— Antes de começarmos — disse a Yuurei a Naruto —, eu gostaria de conversar um pouco. Você se importaria de me escutar?

A princípio, Naruto apenas estreitou os olhos. Em sua memória, as palavras que Fukasaku lhe dissera um pouco antes de partirem na direção do País do Redemoinho ainda ressoaram frescas: siga o plano, falara-lhe o velho sapo. Shima, em concordância com o marido, também alertara Naruto sobre a importância de não deixarem a batalha se transformar numa guerra. Quanto mais tempo a luta se prolongar, pior será para nós, dissera-lhe Shima. Precisamos pegar a Yuurei assim que tivermos a chance.

No que dependesse dele, Naruto escutaria de bom grato a mulher que fora a melhor amiga de sua mãe, Kushina, e também a aluna de Konan. Entretanto, aquele não era o momento. Mesmo que por apenas um detalhe, perder aquela luta não era uma opção para ele. Naruto sabia que muita coisa estava em jogo.

Sem dizer nada a princípio, Naruto abriu a mão direita e, com a palma da mão estendida, segurou um punhado de chakra, fazendo expandir-se e rotacionar ao mesmo tempo, mantendo tudo estabilizado.

— Foi mal. Não vim aqui bater papo — respondeu.

Mira Uzumaki, que era indiscutivelmente a melhor ninja sensorial dos Yuurei, não viu o ataque chegando. O Rasengan de Naruto explodiu violentamente a poucos centímetros de seu rosto, precisamente na altura de seus olhos; e só não a havia atingido por causa da barreira protetora com a qual Mira sempre revestia o próprio corpo — exatamente para se precaver de ataques-surpresa como aquele, cuja velocidade ultrapassava suas habilidades sensoriais.

Tão apressado, Mira esboçou um sorriso, já sequenciando selos manuais em resposta. Foi quando percebeu outro ataque vindo por sua retaguarda; e seu sorriso se converteu numa expressão atônita. Uma isca, exclamou para si, esse primeiro Rasengan foi só para tapar os meus olhos!

— Oodama Rasengan! — gritaram os dois clones a menos de dois metros de distância. Mira se defendeu e, ao mesmo tempo, contra-atacou com o Kongou Fuusa no Jutsu. Mas antes que as correntes adamantinas pudessem atingir seus alvos, os dois clones de Naruto simplesmente abandonaram aquela investida e, dispersando-se — uma pela direita e o outro pela esquerda —, iniciaram um ataque simultâneo pelos flancos.

— Rasengan! — os clones gritaram em uníssono; e Mira fez uma careta quando sentiu a dupla onda de choque reverberando pela barreira sobre seu corpo.

Isso não vai funcio...

Outro Naruto emergiu debaixo da terra quase instantaneamente e, com um soco carregado de chakra para Senjutsu, atingiu a parte que protegia a ponta do queixo da Yuurei. Tamanha havia sido a força do impacto que, mesmo com sua barreira protetora, Mira Uzumaki foi lançada para cima a toda velocidade.

— É isso! Pegamos ela! — gritou o primeiro Naruto.

Os quatro Naruto executaram os selos manuais necessários em sincronia perfeita — cada um deles era responsável por uma parte da sequência de selos, que reduziu para apenas um quarto todo o tempo necessário para ativar o jutsu; e assim que terminaram, todos os quatro Naruto bateram no chão com as duas mãos ao mesmo tempo.

— Kuchyiose: Kaeru Kirihanasu no Jutsu (Técnica de Invocação: Desmembrar dos Quatro Sapos Cardeais).

Ainda no ar, Mira se viu completamente cercada por quatro estátuas enormes de sapo, as quais abriram suas bocas de pedra e lançaram línguas feitas de correntes de ferro para imobilizar seus braços e pernas. Por estar em pleno ar, não havia nada que Mira pudesse usar como apoio para manobrar e evitar ser capturada.

O timing de Naruto fora simplesmente perfeito.

Com os quatro membros da Yuurei imobilizados, Naruto deu um comando por meio de um selo manual, fazendo com que as correntes fossem puxadas de volta para dentro das bocas de pedra. Devagar, Mira sentia seus braços e pernas sendo estendidos até o limite. Naruto poderia tê-la desmembrado ali mesmo se quisesse, mas preferiu interromper a técnica quando o corpo de Mira ficou totalmente esticado no ar.

Apesar da situação constrangedora na qual se encontrava, Mira Uzumaki sorriu timidamente.

— Você usou esse mesmo jutsu para derrotar Sema Hyuuga há dois anos — rememorou a Yuurei. — Foi uma bela vitória aquela. Você provou para todos que é muito mais do que um Jinchuuriki, você é Naruto Uzumaki! Não sabe o quanto me deixou orgulhosa.

Naruto estranhou as palavras de Mira, mas então se lembrou de que a Yuurei já o espionava secretamente desde aquela época. Ainda assim, o tom amigável, nada hostil da voz de Mira Uzumaki o deixava incomodado.

— Eu vou te levar de volta para a Vila da Folha — disse Naruto seriamente. — Vai nos contar tudo o que sabe sobre Iori Kuroshini e como podemos derrotá-lo... e vai desfazer esse maldito selo que pôs em mim.

Mira soltou um resmungo.

— Você poderia desativar o selamento sozinho se tivesse sido educado como um verdadeiro Uzumaki. Apesar do seu sobrenome, há muita coisa que não sabe, Naruto — rebateu Mira. — Por exemplo, se conhecesse Fuuinjutsu, saberia que eu não estou presa de verdade.

Naquele exato momento Naruto percebeu que fora precipitado. Sim, havia conseguido imobilizar os braços e as pernas de Mira Uzumaki, deixando-a incapaz de fazer o mais básico sinal de mão. Entretanto, o Kongou Fuusa no Jutsu era uma técnica que dispensava selos manuais para ser ativada; e não havia uma forma simples de Naruto bloquear aquelas correntes feitas de chakra puro, que saíam pelas costas da Yuurei.

Zum, zum, zum. O som das correntes adamantinas cortando o vento era similar ao de flechas disparadas. Todas as estátuas de pedra foram destroçadas num instante e Mira Uzumaki se viu livre outra vez.

Naruto aproveitou a deixa para atacá-la imediatamente. Mesmo com as correntes de chakra de Mira serpenteando ao seu redor, seus três clones no Modo Sennin ainda eram mais rápidos e lhe garantiriam uma boa vantagem em um combate de curta distância. Ademais, Mira ainda estava aterrissando e, no ar, não poderia se evadir com facilidade de alguns ataques.

Só que Mira não usou as correntes adamantinas para se defender — pois confiava na intransponibilidade de sua barreira protetora. Ao invés disso, fê-las circundar ao redor de si mesma e de seus quatro atacantes, envolvendo-se com eles em uma formação de barreira esférica. Isso não faz sentido, Naruto pestanejou confuso, ela se trancou comigo de propósito?

Enquanto as correntes adamantinas estivessem ocupadas formando a barreira esférica, Mira Uzumaki estaria à mercê de todo tipo de ataque à curta distância. Naruto e seus clones avançavam rapidamente; iriam atingi-la por todas as direções.

 Mira apenas sorriu, juntando as mãos.

O maior emaranhado de correntes que Naruto já vira surgiu bem ali, diante de seus olhos. Era inacreditável! Os grilhões eram impossíveis de contar e preenchiam praticamente todos os espaços dentro da barreira enquanto continuavam brotando do nada, em todos os lugares — correntes nascendo de outras correntes, das paredes da barreira, do chão e, também, da própria Mira Uzumaki. Uma verdadeira floresta infinita e brilhante!

Era simplesmente impossível para Naruto se defender de tudo aquilo.

— Seu Modo Sennin te permite desviar de qualquer ataque até no último milésimo de segundo — Mira falava de algum lugar à frente. A Yuurei já estava fora do campo de visão de Naruto. — Porém essa habilidade é inútil contra ataques multidirecionados e simultâneos feitos dentro de um ambiente todo fechado.

Não demorou muito até a Yuurei ter todos os quatro alvos sob controle; e assim que os subjugou por meio do Kongou Fuusa no Jutsu, Mira recolheu todas as outras correntes, desfazendo, assim, a barreira esférica.

Pôs os quatro Naruto diante de si, suspendendo-os no ar pelo pescoço.

— Em nenhum momento eu te vi fazer o selo do Kage Bunshin no Jutsu. E considerando que você foi aluno de Kakashi Hatake, que sempre atacava com um clone primeiro para confirmar as habilidades de qualquer adversário... — Mira avaliou os quatro friamente — todos vocês são clones.

Pela expressão dos quatro, Mira entendeu que sua suposição estava certa.

— O verdadeiro Naruto está escondido em algum lugar da ilha, usando clones como vocês para recolher o máximo de informações sobre mim... — fechou os olhos, fazendo um selo na mão direita — e, aparentemente, está ocultando o próprio chakra — abriu os olhos novamente. — Resta saber onde ele está exatamente e o que está planejando.

Dirigiu um olhar inquiridor para os quatro. O clone mais à esquerda, em meio ao sufocamento, deu à Yuurei um sorriso sôfrego e cheio de escárnio.

— Como se fôssemos te dizer alguma coisa... sua idiota.

Mira encarou aquele clone de Naruto e, esganando-o ainda mais forte por meio da corrente, destruiu-o num piscar de olhos.

— Fuuin Kekkai (Barreira de Selamento) — disse Mira após executar uma sequência de selos nas mãos. Imediatamente, fórmulas negras de selamento escorreram pelos elos das correntes adamantinas e envolveram, cada uma, os três clones remanescentes. Com isso, o verdadeiro Naruto não poderá desfazer o Kage Bunshin no Jutsu até eu terminar meu interrogatório, pensou. — E agora...

Mira escolheu o clone do meio. Após remover-lhe o protetor ninja do Monte Myoboku, ela o tocou na testa com a palma da mão direita enquanto mantinha um selo na outra mão. Quando o soltou, uma inscrição de Fuuinjutsu fora cravada na pele do clone.

— O selo na sua testa te obriga a me dizer apenas a verdade — explicou Mira pacientemente. — Diga-me, onde está...

— ... não me subestime! — os outros dois gritaram ao mesmo tempo. — Não vou me entregar assim tão fácil!

Mira suspirou.

— Há três de você aqui — as correntes pressionaram violentamente as gargantas dos outros dois, que desesperadamente tentavam afrouxá-las dos pescoços —, mas eu só preciso de um Naruto.

O sofrimento daquelas réplicas era triste de se ver, a tal ponto que Mira se viu obrigada a desviar o rosto enquanto suas correntes terminavam de esganá-los. Prometera para si mesma que jamais mataria Naruto Uzumaki; e embora meros clones não fossem, verdadeiramente, seu sobrinho, chegavam bem perto de o ser.

O clone da esquerda, que estava sendo estrangulado, foi o primeiro a explodir em fumaça. Depois — para o espanto da Yuurei — o clone do meio, o qual Mira impusera o selo e que não estava sendo estrangulado.

— O quê? — Mira franziu a testa.

O clone da direita tinha o rosto roxo e duro. Usou as duas mãos para agarrar os elos da corrente com todas as forças, segurando-a bem firme continuava sendo sufocado.

Mas não desapareceu.

— N-Naruto?! — Mira arregalou os olhos, pasma.

O verdadeiro Naruto Uzumaki girou a corrente que o prendia a Mira com toda a força que o Senjutsu lhe permitia, e rodopiou a vice-líder dos Yuurei no ar; e antes que Mira desfizesse o elo entre eles, Naruto puxou a corrente, trazendo Mira Uzumaki para si. A mão direita já ensaiava o golpe.

— Eu avisei — bradou em alta voz —, não me subestime!

Naruto desferiu um soco bem no rosto da Yuurei. O chakra para Senjutsu fluiu poderosamente através de seu punho direito; e Mira Uzumaki seria arremessada violentamente para trás...

Mas Naruto, que ainda a segurava pela corrente, puxou-a de volta primeiro.

— Ainda não acabou! — o chakra silvou feroz em sua mão direita, mas Naruto tomou cuidado para não exagerar, pois lançaria aquele ataque à queima-roupa, o que poderia ser prejudicial até para ele. — Fuuton: Rasenshuriken!

A explosão de vento libertou o pescoço de Naruto e lançou Mira Uzumaki dentro de um turbilhão por vários metros vila adentro; e assim que o Rasenshuriken explodiu em um gigantesco vórtice, Naruto fez o selo do Kage Bunshin no Jutsu.

Mira fora pega de surpresa e, não fosse a barreira de proteção corporal, teria sido derrotada por seu descuido. O manto negro fora totalmente destruído pelo Rasenshuriken, mas ela própria não chegou a sofrer dano algum — não obstante sentisse os golpes de Naruto reverberando pela barreira. Mesmo protegida, eles lhe causavam dor. O último soco de Naruto a deixara meio zonza. Eu preciso me recupe...

Alarmada, Mira apenas pôde ver o ataque chegando por cima.

— Senpou: Chou Oodama Rasengan!

A superesfera de chakra massivo abriu um enorme buraco ante a entrada das ruínas da Vila do Redemoinho. Terra e grama foram salpicados por todas as direções ao passo que Mira Uzumaki foi comprimida por mais de cinquenta metros chão adentro. Quando tudo terminou, o clone de Naruto estava de pé sobre a Yuurei desfalecida.

— Já deveríamos saber que não seria fácil vencê-la — resmungou o clone vendo o corpo de Mira assumir a mesma cor das rochas subterrâneas e, pouco a pouco, desintegrar-se. — Doton: Kage Bunshin (Estilo Terra: Clone das Sombras) — reconheceu.

Entrementes, um portal de trevas se abriu poucos metros atrás do verdadeiro Naruto Uzumaki, que por já haver recebido as informações do clone, não se surpreendeu ao se virar e encontrar a verdadeira Mira Uzumaki intacta, observando-o.

— Pelo jeito, você também tem uma técnica de clonagem — a voz de Naruto saiu amarga.

— Desculpe-me desapontá-lo — disse Mira com um sorriso suave. — Eu precisava confirmar uma coisa antes.

— O quê?

— Se você estaria realmente disposto a me matar... apesar da minha aparência — respondeu Mira. — Sei que quando olha para mim, é Kushina quem você vê.

Naruto sentiu um nó na garganta.

— Não importa quem eu veja, mas sim o que eu preciso fazer — disse Naruto resolutamente. — Para proteger a minha vila, farei tudo o que for necessário.

O ar de Mira Uzumaki repentinamente mudou. A Yuurei estava mais séria. Naruto encontrara raiva e rancor no rosto da ruiva... e tristeza também.

— Compreendo — disse Mira. — Está se comportando como um verdadeiro Hokage, Naruto. Seus pais ficariam orgulhosos e... apesar de nossas divergências, eu também estou.

Foi a vez de Naruto sentir em si mesmo uma raiva repentina. Ela subia por seu rosto.

— Você não passa de uma estranha que se parece demais com a minha mãe — cuspiu as palavras. — Só que você não é Kushina Uzumaki, então pare de agir como se fosse! Não sabe o quanto isso me irrita.

— Você sabe quem eu sou, Naruto?

— Minha inimiga, é isso que você é — vociferou Naruto prontamente.

A vice-líder dos Yuurei meneou com a cabeça.

— Iori Kuroshini é seu inimigo, não eu. Naruto, tudo o que eu quero é protegê-lo. É por isso que eu luto, e também é por isso que eu mesma decidi enfrentá-lo aqui — disse Mira com brandura —, para que Iori tenha tudo, menos você.

Naruto semicerrou os olhos. Aquilo não poderia soar mais absurdo.

— Você é louca.

— Não, eu não sou. E também entendo o seu estranhamento — respondeu Mira. — Nunca fomos devidamente apresentados um ao outro.

— Do que está falando?

— Você não acreditaria se eu dissesse.

— Experimente.

Mira ponderou por alguns instantes.

— Você é muito importante para mim, Naruto.

Naquele exato momento, Naruto usou o Shunshin no Jutsu (Técnica de Cintilação Corporal) e apareceu a centímetros da Yuurei, condensando um Rasengan em cada mão. O Rasenrengan, entretanto, parou inofensivo diante da defesa absoluta de Mira Uzumaki.

— Eu já disse a você — disse Naruto com a voz rouca —, pare de agir como se fosse Kushina Uzumaki. Você não é ela!

— Tem razão, eu não sou — Mira formou um selo nas mãos, mas Naruto saltou para trás antes de ser pego na armadilha de Fuuinjutsu que surgira bem abaixo de seus pés. — Porém, como eu também te disse, eu luto para que Iori Kuroshini jamais encoste um dedo em você...

 Mira Uzumaki abriu a mão direita em formado de garra e a pressionou contra o próprio abdômen. Naruto, que reconhecia aquele gesto, estremeceu.

— ... e para isso — continuou Mira, resoluta —, também estou disposta a fazer qualquer coisa, Naruto.

Dito isto, Mira girou a mão em sentido horário.

O manto de Yuurei ia sendo reduzido às cinzas por uma aura vermelho translúcida que ganhava forma ao redor do corpo de Mira Uzumaki. Aquele chakra era diferente — era selvagem, feroz e muito mais denso que o de qualquer ser humano; e tinha aparência de um líquido fervendo, tão quente que borbulhava.

Ao ver aquilo, Naruto sentiu tanta raiva que não conseguia parar de tremer.

— Sua maldita! Isso aí é...

— Exato — disse Mira com desgosto. — A metade Yin do chakra da Besta de Oito Caudas. Eu a selei em mim mesma.

Naruto juntou as duas mãos enquanto parecia olhar para dentro da vice-líder dos Yuurei.

— Ei, Gyuuki! — gritou Naruto. — Está me ouvindo? Eu vou chutar a bunda dessa Yuurei e vou te salvar! Devo isso ao tio Bee.

O clone que até então estava dentro da cratera saltou para fora, lançando-se no ar, bem acima dos dois combatentes. Já sequenciava selos manuais.

— Fuuton: Shinkuugyoku no Jutsu (Estilo Vento: Técnica das Esferas de Vácuo) — disse o clone após inalar uma quantidade significativa de ar e, em seguida, dispará-la em múltiplos projéteis de ar comprimido.

— É inútil — as balas de ar apenas ricocheteavam pela defesa absoluta de Mira, agora ainda mais forte com o chakra do Oito Caudas. A Yuurei fez nascerem correntes a partir do chão abaixo dos pés do Naruto original, que, ao ser capturado, apenas explodiu em fumaça. Mira estranhou num primeiro momento, mas logo compreendeu que o verdadeiro Naruto Uzumaki havia substituído sua posição pela do clone; e então olhou para cima.

Naruto estava bem acima de sua cabeça.

— Fuuton: Shinkuudama (Estilo Vento: Bomba de Vácuo) — bradou Naruto após respirar profundamente e expelir uma esfera enorme de vácuo em alta velocidade.

— Katon: Endan (Estilo Fogo: Bomba de Chamas) — vendo-se obrigada a responder, Mira se defendeu e contra-atacou com o mesmo movimento, mandando uma onda escaldante de volta para Naruto. Ao contrário do ataque anterior, a bomba de vácuo dele pode vencer a minha defesa, pensou Mira consigo, especialmente se lançada a essa distância.

Naruto, que propunha lutar em ritmo acelerado, já havia trocado de posição outra vez. Agora estando às costas de Mira Uzumaki, imediatamente arremessou um Fuuton: Rasenshuriken; e a Yuurei mal teve tempo de virar o corpo.

— E não é só isso — executou os selos de mãos em um piscar de olhos. — Shuriken Kage Bunshin no Jutsu!

Para seu assombro, Mira viu o Fuuton: Rasenshuriken se multiplicar dezenas de vezes enquanto voava em sua direção. Ele multiplicou um Ninjutsu pesado desses do nada, arregalou os olhos, impossível!

Mas à medida que os Fuuton: Rasenshuriken se aproximavam, Mira pôde vê-los com mais clareza e percebeu que no epicentro de cada uma das esferas espirais havia uma shuriken de verdade camuflada. Então foi assim que você fez, Naruto, Mira executou selos manuais em resposta. Simplesmente brilhante!

— Fuuinjutsu...

Mas o que Mira Uzumaki esperava não aconteceu. Ela havia antecipado um bombardeiro de Fuuton: Rasenshuriken, mas o que aparecera, na verdade, fora um batalhão de clones das sombras desfazendo o Henge no Jutsu (Técnica de Transformação). Num instante, a Yuurei se viu bem no meio de dezenas de Naruto Uzumaki em Modo Sennin dos Sapos; e ainda que pudesse destruí-los, o Senjutsu lhes garantiria uma resistência física muito superior à de clones das sombras comuns. Apenas golpes fatais funcionariam naqueles múltiplos.

De novo Naruto conseguira arrastá-la para uma luta à curta distância, onde claramente possuiria a vantagem. Mira já se preparara para tal cenário; e por isso mesmo havia selado o chakra do Oito Caudas em si própria — pois usaria o poder da Besta para ampliar todos os seus atributos físicos, especialmente sua velocidade! Não fosse assim, seria obliterada pela movimentação supersônica de Naruto, tal como fora Taka Kazekiri.

Infelizmente, o manto de chakra do Oito Caudas jamais preencheria todas as lacunas de modo a tornar a disputa perfeitamente equilibrada na curta distância. Com o Senjutsu, Naruto ainda possuiria reflexos melhores, sentidos mais aguçados e uma força física superior. Fora que, em matéria de Taijutsu, era um ninja mais habilidoso... e estava em maior número.

São muitos, Mira Uzumaki via olhos amarelos em todas as direções. Era impressionante que Naruto conseguisse criar tantos clones de uma só vez. O manejo de energia natural era tão complexo quanto a prática de Fuuinjutsu avançado, e tido como uma das artes mais perigosas de todo o mundo ninja — se não a mais perigosa. Mesmo assim, Naruto o fazia parecer ser algo tão simples. Você se tornou um verdadeiro mestre em Senjutsu, Naruto, pensou a Yuurei.

Com o chakra do Oito Caudas fluindo ainda mais livremente, Mira Uzumaki sentiu a própria força crescendo exponencialmente. O manto de chakra borbulhava mais intensamente, dando forma a quatro, depois seis e, finalmente, oito tentáculos vermelho-translúcidos de um polvo. Mira, que desprezava com todas as forças o destino maldito de Jinchuuriki imposto à Kushina e depois a Naruto, sentia-se repugnante só por precisar apelar ao mesmo artifício.

Mas a pior parte era saber que aquele poder, originariamente, pertencia a um ninja da Vila da Nuvem. Para Mira, era como banhar-se no sangue de seu próprio povo. Uma depravação à memória do clã Uzumaki.

 — Venha, Naruto.

Os clones avançaram todos de uma vez e tudo se tornou um caos. Naruto, usando seu Shunshin no Jutsu aprimorado pelo Modo Sennin Sapos e dispondo de ampla vantagem numérica, bombardeava Mira por todos os lados possíveis, ao passo que a Yuurei contra-atacava combinando o Taijutsu refinado que aprendera na Vila da Chuva com o Kongou Fuusa no Jutsu e as caudas de Gyuuki. Uma troca de forças insana, impossível de ser acompanhada por olhos humanos. Tudo acontecia tão depressa e mal havia tempo para que qualquer um dos dois pensasse no que iria fazer a seguir. Os movimentos de ambos eram praticamente automáticos e instintivos.

Só que Naruto já estava habituado a cenários caóticos, Mira não; e por isso ela precisava, o mais depressa possível, restabelecer a distância entre eles. Naruto crescia diante da Yuurei, que até tentou abrir um portal de trevas e foi severamente punida por sua displicência. Antes que Mira conseguisse atravessá-lo, um chute vindo do nada interceptou sua manobra evasiva, mandando a vice-líder dos Yuurei de volta para a tempestade de clones das sombras.

Você não sairá daí, observou o verdadeiro Naruto Uzumaki, que por haver já esgotado todo seu chakra para Senjutsu, não estava entre os clones e, enquanto preparava seu próximo movimento, assistia à batalha a uma distância segura, esse era o plano desde o começo. Enquanto estiver presa na curta distância, meus clones nunca te darão tempo para fazer qualquer selo manual. É assim que vamos te anular, Mira Uzumaki!

A fumaça dos clones derrotados rapidamente se espalhou pelo campo esverdeado. Incontáveis correntes de chakra serpenteavam em várias direções, ora acertando, ora perdendo o tempo de seus respectivos alvos; e o som de metal colidindo contra metal estalava repetidas vezes no ar, junto com gritos de ambas as partes.

Entrementes, Naruto acumulava mais chakra para Senjutsu para voltar ao Modo Sennin. Era verdade que poderia simplesmente usar o pergaminho de invocação e trazer um dos clones que deixara no Monte Myoboku, mas isso iria contra seu gerenciamento de recursos. Aqueles clones eram especiais, tinham um propósito muito específico e Naruto não poderia desperdiçá-los podendo ele próprio juntar energia natural sempre que tivesse oportunidade.

Foi o que Mira Uzumaki estranhou. À medida que o número de clones diminuía, sua visão panorâmica melhorava — já havia percebido o verdadeiro Naruto Uzumaki, mais recuado e perfeitamente imóvel. Naruto quer entrar no Modo Sennin de novo, pensava consigo mesma, mas se ele trouxe um pergaminho de invocação consigo, então por que não o usou? Qual é o seu plano, Naruto?

Mira tentou atacar o Naruto original, mas os clones obrigavam-na a manter sua atenção toda voltada para eles. Os múltiplos de Naruto Uzumaki serviam tanto para o ataque quanto para a defesa. Mantinham a vice-líder dos Yuurei ocupada enquanto ganhavam tempo para o Naruto original.

Que, eventualmente, voltou ao Modo Sennin.

— Kage Bunshin no Jutsu — Naruto sabia perfeitamente a quantidade de chakra para Senjutsu que poderia dispor sem perturbar os clones deixados Monte Myoboku. Conjurou outros clones para reforçar o batalhão que segurava Mira Uzumaki, os quais avançaram imediatamente. Exceto quatro clones. Estes permaneceram junto do Naruto original.

Do outro lado, embora Mira não entendesse onde Naruto queria chegar, sabia que existia um motivo tático por trás daquela decisão. Ele não separou aqueles clones arbitrariamente, pensou Mira, reunindo chakra para criar outra floresta de correntes adamantinas. Abriria caminho até o verdadeiro Naruto Uzumaki dessa forma.

Mas ao contrário de antes, agora os clones estavam atentos a eventuais formações de barreiras e tomavam cuidado para manter a luta em campo aberto. Enquanto a Yuurei não levantasse uma barreira para encurralá-los, poderiam se desviar das correntes com relativa facilidade. Seus ataques-surpresa não parecem funcionar muito bem nesse cenário, observou Naruto.

Bastava confirmar essa possibilidade.

— Vão — disse para os clones.

Os quatro circundaram o campo de batalha, cada um mantendo a mesma distância um do outro e todos os quatro a uma distância segura da Yuurei. Posicionaram-se em uma formação quadricular.

Mira finalmente havia entendido o plano de Naruto. Ele quer me aprisionar numa barreira... eu e todos esses clones, franziu a testa, confusa. Mas isso não faz sentido nenhum! Naruto, isso é justamente o que eu...

— Kuchiyose... — a voz do Naruto original cortou estridente o ar, a despeito de todo o ruído que cercava a Yuurei — Gamaguchi Shibari (Invocação: Prisão da Boca do Sapo).

— Senpou: Shisekiyoujin (Arte Sábia: Quatro Formações Vermelhas Yang) — bradaram os quatro clones ao mesmo tempo.

O resultado daquela combinação foi praticamente instantâneo e exatamente como Naruto havia esperado. Enquanto seus clones erguiam uma barreira externa, Naruto invocara uma barreira interna feita da carne de esôfago de um sapo do Monte Myoboku. O Gamaguchi Shibari no Jutsu era uma prisão viva, autoajustável e autorreparável, que crescia mais e mais, assumindo a forma cúbica por causa do Shisekiyoujin, e cerrava tudo dentro de espessas camadas de carne.

Uma vez que Naruto conseguira mantê-la bastante ocupada com seus clones, Mira não pôde evitar aquela combinação de Kekkaijutsu (Técnica de Barreira) e só pôde assistir, enquanto permanecia lutando, a luz solar desaparecendo pouco a pouco de sua visão até só lhe restar o escuro.

Mira então se deu conta de que esteve enganada desde o começo. O plano de Naruto para capturá-la ia muito além de envolvê-la em uma combinação de Kekkaijutsu. Então, este vai ser seu golpe final, pensou Mira que, em meio a todo o caos, finalmente havia conseguido executar um selo rápido na mão direita — e justo quando captara outras duas frequências de chakra se elevando a centenas de metros dali. Ambas eram fortes, muito fortes, e bastante incomuns para todos os padrões humanos. Exceto o de Naruto Uzumaki quando estava no Modo Sennin.

Os sapos, concluiu Mira.

Do lado de fora da barreira, Naruto lançou bombas de fumaça para o alto. Aquele era o sinal.

Conto com vocês, pensou Naruto.

Quando viram a fumaça roxa colorindo o céu, Fukasaku e Shima, escondidos e estrategicamente posicionados a muitos metros de onde Naruto Uzumaki confrontava a vice-líder dos Yuurei, já sabiam exatamente qual era o próximo passo.

— O garoto pegou mesmo ela, Pai! — Shima sorriu empolgada após desfazer a ocultação de chakra, mas logo corrigiu a própria postura. — Digo, isso já era esperado.

— Ainda não acabou, Mãe — ao contrário da esposa, Fukasaku preferia adotar uma postura mais cautelosa. — Precisamos fazer nossa parte.

Shima soltou um lamento.

— Você sabe que eu odeio cantar — choramingou. — É sempre tão difícil acompanhar a melodia. E como não bebi água hoje, minha garganta...

— ... pare de reclamar, mulher! — gritou Fukasaku e Shima imediatamente lhe desferiu um murro na cara.

— Você é insensível, Pai.

Fukasaku resmungou enquanto alisava a bochecha esbofeteada.

— Francamente...

 Apesar de tudo, porém, os Dois Grandes Sapos Sábios não tardaram a puxar o ar pela boca ao mesmo tempo. Após adequarem o ritmo de suas respirações um ao do outro, balancearem a quantidade de chakra a ser utilizado, bem como o tom de suas vozes, Fukasaku e Shima começaram a coaxar uma melodia horrorosa, agressiva aos ouvidos e tão alta que viajava perfeitamente audível por centenas de metros dali.

Uma vez que sua mente for captura, Fukasaku pensava consigo, nossa vitória estará garantida, Mira Uzumaki.

O som atravessou até mesmo aquelas densas camadas de carne de sapo.

 — Então, já começou... — Mira ainda lutava contra os últimos clones de Naruto Uzumaki quando percebeu o código do Genjutsu sendo enviado para seus ouvidos, e dos ouvidos diretamente para o cérebro. Precisava fazer algo urgentemente, pois, à medida que o tempo passava, mais sua cabeça sincronizava-se com a música dos sapos; e se fosse pega naquilo, então seria o fim.

— Não posso perder mais tempo com vocês — disse para os sete clones espalhados na escuridão. Apesar de não conseguir vê-los, Mira sentia-os ali dentro e sabia determinar onde estavam exatamente; assim como eles faziam em relação a ela.

Para ninjas sensoriais, a visão poderia ser dispensável às vezes. Não obstante, havia uma vantagem da qual Mira poderia se aproveitar. Com o número de clones já muito reduzido, Naruto já não conseguia impedi-la de executar selos manuais tão eficientemente quanto antes. Mesmo assim, pensou Mira, ainda é complicado lidar com o Naruto em um combate corpo a corpo. Minha especialidade é lutar da média para a longa distância.

O coaxar dos sapos se tornou mais forte em sua cabeça, pelo que Mira se pôs a agir rapidamente. Executou os selos o mais depressa que conseguia, enquanto ajustava o chakra do Oito Caudas simultaneamente. As correntes adamantinas, assim como sua defesa absoluta, lhe garantiriam certo tempo contra os clones de Naruto.

Os sete atacaram todos de uma só vez, em perfeita sincronia. E o canto dos sapos ficava ainda mais forte.

O primeiro clone desviou das correntes adamantinas saltando para a direita. Um movimento que Mira já previra, afinal sabia que Naruto Uzumaki era destro. Interceptou-o ainda no ar, empalando o clone após encurralá-lo em uma armadilha de correntes. Outros três clones atacaram sua retaguarda, e Mira chicoteou as correntes para afastá-los. Mais dois vinham pelos flancos, e o último pela frente. Era muito difícil se defender de todos e se manter concentrada na defesa contra o Genjutsu ao mesmo tempo.

E o canto dos sapos ficava ainda mais forte.

Mira pestanejou por um segundo, tempo suficiente para um dos Naruto atingi-la com um chute, lançando-a contra a parede de carne mais próxima. A carne viva se agarrou às suas costas, mas Mira forçou o escape. Imediatamente foi golpeada por outros dois clones, que tentavam travar suas mãos. Mira protegeu a todo o custo os dedos ocupados com a sequência de sinais, e usou, pela primeira vez naquela luta, os próprios cabelos como arma — o que acabou surpreendendo Naruto.

— Ninpou: Kebari Senbon (Arte Ninja: Mil Agulhas de Cabelo) — bradou Mira Uzumaki, atingindo os dois clones de uma só vez.

Ainda restavam quatro clones. Mira procurava tomar distância, mas eles a perseguiam insistentemente. Espantou-os usando as correntes adamantinas, as caudas do manto de chakra e, também, o Ranjishigami no Jutsu (Técnica da Juba do Leão Selvagem), através do qual Mira endurecia e alongava o próprio cabelo para criar chicotes — um jutsu originalmente ofensivo, que Mira Uzumaki pretendia usar em outro momento durante a luta, não ali contra meros clones. Tudo isso só para evitar o confronto direto, lamentou-se ela.

Inesperadamente, porém, um dos clones de Naruto surgiu da parede de carne bem à sua frente e a agarrou pela cintura. Mira exclamou exasperada e destruiu aquele clone, perfurando-o com as correntes. Ele está tentando ganhar tempo até o Genjutsu surtir efeito, compreendeu Mira, cujos dedos ainda trabalhavam na sequência de selos manuais.

O canto dos sapos ficava ainda mais forte.

Mira caiu sobre os joelhos, já sentindo a própria mente a abandonando. Ao mesmo tempo, Naruto atacou de novo. De novo. E de novo. Ainda consciente, Mira Uzumaki abdicou-se da defesa e concentrou todos os esforços a fim de finalizar a sequência de selos manuais.

Cavalo, Tigre, Dragão, Coelho, Galo, Cavalo, Dragão, Rato, Tigre, Mira sussurrava mentalmente para si mesma. Seus dedos trabalhavam freneticamente, executando selo após selo. Já os ouvidos identificavam as notas musicais e, ao mesmo tempo, particionavam o código do Genjutsu que era enviado para sua mente.

O selo do Javali era o último da sequência. Mira sussurrou algumas palavras para si própria.

— Fuuin — foi a última coisa que disse antes de perder o controle de si mesma.

                                                                            ***

Não sabia dizer quando tempo havia se passado desde então. Mas quando abriu os olhos, Mira Uzumaki se via flutuando presa dentro de um cubo de água, com quatro sapos gigantescos com armaduras de samurai — todos com a pata esquerda estendida para o cubo, com a ordem “selar” escrita em suas palmas. O Dueto Paralisante do Sapo, reconheceu, o Genjutsu mais poderoso do Monte Myoboku. É realmente impressionante visto daqui.

Naruto estava do lado de fora do cubo ilusório observando atentamente a Yuurei capturada. Fukasaku e Shima também estavam ali, cada um sentado sobre um dos ombros de Naruto. As feições dos três eram bastante distintas.

— Então essa daí é a temida vice-líder dos Yuurei? — Shima virou-se para o lado direito. — Vocês dois fizeram tanto alarde por causa dessa garota?

Fukasaku pareceu meio desconcertado.

— Tínhamos motivos para sermos cuidadosos, Mãe — observou o velho sapo de forma bem mais comedida. — O fato de nosso plano ter funcionado não significa dizer que Mira-chan não seja perigosa.

— Meu plano, você quis dizer — Shima cruzou as duas patinhas dianteiras. — Se tivéssemos seguido o seu plano, Pai, o garoto ainda estaria lutando... e sabe-se lá o que teria acontecido.

— Eu já disse, Mãe! Tinha minhas razões para ser cuidadoso...

— ... e respeitar exageradamente um adversário pode ser um erro tão grande quanto agir de forma precipitada — adiantou-se Shima. — Às vezes, é preciso impor seu ritmo de luta para vencer — virou-se para Naruto. — O garoto também é forte!

Ao ouvir aquilo, Naruto, que até então olhava apenas para Mira Uzumaki, olhou de soslaio para Shima e sorriu timidamente.

— Obrigado, Vovó — e imediatamente voltou a atenção para a prisioneira.

A vice-líder dos Yuurei assistia àquela discussão com um silêncio pacato, como era de seu costume. Mas havia uma leveza no rosto de Mira Uzumaki que Naruto não conseguia explicar. Mira o olhava nos olhos e parecia gostar do que via. Qual é o problema dessa mulher, afinal?, queixou-se Naruto.

— Eu tenho perguntas para te fazer.

— Muito conveniente da sua parte — respondeu Mira com certo sarcasmo. — Achei que tivesse dito que não veio aqui bater papo.

— Minha mãe — Naruto a ignorou e prosseguiu —, o que ela significava exatamente para você? Que tipo de laço você tinha com ela?

Mira estudou cuidadosamente o rosto de Naruto Uzumaki.

— Era algo bem próximo do seu laço com Sasuke Uchiha, só que bem menos problemático — respondeu a Yuurei. — Kushina e eu nunca tentamos nos matar — esboçou um sorriso — e também nunca nos beijamos.

Naruto, porém, ouvia a tudo quieto. Ele, que já observava Mira Uzumaki com atenção cuidadosa, dirigiu-lhe um olhar ainda mais profundo.

— Mentira.

— Do que está falando?

— Vejo o Sasuke como um irmão — semicerrou os olhos —, mas ele é um Uchiha e eu um Jinchuuriki Uzumaki. No fim, nosso laço é tudo menos de sangue.

Mira empalideceu.

— Está me dizendo que você já...?

— Eu quero saber a verdade... — a voz de Naruto falhou pela primeira vez enquanto ele sustentava um olhar fixo para o rosto da mulher diante dele. Naruto Uzumaki tremia, mas desta vez não era por raiva e sim por ansiedade. Uma ansiedade há muito tempo reprimida dentro de seu próprio coração e que agora poderia, finalmente, sair.

— Naruto-chan? — os dois sapos também foram pegos de surpresa. Ei, o que há com você, garoto?, perguntou-lhe Shima, estranhando aquela súbita mudança de ar.

Mas Naruto já não conseguia mais esconder os próprios sentimentos. Seu rosto o denunciava. O seu segredo — o outro motivo particular pelo qual decidira ele próprio ir atrás dos Yuurei; e justamente de Mira Uzumaki — estava estampado em sua face.

— Eu também procurei por informações suas. Descobri muita coisa... e também tenho pensado nisso desde quando nos vimos naquele dia... — Naruto procurou se controlar, só que Mira também se mostrava tão inquieta quanto ele. — Ainda não tenho certeza... por isso quero ouvir de você pessoalmente, Mira Uzumaki.

Mira cerrou os punhos, contendo-se. Naquele momento, daria tudo para que nunca estivessem em lados opostos do tabuleiro. O Banbutsu Souzou poderia fazer isso possível, mas ainda não passava de algo distante. Já Naruto estava bem ali.

Mira queria tanto abraçá-lo. Agora mais do que nunca.

— Takumi Uzumaki e Keiko Uzumaki, os seus avós maternos, eram meus verdadeiros pais e Kushina, a minha irmã mais velha — ao contrário de quando comparara seu laço com Kushina com aquele que Naruto tinha com Sasuke, Mira Uzumaki sorriu sinceramente desta vez, e Naruto soube discernir isso muito bem. Mira também tinha as bochechas coradas e o olhava no fundo dos olhos, azul contemplando azul. — E como você pode ver, Naruto, sua mãe e eu éramos gêmeas.

Para Naruto Uzumaki, ouvir aquilo foi como ter uma lâmina atravessando seu peito. Entendo, então é isso, respondeu mentalmente. Mas apesar de estarrecedoras, aquelas palavras não lhe foram nem um pouco surpreendentes, pois no íntimo de seu coração Naruto já parecia saber toda a verdade. Descobrira-a há muito tempo, quando esteve face a face com Mira Uzumaki durante a invasão dos Yuurei à Vila da Folha.

Assim como quando encontrara o espírito de sua mãe, Kushina Uzumaki, durante o treinamento para domar o poder de Kurama, Naruto só precisou de uma boa olhada naquele rosto tão tragicamente familiar para saber quem, verdadeiramente, era a mulher ali diante dele. Não se tratava de um truque nem de outra artimanha cruel dos Yuurei. Mira Uzumaki era exatamente quem dizia ser.

E por ser quem era, Mira jamais conseguiria enganá-lo, pois Naruto Uzumaki já conhecia muito bem aquele rosto. Acostumara-se a ele muito antes de saber da existência dos Yuurei.

Não obstante, Naruto não estava imune à verdade. O que mais doía não era confirmar, naquelas circunstâncias, suas próprias suspeitas quanto àquele laço sanguíneo. Tampouco não era descobrir que nunca estivera sozinho no mundo, e, durante todo esse tempo, possuía uma tia, a irmã gêmea de sua mãe, que poderia tê-lo criado, educado e protegido quando ele não passava de uma criança indefesa e detestada.

O que mais doía era saber que essa mesma mulher, Mira Uzumaki, sua tia, representava o mal que Naruto havia jurado destruir. As mãos de Mira estavam sujas de sangue inocente, de pessoas que ele amava. E os Yuurei não iriam parar; Mira Uzumaki não iria parar. Estou disposta a fazer qualquer coisa, Naruto, dissera-lhe a tia.

Naruto sentiu sobre si os olhares de todas as vítimas dos Yuurei. Kakashi-sensei, Sobrancelhudo-sensei, capitão Yamato, tio Bee, Shion, Hiashi-sama, pessoal, todos aqueles rostos o julgavam bem ali. Naruto não poderia decepcioná-los, nem os vivos nem os mortos. Tampouco poderia se permitir um único ato de egoísmo; e por mais que a palavra tia estivesse presa em sua garganta, Naruto a fez voltar. Minha inimiga, reforçou para si mesmo, é tudo o que ela é neste momento.

 Mas o peso de ser considerado o Herói do Mundo Ninja às vezes era grande demais até para ele suportar. Naruto acabou se questionando como as coisas seriam se, porventura, pudesse torná-las diferentes.

— Ei, Naruto-chan! — foi como despertar de um transe. A voz de Fukasaku puxou de volta dos próprios pensamentos. — Recomponha-se.

— O Pai tem razão, Naruto-chan, coloque a cabeça de volta no lugar — disse Shima com seriedade. — Não interessa quem é esta mulher para você. Devemos levá-la para a Folha e extrair todas as informações que pudermos.

Mira meneou a cabeça.

— Acha mesmo que eu seria derrotada assim tão facilmente, Shima-sama? — perguntou Mira com voz calma. Já a velha sapa sentiu uma pontada de incômodo pelo fato de a Yuurei conhecer seu nome.

— Não fique se achando, garota! — desdenhou Shima embasbacada. — Nem mesmo o Rinnegan pôde escapar deste Genjutsu. O que acha que pode fazer?

— Não é o que posso, Shima-sama. É o que já fiz.

— É um blefe! — exaltou-se Fukasaku. — Sua mente foi capturada, Mira-chan. Não pode simplesmente libertá-la como se este fosse um Genjutsu qualquer; e sabemos que o Oito Caudas não está colaborando com você. O que você fez foi tomar o controle do chakra Bijuu, como o Naruto-chan fez antes de formar parceria com a Nove Caudas; e por você não ser uma Jinchuuriki perfeita, o Oito Caudas não irá livrá-la do nosso Genjutsu.

Mira assentiu.

— Está correto, Fukasaku-sama, o Oito Caudas e eu não nos damos bem, por isso tive que amordaçá-lo — assim que disse isso, Mira viu o rosto em fúria de Naruto sobre si; ignorou-o. — Mas está cometendo um erro terrível subestimando a técnica de Fuuinjutsu do clã Uzumaki. Selar qualquer coisa é a nossa especialidade.

Fukasaku estava prestes a responder, mas perdeu completamente a voz de tão perplexo que estava. Ao seu lado, Shima também se mostrou bastante perturbada. Impossível, sussurrou a sapa olhando as árvores do País do Redemoinho reaparecendo ao redor, isso é impossível! Sem chance! Como isso foi acontecer?

A ilusão se desfizera num instante.

— O que foi que aconteceu lá, Pai? — Shima perguntou imediatamente ao marido. No mundo real, estavam bem longe de Naruto e de Mira Uzumaki. — Como aquela mulher conseguiu escapar?

Mas Fukasaku estava tão surpreso quanto a esposa.

— Precisamos urgentemente nos juntar ao Naruto-chan, Mãe! Estou com um pressentimento muito, muito ruim — foi o que disse o velho sapo.

Que o Genjutsu fora quebrado Naruto já sabia, mas ainda tinha Mira Uzumaki debaixo de duas barreiras. No pior dos casos, posso comprimir as paredes do Gamaguchi Shibari no Jutsu e empurrá-la para o estômago do sapo, onde será digerida, avaliou Naruto já com as mãos preparadas.

Dentro da prisão estava quieto demais. Ela derrotou os últimos clones, Naruto bateu as duas palmas, dando início à sequência de selos manuais. Nesse ínterim, porém, para sua própria incredulidade, Naruto viu toda estrutura de Kekkaijutsu ser corrompida por símbolos de uma fórmula de selamento. De repente, Naruto já não conseguia mais controlar o próprio jutsu; não apenas o Gamaguchi Shibari, como até mesmo a barreira externa, Shisekiyoujin, era tomada pelas ramificações do Fuuinjutsu.

Por fim, ambas as técnicas desapareceram, sugadas para debaixo da terra em um tipo de vórtice.

Em um movimento rápido, Naruto lançou uma kunai revestida de vento no instante em que Mira aparecia atrás dele. A faca traspassou a testa da Yuurei e sumiu no horizonte.

— Belos reflexos — disse a verdadeira Mira Uzumaki, surgindo atrás de seu clone de pedra derrotado.

— Como você escapou do Genjutsu? — perguntou Naruto objetivamente.

— Seja paciente. Fukasaku-sama e Shima-sama já estão quase aqui — com o queixo, indicou o farfalhar das árvores atrás de Naruto. — Enquanto isso, devo elogiá-lo por sua postura, Naruto. Sua blitz inicial foi realmente muito forte e eu quase fui pega.

Naruto havia tomado conselho com Fukasaku e Shima e decidido impor o ritmo de luta mais acelerado possível assim que encontrassem Mira Uzumaki. Sendo certo que se tratava de uma adversária com um repertório de técnicas maior que o dele — além da vantagem territorial e do longo estudo que a Yuurei fizera para encontrá-lo —, Naruto seria um tolo se prorrogasse o confronto. Quanto mais tempo demorasse, menores seriam suas chances de surpreendê-la, e maior seria a vantagem de Mira.

Por um instante, Naruto pensou ter sido bem-sucedido na tarefa de capturá-la; até Mira escapar misteriosamente do Dueto Paralisante do Sapo. E o mesmo truque não vai funcionar duas vezes, Naruto percebeu que a Yuurei mantinha a uma distância considerável dele.

Fukasaku e Shima apareceram naquela mesma hora, e juntaram-se aos ombros de Naruto. Como se se encontrassem pela primeira vez, Mira cumprimentou os Dois Grandes Sapos Sábios.

— Agora sim, às explicações.

Mira bateu as mãos abertas e abriu a boca para expelir um pequeno rolo de pergaminho verde-musgo. Assim que o pergaminho saiu, Mira prontamente o jogou para Naruto, que apesar de desconfiado, pegou-o com uma das mãos.

— O que é isto? — perguntou Fukasaku, franzindo a testa.

— O código do Genjutsu e a fórmula que eu desenvolvi para anulá-lo — respondeu Mira. — Podem conferir, se quiserem.

Naruto estudou com cuidado o rosto da tia e então assentiu para os sapos. Ainda assim, Shima, por precaução, tomou o pergaminho de Naruto e o abriu primeiro.

— Isso... isso é — a sapa arregalou os olhos.

— O que foi, Mãe? — sobressaltou-se Fukasaku.

Shima não fora pega em nenhuma armadilha, mas estava boquiaberta; e então mostrou a Naruto e Fukasaku o conteúdo do pergaminho. De fato, todo o código do Dueto Paralisante do Sapo estava transcrito em tinta preta no pergaminho; e em tinta vermelha, uma fórmula de Fuuinjutsu, exatamente como lhes dissera a Yuurei.

— Estudei música quando criança. Por isso eu soube reconhecer as notas musicais da melodia de vocês, Fukasaku-sama e Shima-sama — explicou Mira —, e também o código que era enviado por baixo de cada uma delas.

Shima balançou a cabeça estarrecida.

— Não tinha como você preparar algo assim enquanto caía no Genjutsu — virou o pergaminho para Mira. — Essa fórmula é muito específica! Como você...?

Mira assentiu compreensiva.

— Eu já a tinha desenvolvido há muito tempo — respondeu. — Seu Dueto Paralisante do Sapo era uma possibilidade e, portanto, me precavi para enfrentar o Naruto.

— Como você sabia da canção? — perguntou Fukasaku.

— A terceira fase do Exame Jounin, há dois anos — adiantou-se Naruto a responder. — Ela estava entre o público que foi ao estádio me ver lutar. Nós usamos esse mesmo Genjutsu na luta contra o Kakashi-sensei.

Mira deu um sorrisinho.

— Agora que já sabe quem sou, o que quero e o quanto eu o conheço, convido-o a se juntar a mim, Naruto — estendeu a mão. — Sabe tanto quanto eu que não pode me vencer. Então, renda-se.

Naruto usou o Shunshin no Jutsu para encurtar a distância e aparecer bem diante de Mira, mas a vice-líder dos Yuurei antecipou-se ao ataque e manteve a distância usando o poder que o chakra do Oito Caudas lhe conferia. Ela nivelou nossas velocidades, avaliou Naruto. Está usando muito mais chakra do Gyuuki desta vez.

Mira se pôs em pé na copa de uma árvore.

— É um tolo se pensa que a mesma tática vai funcionar comigo outra vez. Por favor, desista — e indicou as marcas que suas correntes adamantinas haviam deixado no sobrinho. — Não me agrada machucá-lo, Naruto.

Naruto tocou o pescoço, lembrando-se da agonia do sufocamento, e suspirou devagar.

— Kage Bunshin no Jutsu — quatro clones apareceram.

Tão teimoso, Mira meneou a cabeça, também unindo as mãos em um selo. Que assim seja.

Fukasaku e Shima fizeram o mesmo sinal com as patas dianteiras.

— Já sabe o que fazer, Naruto-chan.

Naruto assentiu em silêncio e levou a mão até a bolsa de ferramentas no dorso, abrindo-a rapidamente. Os dedos encontraram em bombas de fumaça e, também, a máscara de madeira que Konan lhe entregara no País da Chuva.

Entrementes, Mira falou em voz alta:

— Há muita coisa que eu quero te ensinar, Naruto. Permita-me mostrar o que nosso clã é capaz de fazer; e por que o Fuuinjutsu dos Uzumaki era tão temido.

Naruto agarrou ambos os artefatos e os manteve escondidos atrás de si por um tempo, especialmente a máscara.

— Hoje não — respondeu Naruto. — Lamento, mas vou te decepcionar bastante hoje.

                                                                            ***

— Mas o que diabos ele está fazendo aqui? — Kan engoliu em seco e imediatamente olhou para os companheiros à sua volta. Uns, como Hana, estavam mais perplexos. Outros, como Kioto, nem tanto; e ainda havia aqueles que tomaram a aparição de Sasuke Uchiha ali como uma agradável surpresa.

Suki pertencia ao terceiro grupo. Quando ouviu o nome de Sasuke ser pronunciado, a Assassina de Kages abriu um sorriso de orelha a orelha.

Foi muito rápido. Em um instante, Suki já havia cruzado a ponte e atacado Sasuke, que aparou o espigão venenoso do leque de guerra com o fio da espada.

— Isso é tão familiar, não é mesmo? — a Yuurei girou o leque e, empunhando-o com as duas mãos como se fosse um bastão, pressionou-o contra Sasuke, que habilmente trocou a catana para a mão direita e segurou toda a investida de Suki. — Já nos encontramos assim antes... — citou o pequeno confronto que tivera à entrada da Vila da Folha com Sasuke Uchiha quando fora entregar, acompanhada do antigo parceiro, Taka Kazekiri, a cabeça da princesa Shion para Naruto Uzumaki. — O que acha de continuarmos de onde paramos?

— Saia da minha frente, mulher — disse Sasuke secamente. — Não trouxe minha espada de tão longe para cortar lixo como você.

— Lixo? — grunhiu Suki. — Ora, seu...

— Queime. — Sasuke, que havia fechado o olho esquerdo por um momento, tornou a abri-lo. Uma lágrima de sangue escorreu por sua face. — Amaterasu!

Suki saltou para trás há uma fração de segundo de ser engolida pelas chamas negras, que silvaram famintas pelo ar. Mas antes que Sasuke pudesse continuar o ataque contra Suki, seu Sharingan viu algo chegando e, com a catana, defletiu o mesmo golpe que dividira o Amaterasu e, por pouco, não o decapitara. Uma onda de corte, estranhou Sasuke, já procurando aquele dentre os Yuurei que seria o responsável por atacá-lo. Ah, foi ele.

Do outro lado da ponte, Musashi Yamamoto já tinha desembainhado suas duas espadas.

— Sasuke Uchiha... — com um sussurro irritado, Hana Sakegari também juntou as mãos para formar selos. Desta vez, usarei meus olhos, completou mentalmente enquanto fechava as pálpebras. Quem possui o melhor Genjutsu? Você, com o Sharingan, ou eu, com o meu...?

Mas Hana surpreendeu-se com um toque gentil que lhe impedia de executar os selos manuais. Abrindo os olhos novamente, viu a mão direita de Kioto posta sobre as dela.

— Kioto-sama? — Hana olhou-o com uma expressão de dúvida.

Em silêncio, Kioto Hyuuga respondeu apenas balançando a cabeça negativamente. Mas o olhar dele falava por si só: não faça isso. Hana só não sabia dizer a que exatamente Kioto se referia — se ao fato de ela se intrometer no embate contra Sasuke Uchiha, de ela usar seu Doujutsu à vista dos demais Yuurei (algo que Mira e Kioto haviam terminantemente lhe proibido de fazer), ou se ambas as coisas. De qualquer forma, Hana sentiu-se feliz por Kioto se importar com sua segurança... e com a do filho que ela carregava no ventre, caso Kioto Hyuuga já o tivesse visto com o Byakugan.

Entrementes, Musashi virou-se na direção de Iori Kuroshini.

— Líder-dono, permita-me enfrentá-lo junto com Suki-dono — sugeriu o Sétimo Oficial. — O senhor e os demais podem seguir para a Vila Oculta da Nu...

— Não — respondeu rapidamente Iori, e logo ergueu a voz: — Suki, recue.

— Sim, Líder-sama — e num instante, Suki reapareceu ao lado de Iori Kuroshini. Apesar de obediente, havia um quê de descontentamento no semblante da Assassina de Kages.

Sasuke olhou para o grupo e sorriu arrogante.

— Pelo visto, as informações estavam todas corretas — apontou a espada na direção de Iori. — Você vinha mesmo para cá... e, aparentemente, andou bem ocupado recrutando — desviou o olhar para Musashi e, também, para o último vulto no lado esquerdo da formação inimiga. — Eu me pergunto se esses aí são tão bons quanto aqueles que eu matei.

— O fato de o terem enviado aqui... — a voz de Iori Kuroshini era fria como aço — significa que alguém contou à Hokage que eu viria — a escuridão começou a exalar a partir do corpo do líder dos Yuurei. O próprio ar tornou-se mais frio e pesado; e Sasuke pestanejou, afastando a sensação de tontura repentina. — Foi a Mira, não foi?

Houve estranhamento geral entre os demais Yuurei. Sasuke e Iori, porém, não tiravam os olhos um do outro. Nem por um segundo.

Sasuke confirmou com um aceno de cabeça.

— Parece que sua parceira não gosta muito de você, líder dos Yuurei.

— Pelo contrário — Iori sorriu por baixo do capuz —, Mira não poderia ter agido melhor. Ela te trouxe direto para mim.

Dito isto, Iori Kuroshini bateu as duas palmas, produzindo eco pelo abismo que o separava do ninja da Folha.

Shozu Ibuke, o mais novo Yuurei, viu o próprio corpo e os dos companheiros assumirem uma aparência translúcida e imaterial, como a de verdadeiros espíritos.

— Ei, o que é isso? — perguntou, fascinado.

— Gentoushin no Jutsu (Técnica da Projeção Astral) — respondeu Hana não podendo evitar a empolgação. — O Líder-sama vai lutar e não quer nos envolver.

— Mas nos quer bem aqui — completou Suki com um sorriso vermelho nos lábios — para testemunharmos o espetáculo.