Senk escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 5
Poderia ser mais Simples


Notas iniciais do capítulo

Jane acha muito confuso todas essas coisas relacionadas aos sentimentos humanos, pois, de acordo com ela, eles são muito mais complexos do que cadeias de DNA, afinal, quando nem você mesmo entende o seus, como pode entender os de outra pessoa?



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Uma multidão estava afoita em frente ao prédio onde Reed morava e fazia suas pesquisas. Eles estavam com cartazes e comemoravam a chegada dos novos herois. Jane ficou atônita olhando tudo aquilo. Ela nunca pensou que um dia iria apagar o fogo de um carro e salvar uma criança e ter toda essa fama, toda esse celebrização, ela achava tudo muito exagerado por ter feito algo que ela faria mesmo sem poderes e que se ela não tivesse, ninguém estaria na porta celebrando ou a mídia correria atrás.

Quem estava curtindo toda essa fama era Johnny. Johnny saiu do carro da polícia esticando os braços e as pessoas gritaram em admiração. Reed e Sue entraram rapidamente, como se não houvesse ninguém ali, só deram alguns breves sorrisos e entraram. Ben desceu do carro forte que o levava e ficou constrangido. Johnny o abraçou pelo pescoço completamente animado.

– Sorria Ben, eles querem te amar - disse Johnny.

Ben olhou para as pessoas e as crianças ficaram com medo dele. Ele disse para que elas não usem drogas e elas ficaram olhando ainda assustadas. Jane balançou a cabeça e deu uma risadinha rápida. Ela deu um sorrisinho para as câmeras rapidamente e foi a última a entrar no imenso saguão.

Todos eles foram em direção ao elevador, o entregador do correio chegou para Reed, lhe deu as boas vindas e lhe entregou um molho de cartas. Reed ficou meio sem graça, pois todas as cartas estavam com aviso de cobrança, pois estavam atrasadas.

– Foi um período difícil - disse Reed tentando fazer uma piadinha.

"Tlim", a porta do elevador se abriu.

– Foi um ano inteiro difícil - disse Ben com sua voz grave e dando uma risada que saiu mais alta que o normal.

Todos entraram no elevador e a porta se fechou. Então o elevador começou a fazer um barulho estranho e todos começaram a se olhar.

– Ou estamos indo muito rápido, ou o elevador está parado - disse Johnny.

Então uma plaquinha começou a piscar e nela estava escrito: Limite de peso excedido". Todos olharam para Ben e ele revirou os olhos. A porta do elevador se abriu.

– Tudo bem, eu vou pela escada - ele disse desanimado.

– Eu vou com você - disse Jane saindo do elevador.

A porta se fechou e ele e Jane começaram a subir as escadas devagar.

– Não precisava fazer isso por pena de mim - disse Ben.

– Eu não estou com pena de você, subir escada faz bem para os músculos. É um exercício revigorante - ela disse balançando os braços como se estivesse em uma maratona.

Ben riu.

– São muitas escadas, você sabe, não é? É no último andar.

– Que bom, estou precisando malhar as pernas - ela disse animada.

Dessa vez os dois riram.

– Tudo bem Jane, pode falar a verdade. Foi por causa do Johnny, não foi?

Jane o olhou com desânimo.

– Tudo bem, você me pegou.

– Sério que cada vez fico mais curioso pra saber o que aconteceu entre vocês.

– Longa história Ben, muito longa - Jane riu.

– Então porque o beijou na ponte?

Jane olhou para os degraus sem enxergá-los exatamente.

– Pra ele parar de ficar interessado por mim.

– Não teria que acontecer o contrário?

– Não - Jane riu. - Como eu disse... longa história - ela sorriu para Ben e Ben entendeu que as perguntas sobre Johnny devia parar ali.

Jane e Ben conversaram sobre outras coisas sem falar dos poderes adquiridos, de Johnny ou até mesmo de ciência. Ela e Ben tinham um gosto musical parecido, eles gostavam de rock e Jane amava falar sobre as músicas e Ben se sentiu mais humano falando dessas coisas, foi uma longa caminhada com uma conversa completamente agradável. Até que finalmente chegaram ao apartamento. Reed apareceu logo para recebê-los.

– Demoramos muito? - perguntou Jane rindo.

– Não... nem um pouco - Reed foi irônico.

Os três riram, pois o Reed irônico era engraçado, pois ele parecia nervoso ou ria antes de falar as coisas. Reed apresentou o local para Jane e disse que as malas dela já haviam chegado, pois vieram depois dela e de elevador. Ela foi até o quarto separado pra ela, ligou seu tablet, colocou uma música do ACDC em volume médio e começou a arrumar suas roupas no guarda-roupa. O quarto era bem simples, apenas uma cama de casal, um guarda-roupa e uma luminária. Era realmente um típico quarto de hóspedes.

– Jane?

Johnny deu duas batidinhas na porta.

– O quê? - ela perguntou impaciente.

– Nossa, calma - ele abriu os braços em defesa. - Só queria falar uma coisa.

– O quê?

– Olha, eu sei que você não quer que eu fique falando com você, ou perto de você, então eu vou falar o que tenho que falar e depois te deixo em paz, ok?

– Ok - Jane cruzou os braços e esperou.

– Aquele beijo não contou.

– O quê? - Jane ficou indignada.

– Não esperei todos esses anos pra ser desse jeito, não mesmo. Na minha cabeça esse beijo aconteceria de forma bem diferente.

– Ora, me desculpe se não consegui realizar suas fantasias - disse Jane meio irritada.

– Não é questão de realizar minhas fantasias ou não, é questão de que esse beijo foi a coisa mais sem emoção do mundo. Não digo que eu não gostei, eu gostei, pra caramba, você beija bem, mas esse beijo foi sem graça, não é assim que eu quero, ou queria. - Jane ficou em silêncio, apenas encarando Johnny. - Mas tudo bem, não vou forçar você a fazer nada e nem me aturar mais, se você ainda acha que é isso que me prende a você, você está terrivelmente enganada. Mas agora não posso fazer mais nada.

Eles se encararam por longos segundos e então Johnny saiu do quarto de Jane. Jane continuou olhando para a porta, no espaço vazio que ele deixara lá. Ela ficou pensativa e começou a morder a língua. Jane então sai do quarto e vai atrás de Johnny.

– Johnny! - ele para e olha pra ela. - Eu só...

– Não converso mais com você Jane - disse Johnny cortando-a.

Jane se assustou com a atitude dele.

– Sério? - ela perguntou brincando mas com um pouco de raiva.

– Sério - ele respondeu seriamente.

– Ok - Jane disse tentando segurar sua raiva.

– Ok - Johnny respondeu calmo e voltou a caminhar de volta para o seu quarto.

Jane voltou para o seu e voltou a arrumar as roupas, porém, ela estava pensativa, e sempre ficava pensativa, seus longos cabelos atrapalhavam e ela tinha que fazer um coque solto. Ela ficou pensando no que Johnny dissera e em Johnny não falar mais com ela. Ao mesmo tempo que ela pensava que ele não conseguiria, ela pensava que ele conseguiria muito bem, pois Johnny era bonito, charmoso, sedutor e poderia conseguir qualquer garota, como sempre fizera, seria fácil esquecê-la agora. Jane achou ruim aquilo incomodá-la, pois era o que ela queria.

Jane tentou dormir mas não conseguiu, ela se virou, rolou na coberta, apertou a cara no sofá, mas não conseguiu dormir. Ela suspirou pesadamente e decidiu ir ao quarto do Ben.

Jane caminhou até o quarto do amigo, chegou lá e o cutucou para acordá-lo, mas não obteve nenhum resultado. Ela começou a chamá-lo pelo nome, mas também não adiantou, ela balançou um pouco mais forte e também nenhum resultado. Então ela falou Ben um pouco mais alto e o sacudiu com força. Ele acordou meio assustado.

– Jane?

– Oi... não consigo dormir - ela disse desanimada. Jane estava com uma camisola de manga comprida.

– Percebi.

– Posso ficar aqui com você?

– Pode, claro - Ben estava muito sonolento.

Jane colocou seu travesseiro do lado do de Ben e se deitou de barriga pra cima olhando para o teto. Quando Ben estava quase fechando os olhos, ela suspirou pesadamente. Ben então percebeu que Jane precisava conversar.

– Você quer conversar?

– Não, não, estou bem, pode ir dormir.

– Jane... - ele lhe chamou a atenção.

– Ah... tá bom... é que... aah... sei lá...

– O que o Johnny fez dessa vez?

– Por que você acha que foi...? Ah... ok, foi o Johnny.

– Quer que eu bata nele?

– Não - ela parou por alguns segundos e depois olhou para Ben. - Ele parou de falar comigo.

– Era o que você queria, não era?

– Era... - ela voltou a olhar para o teto pensativa.

– Se arrependeu?

– Não - ela respondeu e olhou para Ben com raiva. - Ou sim... Arg! Não sei - Jane se encolheu virando pro lado de Ben. - É que... eu não sei não ser amiga do Johnny perto do Johnny.

– Mas você não queria que ele parasse de ficar no seu pé?

– Sim, queria mas... ai Ben, eu não sei. Ele já me desapontou tantas vezes que, eu acho que eu não queria por medo de ele me desapontar de novo, mas ao mesmo tempo eu quero, dá pra entender?

– Não.

– É... eu também não. Arg! Falar de DNA é tão mais simples... ou é, ou não é. Por que a vida não pode ser assim?

– Senão não teria graça - Ben deu um sorriso e seus olhos fecharam de novo.

Jane olhou para Ben adormecido e ficou ali olhando. Ela via que ele tinha um problema muito maior que o dela e ela estava ali tirando o sono dele. Era isso que ela tinha que fazer, dormir, pois era muito mais simples.

Na manhã seguinte, após uma noite mal dormida, Jane, Ben e Sue estavam na cozinha comendo o café da manhã. Jane estava tomando suco de abacaxi com uma salada de frutas e uma torrada. Ben estava espremendo muitas laranjas para fazer um suco numa tigela. Quando ele ia tomar, Johnny passou pegando a tigela de suas mãos.

– Vamos lá galera, tomar um ótimo café da manhã porque hoje o dia será divertido e... não, espera, ah é, eu não posso ir a lugar algum! - ele deu uma risada sarcástica.

Jane revirou os olhos.

– Johnny, estamos aqui para saber o que aconteceu conosco, precisamos dar um jeito nisso - disse Sue.

– Mas seria ótimo sair por aí pra testar melhor. Sério! Estou tão perto de voar, eu posso sentir isso - disse Johnny jogando um papel embolado no canto.

O papel começou a pegar fogo.

– Johnny! - Sue chamou a atenção dele.

Johnny tentou apagar o fogo, mas quanto mais ele batia, mais o fogo aumentava. Jane esticou a mão e fez com que aquele vento gelado saísse e apagasse o fogo. Antes que Johnny pudesse olhar pra ela, ela se virou e voltou a comer sua salada de frutas. Johnny não disse nenhuma palavra de agradecimento e assim ficou.

Mais tarde eles começaram os testes para entender o que aconteceu. Jane estava preparada para o primeiro teste com Reed e Sue.

– Ok Jane, você pode se transformar em gelo como fez na ponte?

Jane assentiu, olhou para sua mão direita depois fechou os olhos para se concentrar melhor. Jane sentiu algo se mover em seu interior, algo que não machucava, mas também não era tão agradável. Seu coração deu uma batida e ela sentiu que a cada batida, mais o gelo a consumia, até que chegou em sua pele e ela começou a ser substituída por gelo. Quando Jane abriu os olhos, viu sua mão completamente de gelo, como um iceberg. Ela olhou para todo o seu corpo e viu que era completamente gelo.

– Ok Jane, você começa a se transformar em gelo a partir do seu coração e ele vai se espalhando por todo o seu corpo até chegar na pele e distribuir para o seu exterior. O que você sente para começar a vir o gelo? - perguntou Reed.

– Não sei explicar muito bem, eu só fiquei tranquila e pensei em coisas geladas e gostosas, como sorvete - Jane riu, pois era algo ridículo e Reed e Sue riram com ela.

– Na ponte o que você pensou? - perguntou Sue.

– Em apagar o fogo para salvar a garota - e o Johnny, mas ela não queria falar isso. - Acho que usei demais e deve ter sido pela minha determinação e vontade de esfriar mais para apagar mais rápido.

– Sim, é possível - disse Reed. - Isso significa que os poderes são acionados através da emoção.

Jane ficou intrigada com ela mesma e então conseguiu voltar a ter pele humana. Jane estava dispensada dos testes, mas ela estava muito curiosa para descobrir mais sobre ela mesma. Ela então decidiu sair correndo para o seu quarto para fazer mais testes consigo mesma. Johnny vê Jane subindo a escada olhando para si mesma e com um sorriso no rosto. Ele conhecia aquele sorriso, ela estava animada com alguma coisa, alguma nova descoberta, ela estava com o coque frouxo e com certeza estava pensando antes. Johnny ficou curioso para saber o que ela estava descobrindo, mas depois ele se conteve, pois ela não queria a presença dele naquele momento.

Jane fechou o seu quarto, respirou fundo e se olhou no espelho. Ela pensou novamente em coisas boas para se transformar em gelo e vendo sua própria transformação, ela se encantou ainda mais. Era lindo a forma como o gelo ia consumindo seu corpo, começando do seu coração até a ponta de seus dedos e até seu último fio de cabelo. Ela se aproximou do espelho e percebeu que seus olhos também eram de gelo, eram como duas pedras de gelo redondinhas que se mexiam quando ela virava o olhar para outra direção. Jane abriu a boca e viu um túnel de gelo, como se fosse uma caverna no Polo Norte. Jane ficou super animada consigo mesma e estava curiosa para aprender mais sobre si mesma.


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