Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 10
Lousquila




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Raleigh. Nossa segunda parada.

Como eu sabia que estava na capital da Carolina do Norte? Simples. A Sra. O’Leary tinha deixado a gente no meio de uma floresta, e o loirinho, que já estava consciente o suficiente para raciocinar — porém, pela cara dele, se ele não conseguisse comer logo, desmaiaria —, tinha reconhecido a vegetação e nos dito. Ele poderia estar errado, mas se tem uma coisa que aprendi na minha semana no Acampamento é nunca duvidar de um filho de Atena — ele tinha os mesmos olhos e tom de cabelo de Annabeth, e um ar de nerd pairava no ar, então deduzi como tal.

Ao nosso redor, só tinha mato, árvores e uma montanha longínqua. Nenhum sinal de civilização.

Louise estava dando tapas na cabeça da cadela.

— Tinha que nos deixar aqui, não é? Sua cadela imunda! — ela gritava.

— Hã… acho que ela não consegue te entender — falei. E recebi pela milésima vez aquele olhar mortal.

— Cale a boca, idiota.

— Onde nós estamos? — Mirina perguntou.

— No meio de uma floresta, pelo visto — Julieta respondeu.

— Na verdade, no meio da floresta da Carolina do Norte, em Raleigh. Estas árvores são típicas daqui — o garoto loiro falou, o que pegou todos de surpresa.

— Muito bom, nerd. E como achamos comida e água? — Louise revirou os olhos.

— Aquela montanha — ele apontou para a montanha ao longe — deve ter um riacho correndo perto dele, porque a terra não está seca — ele pegou um punhado de terra com um pouco de esforço e esfarelou, como que para provar sua tese.

— E lá também pode ter alguma caverna, o que serve de abrigo — Louise completou. O garoto loiro concordou.

— Por que nós apenas não vamos procurar a cidade? — perguntei.

— Porque são altas as chances de a gente ficar andando em círculos, e, além do mais, que tipo de monstros podem estar nos esperando lá? — Mirina estremeceu. Não era bem o tipo dela ficar com medo.

— Argh… nem me lembre de monstros. Já basta ter ficado semanas naquele porão imundo — foi a vez do loiro estremecer.

— Você ficou… semanas... lá? — perguntei, atônito. — Como você não morreu?

— Quase morri. Cheguei a um ponto que se comesse mais alpiste, morreria.

Todos ficamos sérios. Comer comida de pássaro por semanas a fio não é brincadeira. Mas, para surpresa de todos, Louise deu uma gargalhada.

— Você… alpiste… semanas… passarinho… — foi o que ela conseguiu falar, em meio às risadas.

Pensei que o cara ia levantar e dar um soco na cara de Louise. Mas — para sorte dele — ele se limitou a dar de ombros.

— Não é porque o animal sagrado de Atena é um coruja, que os filhos dela tenham que comer comida de pássaro.

— Então você é mesmo filho de Atena… — falei.

— Aham.

— E como você sabe sobre os deuses e etc.?

— Isso explica pra você? — ele tirou um colar de contas do mesmo estilo do de Louise do bolso e me entregou. Tinha o mesmo número de contas que o de Louise. O labirinto e o prédio.

— Então você é do Acampamento...

— Sim.

— Qual é seu nome? — perguntou Julieta.

— Colin.

Louise pareceu que ia desmaiar.

— Qual é seu sobrenome? — ela perguntou.

— Bourdon. Por quê?

Ela caiu por cima dele em um abraço de urso. Todo mundo ficou confuso.

— Colin… não pode ser… todo mundo pensou que você estivesse morto. Onde você se meteu?

— Não estou entendendo… quem é… — mas ele não conseguiu terminar. Olhou para ela intensamente. Esses dois se conheciam de algum lugar. Ficaram abraçados por um bom tempo.

Depois de alguns minutos no silêncio, não aguentei mais e fiz uns gestos para Mirina e Julieta, elas captaram a mensagem. Nós pegamos a Sra. O’Leary e fomos andando em direção à montanha.

— O que tem entre aqueles dois? — perguntei.

— Não faço ideia.

— Mas você já estava no Acampamento — falei à Julieta.

— Na verdade, eu cheguei um ano depois de Louise, e quando eu cheguei aquele cara não estava lá.

— Digamos que… eu sei quem ele é — disse Mirina, de cabeça baixa.

— Então quem ele é? — perguntei.

— Ele era o melhor amigo de Louise, antes da Julieta chegar e, hum… dele sumir.

— Sumir? — perguntou Julieta.

— Ele e Louise foram à uma missão, no meio do país, bem longe de Long Island. Tinham que recrutar um semideus, assim como fizemos com você. Então alguns monstros cercaram eles, e Colin ficou pra trás. Ele… salvou Louise e o semideus.

— U-ou — foi o que conseguiu dizer Julieta.

— Ela deve ter sentido muito a falta dele. Mas, bem, tanto faz — falei, enquanto atirava pedras no riacho do qual Colin falara.

— Tanto faz, hein?

— Que foi?

Mirina sussurrou algo no ouvido de Julieta, e as duas deram risadinhas e assentiram com a cabeça.

— O que foi?

— Esqueça, não é nada.

— Certo...

Ainda andamos e conversamos por muito tempo antes de chegar à base da montanha. Louise e Colin muitos metros atrás, conversando intensamente.

A montanha tinha buracos escaláveis, mas o nosso objetivo não era ir até o topo, era encontrar uma…

— Olhe — apontei para um buraco enorme na montanha perto de onde estávamos. — Louise estava certa.

Alguns minutos depois, os dois chegaram, e nós falamos sobre a caverna e o riacho. A caverna era segura, e a água limpa o suficiente. Resolvemos dividir as tarefas. Mirina, Colin e Julieta iriam buscar água. Eu e Louise iríamos pegar comida.

Fomos adentro da floresta, e achamos algumas árvores frutíferas. Eu fiquei embaixo das árvores, enquanto ela subia nos meus ombros e pegava as frutas.

— Qual é a do Colin? — perguntei.

— Nós viemos ao Acampamento com o mesmo sátiro. Eu e ele éramos do mesmo internato, sabe? É muito raro ter dois semideuses num lugar só, atraía muitos monstros. E eu era muito apegada a ele...

— Muito apegada?

— Eu, hum… — ela pisou na minha cara.

— Ai!

— Eu… gostava dele. Gostava.

Não fiquei feliz com a confissão, mas não perderia a chance de tirar sarro da cara dela.

— Hmmm…

— Cale a boca.

Ela desceu e atirou as frutas para mim, com raiva.

— Sabia que quando você fica com raiva suas bochechas inflam?

— O quê? Não, elas não inflam.

— Inflam sim, e você fica parecendo um esquilo albino.

— Cale a boca.

— Você é uma Lousquila!

Ela riu, e o raro som dançou nos meus ouvidos.

— E você é um retardado.

— Cale a boca, Lousquila.

E nós andamos de volta para o abrigo na montanha, rindo e comendo.

— Ei — falei pra Louise, perto da caverna, quando vi Mirina e Colin conversando — eles já se conheciam?

— Como assim, não sabia?

— Não sabia o quê?

— Ela não te disse como ele sumiu?

— Disse, sim.

— Então, ela não falou sobre um semideus que foi resgatado por nós?

— Também.

Ainda não entendi aonde ela queria chegar. O que Mirina tinha a ver com isso? Então percebi.

— Ela...

— Sim, ela é o semideus.


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