Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 24
Amigo


Notas iniciais do capítulo

o/ o/ o/ party hard, leprechauns e DJ, porque começa agora a 2° parte.



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O vento roçava nas folhas das árvores próximas ao local, provocando um som de assobio. A chuva castigava o solo, formando poças de lama. A única luz provinha da lua, que, aliás, estava cheia, iluminando a entrada para uma caverna entre dois rochedos. Ouvia vozes distantes, que, com o tempo, se tornavam mais próximas e audíveis. Eu já podia distinguir uma ou outra palavra, mas não podia ver quem as falava.

— A senhora já esperou tempo demais… Aquelas crianças estão demorando, não acha melhor nós investirmos? — falou uma voz que eu conhecia muito bem.

— Paciência, Talassa. Na hora certa. Cada coisa em seu tempo… — essa outra voz era mais grossa, porém ainda feminina. — Você já teve seu encontro com eles, estou enganada?

— Não. Aquele loiro é bem inteligente, pelo visto. Talvez nós tenhamos subestimado-os…

— Então está me dizendo que está com medo de quatro crianças imbecis?

— Claro que não. Só estou dizendo que talvez eles sejam mais forte do que pensávamos.

A imagem se tornou mais nítida, e eu pude distinguir o rosto feio de Talassa, com sua habitual capa preta, e outro, que ainda estava escurecido, então não pude vê-lo muito bem.

— E o que faz você pensar isso?

— Olhe esse garoto — ela apontou para dentro da caverna, e eu pude ver o próprio Percy Jackson, amordaçado e amarrado no chão. Estava com uma aparência horrível, parecia que não comia há dias.

— O que tem ele?

— Estamos esperando ele ficar fraco há dias, e ele está aguentando firme.

— Ele não é de ferro. Uma hora ou outra vai ceder.

— O que pode demorar. Por que não o matamos de uma vez? Iria ser mais fácil…

— Você não entende? É diferente com semideuses. Só pode ser feito com eles vivos. Fracos, mas vivos.

— Há outro filho de Poseidon.

— Estou ciente. Eu gostaria de fazer com os dois, seria muito mais prático… — a outra pessoa se levantou a andou de um lado para outro. — Todavia, meu plano não terá efeito se eu demorar demais… Certo. Darei a eles três dias, no final desse tempo, se eles não tiverem chegado aqui, eu mato Percy Jackson.

Talassa levantou uma sobrancelha.

— Três dias, huh? E quem vai avisá-los disso?

— Não será preciso. Aquele que veio do mar está nos assistindo enquanto dorme.

Talassa soltou uma risada, que ecoou por toda a caverna. Eu acordei de súbito, quase batendo a cabeça no cano acima de mim. A risada continuava, o que eu achei estranho.

Me levantei, e me deparei com Louise, Colin e Julieta se dobrando de rir.

— O que é tão engraçado?

— Você — respondeu Louise.

— Mas eu tava dormindo!

— Por isso mesmo — disse Julieta.

— Você fala enquanto dorme. E se mexe muito — Colin completou.

— Calem a boca. Arrumem suas coisas. Temos três dias.

— Três dias pra quê?

— Pra salvar Percy. Se não chegarmos lá em três dias, eles vão matá-lo. — todos pararam de rir. — Arrumem minhas coisas também.

— Pra onde você vai? — perguntou Julieta.

— Que lugar melhor pra deixar os pensamentos flutuarem senão a própria água?

Depois que ver a palavra escrita naquele papel, eu senti uma vontade louca de apenas sentar e absorver tudo. Então, fui até o fundo de um pequeno lago perto do depósito abandonado onde havíamos passado a noite.

Colin foi muito esperto, sim, em enganar Talassa daquele modo. Se fosse eu no lugar dele, provavelmente teria cruzado os dedos e escolhido qualquer um dos pedaços de papel, e já que nos dois estava escrito ‘’morte’’, puf, Louise ia pelos ares. Nisso, acabou que ele conseguiu conquistar minha confiança. Aquele beijo dos dois na montanha já não significava mais nada, uma vez que isso parecia ter acontecido meses atrás, e que agora eu tinha certeza que Louise gostava de mim.

Se eu gostava dela? Com certeza. Ela tinha um jeito encantador — e, claro, intimidador — que deixava qualquer um louco. O modo como suas bochechas ficavam vermelhas quando ela corava. Como inchavam quando ficava com raiva. Seus olhos de carvão, que levavam consigo um tom vermelho, como uma faísca pronta para ser acesa a qualquer momento — e eu me pergunto o que aconteceria se alguém, por algum acaso, acendesse a faísca. Seus cabelos, que ela mantinha em um rabo de cavalo ou uma trança maior parte do tempo, mas quando os soltava, seu balançar ao vento a fazia mais bonita. E, finalmente, sua boca. Não há jeito de descrever a sensação que é beijá-la, o máximo que posso fazer é dizer que quanto mais e toda vez que sua boca fica colada na minha, é como se nada no mundo importasse, além de nós. Como sendo filha de Ares, ela odiava maquiagem. O que não faz diferença nenhuma, já que ela não precisa. Ela tem beleza natural.

E agora, um assunto que eu estava desviando esse tempo todo. Mirina. Bem, acho que devo a vocês uma descrição melhor dela, assim como fiz com Louise: Seus cabelos eram loiros, como já falei. Eram de um tom que puxava pra castanho, um loiro-sujo. Ela geralmente deixava-os soltos, mas, ao contrário de Louise, ela ficava mais bonita com um rabo de cavalo, que realçava seu pescoço e suas orelhas. Nas escassas vezes que vi ela corar, suas bochechas adquiriam um tom rosado, e, nas abundantes vezes que vi ela ficar com raiva, suas bochechas inflavam apenas um pouco, mas o bastante para tornar perceptível. Seus olhos castanhos eram realmente lindos, e derretiam e viravam mel quando expostos à luz do sol. Ela era muito especial pra mim, mas eu nunca imaginei ela como minha namorada, assim como eu sei que ela não me imaginava como seu namorado. Eu nem sei se algum dia ela quereria ter um namorado. Mas, agora, isso já não importa.

Eu estava perdendo tempo, claro. Mas eu sentia que se eu não parasse para engolir tudo o que tinha acontecido, eu perderia minha sanidade. Acabaria indo matar ciclopes no hospício local.

Por fim, voltei à superfície. Depois de tanto tempo apenas com a companhia de algas, alguns peixes e água, a luz do sol ofuscava minha visão, esperei até meus olhos se adaptarem.

Quando consegui enxergar novamente, vi Louise sentada em uma pedra perto da margem, olhando para mim.

Me aproximei e sentei do lado dela.

— Oi.

— Oi — ela respondeu.

— Cadê o Colin? — olhei para os lados, procurando por ele.

— Foi pegar algo pra gente comer. Eu tô com muita fome — ela passou a mão pela barriga.

— Eu também. Julieta bem que podia pegar mais umas frutas pra nós...

Ela riu, mas foi um riso fraco.

— Você tá bem? — perguntei.

— Mais ou menos.

Pus a mão no queixo dela.

— Eu disse que não vou deixar ninguém tocar em você.

— Como se eu precisasse de sua proteção… — ela deu um tapa bem forte na minha mão — Tire a mão! Acha que eu sou algum tipo de flor?

Eu ri.

— Qual é a graça, seu estúpido? — as bochechas dela inflaram.

Continuei rindo.

Ela me deu aquele olhar mortal.

— Olhe aqui…— ela se jogou em cima de mim, e eu continuei rindo — Tenho cara de palhaça?

— Se palhaços forem lindos…

Ela deu um tapa na minha cara. Depois, me beijou.

— Não me chame de “linda”, é nojento.

Alguém parou do nosso lado, o que acabou nos interrompendo.

Colin e Julieta seguravam algumas maçãs nos braços, e olhavam para a gente, segurando o riso.

— Os pombinhos querem comer?

_

— Vocês pegaram tudo? — Colin perguntou, já montado nas costas da cadela infernal.

— Sim, tudinho — disse Julieta, confirmando.

— Então, vamos — Louise assobiou.

Eu já estava acostumado com as viagens nas sombras, mas dessa vez, por algum motivo, eu vomitei. Depois de despejar as maçãs numa lata de lixo, eu sentei em um banco para me recuperar, e não acreditei no que vi.

Do outro lado da rua, um prédio vermelho se destacava entre os demais, todos brancos. Só para ter certeza, olhei para a esquina, e vi a mesma lanchonete lá. E, mais inacreditável ainda, eu o vi, com seu paletó bem passado por cima da camisa havaiana, e os cabelos ondulados de sempre.

Sr. Blake.


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