Eu prendi minha respiração e fechei meus olhos. Ai, ele vai matar meus amigos bem na minha frente. Pensei. Segurei a mão dele e esperei pelo último grito de dor de Mat, ao invés disso, o que eu ouvi foi como se algo de vidro - ou coisa do tipo - tivesse quebrado.

Abri os olhos com cuidado e vi o Mestiço caído no chão com a mão na cabeça que sangrava logo acima dos olhos e um vaso de porcelana todo quebrado em cima dele.

- Opa. - Rajesh falou. - Foi sem querer.

Eu suspirei aliviada e sorri de leve.

O menino pegou a adaga caída e cortou as cordas. Assim que me vi livre, passei a mão sobre os lugares onde a corda apertava, garantindo que estava tudo bem. Apesar de doer um pouco, não passava de uma pele vermelha toda irritada. Os garotos faziam o mesmo e nós ficamos perdidos por alguns segundos.

- Ele vai conseguir levantar daqui a pouco... - o indiano disse.

- Mate-o. - sugeriu Connor.

- Desculpe, mas essa batalha não é minha. - ele respondeu. - Não, unicamente. Vamos precisar de ajuda.

- Sabemos onde podemos encontrar. - Connor disse e mal terminou a frase e já havia sumido para trazer os outros.

Legal. O que eu faço agora?

Enquanto eu ficava lá parada perdida e confusa, Raj tentava amarrar o homem com o que sobrara da corda e aos poucos as pessoas apareciam ali no jardim.

- Não quer me ajudar, Mitchie? - ele sugeriu. - Temos que mantê-lo vivo. Acho que alguns membros de sua família vão querer saber alguma coisa dele.

Me dirigi para ajudá-lo e antes que terminássemos já havia quase vinte pessoas ali.

- Prontinho. - disse Connor batendo as mãos querendo dizer: tarefa cumprida.

As pessoas que estavam ali começaram a conversar e questionar e logo estava o maior barulho ali. Eu reconhecia algumas, como Anne Marie e seus primos, o líder dos Kingans e sua mulher, os pais de Connor e o sr. Benjamin. 

- EEEEI! - gritei, todo mundo ficou quieto. - Ele está acordando.

Assim como eu disse, o homem acordou e ao ver aquele monte de gente, revirou os olhos.

- O que é tudo isso aqui? - ele percebeu que estava amarrado. - Sério? Acha que cordas vão me deter? -Sua pele ficou vermelha por um tempo e derreteu os fios que o prendiam. - Sou imune a essa barreira que criei.

- Pode parar, Mestiço. - o sr. Bennech avisou. - Você está cercado. Se renda.

- Errado. - ele disse - Vocês estão cercados.

No final da frase, seus olhos ficaram escuros e um círculo de fogo nos cercou. Uma risada diabólica ecoou pelo quintal e muitos de nós cobriram as orelhas com as mãos.

Ninguém podia fazer nada, todos tinham suas habilidades anuladas por qualquer que fosse o feitiço ali, exceto eu. Mas o que eu poderia fazer? Eu nem sempre conseguia entrar em sua mente, e mesmo que conseguisse agora, de nada adiantaria. Ainda assim, decidi tentar.

Fechei meus olhos em meio ao caos e ao barulho horrível que fazia todos ali caírem ao chão e tentei ler sua mente. Dentro de sua cabeça não tinha nada além de raiva e concentração, mas ao mesmo tempo senti uma espécie de ligação, como se a mente dele também fosse a minha. Nunca tinha ido tão fundo na cabeça de alguém e aquilo me causava desconforto, assim como devia causar para ele.

Me senti no comando de suas ações e foi como se eu cortasse um fio e desse um pane em todo o sistema. 

Eles caiu no chão exausto, provavelmente desmaiado. Eu só não pude ter certeza porque eu também estava caída e cansada. Uma parte do grupo que estava ali foi para cima dele e a outra,  os meus amigos, vieram me ajudar.

Eu estava tonta e não entendi muito bem o que se passava, ouvi pessoas gritando e até pude sentir sendo transportada para algum lugar por Mat, mas antes que descobrisse para onde íamos, eu desmaiei.

Ficou tudo preto por um tempo, não sei dizer ao certo quanto, e o primeiro sentido a voltar foi a audição. Ouvi pessoas cochichando perto de mim, tentei mover as mãos e senti que estava em algum lugar macio, só então criei coragem e abri os olhos que se irritaram com a claridade.

- Ela acordou. - Rob disse chamando a atenção de todos para mim.

Eu me levantei tentando me sentar e percebi que estávamos na Itália, na mansão dos Kingans.

- O que está acontecendo? - perguntei colocando a mão na cabeça. - Fiquei assim muito tempo?

- Calma, Mitchie. - disse Anne Marie - Você ficou desmaiada por um pouco mais de uma hora, mas ninguém sabe exatamente o que aconteceu. Você se lembra de alguma coisa?

Tentei buscar alguma coisa. 

- Bom, eu meio que me lembro sim. - comecei. - Depois que aquele círculo todo se formou e todo mundo estava caído, eu tentei entrar na mente do Mestiço. Eu era imune a barreira, provavelmente coisa de mestiço. - alguns riram - Então eu consegui ler seus pensamentos, mas mais que isso, eu estava ligada a mente dele. Foi como se simplesmente, eu conseguisse desligá-la. Foi o que fiz. 

- Impressionante. - alguns na sala disseram.

- Meu pai vai achar isso muito interessante. - Ann disse. 

- Falando nisso, cadê ele? - perguntei vasculhando a sala.

- Está lá dentro - apontou para uma porta -, com o Mestiço. Ele acordou um pouco antes que você e está numa sala trancado, segurança máxima. - ela brincou.

- Várias pessoas querem explicações dele. - Paul entrou na conversa. - Ele parecia saber de muita coisa. Todo mundo quer conversar com ele, antes que o matem.

- Vocês vão matar ele? - perguntei com medo.

- Como assim, Mitchie. Ele tentou fazer o mesmo com você. - Anne Marie disse.

- Eu sei. É que... - procurei pelo resto da frase, não encontrei. - eu não sei.

Nessa hora o Sr. Benjamin apareceu e viu que eu estava acordada e logo começaram a comentar sobre o que eu tinha feito mais cedo. Ele perguntava como, todos davam um palpite e, de repente a faladeira estava de volta. Eu ainda não estava com cabeça para aquilo.

- Sr. Bennech? - perguntei. - Antes que o matem, eu posso falar com ele? 

- Claro, Michelle. - ele respondeu.

- Quer que eu vá com você, Mitchie? - Mat perguntou segurando minha mão. 

Eu sorri.

- Desculpe, mas tenho que fazer isso sozinha.