O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 110
Convite


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, pessoal! Como vocês estão?


Segue, oportunamente, o capítulo da semana. Espero que gostem. Boa leitura a todos! :)



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Depois de ouvir todo o relato silenciosa e pacientemente, Hana Sakegari não pôde conter a gargalhada.

— Então, além de ela te dar um pé na bunda, a Suki-sama dava uns pegas no ex-parceiro dela? Caramba, Passarinho! Eu não queria ser você.

Para Taka Kazekiri, sair em missão com Hana já era um tormento por si só. Para piorar tudo, embora fosse mais velho, ele era o Yuurei Junior ali. Como novo membro Sênior e Quinta Oficial dos Yuurei, Hana era, inquestionavelmente, sua superior hierárquica.

“Eu entendi”, pensou ele, enquanto caminhavam pela trilha na floresta. “Eu morri na luta contra o Tsuchikage e estou no Inferno.”

Hana aproveitou a deixa para desembrulhar o pacote de balinhas de framboesa que trouxera consigo.

— É como diz aquela música: “um joelho ralado dói bem menos que um coração partido” — comentou a jovem Yuurei enquanto saboreava o doce. — Quer uma bala?

— Você deveria parar de ouvir essas porcarias. Fazem mal para o seu cérebro — murmurou Taka, incomodado.

Hana deu de ombros.

— Essa apareceu na playlist de Descobertas da semana. Mas até que tem coisa pior. — E, olhando para Taka de modo travesso, Hana cantarolou: — Você foi a culpada deste amor se acabaaaar...

Uma veia começou a latejar na testa de Taka Kazekiri.

— Como eu te odeio, Hana.

— Você que destruiu a minha vidaaaa...

— Cala a boca, sua desmiolada! — gritou Taka.

— Você que machucou meu coração, me fez choraaaar... — A garota quase engasgou com uma bala de tanto rir. — Desculpa, Passarinho. Juro que não faço por mal; é mais forte do que eu.

Infelizmente, ele seria obrigado a aturar Hana Sakegari por todo aquele dia. Com Kioto no País dos Demônios e Suki coordenando o recrutamento, Hana era a única Yuurei Sênior disponível para acompanhá-lo no trabalho de campo. Taka praguejou; aquele dia seria uma desgraça.

Haviam, finalmente, atravessado o bosque fronteiriço. Ao cruzarem a zona limítrofe do País dos Rios, do alto da montanha, já podiam avistar toda a extensão do vale.

Estavam perto, e quanto mais cedo acabassem, mais rápido Taka se veria livre de Hana.

A garota Yuurei abriu um longo sorriso.

— Primeira parada: a Vila dos Artesãos. Dizem que eles têm as melhores ferramentas ninja — comentou Hana. — Vamos dar um jeito nesse seu braço, Passarinho.

 

 

                                                                            ***

 

 

Aquela manhã estava mais silenciosa no Distrito Hyuuga. Em circunstâncias normais, Hanabi reclamaria da displicência da irmã-toda-perfeita. No entanto, ultimamente, vinha tendo pouca energia para protestar. Então, simplesmente aceitou o fato de Hinata cancelar, em última hora, a sessão de treino com Rock Lee. Assim, não precisaria madrugar também. Pela primeira vez em toda a sua vida, Hanabi Hyuuga tinha um mau exemplo da irmã mais velha para poder agradecer. Foram as quatro horas extras de sono mais bem-dormidas que tivera em muito tempo.

Para compensar o treino cancelado, depois do café da manhã, Hinata vestiu o quimono e foi até o dojô que tinha em casa. Fazia tempo não praticava seu Juuken e não queria estar enferrujada. Ademais, enquanto golpeava o boneco de madeira, podia ficar a sós, refletindo sobre o sonho da noite passada.

Praticar o Punho Suave era como respirar. Não precisava de seus olhos ali, muito menos pensar no que fazer; seu corpo agia sozinho. Hinata executava cada movimento com naturalidade. Emendava uma sequência após outra de forma harmônica, como se estivesse compondo uma poesia, sendo cada golpe um verso a rimar com o próximo.

Konohamaru Sarutobi, que também observava o treinamento da líder dos Hyuuga, na companhia de Hanabi, assobiou impressionado.

— Caramba, Hanabi-chan! — comentou à Hyuuga mais nova. — A sua irmã é mesmo incrível.

Hanabi revirou os olhos. Konohamaru só dissera o óbvio.

— O que você imaginava, Sarutobi? A Nee-sama é uma mestra do Juuken. Como esperado da líder do clã mais forte da Folha — disse Hanabi, com orgulho.

— E da futura primeira-dama da vila — observou Konohamaru.

Hanabi arqueou a sobrancelha e sorriu discretamente. Também estava feliz por sua irmã haver convidado Konohamaru — que prontamente aceitou — para estar ali, no Distrito Hyuuga. Embora Hanabi desconfiasse das intenções de Hinata por trás daquele convite, não poderia deixar de agradecer à irmã mais velha também por aquilo. Ter a companhia de Konohamaru fazia Hanabi sentir como se um enorme peso, de repente, saísse de suas costas.

E quando percebeu que estava corada, pensando demais no estúpido Sarutobi, Hanabi Hyuuga tratou de pigarrear.

— Evite falar dessas coisas, Sarutobi. — Hanabi endireitou o corpo. — A Nee-sama e o Naruto estão em um momento complicado.

— Pensei que eles tivessem se acertado — estranhou Konohamaru. — Naruto-niichan até pensou em...

— Sarutobi... — Hanabi deu um olhar duro ao amigo. — Eu não vou falar de novo.

Em silêncio, os dois voltaram a atenção para o centro do tatame, onde a líder do clã Hyuuga, solitária, treinava o Punho Suave.

Os pensamentos de Hinata não estavam ali, em seus golpes, muito menos naquele salão. Desde que acordara na madrugada, não conseguia se concentrar em outra coisa além da visão que tivera. Aquele homem que havia aparecido diante dela, sem dúvidas, era o ancestral do clã Hyuuga, o filho mais novo da Deusa Coelho e irmão do Sábio dos Seis Caminhos, Hamura Ootsutsuki.

E ele a havia chamado pelo mesmo nome da lenda. Seu pai tinha razão, ela era a Byakugan no Hime, a herdeira de Hamura.

“Princesa do Byakugan, você precisa acordar”, dissera-lhe o Ootsutsuki. Mas o que isso significaria, afinal? O que mais ela precisaria fazer? Se era mesmo a Herdeira de Hamura Ootsutsuki, então o que faltava? Por que ele não lhe dissera nada? Já havia descoberto o selo no Pergaminho Hyuuga, perdera a visão por causa disso, estava treinando arduamente para superar um demônio em Taijutsu e proteger aqueles a quem ela amava. O que mais ela ainda precisaria fazer? O que mais esperavam dela?

Embora Hinata não quisesse transparecer a ninguém, era tudo muito frustrante. Estava cercada pela irmã e pelos amigos, mas sentia-se sozinha. Queria respostas, queria voltar a ver, queria estar com ele de novo. Desejava sentir o abraço forte de Naruto Uzumaki ao seu redor, protegendo-a.

“Por quê?”, ela se questionava. Por que quem lhe era importante sempre ia embora? Primeiro, a mãe; depois, o primo, os amigos da Família Secundária, o pai e, por fim, Naruto, que partira sozinho atrás dos Yuurei, com todas as chances jogando contra.

E ela estava ali, cega, frágil e patética; sem poder ajudá-lo — apenas orar para que Naruto voltasse bem.

Cada golpe desferido no boneco de madeira transbordava a angústia de Hinata. Os ataques aumentaram em um ritmo frenético. Um volume absurdo de golpes por segundo. Konohamaru Sarutobi, que não possuía um Jutsu Ocular, era incapaz de acompanhar aqueles movimentos; e mesmo Hanabi, com o Byakugan, espantava-se com o que via.

“A Nee-sama está diferente...”, observou Hanabi. “Ela está... feroz. E o chakra dela mudou desde aquele dia no escritório do papai. Além disso...”

Hinata continuou a metralhar o boneco de treinamento. Seus braços doíam, pedindo tempo, mas ela continuou aumentando o ritmo. Mais, mais e mais ainda...

E, em uma explosão de fúria dentro dela, desferiu o golpe final — um ataque direto na testa do boneco com a palma da mão direita. Ao terminar, Hinata puxava o ar pela boca.

— Chega por hoje.

Quando girou os tornozelos para ir até onde a irmã estava com Konohamaru, outra vez, a mesma pulsação de antes queimou em seus olhos. Hinata, imediatamente, levou as mãos ao rosto e conteve o grito de dor.

— Nee-sama! — Hanabi saltou para frente e correu até a irmã. — Ei, ei, o que houve? Está sentindo alguma coisa? Eu vou chamar um médico agora...

Devagar, Hinata pousou a mão sobre o ombro de Hanabi, recompondo-se. Ela suspirou e forçou-se a sorrir.

— Acho que exagerei — disse Hinata. — Minha cabeça está latejando. Preciso de um banho e descansar um pouco.

— Entendi, então eu vou te levar até o...

— Não precisa, Hanabi — antecipou-se Hinata. — Obrigada, mas posso ir sem ajuda.

Hanabi estreitou, desconfiada.

— Tem certeza de que está tudo bem?

Hinata assentiu.

— Só preciso ficar um pouco sozinha. — Ergueu a cabeça para o jovem Sarutobi. — Desculpe-me por isso, Konohamaru-kun. Por favor, fique à vontade.

Hanabi viu a irmã atravessar a porta e, com o Byakugan, acompanhou-a subir as escadas e caminhar pelos corredores da mansão até o quarto. Vendo que a irmã estava segura, Hanabi desativou o Doujutsu, embora ainda meneasse negativamente a cabeça.

— Tem alguma coisa errada com ela, Sarutobi — comentou Hanabi. — A Hinata-neesama está diferente.

Konohamaru assentiu.

— Eu não sabia que a Hinata-neechan poderia ser tão assustadora assim. Ela parecia você, Hanabi-chan, batendo no pobre boneco de treino.

Hanabi fez que não.

— Você não tem o Byakugan, Sarutobi, então não viu o que eu vi. A Nee-sama não estava nada parecida comigo.

— O que quer dizer?

— As mãos dela, em momento nenhum, atingiram o boneco de madeira.

Konohamaru estranhou no ato.

— Espera um pouco... — Coçou a cabeça. — Eu posso não ter o Byakugan, mas não sou cego nem surdo. Eu vi boa parte dos golpes e ouvi a madeira ser golpeada.

Outra vez, Hanabi negou.

— De fato, ela atacou, mas ela nunca chegou a tocar, realmente, a superfície da madeira. As mãos sempre paravam a uma distância milimétrica do boneco, mas não o atingiam. O que você ouviu não foram as mãos da Nee-sama acertando o boneco, mas o chakra que ela liberava em cada golpe lançado. Em outras palavras, ela não precisou tocar o alvo para desferir ataques efetivos.

— Isso... isso... — gaguejou ele. — Isso é incrível, Hanabi-chan!

Konohamaru estava certo. Por si só, isso já era muito além do que qualquer Hyuuga havia feito no manejo do Juuken. Era bem verdade que o estilo do Punho Suave consistia em aplicações precisas do próprio chakra nos pontos-alvo do inimigo, fosse para embaralhar, ou mesmo destruir, a rede de chakra da vítima, fosse para atingir músculos, ossos ou nervos. Independentemente da finalidade, era necessário haver um mínimo toque. E Hinata havia acabado de romper essa limitação.

Mas Hanabi vira, com o Byakugan, que isso não era tudo.

— Sarutobi, traga aquele boneco.

Konohamaru estranhou o pedido, mas decidiu não questionar. Foi até o boneco de treinamento e, assim que pôs a mão nele, toda a estrutura estilhaçou-se sobre o tatame.

— O quê?!

Diferentemente de Konohamaru Sarutobi, Hanabi Hyuuga não esboçou qualquer reação.

— Não bastasse não precisar tocá-lo, a Hinata-neesama pulverizou essa coisa por dentro, enquanto a parte externa continuava intacta — observou Hanabi, séria. — Se ela usasse isso contra um ser vivo, os órgãos internos da pessoa teriam virado geleia.

Konohamaru engoliu em seco.

— É como o Taijutsu dos Sapos do Naruto-niichan — disse o garoto. — Destrói o alvo de dentro para fora. E não precisa necessariamente tocar o inimigo.

— Sim, mas com uma diferença: o Naruto usa o chakra da natureza como uma extensão do corpo. Já a Nee-sama não usa Senjutsu — pontuou Hanabi. — De toda forma, é óbvio que ela se inspirou no Taijutsu dos Sapos do Naruto para levar o Juuken dos Hyuuga a outro nível.

Konohamaru sorriu, satisfeito.

— A Hinata-neechan é um gênio. Como esperado dos Hyuuga.

— Não — corrigiu Hanabi. — Minha irmã nunca foi talentosa por excelência. Ela veio de baixo e treinou sem parar até que superasse toda a genialidade dos outros ao redor dela.

E, com um sorriso tímido, Hanabi concluiu:

— A Hinata-neesama é igualzinha ao Naruto: mostram para os gênios que o trabalho duro pode ultrapassar o talento natural.

 

 

                                                                            ***

 

 

— E então, Passarinho? — perguntou Hana. — Como se sente?

Taka ergueu o braço protético, experimentando alguns movimentos. A estrutura era toda metálica, feita de aço negro, que reagia aos impulsos nervosos enviados pelo cérebro, os quais, em sinergia com seu chakra, moviam o braço metálico com naturalidade. O Yuurei abriu e fechou a mão, girou o punho e, por fim, ensaiou socos no ar.

— Bem melhor, devo dizer.

— Viu só? Eu não sou tão terrível assim. — Hana abriu os braços em um gesto amigável. — Em circunstâncias normais, eu teria encomendado na cor rosa..., mas a sua autoestima já estava uma droga e eu não queria piorar as coisas.

Taka fuzilou-a com o olhar. Hana apenas deu com os ombros.

— Dizem que, em um futuro próximo, as ferramentas ninja vão substituir o exercício do chakra — comentou Hana. — As pessoas não precisarão mais treinar incessantemente; bastará ter a droga de um aparelho como esse.

A Yuurei fez uma careta de desprezo antes de concluir o raciocínio.

— Uma era em que o talento e o esforço são apagados por estúpidas ferramentas ninja... Se todos se tornarem fortes desse jeito, ninguém será forte de verdade — falou ela, baixinho.

Graças aos sentidos apurados, Taka pôde ouvir cada palavra sussurrada por Hana. Apesar de agir como uma desequilibrada na maior parte do tempo, não poderia deixar de concordar com o que ela dissera. Talvez, Hana Sakegari não fosse tão infantil quanto aparentava ser.

Taka odiava admitir, mas a garota era, sem dúvidas, uma Yuurei competente. Alguém digna de ocupar o posto de Quinto Oficial, outrora de Dairama Senju.

— Ei, Hana. — Taka ergueu o braço mecânico. — O que isso faz?

— Absorve chakra — respondeu ela, de maneira trivial. — Você poderia anular um Ninjutsu inteiro com isso e até redirecioná-lo de volta ao inimigo. É como a habilidade do Líder-sama... é claro, em uma escala muito menor. Mas, ainda assim, tem sua utilidade.

Um sorriso sombrio enfeitou os lábios de Taka Kazekiri.

— Eu me pergunto: será que essa arma pode... absorver chakra da natureza?

Hana deu uma risadinha.

— Cuidado, Passarinho. A Mira-sama viu primeiro. Não vai querer ficar no caminho dela.

 

 

 

Resolvida a questão do braço direito de Taka, poderiam, finalmente, partir na missão original que Suki lhes incumbira no País do Ferro.

O território dos Samurais era conhecido pelo seu clima gelado. Um rigoroso inverno que perdurava o ano inteiro, pelo menos, junto aos Três Lobos — uma cordilheira de três grandes montanhas em formato de bocarras e presas afiadas, as quais circundavam o pequeno país. Atravessar as montanhas exigia cuidado especial, mesmo para viajantes proeminentes no uso do chakra. Pois outra característica do País do Ferro era sua alta capacidade militar.

Não que Hana Sakegari quisesse passar desapercebida; estava curiosa sobre como os samurais lidavam com Genjutsu de alto nível. Por outro lado, entrar em combate ali fora significaria permanecer debaixo do frio extremo. Os samurais estavam habituados à baixa temperatura; ela não. E, considerando que toda a cordilheira estava bloqueada para técnicas de espaço-tempo, a viagem pela escuridão não funcionaria ali.

— Eu tô com frio... — Hana caminhava com os braços encolhidos debaixo do manto. Olhou para o colega. Taka Kazekiri não parecia incomodado com o clima inóspito. — Taka, me abrace.

— Como é?

— Falei para me abraçar... — protestou ela. — Sou sua senpai, então ordeno que me deixe aquecida.

Taka olhou-a como se Hana tivesse lepra.

— Não.

— Viu só? — Hana falou com o rosto vermelho. — É por isso que você não pega ninguém! Você não entende as mulheres, Cérebro-de-pombo.

— Nem dá para te chamar de mulher de verdade — resmungou o outro.

— Eu tenho dezoito anos...

— Em um corpo de uma menina de catorze — desdenhou Taka. — E com a cabeça de uma criança de sete anos.

Hana fechou o semblante, tão irritada quanto perplexa. Geralmente, teria uma resposta pronta para alguém como Taka Kazekiri. Mas não naquele momento; ele tinha um ponto. Desarmada, Hana escolheu prosseguir em silêncio; apesar do frio, não valia a pena manipular a mente do subordinado para manter-se aquecida.

Estavam chegando ao cume da primeira montanha, quando Taka fez sinal para que parassem.

— O que foi? — perguntou Hana. — Fomos descobertos?

Mas Taka não respondeu. Concentrado no céu nublado, aguardava pacientemente. Esperou o momento certo para erguer o braço esquerdo. Das nuvens escuras, uma ave mergulhou subitamente e aterrissou no antebraço do Yuurei.

— Um falcão mensageiro! — observou Hana. — Não é um dos seus, é?

— Não, esse daqui vem de longe... — Taka, imediatamente, reconheceu a insígnia do rolo atado à uma das patas do animal. — É da Vila da Folha.

Hana estranhou.

— Pensei que os Cinco Kages usassem os meios eletrônicos para enviar mensagens, justamente para evitar interceptações. — A garota deu de ombros. — Se bem que a Mira-sama tomou o computador da Mizukage, o que, de certa forma, compromete a segurança deles. Fora que os samurais são bem tradicionais... duvido muito que o velho Mifune tenha instalado uma rede Wi-Fi em casa.

Taka abriu o rolo do pergaminho e o leu. Ele apertava cada vez mais o papel, à medida que seus olhos terminavam cada parágrafo.

— Hana... — Ao final da leitura, ele entregou o rolo à parceira. — Leia isso.

A Quinta Oficial dos Yuurei, hesitante com relação à mudança no ar do colega, tomou pergaminho e o leu cuidadosamente. E, quando o terminou, Hana entendia exatamente o porquê de o parceiro estar tão alterado.

— Você vai cancelar a missão, não vai? — ele perguntou, já sabendo a resposta.

— Sim. Vamos voltar imediatamente — respondeu Hana. — O Líder-sama precisa ser informado.

 

 

                                                                            ***

 

 

Vila Oculta da Pedra.

 

O Monumento da Pedra, embora sempre lhe parecesse monótono, feio e ridiculamente simples, mostrava-se imponente e, até mesmo, sagrado naquela manhã. O avô lhe havia levado lá, pela primeira vez, quando ela fizera quatro anos. Na ocasião, Kurotsuchi não vira nada demais em um acinzentado tanque d’água circular, com um pedestal no centro e, no topo, uma pedra lisa — idêntica a tantas outras dentro do reservatório.

“Que coisa chata, vovô! O Monumento da Folha é bem mais legal! Tem os rostos dos Hokages esculpidos na montanha.”, dissera ela ao avô, que rira de sua sinceridade infantil.

Com paciência, Oonoki explicou-lhe que a pedra no topo do pedestal, embora fosse tão confundível quanto qualquer outra no fundo do tanque, representava a vontade inabalável dos ninjas da Vila da Pedra; e não importaria se a pedra fosse substituída por outra, a vontade forte seria a mesma. “Um dia, você herdará o meu lugar. E, quando eu me for, sua vontade continuará e será tão forte quanto a minha. Afinal, você é minha neta”, o avô lhe prometera.

Havia finalmente compreendido. Aos vinte anos de idade, recém-nomeada Quarta Tsuchikage — a líder mais jovem da Vila Oculta da Pedra —, Kurotsuchi havia herdado de seu avô, Oonoki, a Vontade Inabalável da Pedra. Sentia o peso em suas mãos; todos na vila dependiam dela. Ali, solitária diante do monumento, jurou pelas memórias de seu pai e avô que não iria falhar.

— Obrigada, velhote — sussurrou, por fim.

Enquanto terminava uma prece, sentiu uma presença se aproximar e postar-se de joelhos atrás dela. Não precisou se virar para reconhecer a amiga — e, agora, fiel guarda-costas —, Sui Raiji, o Relâmpago Negro da Vila da Pedra.

— O que foi, Sui?

— Perdoe-me a interrupção, Tsuchikage-sama... — Embora fossem amigas de infância e apenas dois anos mais nova que a atual líder da vila, Sui Raiji nunca se habituara a tratamentos informais. Agora que Kurotsuchi era, definitivamente, a Quarta Tsuchikage, tinha mais uma razão para tratá-la com reverência. — Há uma mensagem para a senhora. Vem da Vila da Folha.

Kurotsuchi suspirou. “Se vem da Hokage, então, provavelmente, boa notícia não é”, pensou ela.

— Muito bem — disse a jovem Tsuchikage, virando-se. — Me mostre.

 

 

 

Com exceção do nome do destinatário, a mensagem era exatamente a mesma, e foi lida por todos quantos a receberam:

 

Ao(a) Excelentíssimo(a) Senhor(a)...

 

Saudações.

Venho, excepcionalmente por esta via, tratar de um assunto que, embora nos afete de maneiras distintas, nos é igualmente importante.

Como é sabido, a organização criminosa conhecida como Os Yuurei se tornou uma ameaça não só às Cinco Grandes Nações, mas a todo o mundo ninja. Há muito que não nos deparávamos com uma força hostil desta magnitude; e receio que, a despeito dos muitos esforços empreendidos, ainda estejamos longe de encontrar uma solução para a crise.

Porém, se existe algo a ser observado — e aprendido — é que, por décadas, as Cinco Grandes Nações têm protagonizado os eventos de repercussão internacional. As Quatro Grandes Guerras atestam isso e são, em conjunto com outros conflitos menores, a prova cabal de que nós, os Cinco Kages, fracassamos. Ao voltarmos os olhos apenas para as questões de nosso interesse, negligenciamos os países vizinhos e travamos nossas lutas, arrastando as nações menores para o caos que nós mesmos criamos. E, ao final, saudamo-nos como aliados, ao passo que os outros à nossa volta recuperam-se das cinzas da tragédia por nós estabelecida. Nossa indiferença criou chagas profundas; e dessas chagas surgiram os Fantasmas.

Nesse sentido, não é absurdo concluir que nós, as Cinco Grandes Nações, criamos os Yuurei. E, agora, todo o mundo ninja sofre por causa do pecado de nossa omissão para com a paz e a prosperidade extensivas aos outros povos.

Os tempos são sombrios e o futuro, incerto. Contudo, há motivos para olhar para o amanhã com esperança. Esperança essa que, embora sôfrega, é tão palpável e tangível quanto verdadeira.

Não venho promover um discurso delirante, alheio à realidade. Não quero fazê-los perder tempo com falácias inúteis, mas sim conclamá-los à fé genuína no improvável, porém possível. Não há de se desprezar o poderio militar do inimigo. Não obstante, não podemos entregar nosso espírito.

Senhores, os resultados falam por si só: Yuurei também sangram. Yuurei também morrem.

Em tempos de incerteza, é comum nos questionarmos: onde está Naruto Uzumaki? Pois eu lhes digo: Naruto Uzumaki, o Herói do Mundo Ninja, está, neste momento, empreendendo uma caça ao inimigo — que, diga-se de passagem, demonstrou interesse peculiar nele. Isto posto, não posso pensar em outra coisa: o confronto entre Naruto e a alta cúpula dos Yuurei não é mera especulação; é tão somente uma questão de tempo.

E, sim, mediante ao recente ataque inimigo à nossa vila, bem como às muitas derrotas impostas pelos Yuurei às Cinco Grandes Nações, é razoável que duvidem de nossas chances de vitória contra inimigos tão poderosos. Porém, isso nunca foi empecilho para Naruto continuar lutando.

Ademais, não devemos nos esquecer: os Yuurei, sempre que possível, evitaram Naruto em um confronto direto. E, mesmo com força máxima e todos os lacaios reunidos em um só lugar, contra um Naruto cansado e recém-chegado do outro lado do mundo, o todo-poderoso Líder Yuurei, Iori Kuroshini, mediante a simples presença de Naruto Uzumaki, não fez outra coisa senão fugir imediatamente.

Por quê?

Porque, no fim, senhores, é isso que eles são; os Yuurei não passam de um bando de covardes.

Além disso, o Herói do Mundo Ninja não é o único motivo para que o inimigo trema. Sasuke Uchiha, tido, corretamente, como o único Shinobi vivo capaz de fazer frente a Naruto Uzumaki em seu poder total, é o responsável pelas mortes de três Yuurei, a saber: Dairama Senju, Juha Terumi e Ryuumaru, o Caçador de Dragões. Frise-se, Sasuke sequer sofreu um arranhão contra este último.

Sim, podemos vencer.

É tempo de reformularmos o Sistema Ninja; e penso ser este o momento oportuno para começarmos as mudanças. Nós, os Cinco Kages, não podemos mais ditar os eventos e ignorar as demais lideranças ao nosso redor. É notório que este é um problema comum a todos nós, enquanto Shinobi. Cabe a nós, unidos, resolvê-lo.

Senhores representantes de todas as Nações e Vilas Ocultas Ninja, grandes e pequenas, eu, Tsunade Senju, Quinta Hokage, convido-os para, no segundo sábado deste mês que se inicia, reunirmo-nos como iguais na Vila da Folha.

Meu propósito, com isso, não é convocar uma reunião extraordinária da Cúpula dos Cinco Kages, com participações especiais. Trata-se, outrossim, do primeiro Encontro das Nações Ninja da história. É tempo de nós, como Estados soberanos, unirmo-nos contra o inimigo em comum.

 

Respeitosamente,

Tsunade Senju.

Quinta Hokage da Folha.

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Konan estava no terraço da torre, cuidando de seu jardim suspenso, e escutava cada palavra com atenção. Quando seu secretário, Sato Itadori, terminou a leitura da mensagem, a líder da Chuva não pôde deixar de transparecer a surpresa.

Depois de dois anos hibernando, Konan ainda se surpreendia com o novo mundo ninja ao seu redor. Tanta coisa havia mudado em tão pouco tempo; era bem diferente do qual ela crescera e sempre estivera habituada. Cedo ou tarde, Konan pensava, os Cinco Kages — líderes das cinco vilas mais poderosas do mundo —, teriam de se reunir presencialmente para discutir o problema dos Yuurei. Mas um convite aberto às lideranças das vilas menores? Isso era algo sem precedentes.

Ela ergueu o rosto para o céu claro, enchendo os pulmões com o ar frio e úmido. Algumas gotas de chuva ainda teimavam em cair. Konan não se incomodou com elas. O sol ameno, a temperatura agradável, as nuvens cinza-claro e o arco-íris — todo o conjunto era um bonito contraste natural.

— Estou inclinada a ir — disse Konan, ainda respirando o ar matinal. — O que me sugerem?

Hadame Tsukiaru balançou o peso do corpo de uma perna a outra, incerto.

— Com todo o respeito, Konan-sama, mas não acho uma boa ideia. É perigoso sair e deixar a vila a sós e... — parou, intrigado. — O que disse, Momo?

Junto do irmão, Momo Tsukiaru, fez-lhe uma careta de reprovação. Depois, voltando-se para a líder da Chuva, a jovem Kunoichi opinou:

“Não temos mais problemas com partidários de Hanzou da Salamandra e, graças ao patrimônio bilionário deixado por Kira Toraiyama, pudemos reestruturar a economia interna; no próximo ano, já estaremos prontos para abrirmos as portas para investidores externos. Além disso, graças à técnica da Konan-sama, todas as nossas fronteiras estão seguras. Nenhum Yuurei pode usar o Meiton para se infiltrar no nosso país”, observou Momo, falando pela Linguagem de Sinais. “Por isso, não vejo problema em a Konan-sama ir à Vila da Folha para um encontro diplomático.”

Hadame deu à irmã um olhar crítico.

— Mas não é só isso, Momo! Fora da Chuva, ninguém sabe que Konan-sama está viva e, ainda por cima, retomou o poder. A carta da Hokage-sama foi endereçada à Kira Toraiyama. Todos lá fora, sem exceção, pensam que ele ainda é o nosso líder! — alertou.

Momo suspirou, cabisbaixa. O irmão estava certo. Se Konan-sama deixasse a vila para encontrar outras lideranças, principalmente os Cinco Kages, correria sério risco de vida.

Isso sem falar no inimigo. Embora Konan houvesse selado a Chuva para jutsus de espaço-tempo e técnicas sensoriais, os Yuurei ainda não haviam direcionado sua atenção ao País da Chuva muito em razão de a morte de Kira Toraiyama não ter vazado. Para todos os efeitos, ele ainda governava.

E quando descobrissem que ele estava morto? Pior ainda, que a atual Chefe de Estado era ninguém menos que uma ex-integrante da Akatsuki? Dentro das fronteiras da Chuva, o segredo de Konan estaria protegido; mas, no instante em que ela pisasse fora do país, estaria suscetível de ser detectada. Momo Tsukiaru estremecia só de pensar no que os Yuurei poderiam fazer.

Tão calma quanto antes, Konan se limitou a regar o girassol.

— Quando criamos a Akatsuki, nós queríamos consertar este mundo injusto e cruel — comentou. — Yahiko, Nagato e eu achávamos que poderíamos fazer algo pela Chuva enquanto trabalhássemos aqui, internamente.

— Konan-sama... — Hadame murmurou, temeroso do que viria a seguir.

Ela se voltou para os amigos.

— Se quisermos garantir um futuro pacífico, não podemos continuar vivendo como um país fechado às outras nações — disse Konan, convicta. — Além disso, Naruto foi atrás daqueles dois. Ele vai precisar de toda ajuda que eu puder oferecer.

Os irmãos Tsukiaru trocaram olhares.

“Eu quero muito poder ajudar Naruto Uzumaki, Konan-sama”, comentou Momo. “Mas dizem que o líder dos Yuurei não é humano, e a vice-líder, Mira Uzumaki, é a maior especialista de Fuuinjutsu do mundo inteiro!”

— É verdade — Konan assentiu. — Aquela coisa perdeu toda a humanidade, se é um dia teve isso. Quanto à Mira, ninguém a conhece melhor do que eu.

— Ainda há outro problema, Konan-sama — relembrou Hadame, intrigado. — Embora, aqui dentro, a senhora seja a legítima governante da Chuva, lá fora a senhora é uma criminosa internacional de Rank S, a vice-líder da Akatsuki, que voltou dos mortos. Como acha que os Cinco Kages a receberão?

O olhar sereno da líder da Vila Oculta da Chuva foi ao encontro do tímido secretário, Sato Itadori.

— Sato, ajude-me a reorganizar meus compromissos para as próximas duas semanas. — O tom de Konan era gentil, mas firme. — Precisarei me ausentar dentro de alguns dias.

O secretário prestou uma reverência exagerada.

— Às suas ordens, Konan-sama. — E deixou-os a sós.

Quando restaram os três no jardim, Konan voltou a atenção para Hadame.

— Não espero uma recepção amigável — admitiu. — Mas concordo com a Hokage. É tempo de nos unirmos contra o inimigo em comum.

 

 

                                                                            ***

 

 

Fazia tempo desde a última vez que todos os sete se reuniram. A Yuurei Sênior Hana Sakegari fora quem havia solicitado aos superiores a convocação de uma assembleia extraordinária; e, após o deferimento dos líderes, todos os Yuurei, imediatamente, retornaram ao esconderijo.

No salão de pedra, a ordem em que os Yuurei se dispunham não havia mudado tanto: duas filas paralelas, nas quais os membros punham-se lado a lado, em uma sequência ascendente e alternada, de acordo com suas respectivas posições na hierarquia — Kan e Suki à direita; Taka Kazekiri, Hana Sakegari e Kioto Hyuuga à esquerda. Na tribuna ao fundo do salão, encontrava-se a vice-líder Mira Uzumaki; e, acima dela, Iori Kuroshini, o líder dos Yuurei.

Seguindo lhe foi orientado, Taka Kazekiri apresentou a mensagem interceptada da Folha, que foi lida para Iori na presença de todos os demais membros. Ao final, como Taka havia previsto, houve inquietação entre os Yuurei.

— Convocar as lideranças Shinobi de países pequenos contra nós? A Hokage deve estar muito desesperada. — Suki deu um sorriso de escárnio.

Silenciosa, Mira refletia nas palavras de Suki, enquanto, ao mesmo tempo, lembrava-se da reunião que tivera com os Kages. Há poucos dias, havia ficado frente a frente com Tsunade Senju e, portanto, a memória era recente: o rosto da Quinta Hokage não vacilou nem por um instante sequer. Mira Uzumaki só encontrara bravura naqueles olhos.

“Ela usou o meu argumento para unir o mundo ninja”, observou Mira. “Seja lá o que a tenha motivado a fazer este movimento, a Hokage não está agindo por desespero. Você está errada, Suki.”

Kioto Hyuuga estreitou os olhos, intrigado.

— A carta menciona que Naruto Uzumaki está fora da vila — disse Kioto. — Eu me pergunto por que a Hokage-sama revelaria que o campeão da Vila da Folha não está entre eles.

— Sasuke Uchiha é o verdadeiro campeão da Folha — rebateu Suki. — Até hoje, ele foi o único homem capaz de vencer um Yuurei em combate. Naruto só é o ninja preferido da Hokage.

— Ainda assim, o Naruto é nosso Alvo Primário, Suki-sama. Isso não mudou — comentou Hana. — E a Hokage não viu problema em confirmar que o Naruto deixou a vila.

Suki assentiu, impaciente.

— É por isso que é a hora de atacar — enfatizou. — Ele está fraco, vulnerável e, mais importante, sozinho.

O ar, de repente, tornou-se mais pesado e a escuridão ganhou vida própria na parede do fundo do salão. Todos se calaram imediatamente, à medida que Iori Kuroshini erguia a voz.

— O encontro ninja na Folha é irrelevante. — A voz de Iori era estrondosa, preenchendo todos os cantos do salão. — Não há razão para esperarmos mais. Taka, encontre o Naruto e traga-o para mim.

Mira Uzumaki se virou, imediatamente, para o parceiro.

— Líder-sama, eu peço que reconsidere — falou com cuidado, porém o tom de urgência era nítido em sua voz. — Naruto Uzumaki é minha responsabilidade.

Por baixo do capuz, os olhos sombrios de Iori foram de encontro aos de Mira. Eram implacáveis, assim como toda a energia escura que emanava do líder dos Yuurei.

— Você o encontrou, Mira?

— Descobri que Naruto está se dirigindo ao País do Redemoinho. Irei encontrá-lo lá e...

— Eu perguntei... — cortou Iori. — Você o encontrou, Mira?

Um sorriso satisfeito despontou nos lábios de Suki.

— Não — contrariada, Mira demorou a responder.

— Então, Naruto Uzumaki não é mais sua responsabilidade — decretou o líder dos Yuurei. — O Alvo Primário está invisível a você, Mira. Ele achou um meio de evitar sua técnica sensorial enquanto se locomove.

A vice-líder ainda ponderou:

— Eu sei para onde ele está indo! Naruto está atrás de mim, como deve ser. Tenho meus próprios motivos para querer encontrá-lo, Iori — reiterou ela. — Você sabe bem disso!

O terror irrefreável que o elemento Escuridão impunha fez Mira Uzumaki estremecer. Bastou um movimento de Iori e a vice-líder, no mesmo instante, caiu de joelhos, pálida e trêmula. O coração em seu peito batia acelerado; os olhos, arregalados pelo puro pavor infligido.

— Nenhum objetivo pessoal está acima do plano, nem mesmo o seu, vice-líder. Mais do que qualquer um, você deveria saber disso. — A voz tonitruante de Iori lhe comprimia os pensamentos. E quando ele ergueu um selo na mão direita, Mira fez uma careta de dor.

Para os demais integrantes, ver sua vice-líder ser subjugada pelo próprio parceiro diante de todos era constrangedor. Mira Uzumaki era, de longe, a mais competente dos Yuurei e, para muitos, o ponto de equilíbrio de Iori Kuroshini — a voz de sabedoria dentro da organização. Enquanto o líder era temido pelos demais por seu poder incomparável, Mira conquistara para si o respeito de seus subordinados.

Hana foi a primeira a desviar o olhar, embora ainda escutasse os gritos abafados de Mira. Kioto Hyuuga reclinou o rosto, os olhos fechados em um mórbido silêncio. Kan seguiu o exemplo de Hana e também virou o rosto. Até mesmo Taka, que, embora não fosse partidário de Mira, era grato por ela tê-lo salvado. Somente Suki gostava do que via.

Quando a tortura finalmente parou, Mira, ainda tremendo, pôs-se em pé. Tinha o semblante sério e contido, e esforçava-se para controlar os espasmos musculares.

— Perdoe-me pelo descuido e a minha altivez, Líder-sama — falou cabisbaixa, com a voz rouca. — Como vice-líder, é meu dever servir de exemplo aos demais.

Iori ergueu os olhos para o Nono Oficial.

— Deixo Naruto Uzumaki com você, Taka. — E frisou: — Não falhe novamente.

Taka Kazekiri engoliu em seco.

— Não falharei, Líder-sama.

Em seguida, o líder dos Yuurei voltou o rosto na direção do Décimo Oficial.

— Kan, o País do Ferro não sabe da mensagem da Folha. Embora, eles sejam um país pequeno, o poderio militar dos samurais está em pé de igualdade a qualquer uma das Cinco Grandes Nações. Seria um estorvo se eles se juntassem à resistência que Hokage planeja organizar.

Antes de prosseguir, Iori olhou de esguelha para Mira, procurando o mínimo sinal de objeção na parceira. Mas o rosto dela era frio e distante.

— Mate Mifune, o General do País do Ferro e dizime a população — ordenou Iori Kuroshini. — Homem, mulher ou criança, não importa. O mundo precisa ser lembrado de que lutar é inútil. Faça isso e o grau Sênior, e também do posto de Sexto Oficial de seu antigo parceiro, Juha Terumi, serão seus.

— Com todo o respeito, Líder-sama — Suki se adiantou, reverente. — Mas receio que Kan não seja o mais indicado para enfrentar o poder de fogo dos samurais. Por outro lado, ele fez um belo trabalho na Vila das Fontes Termais. E como meu parceiro, Taka, recusou ser promovido, é justo Kan ocupar o posto de Sexto Oficial.

O líder dos Yuurei considerou a proposta da Quarta Oficial e antiga vice-líder.

— Bem observado, Suki. — E, novamente, voltou a atenção para Kan. — Aproxime-se, Sexto Oficial.

Solenemente, Kan avançou duas posições na coluna à direita, assumindo o lugar imediatamente ao lado de Suki.

— Obrigado, Líder-sama. — Kan encurvou a cabeça em estrita reverência.

Iori se dirigiu à Quarta Oficial dos Yuurei.

— Suki, a proposta foi sua. Quem você me recomenda enviar no lugar de Kan?

Antes de responder, Suki deu uma olhada sutil para Mira e, vendo que ela também a observava, sorriu satisfeita.

— Irei pessoalmente, Líder-sama — disse a Assassina de Kages. — Conheço bem o País do Ferro e posso lidar com Mifune e seu poderio bélico. Além disso, ainda resta cumprir a missão de Taka e Hana. Como aquela responsável pelo recrutamento, aproveitarei a oportunidade para avaliar nosso candidato de perto.

 

 

                                                                            ***

 

 

— Você viu a cara dela? — Suki riu, ainda se deliciando com o ocorrido. — A Mira de joelhos estava impagável!

Mas Taka Kazekiri não respondeu. Em sua mente, ainda estava vívida a lembrança de quando Suki havia afrontado Mira Uzumaki na frente de Iori, tendo sido severamente disciplinada por isso diante de todos. Pensar que, pouco tempo depois, a mesma Mira seria torturada pelo próprio parceiro era, no mínimo, impensável.

Outro detalhe que não passou desapercebido por Taka foi que, enquanto Suki fora castigada até urrar de dor, Mira suprimiu os gritos, abafando a boca contra uma das mãos. Depois, suportando toda a dor, levantou-se tão firme e pacata, como lhe era de costume. Taka, que conhecia a sensação de ser torturado pelo Meiton, não poderia achar a resiliência do clã Uzumaki mais impressionante.

Enquanto percorriam o corredor de volta, Taka indagou:

— Suki-senpai, você a odeia tanto assim só porque a Mira-sama tomou o seu posto?

A Assassina de Kages assentiu.

— É uma questão de mulher para mulher. Não acho que um homem como você vá entender. — E olhou-o, decepcionada. — Mas você já deveria saber disso, Taka. Afinal, foi meu parceiro por tanto tempo.

O Yuurei cerrou os punhos. “Não como gostaria”, não ousou dizer.

Haviam chegado à porta dos aposentos dela. Suki meteu a mão no bolso e buscou a chave.

— Você tem uma chance de ouro nas mãos — disse ela, após destrancar a porta. — Não estrague tudo desta vez

Ao ouvir aquilo, Taka congelou; e, ao perceber a satisfação que Suki trazia nos olhos, ele finalmente havia entendido tudo.

— Você...

Suki sorria de um jeito maroto. E, de modo totalmente inesperado, ela se achegou a ele o beijou no rosto. Taka, ainda pasmo, levou a mão automaticamente à bochecha, onde o batom vermelho de Suki lhe deixara uma marca.

— Isso — disse ela. — E você merecia uma pequena recompensa. Agora vá descansar, Taka. Amanhã cedo, você tem uma missão importante.

 

 

 

Assim que abriu a porta de seu quarto, Suki a encontrou. A ruiva estava sentada sobre sua cama, de braços cruzados e expressão fechada. Olhos frios mirando exatamente em sua direção. Para a Assassina de Kages, não era nenhuma surpresa que ela estivesse ali.

— Desculpe, Mira. Eu não curto dividir a cama com uma mulher. — Enquanto falava, Suki ameaçou levar à mão ao leque de guerra. — Além do mais, isso é invasão de privacidade.

Mira Uzumaki ignorou o deboche.

— Enviar alguém como Taka Kazekiri contra o Naruto jamais seria uma ideia do Iori. — Mira estreitou os olhos contra a Quarta Oficial. — Você sugeriu isso a ele.

Suki deu um sorrisinho.

Iori? A vice-líder deve ser um exemplo — ironizou. — Não aprendeu nada com o que houve mais cedo?

Bastou Mira Uzumaki ficar de pé para Suki sacar, ao mesmo tempo, o leque de guerra e Bashousen. Aos duas se estudavam silenciosas. Suki estampava um sorriso ferino e confiante. Mira, por sua vez, sequer piscava.

— Não me provoque, Suki. Hoje não — alertou a vice-líder. — Estou de péssimo humor.

— Eu posso apostar que sim.

E, com um ligeiro aceno de cabeça, Suki abaixou as armas, propondo uma trégua.

— Hana mencionou a sua conversa com a Hokage. Disse, também, que você prometeu não agressão aos países pequenos, além de ter poupado a vida da Mizukage... — Enquanto falava, Suki removeu o manto e o pendurou no cabide próximo da porta. Por baixo da capa, vestia calças escuras e uma camisa de malha de mangas curtas, que acentuava suas curvas e costas bem definidas. — E fez tudo isso só para garantir sua luta contra Naruto Uzumaki.

Havia claro ar de reprovação na voz de Suki. Mira não se importou.

— Sim, eu fiz.

— Ela também comentou que estava preocupada com você. — Suki desatou o coque, deixando os longos cabelos castanho-escuros correrem pelas costas.

Mira arqueou a sobrancelha.

— Por quê?

Suki jogou o corpo sobre a poltrona, relaxando.

— Porque, enquanto Kioto é o príncipe encantado da Hana, você, Mira, é a heroína dela. Para nossa pequena Hana, é no mínimo estranho ver a adorada Mira-sama poupando vidas. E devo concordar com ela. Você tem deixado alguns corpos bem vivos ultimamente — comentou Suki. — Não é assim que agem os Yuurei.

Mira dirigiu um olhar desconfiado para a Assassina de Kages.

— Onde exatamente você quer chegar?

Suki se virou para a rival.

— Quero descobrir qual o limite da sua lealdade — respondeu. — Pois, quando se trata de Naruto Uzumaki, você parece colocá-lo à frente dos nossos ideais. Na reunião de hoje, isso ficou claro para todos.

— Isso é ridículo.

Suki se levantou e caminhou em direção à Mira, até ficarem frente a frente, a uma distância mínima. Era uma mulher mais alta do que a ruiva, e a sensação de olhá-la de cima para baixo fazia Suki se sentir ainda melhor.

— Graças a você, Naruto Uzumaki não tem acesso ao chakra das Bijuu. Por outro lado, Taka tem o Yami no Fuuin. — Suki sorriu arrogante. — Se, por um acaso, Naruto estiver em apuros... o que fará, Mira? Permanecer indiferente ou, a fim de garantir seu tão sonhado encontro com Naruto, vai interferir na luta dos dois? Estou curiosa quanto aos seus sentimentos.

— Já entendi — minimizou Mira. — Quer me fazer passar por uma traidora. Acha que eu vou escolher o Naruto em detrimento dos Yuurei só para poder encontrá-lo.

E, olhando no fundo dos olhos de Suki, continuou:

— Você é uma mulher fútil, Suki, Assassina de Kages. Tem força bruta, mas te falta cérebro. Talvez seja por isso que eu ocupe o lugar que, um dia, foi seu.

Suki respirou mais devagar, digerindo a fala da outra.

— Vejo que também tem a língua afiada, Mira-sama — ironizou. — Mas não respondeu à pergunta. O que fará, se Naruto estiver perdendo o combate?

— Nada — respondeu Mira, firme. — Se o Naruto não consegue passar por esse desafio, então nem merece me encontrar. Mas, quanto a isso, estou tranquila. Eu o vi lutar muitas e muitas vezes; sei do que ele é capaz.

E, sem esperar uma resposta de Suki, Mira passou por ela e abriu um portal de trevas no meio do quarto.

— Você o superestima demais — criticou Suki. — O que ele é para você, afinal?

Mira se deteve na travessia.

— Foi você quem o subestimou — disse a ruiva, ainda de costas. — Naruto Uzumaki se tornou um ninja Rank S sem depender do chakra da Kyuubi, o que dirá das outras Bijuu. Se acredita que o Taka terá uma luta fácil, cometeu um erro de cálculo, Suki. Outro, por sinal.

Suki viu Mira Uzumaki atravessar o portal e desaparecer na escuridão. A sós, a Assassina de Kages ainda ponderava sobre as últimas palavras da rival.

“Você não respondeu à pergunta, Mira.”

 

 

                                                                            ***

 

 

Na manhã do dia seguinte, Taka Kazekiri preparou-se para a partida imediata. Não levava muito consigo, pois sabia que não iria demorar tanto para encontrar o alvo. Diferentemente da técnica sensorial de Mira Uzumaki, que dependia de algo tão volátil quanto identificar o padrão de chakra de alguém, Taka se valia tão-somente dos cinco sentidos. De fato, era o melhor rastreador dos Yuurei; e agora que o líder autorizara, localizar e capturar Naruto Uzumaki era sua responsabilidade. Sua e de ninguém mais.

Embora há muito desejasse acertar as contas com o Herói do Mundo Ninja, Taka não poderia deixar de pensar que, ao cumprir aquela missão, estivesse apunhalando a vice-líder nas costas. Ela, sua salvadora. Não fosse por Mira, sequer estaria vivo, quanto mais caçando o Alvo Primário dos Yuurei.

 — Que se dane. — Afastou tais pensamentos. E daí que Mira Uzumaki fosse obcecada por Naruto? Ela havia fracassado em localizá-lo. Em seu lugar, Taka não falharia. Tinha suas próprias razões para aceitar a missão: tinha uma guerra particular contra o maior ninja do mundo.

Ademais, as ordens do Líder-sama eram absolutas.

Atravessou o corredor rochoso e mal iluminado até a entrada da caverna. Parada junto à pedra de acesso ao esconderijo dos Yuurei, estava a pessoa que Taka Kazekiri menos esperava encontrar naquela hora do dia.

— Não deveria estar com seu precioso Kioto-sama? — perguntou ele.

Hana Sakegari, com a face emburrada, não respondeu à pergunta, o que, para Taka, era inesperado.

— Está cometendo um erro — disse a garota. — Deveria ter recusado essa missão.

Taka franziu a testa.

— É mesmo? E por que acha isso?

— Acha mesmo que depois de ter tomado um pau do velho Tsuchikage, o Líder-sama te daria, justamente, Naruto Uzumaki? — enfatizou Hana, impaciente. — Não seja burro, Passarinho! Dá para ver claramente a mão da Suki-sama por trás de tudo isso.

Taka respirou fundo. Suas impressões a respeito de Hana Sakegari estavam certas. Apesar de agir feito uma pirralha irritante, a nova Quinta Oficial era uma mulher inteligente.

— Ela está te usando para afrontar a Mira-sama e forçá-la a agir — prosseguiu Hana. — Se a Mira-sama interferir, Suki-sama terá o que é preciso para derrubá-la do posto. Se a Mira-sama não fizer nada e você vencer a luta, então ela e Naruto nunca se encontrarão. E se o Naruto ganhar, você é um homem morto e a Suki-sama estará livre de você de uma vez. De todo o jeito, ela sai ganhando.

Taka curvou a cabeça, lembrando-se da última vez que estivera com Suki. Involuntariamente, levou a mão à bochecha, onde ela o havia beijado. Também havia percebido as reais intenções da parceira naquela mesma hora.

Estupefata, Hana meneou a cabeça.

— Taka, você é ridículo! — ralhou a garota. — Não importa o quanto se ache um máximo, não passa de um lixo; e se contenta com qualquer migalha que a Suki-sama te dá.

Taka Kazekiri trincou os dentes.

— Não faço isso por ela! — bravejou. — Dane-se aquela vadia estúpida! Dane-se a Mira-sama. Eu faço isso por mim mesmo e mais ninguém! Tenho assuntos para tratar com Naruto, de homem para homem.

Hana pôs a mão à testa, enquanto balançava a cabeça em reprovação.

— Naruto está atrás da Mira-sama, ele não está nem aí para você — rebateu Hana. —  Você é um assunto superado para ele, depois do que houve na Vila da Folha. É só você se olhar no espelho.

Lembrar que fora nocauteado por um único golpe de Naruto Uzumaki fez a cicatriz em seu rosto coçar. Taka Kazekiri jamais se esqueceria daquela humilhação.

— Desta vez é diferente — garantiu o Yuurei. — Sou eu quem está atrás dele agora.

E virou as costas para companheira, sequenciando os selos para liberar a pedra na entrada do esconderijo. Hana Sakegari suspirou, desapontada. Taka era burro feito uma porta. Mas, apesar das rixas e implicâncias, haviam sido Yuurei Juniores juntos por muito tempo. Embora não o considerasse como tal, era o mais próximo de um amigo para ela. Era estranho para Hana vê-lo sair daquele jeito.

— Não o subestime, Passarinho. — E Taka percebeu a mudança drástica na voz de Hana. “Preocupação?” — Naruto pode não ter mais aquele poder todo, mas ainda é um habilidoso usuário de Senjutsu. Não se esqueça do que ele fez com o antigo líder da Akatsuki.

Taka virou-se para a garota, erguendo o braço metálico.

— Nesse caso, é bom que essa coisa funcione. — E saiu, acenando para Hana de costas.

Fora da caverna, Taka ergueu os olhos para o céu ensolarado.

“Sem nuvens”, pensou. “Um dia perfeito para caçar.”

Sem perder mais tempo, o Yuurei levou o polegar esquerdo à boca e o mordeu até sentir o gosto agridoce de sangue. Com a outra mão, sacou um rolo de pergaminho do estojo e, desembrulhando-o de uma vez, deslizou o dedo ferido sobre o papel. Em seguida, girou o pergaminho aberto para a esquerda, para a direita, ao redor do corpo e, por fim, lançou-o para o alto, enquanto sequenciou os selos do Tigre, Cobra, Dragão e Cão. Imediatamente, tomando o rolo com uma só mão, fechou-o de uma vez, batendo o pergaminho contra o chão.

— Kuchiyose no Jutsu! (Técnica de Invocação).

Assim que o Yuurei terminou de conjurar a técnica, algo similar à tinta preta vazou pelas laterais do rolo do pergaminho. O líquido viscoso enchia a relva e erguia-se na forma de aves de rapina. De plumagem escura e olhos amarelos, os pássaros eram do tamanho de um fêmur humano.

Falcões, dezenas deles.

— Ele vai para o País do Redemoinho. — Taka disse aos falcões. — Está ocultando o próprio chakra, provavelmente viajando por terra e evitando centros urbanos, a fim de não chamar a atenção. Já sabem como ele é.

Em resposta, os falcões caçadores grasnaram ferozes antes de alçarem voo.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por acompanhar até aqui. Quem puder, deixe um comentário para eu saber o que mais gostaram e o que mais te chamou a atenção neste capítulo, o que mais gostou, o que precisa ser melhorado e o que esperam ver daqui por diante...

Sò não vale comentar "quero ver o Naruto" (mentira, podem falar o quiserem).

Próximo capítulo: Dia dos mortos;
data provável da postagem: 18/03/2022


Vou ficando por aqui.

Até o próximo capítulo o/



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