Romário

Os dias passaram rapidamente que eu nem vi. A prova está se aproximando e parece que tudo que eu faço é relacionado com videogames e português. Eu estou começando a ver erros de concordância nas frases que as pessoas falam, e corrijo mentalmente quando alguém diz uma palavra errado. Céus, eu tô ficando paranoico! Eu estou cansado de ver qualquer coisa relacionado á videogame na minha frente. Nunca achei que isso aconteceria mas, pela primeira vez, estou enjoado de jogar meu Xbox.

Sério, eu estou esgotado! Meu trabalho está ficando cansativo, meu colega otário não para de me atazanar, tenho de aguentar aquela garota enchendo meu saco todos os dias, sem falar nas aulinhas chatas de português. Mas fazer o quê, eu preciso estudar se quiser passar na prova, que será daqui há uma semana. Enquanto isso, tenho que ter paciência.

Por falar em paciência, haja paciência para ensinar a Brenda! Tenho que explicar umas trezentas vezes até ela conseguir fazer certo. Mas até que ela está indo bem. Acho que ela percebeu que a matemática não é um bicho de sete cabeças, é até divertido. Faz bem exercitar o cérebro. Eu deixei alguns probleminhas para ela resolver, e ela também fez o mesmo. Agora por exemplo, estou tentando responder a umas questões de interpretação de texto. O conto que ela me passou é legal, História de Uma Lágrima do Machado de Assis. Depois vou procurar mais contos dele para ler. Mas agora tenho que responder isso...

— Daí ela disse que ia pensar. Cara, é claro que ela vai aceitar. Nenhuma garota me resiste!

Fingi que estava escutando tudo. Na verdade eu estava jogando Flappy Bird no meu celular, esperando que o Marcos traga os jogos do Playstation para eu guardar. Jonah estava sentado fazendo, ou fingindo que estava, alguma coisa no computador. Ele disse que tinha chamado a Brenda para “dar uma volta”. Normalmente eu não me intrometo nos casos dele mas, acho a Brenda muita areia pro caminhão dele. Ela é muito esperta para cair no papo furado dele. Bom, pelo menos isso é o que eu acho. Ela parece uma daquelas mulheres que gostam de ser autoritárias e mandar no namorado. E o Jonah não é nem um pouco submisso. Igual ela. Por isso eles não dariam certo juntos. Ah, e a própria Brenda já disse que quer algo sério e não enrolação e aventuras só por uma noite. Resumindo: o Jonah não vai ter nada além de amizade com ela. Então deixa ele ficar sonhando.

— Quero ver mesmo se você vai conseguir — eu disse, com um ar de desafio.

— Mas é claro que vou. E você está dizendo isso por quê?

— Nada. Só acho que ela é muito esperta pra te dar bola.

— Cara, você está é com ciúmes! Pensa que eu não sei que vocês almoçam juntos todo dia? — Jonah me olhou com um sorriso malicioso. — O quê...você e ela...?

Antes que eu pudesse abrir a boca para falar alguma coisa somos interrompidos quando a dita cuja entra na sala. Ela parece diferente, sei lá, parece triste.

— Jonah, o Marcos está te chamando — ela disse. Ele sai da sala me encarando.

— Você mandou bem nas questões. Sua interpretação e sua redação foram boas. Me pergunto se foi você mesmo quem fez!

— Mas é claro que fui eu — respondo —, eu sou um gênio, não? — Ela revira os olhos. Impressionante como ela consegue ser atraente fazendo isso. — E você também mandou bem nas contas, só que errou três.

Para a minha surpresa ela senta ao meu lado e põe a cabeça entre as mãos. Me pergunto o que ela estava fazendo, daí eu escuto choramingo. Ela está chorando? Eu disse alguma coisa errada?