Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 21
Armário


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu disse que vocês não iam ficar vagando por aí o/ decidi fazer um especial, onde mudarei o pov, já estava cansado de só narrar com o Dylan, nada contra, claro. E eu acho que vai ser legal pra vocês saberem mais dos personagens, então:



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Eu nem sei por que estou aqui. Só estou aqui porque estou sendo obrigada. Me disseram que era pra eu contar minha história. Mas afinal, do que isso importa pra vocês? Tá, tá, calma, eu já vou começar.

A minha lembrança mais antiga é quando eu estava em um internato desses aí para crianças “desamparadas”. Desamparada é o caramba! Minha mãe foi quem me abandonou ali, sem mais nem menos, e foi embora. Eu não era nenhuma “aluna exemplo” lá nas escolas que o internato oferecia, eu devo ter sido expulsa de pelo menos umas quatro ou cinco diferentes. Eu também não me dava muito bem com meus “colegas de classe”, afinal, eram todos uns viadinhos mesmo. E as meninas, todas umas patricinhas, dava até nojo. Todos diziam que eu era demasiado bruta, mas eu não ligava. Como que pra provar a tese deles, eu dava um soco na cara de cada um que dizia isso. Mas já que toda essa besteira aqui é pra vocês saberem mais sobre mim, eu vou falar sobre mim. Meu nome é Louise Roocher Martin, sou filha de Ares, deus da guerra, apesar de eu só ter descoberto isso quando eu tinha nove anos. Segundo as pessoas, eu sou muito temperamental e raivosa, o que por parte é verdade. Devido à minha mãe, eu tenho meus momentos “fofos” (nojo de mim mesma) e etc.

Mas, tem uma coisa que eu não posso simplesmente descrever, eu vou ter que mostrar pra vocês:

— Louise, pra sala de castigo, já! — disse a professora de geografia, quando eu dei um soco na cara de um menino que estava me infernizando desde cedo.

Não valia a pena argumentar, já que de um jeito ou de outro eu ia parar na sala de castigo mesmo, então eu apenas peguei minha mochila e saí da sala, dobrando dois ou três corredores e chegando até uma porta que podia cair a qualquer momento. Na verdade aquilo não era bem uma “sala de castigo”, era só a área de serviço de lá, onde guardavam os esfregões, vassouras, e aqueles troços amarelos que usam na limpeza que até hoje eu não sei o nome. Como eu ia pra lá praticamente todo dia, eu já estava acostumada com o odor do ambiente, mas não se deixe enganar, tinha dias que aquilo ali fedia mais que curral depois de banquete. Eu realmente não ligava, só o prazer de dar um soco na cara de alguém ultrapassava qualquer expectativa. Eu sei que eu estou soando como uma psicopata, mas eu só tinha nove anos, e sou filha do deus da guerra sangrenta, o que você esperava? Florzinhas e brilhinhos pra todo lado? Eu lá tenho cara de Dylan?

Faltavam só meia hora para eu poder usufruir da liberdade outra vez, quando, de repente, a porta range. Provavelmente era outra professora que descobrira outra das minhas travessuras, ah, ótimo, mais uma! Mas não era. Era só um menino loirinho, ele sim tinha cara de desamparado.

Ele sentou perto de mim na parede, já que era o único lado disponível, a não ser que alguém goste de se esfregar em esfregões. Passaram-se mais dez minutos, e nada.

— Então, vai continuar mudo aí ou…? — falei sem olhar pra ele.

— O que você tem a ver com isso mesmo? — ele respondeu, também sem olhar para mim.

— Essa fala é minha.

— Palavras são públicas — ele soava grosso e triste.

— Você tá bolado só porque veio pra cá? Cara, eu passo pelo menos duas horas por dia aqui! — fiz um sinal amplo com as mãos.

— Digamos que eu não sou muito do tipo que vem pra cá, sabe?

— Ah, claro, você é um daqueles nerds.

— Algum problema com isso? — ele finalmente tinha olhado para mim.

— Vocês são chatos.

— Eu posso dizer o mesmo.

— Você nem me conhece! — falei, indignada. Aquele cara já estava me dando nos nervos.

— Você tem cara de ser chata — ele disse, e eu não me aguentei, levantei meu punho e dei um soco na cara dele.

— Ai, isso dói! Você luta MMA ou…?

— Quer pagar pra ver? — eu levantei meu punho de novo, ameaçando.

— Não, não. Relaxa aí — ele pôs a mão na minha cabeça, tentando me fazer relaxar.

— Não… toque… no meu… cabelo.

— Tá, cara, calma, não precisa se exaltar.

— Por que você veio parar aqui?

— Eu, hum… corrigi a professora. Ela errou umas coisas.

— Ué, não tinha necessidade de você vir pra cá, é só uma correção.

— Na verdade, eu a corrigi treze vezes — olhei para ele com a boca aberta quando disse isso. — Numa mesma aula — meu queixo acabara de cair.

— Então você é mesmo um nerd!

— E você, por que está aqui?

— Dei um soco em alguém.

— Não sabe nem quem foi?!

— E precisa?

— Você é mesmo bruta.

Dei outro murro na cara dele.

— Bruta é o cacete.

— Se alguém ouvir você falar isso… — ele falava, enquanto massageava o nariz, que agora estava sangrando.

— Eu não ligo — fui até a porta, abri-a e gritei: — BRUTA É O CACETE! — imediatamente fechei a porta.

O garoto começou a rir, e eu, do nada, também. Tivemos uma espécie de crise de riso dupla.

— Qual seu nome? — ele perguntou, quando finalmente parou de rir.

— Te interessa?

— Creio de que sim.

— Louise.

— Colin.

Ele estendeu a mão.

— Tá brincando se acha que eu vou apertar sua mão, não é?

Ele apenas deu de ombros, e ficou calado nos quinze minutos que restavam até sairmos dali.

Bem, agora vocês sabem como conheci aquele nerd loiro chato. Pelo amor dos deuses, só eu para aguentar um cara daqueles mesmo. A cada dia nos falávamos mais. Eu até passei a dar mais socos para ficar mais tempo na “sala de castigo”, e ele também começou a corrigir mais as professoras para o mesmo propósito.

Então, um dia qualquer desses, estávamos na área de serviço, como de praxe, falando de como os outros lá na escola eram imbecis e idiotas, também de praxe, quando um cara estranho entrou lá, ele parecia nervoso, bem nervoso:

— Ah, graças aos deuses achei vocês — ele segurou meu braço, e tentou me puxar pra fora.

— Deuses? Cara, de que tipo de religião você é? — perguntou Colin.

— Ei, me solta! — estapeei a mão dele.

— Vocês não sabem, não é?

— Do quê? — agora que ele tinha aberto a porta, eu podia ouvir algo como uma sirene, então me dei conta de que era o alarme de incêndio da escola. — Ei, o que tá acontecendo? A escola tá pegando fogo ou algo desse tipo? — agora eu também podia ouvir o alvoroço que estava acontecendo.

— Não, eu disparei o alarme.

— E por que você fez isso?

— Por que tem algo muito mais perigoso do que fogo aqui, pra vocês.

— Como assim, “pra gente”? — Colin ficava cada vez mais perplexo.

Ele colocou a mão na testa, como se fosse precisar de muita paciência pra explicar isso.

— Ei, cara! Desembuxa de uma vez!

— Vocês são filhos de deuses.

Eu ri.

— Você tá brincando, né? Minha mãe me deixou aqui quando eu tinha só um ano! Ela com certeza não é uma deusa!

— E seu pai? — ele levantou uma sobrancelha.

Parei de rir.

— Impossível.

— Então venha cá e me diga se isso é impossível.

Ele me arrastou para fora de lá. Apesar de ser um cara moreno, de cabelos embolados e pretos, e muito magrelo, era forte.

Simplesmente não acreditei no que vi. Era algum tipo de cachorro, só que com juba de leão azul nas duas — sim, duas — cabeças e a cauda dele era na verdade uma serpente. O que diabos era aquilo?

— Ortros! — gritou o sátiro.

— Mas esse cara é da mitologia grega! São só mitos! — gritou Colin em resposta.

Mesmo gritando, eu mal ouvia os dois, já que o monstro estava destruindo tudo no caminho, e, quando nos viu, começou a correr como um guepardo em nossa direção.

— Venha, se você ficar aqui, quem vai virar mito é você! — e puxou a mim e a Colin.

Corremos até a saída mais próxima, mas ainda estava muito longe. Então, eu, que estava na frente, ouvi alguém cair, e parei imediatamente. Era Colin, o cão o tinha alcançado, e dera uma patada nele. Senti uma raiva imensa emergir de mim, eu fechei o punho, e fui pra cima do cão.

— O que você tá fazendo? — gritou o carinha. — Você vai morrer! Deuses…

— Cale a boca!

O monstro rugiu pra mim, e eu rugi de volta. Dei um soco na cara dele, mas não foi um soco como eu dava na cara de um desses idiotas aí. Foi um soco de verdade, de pura raiva. O monstro virara cinzas. Colin e o cara estavam de boca aberta.

— Como eu disse. Certamente vocês são semideuses.

Acabou que o cara lá era um sátiro. Aprendemos tudo sobre mitologia grega no Acampamento. Foi um tempo de paz, até que Colin e eu tivemos que sair para uma missão, resgatar Mirina, já que todos os sátiros estavam ocupados. “Tempos agitados”, disse Quíron. Mas não sou eu quem vai contar essa parte pra vocês, aliás, vocês já sabem tudo que precisam saber de mim.

Vão se ferrar.


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