Os sentidos de Taka não poderiam enganá-lo: não havia um truque ou armadilha. Seu adversário não preparara nada de especial para recebê-lo senão acumular chakra para Senjutsu, e, mesmo assim, ainda não fizera qualquer movimento ofensivo. “Venha, Yuurei, e não se segure”, dissera-lhe. Naruto Uzumaki estava ali, parado diante dele, convidando-o a tomar a iniciativa.

Taka estava confuso. Aquele não poderia ser o mesmo Naruto Uzumaki de antes. “Será que ele não percebe que não tem vantagem nenhuma aqui? E ainda quer lutar na defensiva?! O que ele está planejando?”

Com um olhar rápido, mediu a distância. Aproximadamente oito metros o separavam de Naruto; e Taka planava um pouco acima do chão. Concluiu que não havia necessidade de ganhar altura no ar ali, pois não havia nada a temer. Além disso, seria uma clara demonstração de fraqueza. Ainda assim... “O que ele está esperando?”

Taka resolveu testá-lo. Sem o chakra das Bijuu e o Modo Rikudou Sennin, Naruto estava limitado. Que riscos ele poderia oferecer, afinal?

Assumiu posição de ataque. No entanto, embora tivesse sido o primeiro a tomar a iniciativa, o primeiro golpe conectado foi de Naruto Uzumaki. Taka não viu absolutamente nada. Em um instante, estava a oito metros; e em uma fração de segundo depois, fora arremessado para trás com violência. Até mesmo a dor do impacto na cabeça viera com atraso.

— Mas o quê? — Levantou-se, levemente atordoado. Naruto estava bem à sua frente.

E, no instante seguinte, não estava mais.

— Aqui! — Taka girou rapidamente, mas Naruto já havia desaparecido de suas costas. Agora, atacava pela frente, de baixo para cima. O Yuurei não podia acreditar no que via. “Nenhum jutsu pronto? Ele está me atacando... com as mãos nuas?!”

A poucos milímetros de atingir o estômago do Yuurei com um soco, o corpo de Naruto Uzumaki cintilou e desapareceu; e, quase ao mesmo tempo, o golpe veio limpo — no lado esquerdo do rosto.

Sem deixar o Yuurei sair voando para longe, Naruto emendou a sequência com um chute alto, usando a perna esquerda — que também vazou a defesa de Taka. E mais outro: um acrobático chute com a outra perna, nas costelas; e mais, e mais. Naruto não parava; continuava batendo, sem sequer deixar o oponente cair.

Após um direto com a mão direita, Taka Kazekiri foi arremessado para o meio do lago Neko. Aquele foi o pouco de tempo que teve para respirar e analisar aquela situação. Afinal, estava tomando uma surra.

“Que merda ele fez?”, Taka forçou o nariz quebrado de volta ao lugar. “Esse não é o estilo de luta habitual dele. Ele usa clones e variações do Rasengan para ataques múltiplos a curta distância. Isso... isso é...”

                                                                            ***

— Shunshin no Jutsu (Técnica da Cintilação Corporal). — Os olhos de Mira Uzumaki divertiam-se com a perplexidade no rosto de Taka Kazekiri retratada na bola de cristal. — No seu treinamento com Kakashi Hatake, você aprimorou o seu Shunshin no Jutsu, tornando-se, sem qualquer chakra adicional das Bijuu, um dos ninjas mais rápidos da Vila da Folha. E como o Senjutsu aumenta em várias e várias vezes todos os seus atributos naturais, sua velocidade no Modo Sennin se torna insuperável, Naruto. Até mesmo alguém como Taka não consegue acompanhar. Você está mais rápido que o som, eu diria.

Por ele estar perto de Taka, Mira pôde vê-lo bem. Naruto parecia tão forte e confiante, como quando ela o vira pela primeira vez. A vice-líder dos Yuurei sorria, satisfeita.

“Você poderia ter aprendido o Hiraishin no Jutsu (Técnica do Deus Voador do Trovão), mas preferiu aperfeiçoar o Shunshin no Jutsu, que, embora sendo inferior em velocidade, combina perfeitamente com seu Modo Sennin, já que o Shunshin não precisa de qualquer marcação por selos. É uma técnica de movimentação em alta velocidade, e não teletransporte, como no caso do Hiraishin no Jutsu; o que torna seus ataques independentes e muito mais imprevisíveis.”, analisou Mira, agradando-se do que via.

— Ao invés de copiar a técnica de seu pai, você entendeu e aprimorou o seu próprio estilo de luta, Naruto — observou, ainda, Mira Uzumaki. — Gosto disso.

                                                                            ***

No campo de batalha, Taka já havia compreendido, o que tornava aquela situação ainda mais irritante para o Yuurei. “Shunshin no Jutsu? Isso é uma técnica básica! Eu não posso perder para algo tão ridículo!”

Entretanto, por mais que detestasse admitir, sabia que jamais venceria Naruto Uzumaki em um combate corpo a corpo. Diferentemente do envelhecido Tsuchikage, Naruto estava no auge na forma física, tinha um Senjutsu perfeito e, para piorar, possuía o vigor típico de um membro do clã Uzumaki; e poderia lutar por horas — dias até —, antes de demonstrar o primeiro sinal de exaustão.

Era urgente que Taka levasse a luta para a longa distância, onde retomaria a vantagem. Na curta distância, Naruto Uzumaki era muito superior; seria impossível derrotá-lo ali.

Taka se pôs em pé sobre a água, enquanto via Naruto caminhar, calmamente, em sua direção.

— Achei que você fosse mais rápido, Yuurei — falou Naruto, sério. — Pelo menos, você aguenta apanhar.

— Seu merdinha... — Taka espumava de ódio. — Morra!

Um movimento rápido e Taka arremessou penas incendiárias contra Naruto, ocasionando um arco de explosões de fogo negro. Aproveitando-se das chamas escuras, Taka tomou impulso e ganhou altura no ar. Postou-se a, pelo menos, vinte metros do nível da água, de onde poderia atacar Naruto sem temer os contragolpes.

Como ele poderia imaginar, Naruto não havia sido derrotado com aquele movimento simples. O Sannin atravessou tranquilamente as chamas negras enquanto olhava para cima, encarando o Yuurei em silêncio. Depois, à vista de Taka, Naruto agachou-se sobre os tornozelos, como se fosse um sapo.

 — Não me diga que você vai pu-

O salto foi muito rápido. Taka mal teve tempo de olhar para o alto quando Naruto, já a poucos centímetros acima, atacou com um chute de calcanhar na altura da nuca do Yuurei. Um único golpe foi suficiente para lançar Taka de cabeça contra o lago.

Enquanto o Yuurei despencava, como um míssil, na direção da água, Naruto sequenciava rapidamente selos nas mãos. Em seguida, puxou o máximo de ar para os pulmões e, depois, lançou tudo contra as costas do inimigo.

— Senpou: Fuuton: Fuudan no Jutsu! (Arte Sábia: Estilo Vento: Técnica do Projétil de Vento) — Pela boca, Naruto soprou uma poderosa corrente de vento para chicotear as costas de Taka Kazekiri, e esmagá-lo com ainda mais intensidade contra a superfície da água. O baque do Yuurei afundando ecoou por todo o lago, ao passo que o jutsu de Naruto, atravessando a água, empurrava o Yuurei cada vez mais para o fundo.

Fukasaku assistia a tudo atentamente e coaxou baixinho, impressionado. Para o sábio do Monte Myoboku, era simplesmente incrível a forma como Naruto lidava, sem qualquer dificuldade, com um chakra muito mais esmagador do que o dele. Por também usar Senjutsu, Fukasaku logo percebeu a força do Yuurei com o Selo da Escuridão liberado; bastaria Taka Kazekiri acertar alguns poucos golpes e seria o vencedor.

No entanto, com o Shunshin no Jutsu aperfeiçoado, combinado ao Modo Sennin perfeito, Naruto sequer era encontrado pelo Yuurei no combate, tamanha a diferença de velocidade entre os dois. E, conquanto o inimigo também tivesse uma resistência física absurda, todos os ataques de Naruto estavam entrando. Se Taka era um touro enfurecido, Naruto era o toureiro — e cada estocada feita, gradativamente, minava a força do Yuurei, até que ele caísse de vez.

“Isso não é uma luta, é um massacre unilateral”, observou o sapo, com um sorriso no rosto. “Realmente, o Naruto-chan nunca precisou da minha ajuda.”

Naruto aterrissou de pé sobre a superfície escura do Neko. Seu último jutsu havia lançado uma enorme quantidade de ar pressurizado para dentro da água, provocando ondas poderosas, que se quebravam bem no meio do lago. Naruto saltou para longe delas; e assim que seus pés tocaram uma zona de calmaria, ele pôs a palma da mão sobre a superfície da água, fechando os olhos concentrado.

— Três, dois, um, agora. — Tão breve Naruto terminou a contagem, Taka irrompeu estrondosamente do fundo do lago. O Yuurei gritava com fúria e frustração. Quando encontrou o ninja da Folha, Taka abriu as asas ao máximo e, girando o corpo no ar, soltou tudo o que tinha: fogo, metal, veneno, eletricidade. As penas silvavam para todas as direções.

Embora seu Modo Sennin lhe garantisse a vantagem de perceber todo ataque iminente — ainda que invisível —, de modo que as penas não representavam qualquer ameaça, Naruto havia notado que o Yuurei tomara o cuidado de estar a uma distância segura; bem mais alto do que antes, enquanto permanecia atacando. Outro detalhe importante: Taka possuía Raiton (estilo Raio) em seu arsenal. Logo, continuar lutando na água seria um problema.

Naruto mediu a distância com o olhar; estava muito longe da margem.

— Te peguei, seu desgraçado! — Taka juntou as mãos e bombardeou a superfície do Neko com penas negras faiscantes. E, sendo certo que o Neko era um lago salgado, suas águas eram excelentes condutoras de eletricidade.

Os raios negros riscavam rapidamente a superfície do lago escuro, e quando a eletricidade atingiu Naruto Uzumaki, fazendo-o gritar de dor, Taka Kazekiri sabia que havia vencido. “Não há escapatória para você... herói”, sorriu o Yuurei, triunfante.

Mas tão breve quando havia surgido, o sorriso no rosto de Taka morrera no exato momento em que o Yuurei, pasmo, viu o corpo de Naruto explodir em fumaça.

— Kage Bunshin?! — O Yuurei estremeceu, confuso. — Como? Quando ele fez?

Então, virou o rosto para a margem e mordeu o lábio de fúria. Naruto estava lá, seguro, acumulando uma imensa massa de chakra giratório na mão direita. Pela forma que o ar assumia sobre Naruto, Taka reconheceu imediatamente o jutsu.

“Mas daquele tamanho...”, Taka pensava ser impossível que Naruto conjurasse um ataque tão grande sozinho, sem o chamado Modo Bijuu combinado com o Senjutsu.

— Senpou: Fuuton: Chou Oodama Rasenshuriken! (Arte Sábia: Estilo Vento: Ultra Grande Esfera Espiral de Shuriken). — Era espantoso, mas Naruto só precisava de uma mão para erguer aquilo. Maior do que qualquer sapo de invocação do Monte Myoboku, a monstruosa esfera de vento agitava todo o ambiente ao redor, lançando árvores e arrancando a vegetação enquanto girava sobre a palma de Naruto Uzumaki.

O Yuurei estava bem na mira. Mas ainda que não estivesse, não faria a menor diferença.

— Engole essa! — gritou Naruto, e arremessou a massa de ar com toda a força na direção do lago.

A primeira reação de Taka foi rasgar o ar ao meio e fugir daquilo por meio da escuridão. Mas quando tentou fazê-lo, portal nenhum se abriu, para o espanto do Yuurei. “Uma zona bloqueada bem aqui?”

Já poderia escutar o ruído do ataque chegando. Voar para longe não adiantaria. Considerando o raio de expansão daquela técnica, seria inevitável ser atingido. Temeroso, voou exatamente ao encontro do jutsu de Naruto. Um movimento insensato, mas que, se funcionasse, daria ao Yuurei uma vantagem, possivelmente, decisiva.

Quando chegou bem perto de ser atingido, Taka estendeu o braço metálico para o Rasenshuriken colossal.

Da margem, Naruto viu a estrutura de vento explodir e, então, começar a desaparecer. Semicerrou os olhos, levemente contrariado. “Entendo. Então aquela prótese no braço dele serve para isso; e por não ser parte do corpo dele, não há o risco de ele ficar petrificado por absorver muito chakra natural.”

Desde o final da Quarta Grande Guerra Ninja, Naruto havia trabalhado bastante no seu domínio de Senjutsu. Além de poder criar muito mais clones para os deixar acumulando energia natural (até cem réplicas de uma vez), também conseguira ampliar a quantidade de chakra da natureza de seu Modo Sennin dos Sapos. Dessa forma, não só conseguia se manter mais tempo na transformação, como também passara a usar, sem qualquer auxílio de Kurama e dos demais, técnicas que, outrora, dependeriam de um corpo de chakra muito maior — como o do Modo Bijuu, por exemplo.

O problema era que havia, finalmente, chegado ao limite do seu Modo Sennin. Naruto apostara todo seu chakra da natureza restante naquele último jutsu. A partir daquele momento, até que outro clone estivesse disponível, ele dependeria de seu próprio chakra. O ponto todo era que, no instante em que Naruto moldasse chakra para lutar, revelaria o padrão que estava oculto; tornando seu próprio chakra passível de ser rastreado.

Quando Taka Kazekiri terminou de absorver todo o jutsu, olhou diretamente para Naruto.

“Preciso dar um jeito naquele braço primeiro”, avaliou Naruto. “Depois, eu acabo com ele.”

“Parece que o chakra para Senjutsu dele acabou”, concluiu Taka, vendo a coloração azul-safira de volta aos olhos de Naruto. “Essa é a minha chance!”

Sem pensar duas vezes, Taka partiu para cima de Naruto. Uma vez fora do Modo Sennin, os atributos físicos — sobretudo a velocidade do ninja da Folha —, diminuiriam drasticamente. Além do mais, o Yuurei sabia muito bem que Naruto poderia repor o chakra para Senjutsu e entrar, novamente, no Modo Sennin, caso conseguisse ficar imóvel por algum período de tempo.

De uma hora para outra, toda a dinâmica da batalha havia mudado — e Taka precisaria encurtar a distância novamente. Embora pudesse se manter a alguns metros de Naruto, Taka Kazekiri optara por um duelo de Taijutsu contra um Naruto Uzumaki muito mais lento e fraco.

Sedento por sangue e embebedado pelo desejo de vingança, Taka avançou sem qualquer precaução. Ele precisava fazer Naruto pagar. A poucos segundos de colidir com o Herói do Mundo Ninja, Taka armou o primeiro soco com o braço metálico. Naruto, alerta, não tirava os olhos do inimigo.

Taka aplicou o golpe com toda a fúria, lançando um soco direto em alta velocidade contra o rosto de Naruto, que, por sua vez, esperou o momento exato para, só com a mão esquerda, travar completamente o punho do Yuurei.

“O quê?!”, com o braço direito imobilizado pela pegada de Naruto, Taka mal podia acreditar no que estava vendo. Mas era real; a cor amarela havia voltado aos olhos de Naruto Uzumaki.

“Bem a tempo, Vovô Sábio!”, o timing de Fukasaku tinha sido perfeito. Naruto não precisou de qualquer aviso para notar o clone já invocado do Monte Myoboku; tamanha era a afinidade que construíra com os amigos sapos.

Satisfeito, Naruto esboçou um breve sorriso — o primeiro em dias! Seu semblante estava fechado desde que soubera, por meio de Shikamaru, da morte do Terceiro Tsuchikage. E o responsável por Oonoki haver morrido estava bem ali, na sua frente.

Com os olhos fitos no rosto pálido de Taka Kazekiri, Naruto fechou os dedos da mão esquerda contra o punho direito do Yuurei, amassando-o como se fosse uma simples bola de papel. Taka respirou fundo, tentando desvencilhar o braço da pegada de Naruto, que sequer balançava.

— Me larga! — exigiu o Yuurei. — Me larga, seu...

— Quando vocês deram as caras... — A voz rouca e firme de Naruto causou-lhe um arrepio incômodo; e aquele olhar amarelado parecia hipnotizá-lo. “Eu estou... com medo dele?”, Taka estremeceu. — Eu acabei enfrentando o irmão da tia Mizukage, o Juha Terumi. Eu descobri que meu Modo Rikudou Sennin não anulava o Meiton dos Yuurei, e vocês podiam, sim, lutar de igual para igual comigo. Depois da guerra, eu não achava que algo assim fosse possível. Achei que minha força era suficiente para manter todos seguros..., mas os Yuurei surgiram e mostraram que eu estava errado.

Naruto semicerrou os olhos, mantendo o inimigo na distância.

— Agora eu sei, agora eu entendo. Há verdadeiros monstros entre os Yuurei — continuou Naruto. — Mas você, Taka Kazekiri, não é um deles; e a prova disso é essa coisa no lugar do seu braço.

Taka trincou os dentes.

— Ora, seu... — vociferou. — Não me subestime!

Aproveitando-se da curta distância, Taka estendeu as asas para cercar Naruto pelos dois lados, já disparando penas de metal quase à queima-roupa. Já pressentindo o movimento inimigo, Naruto viu-se forçado a liberar o braço de Taka e saltou por cima, colocando-se a alguns metros às costas do Yuurei. Taka virou-se imediatamente e ganhou altura para disparar. Por sua vez, Naruto, em um movimento rápido, sacou duas facas kunai do estojo, soprando vento infundido com chakra sobre as lâminas. Revestidas do Fuuton, as kunai aumentavam em tamanho e poder de corte; eram como pequenos sabres de vento.

“Fuuton, não é?”, analisou Taka. “Mas, ao contrário de você, eu posso usar as cinco naturezas de chakra, Naruto... e, para o seu azar, banhadas de Meiton!”

Taka subiu ainda mais no ar, abrindo suas asas ao máximo. Por estar com o Yami no Fuuin ativado, as penas não mudavam de cor, anunciando o próximo ataque. Entretanto, o calor que emanava das asas negras já dizia tudo: um ataque de fogo estava por vir.

Naruto arremessou, de uma vez, as duas kunai na direção do Yuurei, que revidou com uma saraivada de penas incendiárias. Assim que lançou seu ataque, Naruto sequenciou selos manuais: Carneiro, Rato, Pássaro, Javali, Tigre

— Senpou: Shuriken Kage Bunshin no Jutsu (Arte Sábia: Técnica do Clone da Sombra de Shuriken). — As duas kunai revestidas de Fuuton se multiplicaram, instantaneamente, às centenas, que assobiavam mortíferas no ar. Uma chuva de metal e vento, lançada de baixo para cima, ao encontro do Yuurei.

Quando as penas flamejantes colidiram com as kunai envoltas por Fuuton, o que se deu foi um extraordinário tiroteio. Explosões de fogo negro aconteciam no ar, entre os dois combatentes, enquanto facas desviavam-se, enlouquecidas, por todas as direções.

Era um caos.

Naruto irrompeu do meio da fumaça escura com um salto, surgindo às costas do Yuurei; e após sequenciar selos nas mãos, inspirou profundamente.

— Como se eu fosse deixar! — Taka brandiu as asas inflamadas contra Naruto, já antecipando-se à outra técnica do estilo Vento do ninja da Folha.

Mas Naruto atacou com uma baforada de óleo.

— Gamayudan! (Projétil de Óleo do Sapo)

Aquela combinação foi devastadora para o Yuurei. A massa de óleo cuspida por Naruto banhou todo o corpo de Taka Kazekiri, fritando-o em segundos devido ao fogo que ardia em suas próprias asas. Coberto por chamas e debatendo-se em pleno ar, o Yuurei gritava de dor antes de, em um ato de desespero, arremeter-se contra a água.

Quando Taka finalmente emergiu, estava totalmente deformado. A transformação do Yami no Fuuin acabara se desfazendo, e as marcas no corpo do Yuurei ganharam um assombroso destaque. Parte da pele estava avermelhada, com bolhas nas pernas e no braço esquerdo. Naruto logo reconheceu as queimaduras de segundo grau.

Porém o maior dano ocorreu nas regiões mais próximas das asas. Todo o couro cabeludo do Yuurei estava enegrecido, e os cabelos se foram todos. Nas costas, no pescoço e em parte do rosto de Taka, a pele também estava escura e ferida. No lado esquerdo de sua face, já era possível ver as fibras musculares por baixo da pele morta; e parte dos lábios e do nariz foram destruídos. Era uma visão horrenda.

— Seu... seu... — O corpo do Yuurei tremia; a respiração era sôfrega e acanhada. — Juro que vou...

A voz de Taka morreu no instante em que notou os olhos de Naruto sobre si; não havia neles qualquer misericórdia ou comoção, ou mesmo respeito. A expressão de Naruto Uzumaki era dura, inflexível.

— Aquele maldito Demônio Roxo... — sibilou Naruto; a voz baixa e ameaçadora. — Ele me infernizou, me contou tudo; cada detalhe do que você fez com a Hinata naquele dia... seu desgraçado.

Cruzando os dedos das mãos, Naruto conjurou dois clones.

— Pela Hinata — os três Naruto falaram ao mesmo tempo —, pela Shion, pelos meus companheiros, pelo Vovô Tsuchikage... aqui e agora, você vai pagar por tudo o que fez; e quando eu acabar, você não vai levantar mais.

                                                                            ***

Mira debruçou o queixo sobre a mão, curiosa com a cena. Não era todo dia que o honrado Herói do Mundo Ninja espancava um inimigo, há muito derrotado, sem piedade. Desde o início da luta, havia notado a frieza nos olhos de Naruto; um contraste gritante com a fúria explosiva que sempre lhe fora comum nas batalhas. Como se, naquele momento sublime, Naruto Uzumaki fosse outro tipo de pessoa. Se não o conhecesse, diria que até alguém como Naruto escondia um lado sádico.

Mas Mira o conhecia, observava-o já há bastante tempo; e sabia dizer que não se tratava de um mero prazer pelo sofrimento alheio.

— É por nossa causa — disse Mira, consigo mesma. — Por tudo o que fizemos, por toda a dor que te causamos. O que sente agora é uma fúria interna vazando por seus punhos, sedenta por justiça, por retribuição... Na verdade, você está sofrendo; e eu entendo a sua dor, Naruto.

Na bola de cristal, ela via Taka reagir como podia, mas era impossível acompanhar a velocidade de Naruto. O Yuurei tentava, desesperadamente, manter-se afastado, mas não conseguia se livrar. Finalmente, os dois clones o imobilizaram enquanto o terceiro — o original — arrancou o braço metálico do Yuurei, na mais pura brutalidade.

Mira suspirou devagar.

— Pobre Taka, você nunca teve chance.

                                                                            ***

Taka caiu de joelhos sobre a água. Estava exausto e gravemente ferido; e, mesmo com o Yami no Fuuin, sequer havia tocado Naruto Uzumaki — em nenhum momento naquela luta. Por sua vez, Naruto estava de pé, sem qualquer sinal aparente de desgaste.

Mental e fisicamente, Taka Kazekiri já se entendia derrotado. “Então esse é o abismo de força entre nós?” Taka abafou uma risada. “Hana... você tinha razão. Eu não deveria ter vindo. Não deveria. Eu... eu não sou páreo para ele.”

Por um instante, lembrou-se do conselho de Hana Sakegari: “não o subestime, Passarinho.” Se Hana estivesse ali, ele diria a ela que nunca havia subestimado o adversário; Naruto que era forte demais. “Não...”, corrigiu-se Taka. “Eu o subestimei bem antes, no momento em que decidi caçá-lo.”

Esgotado, Taka ergueu os olhos para o céu noturno, e um sorriso ensanguentado lhe decorou o rosto disforme. “Você está assistindo, não está... Mira-sama? Gosta do que vê?” E Taka não sabia responder àquilo. Apesar de rígida, Mira Uzumaki não era uma mulher cruel, ao contrário de sua antiga parceira, Suki. Mas Taka havia tomado a luta dos sonhos da vice-líder, e Mira teria todo o direito de deixá-lo morrer. Desde o começo, ele havia sido um peão nas mãos de Suki e só estava ali por causa dela.

“Suki-senpai...”, lembrou-se do beijo que ela lhe dera. Os lábios macios de Suki agora lhe pareciam ásperos em sua memória. Ele riu do quão patético havia sido durante todos aqueles anos, venerando a Assassina de Kages na vã esperança de, um dia, levá-la para a cama. Taka se contentara com qualquer migalha das mãos de Suki, dissera-lhe Hana na última vez que a viu.

“Hana...”

De repente, pensar no rosto travesso de Hana Sakegari não lhe parecia tão desagradável ali. Taka rememorou as muitas brigas, as farpas e a vivacidade típica da mais jovem Yuurei. “Ela está com o Kioto-sama”, disse a si mesmo; e terminou pensando que, talvez, tivesse perdido tempo demais com Suki.

Então, voltou toda a atenção para Naruto. O campeão da Vila da Folha estava parado, com seus dois clones, a cerca de três metros de distância.

— É aqui que tudo acaba, não é? — perguntou Taka.

Não houve resposta.

— Bom... é justo que seja você a fazer isso. — Taka se pôs de pé. — Mas, se não se importa... eu quero morrer como um homem... e cair lutando.

Reunindo todas as forças que ainda tinha, Taka avançou contra Naruto e seus dois clones. Apenas o original correu de encontro ao Yuurei. Taka parou no ar, estendendo as asas na direção do oponente, para o ataque final. Por sua vez, Naruto, reunindo o máximo possível de chakra para Senjutsu no punho direito, saltou até o Yuurei e, desviando-se das penas elétricas, atingiu-o no queixo com um soco. Ao acertá-lo, Naruto sentiu os ossos da mandíbula de Taka se espatifando.

Um único golpe, tão estrondoso ao ponto de o som do impacto retumbar por todo o ambiente. O Yuurei foi arremessado a quase um quilômetro lago adentro.

Desta vez, Taka Kazekiri não levantou mais. O combate estava terminado.

Quando os dois clones se desfizeram, as pernas de Naruto Uzumaki bambolearam e ele quase perdeu o equilíbrio. Estava trêmulo, enquanto o cérebro ainda processava tudo o que acabara de acontecer ali, sobre as águas do Neko. Uma gama de emoções o tomava por inteiro, dificultando-lhe a respiração, preenchendo-lhe o peito. Era um impulso que há muito borbulhava dentro dele e, agora, finalmente podia sair.

“Eu venci... eu venci...”

Depois de tanto esperar, de tanto sofrer e ver aqueles ao seu redor pagarem por sua limitação, Naruto Uzumaki, enfim, havia feito o que, para muitos, era inimaginável: derrotar um dos Yuurei estando completamente sozinho. Até mesmo ele, o próprio Naruto, chegara a duvidar de si mesmo.

Mas havia acontecido. Tão real quanto possível, havia vencido um Yuurei. Aquela vitória foi mais do que especial para Naruto Uzumaki; pois não era só sobre ele. Nunca foi.

Naruto caiu de joelhos sobre a superfície do lago. Com as mãos cerradas e os olhos apertados, ele puxava o ar com força; o calor queimando em seu rosto. Então, gritou. Gritou muito, com toda a força, o mais alto que podia. Naquele momento singular, o Herói do Mundo Ninja deixou toda a emoção extravasar de seu interior.

                                                                            ***

Mira não pôde evitar o sorriso orgulhoso.

“Olha só para você”, pensou a vice-líder dos Yuurei, “tão emocionado por derrotar um de nós. Parabéns, Naruto! Você foi brilhante.”

Deu-se por satisfeita. Na visão de Mira, Naruto não só havia encontrado uma forma de driblar a limitação que ela lhe impusera, como também havia derrotado um Yuurei transfigurado pelo Yami no Fuuin sem qualquer dificuldade. No fim das contas, ela não precisara interferir.

Naruto também provara ser um oponente digno. Ainda que, em matéria de poder bruto, não estivessem no mesmo nível, Mira reconhecia que Naruto Uzumaki havia feito um enorme progresso em pouquíssimo tempo — não só estrategicamente, como também no repertório de jutsus. A autocrítica feita por ele tinha sido excelente: Naruto repensou o próprio estilo de luta, de forma a contornar a ausência dos poderes de Jinchuuriki, encontrando, dessarte, uma nova maneira de enfrentar os Yuurei.

Agora, Naruto era um velocista perito em Senjutsu.

Mira estava empolgada. A última vez que enfrentara alguém hábil no Shunshin no Jutsu foi no País dos Demônios, contra Beni Makagawa; e a velocidade do Herói do Mundo Ninja mostrava-se muito superior à da Dama que personifica a morte.

A vice-líder se levantou. Por Naruto estar usando energia natural, seria impossível rastreá-lo diretamente, uma vez que o chakra dele confundia-se com o ambiente à sua volta. Mira precisou do padrão de chakra de Taka Kazekiri para criar uma ponte até Naruto; e com Taka derrotado, logo sua frequência desapareceria.

Ela deveria ser rápida.

— Acho que podemos antecipar nosso encontro — disse ela. — Afinal, você é um Uzumaki como eu; não está cansado.

Mas quando tentou rasgar o ar, nenhum portal de trevas se abriu para o destino que ela pretendia. Mira estranhou.

“Eu estou sendo bloqueada?”, pensou, após outra tentativa falha de abrir uma passagem. “Não... a viagem pela escuridão não funciona lá. Está selado.”

Um temor repentino se apoderou dela. Subitamente, Mira se virou para a bola de cristal. A imagem de Naruto havia sumido completamente, porém o objeto ainda brilhava, captando o chakra de Taka Kazekiri. Mira se sentou às pressas e deslizou as mãos sobre a bola de cristal, procurando Naruto por outros ângulos.

E não achou nada. Aquilo só poderia significar uma coisa: alguém, de algum modo, estava interferindo em sua detecção — e não era Naruto Uzumaki.

— Quem está fazendo isso? — Mira estreitou os olhos, irritada.

                                                                            ***

A chuva caía impetuosa sobre a outra metade do lago. Fukasaku saltou até o lado de Naruto, que se encontrava de pé, parado diante do inimigo derrotado. O Herói do Mundo Ninja havia deixado toda a vibração pela vitória e, outra vez, adotava um silêncio meditativo, como se cogitasse no que faria a seguir.

— Meus parabéns, Naruto-chan! Foi uma vitória impressionante — comentou Fukasaku, na esperança da vivacidade voltar ao rosto do jovem Naruto; mas o rapaz estava sério, de um jeito que desagradava o sapo ancião.

Fukasaku temia ver um lado de Naruto até então desconhecido. Temeroso, voltou a atenção para o Yuurei inconsciente; e achou impressionante que, depois de receber um golpe direto, carregado com chakra para Senjutsu, Taka Kazekiri ainda estivesse vivo.

“Não fosse a resistência física sobre-humana, este homem já estaria morto”, analisou Fukasaku. “Mas o Naruto-chan, em nenhum momento, usou o Taijutsu dos Sapos para destruí-lo de dentro para fora; ele lutou com Taijutsu simples no Modo Sennin.”

Então, uma ideia terrível lhe ocorreu.

“Naruto-chan, você queria fazer isso aos poucos?”, e quando olhou para o semblante frio de Naruto, obteve a resposta. Um arrepio percorreu a espinha do velho sapo. Aquele homem ao seu lado era muito diferente do jovem vivaz que, um dia, fora instruído por Jiraiya. Era como se Naruto Uzumaki estivesse perdido.

— Ele estava certo o tempo todo... — murmurou Naruto, sombrio. — O Sasuke. Ele disse que, um dia, eu faria algo assim. Eu teria que matar.

— Naruto-chan...

— Se eu não acabar com isso, Vovô Sábio... — antecipou-se Naruto —, sabe-se lá o que esse monstro ainda pode fazer. Nenhum dos meus amigos vai pagar pela minha negligência. Nunca mais.

Ditas essas palavras, Naruto formou o selo do Tigre nas mãos.

— Senpou... — Mas Naruto travou quando um turbilhão emergiu das águas do Neko, cercando-os por completo. Incontáveis lâminas brancas giravam em altíssima velocidade ao redor de Naruto, Fukasaku e do Yuurei derrotado, ao passo que a chuva continuava a cair sobre eles.

Sem se darem conta, haviam cruzado a fronteira pelo lago Neko; já não estavam no território do País da Grama.

“Essas coisas são... papel?”, Fukasaku estranhou.

Quando Naruto olhou para cima, ele a viu; e não soube o que dizer. Aquela técnica, aquele chakra, aqueles olhos... como poderia ser? Disseram que ela estava morta.

— Eu sabia que cedo ou tarde a guerra contra os Yuurei bateria à minha porta. — Konan tinha o olhar frio para os invasores. — Mas não esperava que fosse tão cedo.

Soberanas, as asas de Konan abriram-se ao máximo — mais de dez metros de envergadura —, carregadas de tarjas explosivas de ponta a ponta. Konan olhou de relance para o Yuurei nocauteado e, novamente, para os dois intrusos.

— Quem são vocês? — ela exigiu saber.

Mas Naruto estava contente demais para responder. Era como se, de repente, pudesse consertar tudo; toda omissão que tivera para com o País da Chuva, desde que havia prometido que a Folha e Chuva seriam aliadas, há mais de dois anos, exatamente àquela mulher diante dele.

A ela, sua condiscípula; aquela que, tal como ele, fora instruída sob a tutela de Jiraiya.

— É você mesmo, Konan? — perguntou Naruto, sem conseguir esconder a emoção na voz.

A líder da Chuva hesitou por alguns instantes, confusa. Mas quando prestou mais atenção nas roupas daquele homem, no sapo ao lado dele e, por último, naquele caloroso olhar amarelo — que lembrava muito a técnica de seu falecido professor, Jiraiya —, finalmente ela o reconheceu.

— Naruto! — exclamou Konan, pasma.

O redemoinho de papel se acalmou ao redor deles e Konan aterrissou sobre a água.

— O que faz aqui? — perguntou ela. — Achei que estivesse indo para o País do Redemoi... ei!

Ela não pôde terminar a frase; Naruto correu e a envolveu dentro um apertado abraço. Konan estava atônita. Aquilo era inesperado. Quando se conheceram, ainda eram inimigos, a Akatsuki havia invadido e erradicado a Vila da Folha atrás da Nove Caudas, e Naruto, enfrentado Pain; e, apesar de, no fim, tanto ela quanto Nagato enxergarem os ideais de Jiraiya-sensei em Naruto Uzumaki, tudo aconteceu muito rápido — Konan deixara a Vila da Folha, levando os corpos de Nagato e Yahiko, e fazendo uma aliança com Naruto.

Mas foi só. Não tiveram tempo de criar laços estreitos um com o outro. Naruto e Konan não se tornaram próximos, e logo em seguida o Mascarado foi atrás do Rinnegan. Tecnicamente, ela ainda era uma estranha para Naruto Uzumaki. Mesmo assim, lá estava ele, abraçando-a como a uma irmã mais velha que não via há anos, e encharcando seu vestido com lágrimas.

— Droga... — Ele esfregou os olhos; o sorriso, bobo e trêmulo. — Tô tão feliz por você estar viva!