Adrian e eu estávamos sentados na cama enquanto meus pais se sentavam em duas cadeiras de frente para nós. Subitamente me senti como uma criança de cinco anos que tinha feito alguma arte.

– E então? – perguntou Abe com a sobrancelha levantada.

– Vocês não querem realmente que nós digamos como isso aconteceu. Se nunca contaram a vocês, a história da cegonha não é verdade. Acontece que...

– Chega Rose. – percebi que a paciência de minha mãe estava no limite e ainda sim ela fazia um esforço enorme para não gritar comigo. Aquilo foi o suficiente para me quebrar e me fazer debulhar em lágrimas.

– Aconteceu, ok? Eu sei que foi estupidez, que nós deveríamos ter reconsiderado, mas não tem mais nada que nós possamos fazer agora.

– Claro que tem. Você pode tirar o bebê. – nós todos olhamos em choque para minha mãe. – Não me olhe assim, como se eu fosse um monstro. Você sabe que é a melhor decisão a se tomar. Se você errou, concerte o erro.

– É isso que você pensa de mim? Que eu sou um erro?

– Claro que não! Você é minha filha e eu tenho muito orgulho de você. Simplesmente não quero que você jogue a sua vida toda para o alto. Você é tão nova, tem um futuro tão brilhante, filha.

– Desculpe te decepcionar, mãe. Mas eu já tomei minha decisão. Eu e Adrian vamos ter esse bebê e eu gostaria de contar muito com o apoio de vocês. – para a minha surpresa meu pai se sentou ao meu lado na cama e puxou minha cabeça para o seu peito.

– Você pode contar comigo sempre, filha. – era a primeira vez que Abe me chamava de filha ou não agia como um gangster.

– Obrigada, Zmey. É muito bom saber disso. – impliquei com ele pra descontrair. Adrian segurava minha outra mão e eu me senti protegida em meio aos homens da minha vida.

– Eu não concordo com a sua decisão, que fique claro, mas se não tem nada que eu possa fazer pra te convencer a mudar de idéia... – Janine disse com um suspiro.

– Não. Nada que ninguém diga irá me convencer a mudar de idéia. – ela deu outro suspiro.

– Você vai ser vovó. – Abe disse para implicar.

– Assim como você, Ibrahim.

– Mas eu serei um avô muito estiloso. Já vou até providenciar um fedora para o meu netinho. – eu apenas rolei os olhos e fiz de conta que não ouvi. – Lord Ivashkov, acompanhe-me em uma volta, por favor.

– Pai... – Abe fez de conta que não tinha me ouvido. – Eu não quero deixar meu filho órfão, ouviu? – avisei irritada.

– Pode deixar filha. Só vou garantir que ele seja filho único. – então abriu seu sorriso de mafioso o que me fez rolar os olhos.

Uma hora mais tarde Adrian voltou com um sorriso estampado no rosto, o que eu achei alarmante.

– O que aconteceu? Ele te drogou? Embebedou? Adrian!

– Meu Deus, mulher! Não aconteceu nada, relaxe. Acho que eu e o Abe estamos nos entendendo melhor a cada dia que passa.

– Você quase me matou de susto! – exclamei dando um soco no ombro dele.

– Desculpe. Prometo não fazer isso novamente, meu anjo. – ele me enlaçou pela cintura e eu repousei a cabeça em seu peito. – Contar para os seus pais não foi tão ruim quanto eu imaginei.

– Diga por você. Minha mãe ficou meia hora bufando no meu ouvido e depois decidiu que eu precisava de uma aula de sexologia. – eu podia sentir o meu peito dele se movendo enquanto Adrian praticamente se dobrava em gargalhadas.

– Eu queria ter visto isso.

– Engraçadinho. – me soltei dele deitando na cama.

– Você também vai querer arrumar motivo pra rir muito em breve. – ele se jogou ao meu lado.

– Por quê?

– Por que eu combinei com meus pais de jantarmos hoje com eles. É hora dos outros avós descobrirem a novidade. – eu soltei um suspiro cansado.

– Por que será que eu tenho um mau pressentimento com relação a isso?

– Talvez por que eu tenha convidado tia Tatiana para o jantar... – pela primeira vez desde o inicio dessa conversa Adrian pareceu envergonhado.

– Adrian! – exclamei me sentando. – Não acredito nisso!

– Ela já sabe Rose. E espero trazê-la para o nosso lado. Tia Tatiana é uma poderosa aliada.

– Como assim ela já sabe?

– Ela me chamou na sala dela no dia em que você descobriu a gravidez. Acho que alguma enfermeira deve ter contado a ela.

– Me ajude a encontrar uma roupa decente então. – pedi. Adrian ficou deitado na minha cama enquanto eu revirava meu guarda roupa. Depois de meia hora encontrei o vestido preto que Lissa tinha me dado para o baile da escola escondido no fundo do armário.

Adrian ficou me esperando enquanto eu tomava um banho, arrumava o cabelo e me maquiava. Tive um pouco de dificuldade na hora de fechar o vestido, que quase não serviu em mim.

– Droga! Meus seios não podem estar tão maiores assim. – reclamei.

– Eles estão lindos, Rose. Quanto a isso você não deve se preocupar. O máximo que pode acontecer é você matar meu pai do coração. Se ele ainda tiver um coração.

– Adrian, minha barriga ta muito visível. – reclamei ajeitando o vestido tentando deixa-lo mais confortável.

– Rose, para de paranóia. Não é como se fossemos esconder de todo mundo. Você ta linda, agora vamos por favor.

– To me sentindo gorda. – reclamei fazendo biquinho enquanto ele me rebocava porta a fora.

A mesa já estava posta quando chegamos e Daniela conversava com Tatiana na sala. O pai de Adrian não estava presente em lugar algum.

– Alteza. – disse fazendo uma leve reverencia.

– Estamos em família, não precisa de toda essa formalidade. – disse em um tom cortante.

– Daniela. – ela sorriu, mas vi seu olhar focalizar a minha barriga enquanto uma ruga de preocupação surgia em sua testa.

– Nathan já esta descendo, podemos nos sentar. – disse ela indicando a mesa. Assim que ele desceu o jantar foi servido. Não percebi como estava com fome até a comida ser posta à minha frente e o meu estomago roncar. Mas apesar da fome não consegui comer direito com todo aquele clima pesado. Daniela me lançava olhares suspeitos, Tatiana me olhava acusadoramente, Nathan comia em silêncio enquanto que Adrian e eu estávamos uma pilha de nervos. Quando o jantar enfim acabou, Daniela nos dirigiu até a sala onde o café foi servido. Nunca entendi essa necessidade de gente rica de servir café após o jantar.

– Mãe, pai. Eu e Rose temos uma coisa para contar à vocês. – percebi ambos enrigecerem. E subitamente me lembrei da conversa que tive com Daniela da ultima vez que tinha jantado aqui, e como ela disse não se preocupar com o nosso relacionamento pois eu nunca seria capaz de levar Adrian a sério. – Rose está grávida. – ele disse, soltando a bomba.

– E o que vocês planejam fazer com relação a isso? – perguntou Nathan friamente.

– Como assim o que nós planejamos? Nós vamos ter o bebê, é óbvio. – Adrian rebateu. Peguei suas mãos entre as minhas, fazendo círculos para tentar acalmá-lo.

– Vocês tem certeza disso? – perguntou Daniela.

– Sim mamãe, nós temos certeza de que queremos esse bebê. – disse convicto.

– Rose?

– Sim Daniela. – respondi com a voz tremula.

– Certo...

– Certo coisa nenhuma! – exclamou Nathan me fazendo pular de susto. – Eu não vou deixar você manchar o nome da nossa família com essa prostitua de sangue!

– Nathan! – a rainha exclamou com um tom gélido.

– Não, tia. Dessa vez você não vai passar a mão na cabeça desse moleque. Eu não quero mais saber dessa história! Se você insistir nisso eu te deserdo.

– Então deserde! Eu não sou igual você que adora varrer a sujeira pra debaixo do tapete. Eu amo a Rose, vou assumir essa criança sim e não me importo com o que você acha ou deixa de achar! – Adrian estava vermelho de tanta raiva. Em todo o tempo que eu o conhecia nunca tinha visto-o assim.

– Nathan! – era perceptível que Daniela estava à beira das lágrimas.

– Eu cansei de ter que reparar todos os erros desse pirralho. Agora ele que lide da forma que bem entender.

– Nathan, você já passou de todos os limites. – Tatiana disse friamente.

– Tudo bem tia. Eu vou pegar minhas coisas e vou embora. – ele rapidamente subiu as escadas, enquanto Daniela se fazia em prantos. O clima na sala pesou enquanto Adrian não voltava. Nathan saiu e Tatiana o seguiu, deixando-me a sós com Daniela.

– Cuide dele, por favor. – implorou pra mim.

– Eu vou, prometo. – disse me sentando ao lado dela. Nunca tinha sido muito boa nessa coisa de consolar os outros.

– Eu irei visitá-los, pode deixar. E apesar de ser inesperado, estou feliz por vocês.

– Por que? Por que você ta feliz por tudo isso? Seu marido acabou de expulsar seu filho de casa, ele o deserdou!

– Eu nunca vi o Adrian assim. Se fosse qualquer outra garota, ele imploraria ao pai pra pagar a menina pra fazer o aborto, mas com você ele bateu de frente com Nathan. Ele está disposto a assumir a responsabilidade e trabalhar com as próprias mãos se for preciso. Meu filho está amadurecendo e virando um homem graças a você. Ele te ama.

– Eu sei disso. E eu também o amo. Eu não vou deixar que nada aconteceça a ele Daniela.

– Eu sei. Só espero que no fim você não parta o coração dele. – Adrian desceu logo em seguida, arrastando três malas. Tatiana também apareceu e nos acompanhou até o meu dormitório.

– Onde você pretende passar a noite? – perguntou.

– Vou ficar com a Rose por enquanto. Depois vou ver o que eu faço.

– Seu pai cancelou seus cartões e bloqueou sua conta. – Adrian abriu a boca em choque. – Esta é a chave da minha casa. Como agora eu fico no palácio ela está desocupada. Você é mais que bem vindo pra ficar lá, os dois são. Pelo tempo que for necessário.

– Obrigado titia, mas eu não quero abusar.

– Você não está em condições de recusar, especialmente agora com uma criança a caminho. – eu que até então tinha ouvido sem falar nada, tive que me intrometer.

– Desculpe Majestade, mas eu achei que você, entre todas as pessoas, fosse ser contra isso.

– Eu nunca fui a favor da idéia, mas agora é tarde demais. E se é isso que o Adrian quer, eu irei apoiá-lo. Caso não tenha reparado isso é algo que falta muito a ele.

– Obrigada. – disse abaixando a cabeça.

– As pessoas vão começar a falar sobre isso muito em breve. Vocês devem manter a cabeça erguida, como é digno dos Ivashkov.

– Obrigado tia. – Adrian a abraçou e eu acabei por perceber um outro lado da rainha. Um lado mais suave e humano.

– Se cuidem. – ela disse antes de sair, me deixando de queixo caído.