que andar até lá.

— Mas eu achei que você já estivesse morto! — ela olhou para mim com aquela cara de criança que descobre que lhe contaram uma mentira. Eu suspirei, sem nenhuma paciência para isso.

— Foi uma metáfora. Eu estou socialmente morto.

— Mete a fora? Eu nunca ouvi falar! — meu rosto se dobrou como se estivesse sendo zoado, mas então me lembrei que ela devia ter apenas nove anos. E então, como se esquecesse completamente do assunto, ela voltou a falar. — Ei, ei, lá eles servem um bife muito gostoso! Vamos, vamos!

De repente, eu me lembrei.

Eu odeio crianças.

. . .

Com a respiração ofegante, os membros tremendo e o corpo praticamente se arrastando no chão, eu alcancei a cadeira e consegui me sentar nela.

— Eu quase morri... — eu bati minha cabeça contra a mesa, deixando que todos os meus músculos descansassem sobre o apoio de algum objeto.

— Haha! Você é engraçado, espírito-san! — a garota riu, como se o fato de eu dizer que quase morri fosse alguma piada para ela.

— Eu não sou um espírito! Eu sou um homem suicida, entendeu? Um homem suicida!

— Então eu vou te chamar de Suicida-san! — ela falou aquilo com uma animação incomum. Ela nem deve saber o que isso significa. — Meu nome é Fujimoto Aika! Mas você pode me chamar de Ai-chan! — ela fez uma pose especial com um símbolo de "paz e amor" na frente dos olhos, como se imitasse alguma celebridade por aí.

— Você é uma idiota. — eu olhei para ela com uma feição entediada.

— Eh!? Eu não sou uma idiota! — ela se emburrou e bufou as bochechas, claramente irritada.

— Deixando isso de lado, por que você veio ao restaurante comigo? Você não espera realmente que eu vá pagar algo pra você, não é? Além disso, as pessoas podem ter a ideia errada se me virem aqui com você. — eu falei num tom imperativo, mas tive cuidado de falar baixo para que ninguém das outras mesas pudesse ouvir.

— Que ideia elas teriam? — ela inclinou a cabeça para o lado, sem fazer ideia do que eu estava falando.

Droga, eu odeio conversar com crianças... Por que ela simplesmente não entende o que eu quero dizer?

Eu bati a cabeça contra a mesa novamente, totalmente desiludido.

— Bem-vindo! Como posso ajuda-lo?

Eu ouvi uma voz feminina vinda da minha direita, então virei o rosto, ainda deitado. Uma atendente uniformizada estendia um cardápio para mim, então eu o peguei e passei rapidamente o olho nos pratos.

Se eu bem me lembro, ela falou algo sobre um bife... Já que eu decidi vir até aqui, acho que é isso que eu deveria provar.

— Eu vou querer um desse bife especial. — eu falei e entreguei o menu a mulher.

— E eu? Vamos, peça algo pra mim, eu estou com fome! — eu decidi ignorar a garota, fechando os olhos para tentar fazer a voz dela desaparecer. — Peça algo, eu preciso comer algo! Vamos, você vai me deixar assim? — ela continua me irritando cada vez mais e mais...

Droga, o que eu fiz pra merecer isso...

— Traga também dois copos de suco de laranja. — eu chamei a atenção da mulher antes que ela pudesse ir embora, mas ela olhou para mim um pouco confusa.

— Dois?

Ela olhou para mim e depois para a cadeira na minha frente, onde a garota estava sentada.

— Sim, algum problema com isso? — eu lancei um olhar intimidador para ela, que pareceu engolir a seco e dar um passo para trás.

— N-Não, eu vou trazer logo. — eu fiquei olhando enquanto ela entrava mais afundo no estabelecimento, sumindo da minha visão.

— Ei! Por que você não pediu nada para mim!? Eu vou ficar com fome!? — a garota se inclinou para frente, aproximando seu rosto do meu. Claro, ela teve que ficar de pé na cadeira pra fazer isso.

— Você já comeu o meu Pepperoni, no fim das contas. — eu desviei o olhar e deixei a garota se irritar ainda mais.

— Mas isso não é o bastante! — ela falou ainda mais alto e se aproximou ainda mais de mim.

— Não é como se eu tivesse alguma obrigação de te alimentar ou algo do tipo... — eu notei o olhar torto de algumas pessoas vindo na minha direção. — E olhe só, você está chamando atenção demais. Fique quieta um pouco.

— Mas... — ela se sentou e tomou uma expressão triste. Eu não me importei.

Não demorou muito para que o prato chegasse. Ela trouxe também os dois copos de suco, e eu entreguei um deles para a garota de cabelos castanhos. Ela ficou me olhando de cara fechada enquanto eu devorava o bife, fazendo movimentos estrategicamente provocantes.

Pode ser que eu seja um sádico por fazer isso com uma criança, mas essa é minha forma de me vingar.

Eu fiz uma pequena pausa para beber um pouco do suco, e abri um dos olhos para olhar para a garota.

— Eu pedi isso pra você. Não vai beber? — eu fitei o copo intocado de suco.

— Não. Eu quero bife. — eu estalei os lábios, irritado.

— Entendi... Então acho que não tenho escolha... — ela olhou para mim com um leve brilho no olhar, a medida que eu levantava a mão.

E então...

Eu agarrei o copo de suco dela e bebi tudo num único ataque mortal.

— Uaah! — ela estendeu a mão um pouco tarde demais, tentando salvar o copo de seu destino já traçado.

— Você é mal! — ela olhou para mim com lágrimas se formando nos olhos.

— Ninguém nunca disse que eu era bom. — eu sorri, satisfeito, e então voltei minha atenção para finalizar meu bife.

Não está...

Eu levantei o rosto, e lá estava ele. A mesma cena novamente, com a garota devorando meu pedaço de bife como um animal. Eu levantei instintivamente da cadeira enquanto olhava incrédulo para a cena.

— V-Você! — eu falei um pouco mais alto do que desejava. As pessoas do estabelecimento olharam para mim e fizeram comentários que me deixaram desconfortável. Droga, todos eles me julgando...

Eu abaixei a cabeça e regulei meu tom de voz.

— Olha o que você me fez passar!

— É o que você ganha por ser uma pessoa ruim! — e foi então que eu percebi...

Eu com certeza fui amaldiçoado.

Parte Dois -
Olhares que Julgam.-


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nomes Japoneses - Nomes japoneses, como, por exemplo, Kurogami Kano, são escritos ao contrário. Ou seja, o nome dele é Kano e seu sobrenome é Kurogami. Bem simples, não?

—chan, -san, -kun - Essas três palavras, dentre outras existentes, fazem parte de um grupo de palavras consideradas "sufixos" japoneses. Basicamente são palavras que se ligam ao final do nome de alguém para demonstrar carinho, respeito, dependendo da palavra utilizada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "JisaBaka - O Homem Suicida e a Eterna Idiota" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.