Maré Alta escrita por Dobrevic


Capítulo 4
Devaneios


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês!!!



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Identifiquei-me com você, mas me perguntei por que às vezes seguíamos por caminhos tão diferentes.

 

Acordei com minha mãe batendo na porta, mas que droga. Não se pode nem mais dormir nessa casa?

— Já vai, já vai – Disse alto o suficiente para que ela parasse de bater. Odeio ser acordada. Levantei da cama e fui até a porta me arrastando. Abri a mesma e senti minha mãe passar por mim feito um flash. Olhei pra trás e vi que a mesma sentou na minha cama e estava olhando diretamente pra mim, o que me fez pensar que ela está aprontando.

— Bom dia filha, me desculpa por ter te acordado assim – Ela não queria se desculpar. Fez de propósito. A felicidade estava estampada no rosto dela – Eu só vim avisar que a data do casamento já está marcada. – Ela deu um meio sorriso e eu tive a certeza de que tinha fogos explodindo por trás desse sorriso. Se ela soubesse o quanto disfarça mal.

— São – Olhei rapidamente o relógio no criado mudo – Exatamente 08h55min da manhã e você me acorda para falar isso?

— Eu só achei que deveria saber querida, me desculpe. Eu já contratei o Buffet e eu e o seu pai estamos procurando Igrejas disponíveis para o dia dezoito e…

— Não, espera – Fechei os olhos confusa tentando fazer uma contagem mental, e quando percebi quando seria arregalei os olhos e minha voz saiu mais alta que o normal – É daqui a 10 dias e você só me avisa isso agora?

— Mas querida, acabamos de marcar e não tem mais datas disponíveis, quanto mais cedo melhor. – Ela disse calma, eu a olhei segurando as lágrimas que já se formavam em meu olho.

— EU NÃO ACREDITO NISSO!– Gritei – Vocês estão fazendo tudo do jeito de vocês e não estão nem perguntando como me sinto quanto a tudo isso. – Respirei fundo – Esquece a igreja. Esquece vestido. Faça uma festa pequena para a família e amigos íntimos aqui em casa. E não me obrigue a mudar de ideia. – Disse baixo.

Minha mãe permaneceu calada enquanto me via entrar e sair do banheiro. Fiz minhas higienes, troquei minha roupa de dormir por um jeans desfiado e uma blusa confortável. Passei por ela e não dei nem tchau. 

Saí de casa sem rumo, ainda estava cedo e já havia muitas pessoas na rua. Elas me olhavam sem disfarçar, eu ri sozinha quando lembrei que meu cabelo deveria estar todo pro alto, passei as mãos por cima numa tentativa inútil de abaixar, talvez tenha funcionado um pouco. Um pouco a minha frente estava a pracinha, caminhei até lá na direção do balanço, sentei no mesmo e me impulsionei para frente começando a me balançar. A pracinha era bem antiga, havia alguns bancos de madeira espalhados por ali, uma gangorra, um escorrego, madeira um pouco velha, areia no chão. Lembro-me que isso sempre me incomodou. Eu ia ao escorrego e quando descia de mal jeito me enchia de areia, eu não sei como conseguia, mas ela entrava nas partes mais improváveis, nos buracos mais incabíveis. Deve ser exatamente por isso que nunca gostei muito de praia. O que é uma controvérsia, já que amo o mar. Estava perdida em meus devaneios quando senti alguém me empurrar no balanço, virei um pouco à cabeça para trás e dei de cara com o Matthew. Não pude esconder a surpresa que foi encontrá-lo ali. Sorri de orelha a orelha saindo do brinquedo e correndo em sua direção.

— Matt, que saudade. – O abracei forte quase o sufocando enquanto escutava a risada gostosa dele. Matt sempre foi meu ponto de paz, melhor amigo, melhor tudo. A pele dele é clara, lá para os seus 1,83cm. Pelo menos era o que media da ultima vez que nos vimos. Olhos quase pretos, o cabelo sempre arrepiado castanho escuro, sobrancelhas expressivas, sempre dava a impressão de que ele estava surpreso com algo, ao me lembrar disso eu ri.

— Calma aí garota, assim você vai me esmagar. – Ele estava rindo. Eu senti tanta falta daquela risada. – Também estou com saudades, afinal, seis meses longe não é mesmo? – Sorriu e saiu do abraço, me observando rir. – Está rindo de que, hein? – Bagunçou levemente meu cabelo.

— Nada importante, estou feliz que esteja aqui. Mas você nem avisa, né? – Revirei os olhos – Porque voltou? Achei que fosse ficar lá até dezembro. – Matt deu risada.

— Não me adaptei. É complicada a convivência com meu pai, não temos o que se pode chamar de intimidade, é estranho. Mas não quero falar sobre isso agora, me conta você o que aconteceu enquanto eu estive fora. – Sentou em um dos bancos de madeira e bateu ao lado me chamando pra sentar. Sentei ao seu lado pensando por onde começar.

— Bom, aconteceram muitas coisas desde que você se foi. Só pra começar, vou me casar daqui à 10 dias. – Suspirei baixo enquanto o encarava esperando uma reação. – E você nem vai acreditar com quem. Você sabe da situação da minha família e antes que pergunte, esse casamento é uma fachada para o meu pai voltar com os negócios.

— Casar? – Disse ele com aquela expressão de surpresa, a melhor parte era a sobrancelha dele. Parei para olhá-lo e sorri dando de ombros. – Não faço a mínima ideia de quem seja, só desejo boa sorte para te aguentar. – Sorriu e eu dei um soco leve em seu ombro. Olhei para frente com o pensamento longe.

— João Miguel. – Ele me olhou como se não acreditasse e meio decepcionado. – É também foi uma surpresa para mim. Qual é, eu aguento essa. – Sorri forçado. – Ele continua o mesmo idiota de sempre, sabe o que ele disse pra mim?

— O que? – Matt perguntou sério.

— Disse que a gente não precisa agir como um casal. Sendo que eu não vou ficar levando fama de corna enquanto ele pega meio mundo aí fora. – Matt me envolveu em um abraço. – Eu não sei se vou aguentar essa barra. Eu to evitando pensar nos meus sentimentos, eles estão confusos e não pensar nisso me dá tempo de não surtar. É isso que eu sinto vontade a todo momento, surtar muito.

— Malu, Malu. O que eu faço com você? – Ele sorriu e eu me acalmei – Vai melhorar, pequena. É só uma fase. Mantenha essa cabecinha erguida e lembra o porquê de você estar fazendo isso. – Matt disse enquanto fazia carinho no meu cabelo.

— Eu sei Matt, mas é que parece tudo tão errado. Meu chão tá desabando e minha mãe tá procurando igrejas disponíveis. – Eu disse enquanto encarava o chão.

— Você é forte. É uma garota incrível, e ta deixando sua vida sair do lugar pelo motivo certo. Só não vai se apaixonar por esse otário porque a gente sabe que isso já aconteceu antes. E não se deixa levar, não se perde de quem você é. Tu sabe que eu detesto esse cara, mas sempre estarei ao seu lado. – Matt deu um beijo no meu cabelo e sim, eu sabia que ele não estava gostando disso, mas é durão demais para demonstrar qualquer tipo de interesse.

— O que eu seria sem você? – Disse o apertando em um abraço.

— Para ser sincero… Nada. – Respondeu dando risada, o que me fez rir também.

— Foi ótimo ter te encontrado Matt, mas preciso ir. Nem avisei minha mãe que viria aqui, as coisas não estão legais.

— Tudo bem, vai lá. Não se esqueça das coisas que eu te disse cabecinha de vento, se precisar de mim sabe onde me encontrar. – Falou enquanto depositava um beijo em minha testa – A propósito, seu cabelo está diferente – ele fez uma cara confusa e prendeu um riso – Tá bonito.

— Você mente muito mal, mas obrigado. – Sorri largo o envolvendo em um abraço apertado. – Não vou me esquecer. Não some. Vou te mandar o convite. – Dei um beijo em seu rosto e me soltei dele, vendo o mesmo dar um último lindo e perfeito sorriso. Me levantei caminhando de volta pra casa.

Quando cheguei, escutei um barulho vindo do andar de cima, mais precisamente do meu quarto. Subi correndo em direção ao mesmo e quando abri a porta me deparei com duas figuras folgadas rindo de algumas coisa, e acho que foi das fotos que tirei semana passada.

— Larguem meu celular. – Disse rindo. – Aliás, acho que marquei com vocês à tarde. – Vi a Mel dar de ombros e Angel sorrir. Como nos velhos tempos. Só de pensar que em breve parte da minha rotina vai virar lembrança, chega a doer.

Afastei esses pensamentos rapidamente me juntando as meninas na cama, já deitei contando tudo, cada mínimo detalhe. Parando pra rir algumas vezes da curiosidade da Melanie e das caras de espanto da Angelina. Não sei o que seria de mim sem elas. E o Matt.


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Notas finais do capítulo

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