Friendzone escrita por Cherrysama


Capítulo 1
Base da Amizade




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E por último, mas não menos importante, quero dedicar essa fanfic ao aniversário da minha amiga virtual e aspirante a escritora Mitsue Uchiha. Parabéns, Lice-chan! :3

1

O fim do mundo começou quando Naruto me fez acordar onze horas da manhã para discutir um tema completamente inútil. Até então, minha madrugada estava ótima.

Tomates gigantes não deveriam existir, segundo a ciência, mas eu estava rolando em um enquanto uma chuva de doritos caía graciosamente por trás, me fazendo abrir os braços e olhar para cima com a boca aberta. E quando eu achava que não tinha como ficar melhor, eis que surge um bolo de chocolate do tamanho de três vacas empilhadas, do outro lado do rio feito de nutella com veleiros de waffle.

Sim, eu estava no paraíso.

— SASUKE!

E, olha, acabei de acordar.

De repente, a porta é aberta com brutalidade e um vulto loiro entra sem cerimônia nos meus aposentos – o que pensando bem, é invasão de domicílio, e eu deveria fazer alguma coisa a respeito qualquer dia desses.

— Eu não acredito que você ainda está dormindo – ele disse, com a voz cheia de deboche – Assim, é quase meio-dia.

Tudo bem, Sasuke, é só fingir de morto que o animal vai embora.

— Não faça de conta que não escutou, retardado – o Uzumaki gritou impaciente, me sacudindo de um lado para o outro como se eu fosse um saco de batatas – Eu sei que você está acordado!

Lembre-se: homicídio dá cadeia, mesmo que a tentação seja enorme, ou que seu suposto melhor amigo seja imbecil suficiente para não ter percebido que você está absolutamente exausto por causa da resenha que ele mesmo deu ontem.

— Ei, você está bem? Suas olheiras te fazem parecer um panda – riu zombeteiro.

Homicídio. Dá. Cadeia.

Lembra, Sasuke?

— Que cheiro de queimado é esse? – franziu o cenho antes de começar a remexer minhas gavetas – Não me diga que você está fazendo outro boneco de vudu pro Kiba!

Não mate-o. Não mate-o. Não...

— Do jeito que está, aposto que não vai conquistar a Sakura tão cedo! Hahahahaha

Ah, foda-se.

— Naruto! Cala a merda dessa boca antes que eu arranque suas tripas e dê para os urubus comerem! – então eu peguei uma calculadora que, apesar de pequena, tinha peso o suficiente para esfolar aquela cara de rámen e taquei nele com forças que até mesmo eu desconhecia.

Infelizmente a besta loira conseguiu desviar a tempo, e um “crash” ecoou pelo meu quarto assim que o objeto voador acertou a parede.

— Que diabos aconteceu com você? Esqueceu de tomar o remédio, seu louco? – ele berrou, escondido atrás de um móvel com alguns CD's roubados de Itachi.

— Pode ir levantando esse traseiro gordo daí, seu loiro desgraçado, porque hoje eu estou com uma vontade sobrenatural de te matar!

— Ah meu Deus – deu um gritinho com certeza muito másculo, caindo para trás e evitando ter um abajur enfiado no meio da cara – Socorro! – tentou ir para a esquerda, mas eu rapidamente lancei a primeira coisa que encontrei na mesa (que, por sinal, era a maquete de biologia... que eu devia ter entregado semana passada. Ah, então ele estava aí? Bem, tanto faz. Ninguém se importa com a organogênese mesmo) e arremessei em sua direção com todas as forças de Greyskull.

— Uaahh – saltou bem a tempo de evitar ser atingido. Todavia, seu pulo nem um pouco gracioso o fez meter a canela na mesinha de centro que eu odiava, mas passei a amar assim que ouvi os berros de dor do Uzumaki cretino.

Aproveitando seu momento doloroso, peguei a segunda coisa que me veio a mão e tampei nele, depositando todo o meu ki, chakra, reiatsu, cosmo ou sei lá mais o quê. Acabou que a segunda coisa era um álbum marrom de fotos, e como eu miseravelmente errei o alvo original, o objeto bateu na cortina e abriu, soltando dezenas de fotografias sobre o aquário que ficava embaixo da janela.

Um momento.

As fotos que eu acabei de atirar são...?

Por favor, não seja.

Corri para o aquário, ignorando Naruto no caminho. Um pedido de “por favor, não” se repetia em loop na minha cabeça, e senti uma leve falta de ar. Por fim, mergulhei as minhas mãos naquele aquário imundo – que outrora pertenceu a Freeze, meu antigo peixinho dourado, antes de morrer subnutrido e ter um funeral digno na descarga – e tentei localizar, sem sucesso, alguma sobrevivente, como se milagrosamente alguma página não tivesse sido arruinada pela água.

Fudeu.

— Cruz credo, você é uma pessoa muito violenta! Devia procurar um psiquiatra, Sasuke, porque seu problema é sério! – Naruto disse, ainda encolhido pela sensação prazerosa de ter sua canela enfiada na mesa.

Mas o seu protesto não passou de um mero borrão para mim. O álbum... eu estava incrédulo demais para retrucar com qualquer outra coisa.

O que eu fiz?

Estreitei os olhos na direção do loiro.

Ou melhor, o que ele me fez fazer.

— Droga, com essa confusão toda eu até me esqueci o porquê de vir aqui!

— Você tem ideia do que acabou de fazer, Naruto? – eu sibilei, contando mentalmente até 10 – Tem uma noção?

— Além de servir como cobaia para seu mau humor matinal, não, eu não tenho – resmungou, massageando a canela.

— O álbum de fotos que você arruinou é o presente que eu demorei uma semana inteira para criar! Você... você sabe o que eu passei? Tive que nadar no oceano de tralhas que minha mãe guarda no sótão durante três dias, colocar o computador antigo do meu pai pra funcionar, copiar as fotos, imprimi-las, decorar a capa, remover qualquer poeira e mofo do álbum, plastificar, desdobrar cada página amassada...

Naruto sorriu colgate, completamente alheio ao meu luto.

— Ahh! Lembrei o que eu ia dizer! Sabia que o aniversário da Sakura é nessa quinta?

Tudo bem, Sasuke... se você esquartejá-lo e vender seus órgãos para o mercado negro, pode arranjar uma grande confusão com o pai dele, que é o prefeito da cidade... vamos, resista!

— Eu estou perdido – murmurei desolado, caindo de costas para a cama.

— Porque você simplesmente não compra outro álbum? – ele pôs a mão por trás da cabeça em um gesto despreocupado – Não é como se fosse o fim do mundo.

— Tá vendo essas fotos no aquário? – ele olhou para a antiga morada de Freeze – Algumas delas são as únicas cópias que eu tenho de fotografias do jardim de infância.

Naruto estufou o peito com a revelação: – E as originais?

— Estão arquivadas no computador dinossauro do meu pai...

— Yeah! Então só precisamos imprimir de lá e...

— ...que foi queimado no apagão de ontem causado por VOCÊ quando declarou resenha aqui em casa SEM ME AVISAR – completei a frase olhando furtivamente para o meu amigo, que estremeceu no lugar – E mesmo se fosse possível recuperá-las, o aniversário dela já é daqui a cinco dias...

— É... você está mesmo fudido.

— Foi o que eu falei! – coloquei um travesseiro no rosto, afundando sem perceber na minha própria cama.

Ouvi Naruto passar por mim e seguir direto para, segundo minha visão clarividente, o aquário do falecido. Levantei o olhar assim que ele meteu a mão por dentro e tirou de lá o meu presente inundado.

— Não pode ter ficado tão rui- POORRA

— Eu não disse? Está horrível.

— Não é isso, seu idiota – ele enfiou o livro na minha cara, o que é uma ação muito imbecil se o objetivo era me fazer ler o título – “Do seu melhor amigo”? Que merda é essa?

— O que parece ser, seu retardado. E tira essa droga do meu rosto! – dei um tapa na sua mão, fazendo-o largar o objeto.

— Eu estou falando sério, Sasuke! Se sua relação com a Sakura for tão sem graça quanto esse título, prepare-se para permanecer na base da amizade por toda sua vida!

— Base da amizade? Você acabou de inventar isso! – exclamei, pegando minhas roupas da gaveta e marchando até o banheiro – Além do mais, nós tecnicamente não estamos na “base da amizade”, isto é, se ela existisse. Nos beijamos daquela vez na festa da Ino, lembra?

— É, mas depois disso você agiu como se nada tivesse acontecido! – ele gritou do outro lado da porta – Então, sinto muito meu amigo, mas você ainda está sim na base da amizade, e ela é bem real, sacou?

Liguei o chuveiro, desejando mentalmente que um E.T toque a minha campainha agora e leve o Naruto para longe, dizendo aos demais: “Finalmente encontramos o nosso líder! Yahoo!”

Mas é claro que isso não aconteceu. Seria sorte demais para mim.

Depois de algum tempo mofando no banho, não escutei mais nenhum grito escandaloso.

— Naruto? – chamei, não recebendo nenhuma resposta para a minha felicidade.

Abri a porta normalmente. Talvez o idiota tenha enfim desistido e ido embora? Assim eu poderia ficar deprimido em paz.

Como eu sou iludido.

— SASUKE! – o Uzumaki se enfiou entre mim e o meu quarto, quase me provocando um ataque cardíaco – EU TIVE UMA IDEIA!

— Hum?

— Não vou permitir que você se entregue à maldição do 'melhores amigos' tão facilmente – apontou o dedo no meio do meu rosto – Você vai se declarar para a Sakura no aniversário dela, daqui a cinco dias! E eu vou te ajudar!

Vamos analisar a situação:

Meu amigo solteiro, encalhado e com um problema sério de idiotice está querendo me ajudar a conquistar uma garota, sendo que o próprio idiota foi o responsável por todo esse desalinho?

Não, obrigado. Eu não estou tão desesperado assim.

— Sem chance – saí do quarto, com ele no meu encalço – Eu posso resolver essa situação sozinho.

— Como das outras vezes? – ele zombou – Você sempre amarela quando vai falar com a Sakura sobre isso. Agora, se você admitir que precisa de ajuda, eu deixo você saber o meu plano...

— Naruto – lancei um olhar brincalhão – Eu nunca, nunca, em nenhuma circunstância, jamais, nunca mesmo, precisarei de ajuda sua para alguma coisa, entende? Muito menos para lidar com essa tal “base da amizade” da sua imaginação!

Naruto arqueou as sobrancelhas. Eu sorri.

— Mas enfim, você tem outra razão para vir? – perguntei, averiguando o que a empregada havia preparado para o almoço.

— Ah, sim, os caras mandaram eu te dizer que eles virão aqui mais tarde para ensaiar – comentou emburrado, e eu rolei os olhos com diversão. Estava claro que aqueles quatro retardados jogaram pedra-papel-tesoura para decidir quem viria me avisar, e Naruto – como sempre – havia perdido.

Friendzone

Meu nome é Sasuke Uchiha, 16 anos, japonês. Eu tenho a pele bem pálida, cabelo ébano com reflexos azuis e olhos carvão.

A besta loira que acabou de me acordar se chama Naruto Uzumaki. Ele tem a mesma idade que eu, só que alguns meses mais novo. É filho do prefeito da cidade, Minato Namikaze, só que quase ninguém sabe disso, já que ele prefere usar o sobrenome de solteira da mãe. Acho que ele mencionou alguma vez que tinha algum grau de descendência alemã, mas não tenho certeza se é alemã mesmo e não me importo. É um loiro que parece nunca ter visto um pente, pois os fios vivem bagunçados para todos os lados, e olhos azuis tão alegres e cativantes que dá vontade de socá-lo por ter tanta disposição essa hora da manhã.

Naruto e eu temos uma banda, a UnLimited, junto com o Gaara, Neji e Sai, outros amigos nossos. Mas não estamos juntos por acaso. Somos os – tcharam – cinco rejeitados da escola!

Surpresos?

Bem, vou explicar melhor:

Os cinco rejeitados da Konoha High School são um grupo de pessoas que, apesar da boa aparência e boa condição financeira, são completamente anormais em alguns pontos da personalidade e isso assusta os demais.

Em quinto lugar está Neji Hyuuga. Neji é um rapaz sério e responsável, mas tem uma neura sobrenatural por limpeza e disciplina. Se dependesse dele, nós cinco estaríamos em uma escola militar. Apesar de tudo, o que o tornou um membro da nossa irmandade foi a obsessão doentia que ele tem pelo próprio cabelo. Desde criança, os sagrados fios de Neji Hyuuga nunca foram tocados por uma tesoura, o que por alguma razão é motivo de orgulho para ele.

Em quarto lugar está Sai sem-sobrenome. Sai nunca revelou o sobrenome dele, por isso podemos estar nos envolvendo com um agente da FBI disfarçado ou um assassino procurado sem nem mesmo saber. Mas a esquisitice não para por aí. Ele nunca – nunca mesmo, pelo menos que eu saiba – mostrou alguma emoção. Nem raiva, tristeza ou alegria. Assustador, não? Na verdade, parece que ele nem sabe como fazer isso, já que fica lendo livros de auto-ajuda o tempo todo.

Em terceiro lugar está Naruto Uzumaki. Naruto não é nem considerado estranho, e sim perigoso. É, perigoso. Mas no que uma besta loira pode ser perigosa? Bem, Naruto Uzumaki é altamente idiota, tão idiota que chega a ser perigoso, pois as brincadeiras e pegadinhas que ele realiza já mataram muita gente... de medo. Afinal, nunca se sabe qual a próxima vítima do terror alaranjado.

Em segundo lugar está Gaara No Sabaku. Gaara é um ruivo que, como se não bastasse não ter sobrancelhas, ainda usa lápis bem forte ao redor dos olhos e uma tatuagem inusitada do canto direito da testa, cujo está escrito o kanji “amor” (ironicamente?) Ele põe medo em muita gente, o que é perfeitamente compreensível já que possui um olhar psicótico quando está com raiva. Mas apesar de tudo, é um cara muito legal, e bem bacana entre amigos. A verdade é que ele não se sente confortável perto de outras pessoas, pois é extremamente desconfiado, e você não sabe o quão duro foi fazê-lo aceitar o Sai sem-sobrenome.

Mas... quem será o dono do primeiro lugar? A pessoa considerada mais esquisita da escola??

Prazer, sou Sasuke Uchiha – líder dos rejeitados desde sempre, aliás. E é tudo culpa de Kurenai Yuuhi, mas isso vocês verão em breve.

Em contrapartida com o nosso time de estranhos, há os cinco populares da Konoha High School. As cinco pessoas mais amadas, invejadas e veneradas.

Em quinto lugar está Shikamaru Nara. Com seu cabelo espetado a la abacaxi, ele é principalmente reconhecido pela sua inteligência super dotada e memória fotográfica. Se perguntar, ele lembra da roupa da nossa professora do primeiro período, para logo em seguida resmungar um “problemático” e cair na preguiça, pois ser inteligente deve gastar toda sua energia. Há rumores que ele namora com a Temari, irmã do Gaara, mas ela estuda em outro colégio, e o Gaara não fala muito com a irmã de qualquer jeito.

Em quarto está Tenten Mitsashi. Tenten é uma morena de cabelos achocolatados e olhos da mesma cor, dominante na arte dos esportes. Ela sabe jogar absolutamente tudo: futebol, tênis, basquete, vôlei, atletismo, pingue-pongue, rugby, hóquei, tênis de mesa e tudo que você imaginar. O pior é que ela é muito melhor que a maioria dos garotos em quase todos esses esportes, o que é digno de respeito da ala masculina estudantil.

Em terceiro lugar está Hinata Hyuuga. Isso mesmo, a prima do Neji. Ela é assustadoramente parecida com ele – os mesmo olhos brancos medonhos e o cabelão, só que azul escuro – mas totalmente oposta na personalidade. Enquanto Neji é durão e firme nas suas decisões, Hinata é tímida, indecisa e bondosa. Isso faz quase todos os garotos simpatizarem com ela, e tentarem proteger sua inocência servindo como guarda-costas quando algum pervertido se aproximar com segundas intenções – e ao ver daqueles caras, qualquer um que não seja eles é inimigo.

Em segundo lugar está Ino Yamanaka. Ino é uma loira falante, excêntrica e com vívidos olhos azuis, o que a torna um tipo de “Naruto fêmea” de vez em quando. Ela tem um blog que eu não lembro o nome e é filha da dona das empresas de cosméticos Yamanaka, sempre tendo os produtos antes mesmo de serem lançados. Por esse motivo, é muito popular entre as meninas e entre os meninos também, já que ocupa o rank 1 das gatas mais gatas da escola.

E em primeiríssimo lugar está ela, a pessoa mais amada, invejada e venerada dos cinco populares: Sakura Haruno.

Para começar, Sakura tem uma aparência exótica: olhos esmeralda brilhantes, cabelo longo, liso e rosado (isso, cor de rosa! Nem acredito que já falei pra ela que essa cor não cairia bem...) e uma pele de porcelana. Muitas crianças a confundem com uma fada, o que é estranho e adorável ao mesmo tempo. É uma pessoa sorridente, meiga e animada, embora um pouco explosiva.

Tudo bem, agora o mais impressionante: nós todos somos melhores amigos.

Isso porque nossa turma – Ino, Gaara, Neji, eu, Sakura, Hinata, Naruto – se conhece desde o primário. Mas com o tempo, os problemas começaram a surgir e fomos separados pela sociedade estudantil – ainda mantemos contato, apesar de tudo, e quase todos os dias sentamos na mesma mesa.

Segundo Sai, isso poderia causar um tipo de fenda no espaço-tempo, pois os populares e os rejeitados deveriam estar pelo menos cinco metros de distância um do outro.

Daí, nós jogamos uma batata assada nele e mandamos calar a boca.

Friendzone

Mas enfim, terminada as apresentações ouvimos a campainha tocar, junto com várias vozes familiares do lado de fora.

— Deve ser eles! – Naruto disse e foi correndo para a porta.

Após abri-la, o barulho de falatório se intensificou, e cheguei à conclusão que Neji e Gaara estavam discutindo de novo, com Sai tentando amenizar a situação mandando todos se abraçarem porque – de acordo com o livro “60 passos para fazer amizades”– isso é o que amigos fazem para voltarem a serem amigos.

— Oi Sasuke – falou robótico assim que a multidão de idiotas chegou na cozinha. Na mesma hora os dois pararam de discutir (sobre um assunto provavelmente estúpido) e me cumprimentaram também.

Nós cinco seguimos para o porão da minha casa, que na verdade é o quarto do meu irmão quando ele ainda morava conosco antes de ser transformado por mim em um estúdio de rock.

Como Itachi era o exemplo de filho mais velho (note que eu estou quase engasgando com minha própria ironia enquanto narro isso), meu pai providenciou um quarto gigante no subterrâneo da casa, com ar condicionado e tudo, coisas que ele felizmente manteve após sua partida. Há diversos pôsteres de bandas pendurados, assim como de animes que nós curtimos. Os nossos instrumentos estavam perto da parede oposta à porta de entrada, sendo que haviam milhares de almofadas coloridas espalhadas pelos cantos, e até um mini frigobar ao lado da estante de álbuns musicais. O chão é personalizado no estilo xadrez, e as paredes são forradas com madeira de primeira.

As luzes são artificiais, pois estamos no porão antes de tudo, mas não há nenhum incômodo nisso.

Naruto acomodou-se atrás da bateria e começou a balançar as baquetas; Neji pegou o baixo e ficou avaliando para ver se estava limpo como ele deixou; Gaara analisou sua guitarra vermelha com desenhos de labaredas e eu posicionei os microfones, sempre com a guitarra azul escura cheia de detalhes em branco pendurada no pescoço.

— Vamos treinar aquela música que o Sai escreveu semana passada – Gaara sugeriu e eu confirmei.

Sai não sabia tocar nenhum instrumento, mas surpreendentemente escrevia e compunha como um profissional. Este estava confortável em um puff verde perto do frigobar, bebericando um refrigerante diet enquanto rabiscava alguma coisa no seu bloco de notas.

— Pensei que ele não tinha terminado – Neji falou.

— Como assim? Terminamos tudo ontem na resenha – Sai respondeu, confuso, até lembrar que Neji não veio para a nossa “reuniãozinha” de ontem.

— Por falar nela – Naruto se intrometeu, como de costume, e começou a tagarelar sobre o evento de ontem. Logo, todos nós estávamos entretidos em uma conversa sobre isso, exceto Neji, que virava a cabeça pra lá e pra cá tentando acompanhar o que falávamos.

— ...e vocês acreditam que o Sasuke quase me matou hoje cedo por causa disso? Haha

Agraciei o loiro com o meu dedo do meio.

— Bem lembrado, cretino. Próxima vez que você marcar resenha aqui em casa sem avisar vai ficar do lado de fora.

— Ahh, você fala isso, mas foi o que mais se divertiu.

— E divertiu a gente. Quem diria que você fosse tão fraco com bebida – Gaara adicionou essa observação desnecessária, e eu podia sentir a piada na sua voz.

Me senti atacado. 

— Espera, vocês consumiram bebida alcóolica mesmo? – Neji se pronunciou pela primeira vez na conversa, e todos ficamos em silêncio.    

Pensando bem, não tínhamos decidido ontem por unanimidade que não falaríamos essa parte para Neji, evitando assim surtos?

— Só um pouco..? – tentei amenizar.

— Eu não tenho certeza disso – Sai questionou, no pior momento possível. Nós três olhamos para ele em aviso, com um olhar que dizia claramente “FECHA A MATRACA”, mas a falta de noção desse garoto era forte demais – Se me recordo bem, Gaara trouxe em torno de três-

— AAHH MEU DEUS, OLHA A HORA! – Naruto exclamou dramaticamente, com uma atuação digna de uma peça de teatro do ensino infantil – Temos que ensaiar logo! Música nova, lembra?

— E mais tarde dá a hora do seu cursinho, não é? – Gaara acrescentou.

Neji pareceu relutante em deixar o sermão pra outra hora, mas até ele precisava reconhecer que estávamos perdendo tempo demais. Então a mãe do grupo só resmungou alguma coisa e reposicionou o baixo.       

Quando todos já estávamos devidamente preparados, Naruto fez a contagem com as baquetas e começamos a tocar.

Eu fui o escolhido para cantar a música que o Sai compôs porque, segundo ele, eu a interpretaria muito melhor. O Neji também tem uma voz excelente, mas não gosta tanto de cantar e prefere ficar mesmo com o baixo. Já Naruto seria um pesadelo para os ouvidos. Sendo assim, Gaara é quem faz o back vocal.

Você deve estar se perguntando como cinco pessoas que possuem uma banda ainda conseguem ser rejeitadas na escola. Quer dizer, meninos que tocam costumam ser populares não é? Bem, a verdade é que ninguém sabe que a UnLimited existe, além de obviamente nós cinco, Shikamaru, meu irmão mais velho, meus pais e Kurenai. Nem mesmo as garotas sabem. Nós planejamos fazer nossa estreia no October School Festival, daqui a sete meses.

..isto é, quando realmente conseguirmos tocar do jeito que queremos.

Ou seja, bem.

Nós terminamos a música e olhamos um pra cara do outro.

— Essa foi uma das melhores que você já compôs – Neji comentou para o branquelo. Ele gentilmente deixou de fora o fato de estarmos fora de sintonia a música inteira.

— De onde veio a inspiração? – Gaara perguntou, mas Sai somente sorriu.

— Boa tarde sobrinho lindo que eu amo mais que meu salário! – uma voz soou do alto das escadas, e eu nem precisei me virar para saber quem é – Ah, vejo que tem companhia.

— Tudo bem, o que você quer, Kurenai? – perguntei com os braços cruzados.

— Yo teacher – Naruto cumprimentou alegre, e os outros meninos acenaram para ela.

Kurenai Yuuhi é irmã da minha mãe, o que faz dela tecnicamente um “membro da família” sendo minha tia. Com seus cabelos arrepiados ônix – que, diferente de mim e da irmã, não têm um reflexo azulado nas pontas – e assustadores olhos vermelhos, é a pessoa mais cruel, chantagista e malandra que você pode imaginar.

Ela também é professora de geografia da minha escola, Konoha High School, mas nunca age como tal. Na verdade, parece ser o oposto: mexe no celular durante as reuniões de pais e mestres, esquece as provas no apartamento, dorme durante as próprias aulas...

Resumindo: a prova viva de que o sistema de professores da nossa escola está com problemas.

Pois é.

— Como assim o que eu quero? Será que eu não posso mais conversar amigavelmente e sem nenhuma segunda intenção com o meu sobrinho, que por sinal, ama tanto sua tia que faria qualquer coisa para fazê-la feliz?

— Desembucha – falei impaciente, escutando os risos contidos dos meus amigos no fundo.

Ouvi ela suspirar e fazer um gesto indicando o andar de cima. Eu a segui, sentindo uma pontada de arrependimento.

Friendzone

— Quinta feira é o aniversário da Sakura, a filha da minha melhor amiga que estava de mal comigo – começou – e para fazer as pazes, me ofereci para organizar a festa de aniversário. O problema é que ontem o Asuma chegou lá em casa com duas passagens para Okinawa e, por Jesus, eu é que não vou deixar de ficar a sós com o meu namorado gostosão por uma semana para encher balões coloridos.

— Mas também não quer decepcionar a amiga e estragar a amizade – eu arqueei a sobrancelha, e ela assentiu.

Ri mentalmente.

Se fudeu, gata.

.

.

.

Espera.

Só um segundo.

Só um segundinho.

Ela quer que eu...?

— Ah não! – berrei, em um tom assustadoramente similar a Naruto – Nem pensar! Não mesmo! Não vou nunca!

— Mas Sasuke, nem é grande coisa – ela protestou, ofendida – além disso, é da Saky que estamos falando! Se ela souber que seu melhor amigo estragou a chance dela de ter uma festa magnífica... – balançou a cabeça negativamente.

— Não seja dramática. Além disso, ela vai entender que foi mais uma de suas armações – retruquei, com um sorriso presunçoso e tentando ignorar o termo “melhor amigo” – Nem adianta usar essa desculpa.

— Mas... mas...

— Absolutamente não – enviei um olhar intimidador, mesmo sabendo que não surtiria efeito.

— Tudo bem, eu entendi – ela disse, com uma voz desinteressada e bebendo casualmente um copo de suco – Sei que não tem nenhum interesse em ajudar sua tia necessitada. Certo. Que mundo cruel este se tornou. Mas bem, parece que você não se importa, não é?

Eu estufei o peito, sentindo uma sensação de trabalho concluído – Isso mesmo.

Mas então, a inimiga sorri.

E nunca é bom sinal quando a inimiga sorri, principalmente se essa inimiga tem uma mente diabólica e olhos vermelhos.

Sem brincadeira, o olho da maluca é vermelho vivo.

Mais macabro que o do Neji, eu sei.

— Resenha legal a de ontem... – me fitou com falsa inocência – seria uma pena se... alguém denunciasse que tinha álcool nela para seus pais – soltou um riso digno de Jeff the Killer, e eu mal consigo respirar.

Ai, porra. Como ela sabia disso? Quem disse para ela? Será que ela viu?

Ah meu Deus. Jesus. Santo Goku.

Rosnei, me dando conta de uma coisa.

Eu. Faca. Naruto. Sangue. Tortura. Morte.

Ah bem. Já sei o que fazer no final de semana.

Isto é, se eu não morrer primeiro quando meus pais chegarem de viagem.

— Você não faria isso...

— Ah, sim, eu faria. Você sabe que eu faria – sibilou maldosamente, jogando um punhado de fotos minhas bêbadoseminu e todo diabo a quatro na bancada da cozinha – Tá vendo? É triste, mas é verdade.

Vendo as evidências, não pude fazer outra coisa a não ser soltar uma lufada de ar e sentir um corte profundo no meu orgulho.

— Felizmente para você, meu horóscopo me disse que hoje eu faria uma boa ação – continuou, lixando as unhas como se não se importasse – Então eu poderia queimar essas fotografias e evitar mais um desastre familiar.

— Uh? Isso é sério? De graça? – perguntei desconfiado. Ela não é generosa assim, sei muito bem disso.

Well, não importa. Contanto que não haja funeral nos próximos dias, tá beleza.

— Claro que é! – clamou, feliz – O preço é tão baixo que é de graça, praticamente.

Filha da puta.

— Santo Deus, como diabos você dorme a noite? – brandi furioso. Ela piscou.

— Como um bebê.

 


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Notas finais do capítulo

What's up, people? ;D Hoje é o Happy Day da minha amiga Lice-chan! Essa fanfiction é o meu presente para ela (até porque eu passei o último mês todinho pensando em maneiras de fazer esse capítulo porque, sinceramente, começar uma fic não é bem minha especialidade). Apesar de nos conhecermos a pouco tempo, ela foi uma pessoa super especial que me ajudou em várias coisas: conselhos, fanfics, autoconfiança para continuar a escrever, gostos parecidos, mas principalmente por ser uma amiga excelente e ótima companhia. FELIZ ANIVERSÁRIO, FOOOOFAA! ^^ Que você tenha o melhor B-day do mundo, com muita paz, amor e brigadeiros (OMG manda um pouco por correio para mim *-*).E não se esqueça nunca: você é especial que nem sorvete de morango :*Beijos com cereja e chantili,MoneyMadam



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