Manhã e Tarde escrita por scarecrow


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Ei, gente, tudo bem? Não, não resisti e vim com outra one-shot do casal SamanthaxJohn para vocês HEUHAISDU Pois é, não sei me controlar e q Espero que gostem, de verdade ♥



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Manhã e Tarde

Imagine-se caindo.

Imagine-se afundando dentro de suas próprias mágoas, afogando em suas próprias lágrimas e afobando suas próprias e unicamente verdadeiras falas. Eu estava sempre afundando, afogando, afobando. Eu estava sempre caindo e não importa o tanto que eu tente me segurar, o tanto que eu tente me conter. Nada importava enquanto eu caía.

Imagine-se então, caindo para sempre.

O ato de imaginar e criar situações com minhas breves descrições não vai te fazer enxergar a realidade em que eu vivia. Porque eu caia, e caia de verdade. Ele tinha costume de imaginar como é estar em meu lugar sempre que me descobria caindo.

Logo ele, que está sempre sorrindo suas felicidades, sussurrando seus pensamentos positivos e surgindo suas novas e quase perfeitas facilidades. John estava sempre sorrindo, sussurrando, surgindo.

Eu o conheci em uma manhã colorida de primavera. Havia pássaros cantando, flores se abrindo, cores aparecendo, pessoas sorrindo e eu sentada em um banco qualquer, de uma praça qualquer, chorando. As pessoas passavam por mim, me olhavam com curiosidade ou desprezo por estar chorando em um dia supostamente lindo, e logo após me ignoravam. Eu havia me acostumado com aquela reação, acolhido a falta de cores e amenizado minha própria existência dentro daquele parque. Eu estava, desde então, me acostumando, acolhendo, amenizando.

Foi então que ele me viu. Logo ele, dentre todas as pessoas. E ele sentou do meu lado e me abraçou forte, antes de dizer: “Só pense que foi um sonho ruim”. O peso de suas palavras caiu nas minhas costas e escorreu pelos meus cabelos longos. E então, eu chorei mais do que gostaria de chorar nos braços de um estranho. Ele havia me abraçado sem me conhecer, me ajudado sem se importar com o quê e me alegrando mesmo que um pouco. Desde então, ele estava me abraçando, ajudando, alegrando.

“Meu nome é John.” Ele disse, quando eu me acalmei. Seus olhos azuis pareciam mais vívidos devido às cores da primavera vibrante. “Como você se chama?”

“Samantha” Eu respondi simples, correndo de palavras que o fizessem me julgar. Contrário do que eu pensei que ele faria, John apenas sorriu e voltou a me abraçar. Foi fácil perceber o quanto John era imprevisível depois disso. Eu quase nunca conseguia prever seus próximos atos, apesar de que nossa convivência trouxe como carga um conhecimento grande o suficiente para entender o que ele estava pensando.

Nesse dia, John me levou até em casa. Ele não me perguntou porque eu estava chorando ou me passou seu número de telefone, ele não fez nada – só acenou de longe depois que disse “preciso ir andando.” John me fez ficar desse jeito: cantarolando músicas sem letras, conturbando pensamentos antes de dormir e castigando a mim mesma por ser tão tola. Eu estava sempre cantarolando, conturbando e me castigando por estar apaixonada.

Mesmo depois daquele dia, achei que nunca mais fosse vê-lo. Ainda assim, na mesma semana, logo de manhã cedo, coloquei uma de minhas melhores roupas e fui de novo para o pequeno parque colorido que tinha ali perto. A primavera tina um cheiro peculiar que a partir de então me fazia lembrar, sempre, de John.

Eu fiquei cerca de duas horas no banco qualquer do parque, ouvindo a alegria alheia e desejando ter ficado em casa correndo meus pensamentos em minha cama quente. Quis chorar novamente, mas dessa vez, com menos motivos. Então, eu respirei fundo duas ou três vezes, antes de levantar. Fui até a padaria ali perto comprar um maço de cigarros, tentando parecer mais distraída do que realmente estava, quando o vi.

Pela segunda vez na mesma semana, eu encontrei John. Ele estava com o mesmo sorriso no rosto, a mesma alegria nos olhos azuis claros. Por uns instantes, eu não soube o que fazer. Ele estava do lado de fora da padaria, conversando no celular, escorado em uma parede qualquer. Decidi por ignorá-lo – entrei, comprei meu maço de cigarros e sai.

E então, como era de se esperar, eu caí. Caí da forma mais literal da palavra; eu tropecei em meus próprios passos desajeitados e encontrei o asfalto mais perto do que o planejado. Xinguei baixo. Meu isqueiro verde havia fugido de mim durante a pequena queda. Procurei por ele, agora sentada em frente ao chão sujo da padaria.

“Está procurando isto?” Eu ouvi a voz conhecida perguntar. John estava segurando meu isqueiro verde claro, sem nenhum sorriso no rosto. Eu ri, e disse que sim, estava. Ele não me entregou. “Fumar faz mal”

John vem me impedindo de fumar desde então. Ele dizia ser algo ruim, que me deixava viciada e iria me matar qualquer dia, e isso é totalmente irônico, porque sei que ele também vai faz as mesmas coisas comigo. Ele é algo ruim, que me deixava viciada e iria me matar qualquer dia desses.

Eu fiz uma careta, nervosa, querendo meu isqueiro de volta.

“Eu preciso fumar” Respondi.

“Eu te pago um sorvete em troca” Ele ofereceu. Seus olhos azuis pareciam com a manhã de primavera interminável. Eu lhe mostrei o dedo do meio, ele riu, e eu aceitei a proposta.

Fomos tomar sorvete.

Escolhi meu sabor preferido, e sentei do lado de fora da sorveteria. Ele me acompanhou após pagar a conta, sentando do meu lado. Ficamos um tempo discutindo sobre assuntos aleatórios e divertidos, vendo a manhã nos cobrir com o calor do sol morno.

A manhã era meu período preferido do dia. Era calma na maioria dos dias, calada quando estava nublada e divertida quando ensolarada. As manhãs são calmas, caladas ou divertidas. E eu as adorava, sempre.

E naquele dia, minha manhã terminou sem cigarros, mas com o número do telefone celular de John.

Eu fiquei com seu telefone por uma semana sem saber o que fazer. Deletava mensagens logo após escrever, despistava quando pensava de mais no assunto e desistia antes mesmo de tentar ligar. Quando o assunto era John, a única coisa que eu sabia fazer era deletar, despistar e desistir.

Foi em uma manhã qualquer que eu mandei uma mensagem lhe pedindo de volta meu isqueiro, e John só foi me responder de tarde.

Todos os dias, a partir desse, nós trocávamos mensagens curtas e, por minha parte, subjetivas. Eu mandava sempre na parte da manhã, ele respondia sempre no inicio da tarde.

Percebi então que a tarde era o melhor turno para John. Quando lhe perguntei, uma vez, ele me disse com uma longa mensagem ser o melhor período do dia por diversos motivos. Ele gostava do entardecer, do sono depois do almoço e da falta do que fazer. A tarde era seu melhor momento, todos os dias, um depois o outro.

E foi em um início de tarde que nós nos encontramos pela terceira vez. O sol já estava mais forte, quente, incomodando um pouco a visão. Não houve toques no cumprimento. Nós sentamos na mesma praça da primeira vez e ficamos conversando sobre nada.

“Você já está melhor?” Ele perguntou, depois de um tempo em silêncio. Eu dei ombros.

“Com o quê?” Eu perguntei, fingindo de desentendida. Desviei de seus olhos azuis primavera, e procurei algo de bom naquela tarde ensolarada – não encontrei nada. Eu sabia que estava fugindo de sua pergunta, forçando uma resposta que nunca iria sair. Em todas as minhas respostas, eu estava fingindo, fugindo, forçando.

Porque de repente, eu senti uma necessidade imensa de ter John todos os dias comigo, conversando sobre qualquer assunto que não fosse eu mesma. Eu queria encontrá-lo todos os dias ali, de preferência cedo, logo após o café da manhã. Gostaria, de alguma forma não tão egoísta, que John se preocupasse comigo, procurasse por mim, pensasse em mim. John estava sempre se preocupando, procurando, pensando. Mas nunca em mim. Nunca comigo.

“Com você mesma” Ele respondeu, sem sorrisos no rosto.

“Por que você quer saber?” Eu perguntei, correndo da resposta esperada. Virei em sua direção e fitei seu olhar pensativo.

“Porque eu não quero que você fique mal”

Imagine-se sem reação.

Imagine-se desconcertado por algo que todas as pessoas poderiam falar, menos a que realmente disse. Distraído porque sua mente está raciocinando vinte coisas diferentes ao mesmo tempo. Desastrado após um tempo sem proferir uma única palavra. Eu estava sempre sem reação não importa o quanto eu esconda. Eu estava sempre desconcertada, distraída e desastrada nos exatos segundos após John falar algo inesperado.

E eu quis chorar.

Porque eu só o vi três vezes em um mês e meu coração não parava quieto um segundo sequer. E eu sabia, céus, eu sabia que aquilo não era bem o que ele queria dizer, que não havia nada subjetivo ali, mas não havia como fugir mais disso, havia? E então, eu chorei.

O deixei acreditar que foi porque eu não estava bem. Ele me abraçou de novo, e eu chorei ainda mais. Porque eu estava estupidamente apaixonada por alguém que não conheço direito. Porque só o fato dele se importar, mesmo que um pouco, mesmo que ele faça isso com todo mundo, já foi o suficiente. Porque eu não preciso mais de cigarros, não preciso mais do meu pequeno isqueiro verde.

Eu só precisava de John, e eu nunca o teria.

Logo ele, que sempre se escondia debaixo de minhas dores, entendia minhas necessidades e exaltava as alegrias de uma tarde qualquer. Logo ele, que estava sempre escondendo, entendendo, exaltando.

John me levou em casa como a primeira vez. E como a primeira vez, eu estava esperando algo mais que nunca veio.

Não lhe mandei mensagens nos dias seguintes. Eu decidi me controlar e segurar tudo o que transbordava dentro de mim. E as manhãs que eu tanto amava, perderam um pouco a graça. Eu passei a detestar a primavera e aquela praça. Eu me sentia bem pior do que realmente estava, e sequer podia culpar John por isso.

Foi uma das piores semanas da minha vida.

Acho que poucas coisas são piores do que ter um sentimento crescendo dia após dia dentro de você, e não poder expressá-lo de forma alguma. É como se eu estivesse explodindo de fora para dentro. Existia uma emoção quente e formidável dentro de meu peito, e o máximo que eu poderia sentir dela é culpa por ter deixado crescê-la tanto.

No fim, a culpa foi minha por descobrir em John algo que poderia me salvar. Acreditei, mesmo que por uns instantes nas duas vezes em que me abraçou, que ele poderia fazer o que eu estava esperando. Eu acreditei que John poderia me salvar.

A vontade de fumar voltou na sexta feira da semana seguinte, de manhã cedo, bem após o café. Eu precisava de um cigarro. A vontade de inalar a nicotina me perseguiu de manhã até de tarde. Eu estava odiando as tardes de todos os dias da última semana. Eu ficava a tarde inteira com meu celular na mão, esperando algo que nunca viria.

Mesmo a tarde tendo acabado, a minha vontade de fumar não havia sumido. Quando eu decidi sair de casa para passar em alguma loja e comprar um maço de cigarros, já era mais de onze da noite.

Eu havia passado o dia me matando em casa.

Andei até um supermercado qualquer que nunca fechava, comprei cigarros da minha marca preferida e um pequeno isqueiro verde claro. Sentei-me na praça que eu disse tantas vezes para mim mesma que nunca voltaria, e fumei três cigarros seguidos.

“Acho que vou pegar esse outro isqueiro”

Assustei-me de início – John estava vindo em minha direção, já não tão longe quando começou a falar. Eu ri sem graça. “Isso não vai me fazer parar de fumar.” Eu respondi. O que me faz parar de fumar é algo totalmente diferente, pensei. Calei meus sentimentos quando ele sentou ao meu lado.

Ficamos assim, em silêncio, um do lado do outro. Nós silenciamos nossas vontades, suprimos nossas falas e soterramos nossos corações. Nós afundamos dentro de nós mesmos, afogamos a semana sem diálogo e afobamos o que havia de errado. Sorrimos por nosso quarto encontro, sussurramos pequenas alegrias e deixamos surgir novos sentimentos.

Estávamos nos acostumando com a presença do outro, nos acolhendo na noite calada e amenizando as conseqüências das pequenas conversas. Estávamos abraçando uma oportunidade que talvez não exista, ajudando um ao outro, alegrando um ao outro. A noite estava calma e calada, divertida como eu nunca pensei que uma noite poderia ser.

Porque nós estávamos deletando a existência do hiato, despistando meus sentimentos e desistindo de recompensá-los, e ainda assim estava tudo bem. Estávamos fingindo não haver subjetividade, fugindo da realidade que eu montei e forçando a relação que John queria. Estávamos desconcertados, totalmente distraídos, completamente desastrados, mas estávamos bem. Estávamos bem, pois escondíamos todos os problemas, entediamos todos os segredos, e exaltávamos o silêncio reconfortante.

Ficamos na praça, por um bom tempo, apenas em silêncio, observando a madrugada.

“Sabe, Sam, fumar realmente faz mal” Ele disse depois de um tempo. Encostou sua mão na minha, pousando sua textura em cima de minhas digitais. Senti-me corar. Quis falar algo, mas não consegui. “Vou roubar todos os seus isqueiros até que você pare” Ele disse rindo.

Eu também ri. John era um bobo. Mal sabia ele que, a única coisa que ele precisava roubar para me fazer parar não era isqueiros, mas sim meu coração estúpido.

“Vamos ver o que você pode fazer, então” Eu disse sorrindo. Ele pegou o isqueiro verde e guardou no bolso, sem nunca soltar minha mão. Ficamos de mãos dadas e em silêncio por mais um bom tempo.

Naquele instante eu percebi que John nunca poderia me salvar. Eu sempre iria cair, cair, cair, cair, cair. Eu sempre iria afundar não importa o quê aconteça. Mas preciso confessar que ter onde segurar às vezes é muito bom- agradeço-o mentalmente todos os dias por me deixar ter onde segurar.

Naquele instante, que não era nem a manhã que eu tanto amava, nem a tarde que ele tanto apreciava.

Era noite, e a melhor noite de todas.

Era um momento único que eu nunca pensei ter antes da manhã chegar.

Era um instante frio, escuro, e ainda assim, lindo.

Era o nosso instante.


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Notas finais do capítulo

Comentários? 8D



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