Brenda

Os dias foram passando e a tristeza por não ter conseguido passar na prova também. Eu ainda estava tentando decidir se queria continuar em São Paulo. Mas se fosse pela vontade do meu pai, eu já estaria em Guarulhos faz tempo.

— Filha... — meu pai dizia — sei que você tem quase 19 anos e que quer ser independente, mas você não precisa morar longe de nós pra isso. Você será muito bem vinda aqui, sabe que a Marta gosta de você, e tem sua irmã e seus tios e avos... Por que ficar longe da gente? Lembra de quando eu te prometi que, apesar de morarmos em outra cidade, nossa família sempre seria unida? Não é a mesma coisa faltando você.

Tudo o que meu pai disse me fez pensar muito, tanto que nem consegui dormir direito.

Romário

— Você é a pior jogadora de UFC que eu já vi! — eu disse à Brenda. Nós estávamos na área de diversão do shopping jogando xbox, nós mais a Andreia e o Gustavo, também amigo meu de escola (e na minha humilde opinião futuro namorado da Andreia, por mais que eles neguem seus sentimentos).

Era sábado e estávamos nós quatro nos divertindo. A essa altura eu já via a Brenda como parte do grupo, apesar de ela não ter tantas coisas em comum com nós três.

— Ah... chega! — a Brenda disse — Não quero mais jogar isso.

Um tempo depois nós fomos embora. Passamos a viajem inteira no ônibus conversando. O Gustavo foi o primeiro a descer.

— Como é que você aguenta esse cara! — Andreia disse à Brenda, enquanto ríamos sem parar — coitada de você, Brenda.

— Já me acostumei com as idiotices dele.

— E pensar que vocês, nós, não nos suportávamos na escola... Não sabia que você era assim.

— Pois é, as pessoas mudam, né? E acho que eu detestava vocês porque minhas amigas os detestavam. E também porque o Romário sempre esfregava na minha cara quando conseguia tirar uma nota mais alta que eu. Eu ficava morrendo de raiva!

— Eu só fazia isso porque você fazia o mesmo — eu disse.

— E no fundo eu acho que a minha raiva era mais inveja mesmo — disse a Andreia séria. — Bom, a maioria tinha inveja de você e seu namorado.

A Brenda pareceu surpresa nessa hora. Como se ela já não soubesse disso.

— A gente só namorou por uns 4 meses — ela respondeu.

Depois disso a gente continuou conversando e descobrindo coisas sobre os tempos de escola, que pareciam ter acontecido há séculos, sendo que só fazia um ano mais ou menos que tínhamos nos formado. Uns minutos depois a Andreia desceu.

— Se eu não tivesse sido tão metida como aquelas a quem eu chamava de amigas eu não estaria tão sozinha hoje — a Brenda disse, suspirando. Foi um desabafo que, a julgar pelo rosto vermelho dela, ela não esperava ter dito à mim.

— Ah... a gente aprende com os erros — eu disse, meio que sem saber. Ela sorriu.

— Eu não imaginava que você era legal e divertido — ela disse, me olhando nos olhos. Não pude evitar ficar vermelho. — Engraçado como as aparências enganam!

Isso é verdade. Como já disse, nunca pensei que a Brenda da escola fosse assim que nem essa Brenda que eu convivo quase todo dia. Essa é muito mais divertida.

— É... acho que também nunca pensou que um dia seríamos... amigos, não é? — eu disse.

— Não. — Ela respondeu parecendo meio pensativa. — Sabe, vocês são melhores do que alguns que se dizem meus amigos. É sempre assim, não é? Não sabemos quem são nossos amigos verdadeiros até precisarmos deles.

A Brenda me olhou com um olhar de afeto. Então me deu um abraço que me pegou de surpresa. Mais surpresa ainda foi que eu retribui. Quando ela desceu ela tinha um sorriso bobo no rosto. E eu também. Em um pouco mais de um mês nós mudamos o conceito que tínhamos sobre o outro. Éramos amigos.