- Por que, Ward?

E ela deu mais um soco na cara dele, antes de pensar em despregar o seu pé do assoalho.

O coração aparentemente de gelo estava descongelando. Ela era mais do que uma guerreira zen, era mais do que a cavalaria ou essas coisas que diziam sobre ela. Ela era humana. Uma mulher de carne e osso e um coração batendo descompassado dentro do peito.

- E eu não estou falando sobre as nossas noites juntos, se você quer saber. – Ele cuspiu sangue no chão enquanto tentava movimentar o pé preso – Fitz e Simmons podem estar mortos agora por sua culpa, seu idiota! – Ela chutou seu joelho preso dessa vez, que deu um estalo, fazendo o homem a sua frente gritar – Eu só queria saber como você está se sentindo agora... Vazio... Quando Coulson finalizar isso, o seu dono vai desaparecer do mapa e você voltará a ser um cão abandonado... E tudo isso a troco de quê, Grant? Você perdeu a única chance de ser alguém de verdade. E brincou comigo, o que te torna um homem muito sem sorte – Dessa vez ela apertou o pescoço dele com a mão direita – Cadê? Não consegue falar agora? O que houve com os insultos de alguns segundos atrás? – Ele se contorcia, tentando mostrar que ainda podia respirar, fazendo-a apertar mais ainda a pele quente e gélida do traidor.

- Ma-May – Ele começava a esboçar uma rendição.

- Ah, você quer falar? – Ela soltou o seu pescoço e o segurou pelo cabelo antes de dar outro soco na sua cara já inchada.

- May – O homem respirava com dificuldades, levando a mão ao pescoço, como se quisesse verificar se ele ainda estava lá. – Olha, você é como eu. Nós apenas seguimos ordens... – Sentiu outro chute no joelho já fraturado.

- Não me compare a você, Ward. Eu não sou um cachorro de estimação que não sabe tomar suas próprias decisões! Que não consegue distinguir o humano do desumano! Você pensa que eu não sinto nada? Eu conheço o significado de lealdade, Ward. Infelizmente você não sabe o que é isso.

- Você não entende! – Ele gritou, E mordeu os lábios de dor. – Garrett fez tudo por mim! Eu devo minha vida a ele. Tudo o que eu fiz até hoje... Era por ele... Eu estava tentando ser grato! Tentando ser um homem! Não o moleque medroso que apanhava do irmão mais velho... Você sabe o que é isso, May? Você já sentiu-se rejeitada e manipulada por seus próprios pais?

- Não é assim que funciona, Ward Não use isso como desculpa para justificar o seu comportamento! Olhe pra você! Olhe o que se tornou! Você poderia ser mais do que isso... Mas se deixou manipular por um psicopata!

- Ele foi o único que se importou comigo!

- Ele apenas viu em você uma oportunidade! – Ela respirou fundo enquanto o assistia agonizando – Pessoas como ele sabem brincar com o seu cérebro, especialmente se você é um adolescente sem perspectivas. Ele sabia que isso o afetaria e que depois de tanto empenho, você ia estar aos pés dele. Isso é recrutamento, Ward. Você perdeu essa aula, na Academia? Ele encontra um bom soldado e o manipula. Ele viu potencial em você e resolveu explorá-lo. Para o Mal. Pense em todos os dias que esteve naquele avião conosco... Quando salvou Jemma pulando do avião; quando você e Fitz foram para a missão na fronteira Russa... Coulson confiou em você. Completamente.

- Olha, se eu quisesse, poderia ter matado todos, mas não o fiz! Não queria que as coisas tivessem chegado a esse ponto...

- Skye. – Ela deu um passo em sua direção – Sabe o que você fez com ela? Ela é uma garota, Ward. Uma das boas, por sinal. Ela acreditou em você, se espelhou em você... Se apaixonou por você. – Ela tropeçou um pouco na ultima frase – Sorte sua ela ser forte o suficiente para não se deixar derrotar pela decepção. Ela se cura rápido. É mais esperta do que você pensa... Ela sim é especial, Ward. Poderia ser a única que conseguiria te salvar... E você a deixou escapar. Você a trocou pela coleira do Garrett...

- E você, Melinda? – Ele não a chamava assim com muita frequência. Na verdade, ela nem mesmo lembrava-se de alguma vez que ele a tenha chamado assim. – Você confiou em mim? Por que tanta raiva? Será que em algum momento do nosso pequeno caso você realmente se envolveu com isso? Melinda May...

Dessa vez o chute foi na cara.

- Ai! – Ele gritou e cuspiu no chão em seguida – Você realmente quer continuar tendo essa conversa? Porque se quiser, é bom me deixar acordado...

- Você é mais corajoso do que eu pensava. Ou estúpido.

- Foi mal, sério. Não era nada com você, May. Eu estava infiltrado! Minha missão era descobrir...

- Isso eu já sei!

- Olha... - Ele respirou, tentando colocar os pensamentos no lugar - Naquele dia em Dublin... Eu realmente queria... – Ele suspirou – Eu só... Estava em missão... Não podia me envolver com ninguém... Não é nada pessoal. Era o trabalho.

- E Garrett mandou você entrar naquele quarto, Ward? Ele teve a ver com o que aconteceu?

- Não. – Ele fechou os olhos, já esperando outro golpe – Mas eu precisava ganhar sua confiança. Só uni o útil ao agradável... Sinto muito.

- Não precisa sentir muito. Eu não iria muito longe por você. Só lamento o que você fez consigo mesmo, mas a essa altura, talvez você realmente mereça essa sua vida medíocre. – Ela deu uma pausa para pisar no seu pé cravado no chão, fazendo o agente dar dois murros no chão, mordendo a língua de tanta dor.

- Já terminou seu discurso? – Ele falava com dificuldades, gemendo.

- Não. – Ela tirou o pé de cima da sua ferida – Essa é pela Hill.

Ela girou o corpo rapidamente e na segunda volta atingiu o queixo dele com um chute, deixando-o inconsciente.

- Ward... Você era melhor do que isso. Você me traiu duas vezes. Não era de mim que você gostava. Quando estávamos juntos, eu realmente pensei que se importasse. Não é como se você fosse minha alma gêmea, longe disso. Só não achei que era tão insignificante pra você. Você tem sorte de ter a Skye. É só por ela que eu não cortarei sua cabeça com aquela engrenagem. Só por ela.

- May? May! – A pequena agente aparecia correndo atrás dela. - Ele está... – A garota olhou um pouco assustada para o homem espancado à sua frente.

- Respirando? Sim. Não sou uma assassina como ele. A ameaça já foi controlada. Só temos que leva-lo quando ele acordar.

- E quando vai ser isso? E por que o pé dele... – Ela chegou mais perto e viu os três pregos prendendo o pé esquerdo dele ao chão – Uou! – Ela deu um passo para trás – Lembre-me de nunca dormir com você... – Ela olhou para a ninja à sua frente procurando por escoriações – Muitos danos?

- Não é a primeira vez que luto com o Ward, Skye. Digamos que eu já tenho prática nisso.

- Okay... Quando começamos com o nosso Hate-Fu?

- Em qualquer dia, quando você conseguir acordar antes das cinco.

- Eu topo. – A garota sorriu olhando para a agente que tanto admirava. – Mas, ei... Você não me respondeu... Se nós temos que levar esse bastardo agora... Como vamos acordá-lo?

A asiática sorriu. Ward ainda ia sofrer.

- Tá vendo essa chave inglesa há um metro de você?

- Sim. O que que tem? – A garota olhou para a parceira, entendendo como elas iriam acordá-lo. – Não... Sério? – Skye não escondeu um sorriso maligno no canto da boca.

- Quer fazer as honras? Ele vai amar acordar e ver o seu rostinho.

- Não. Ele não vai gostar de me ver dessa vez. – Skye sorriu, posicionando a chave na cabeça do prego.

- Aaaaaah!!!!!!!!!!

E ele acordou.