Eu te amo, sabia? escrita por Aika
Todo ano é igual. As mesmas coisas, as mesmas palavras, os mesmos anos.
Tudo sempre se repete, ficando comum, igual.
Que tal se esse ano fosse um pouquinho diferente?
***
O que eu dou pra ela? Tem que ser algo especial, alguma coisa que seja única. Mas o quê?!
Era isso que se passava na mente dele. Vitor não fazia a mínima ideia do que dar de presente para a sua mãe, pois além de ser Dia das Mães também era o aniversário da Dona Luisa, o que torna a data ainda mais especial.
Ele não podia dar algo repetido, mas já estava sem opções.
Resolveu pedir a ajuda o amigo, Gabriel.
- Por que não dá um perfume? - sugeriu
- Não, eu dei um no ano retrasado.
- Uma blusa? Ou algo relacionado?
- Também já dei.
- Que tal um sapato?
- Já foi.
- Um cartão? Maquiagem? Um livro? - já havia presenteado com todos - Assim fica difícil Vitor!
- Eu sei! Mas não quero dar algo repetido... - lamentou-se
- Vamos dar uma volta por aí, uma hora a gente acha algo legal. - sugeriu
Vitor achou uma ideia legal. Eles rodaram o bairro inteiro praticamente, mas não encontraram nada que preenchessem os requisitos do filho. Vitor já esperava por esse resultado, passara o mês inteiro procurando e não encontrou nada que ainda não tivesse dado à mãe.
- Já são quase sete hora, Gab. Acho melhor a gente parar, não vamos encontrar...
- Não podemos desistir Vitor! Tem que ter alguma...
Ele parou de falar e ficou olhando pra multidão do shopping, o moreno seguiu o seu olhar e avistou Antonio - melhor amigo de Gabriel - se aproximando.
- Antonio! - chamou
O maior viu os dois ali parado e acenou, sorrindo.
- Ei, que coincidência! O que estão fazendo de bom? - perguntou tirando os fones.
- Eu estava ajudando o Vitor a escolher um presente pra mãe dele. Ela faz aniversário bem no Dia das Mães. - contou animado
- Caramba, isso torna o presente ainda mais difícil... Por que não dá um buquê de flores? É simples e bonito. - sugeriu
- Ela é alérgica... - comentou
- Ah.. - falaram os dois em uníssono
Continuaram caminhando no shopping, conversando sobre coisas aleatórias e dando algumas sugestões aqui e ali ao passarem nas lojas, até que Vitor se deu conta de algo.
***
Gabriel
- Desculpa Gab... - pediu de repente
- Pelo quê Vitor? - perguntei sem entender
- A sua mãe, digo, os seus pais... Eu havia me esquecido. - confessou sem graça. Antonio só nos acompanhava em silêncio
- Tudo bem. - tentei desconversar
Pensei em como seria caso a minha mãe ainda estivesse viva. Se eu soubesse que teria tão pouco tempo com ela teria aproveitado mais. Gostaria de ter dado mais abraços, mais atenção. De ter dito que a amava mais vezes. Gostaria de ter sido um filho melhor.
O celular de Vitor tocou, deu pra perceber que era a mãe dele. Ela brigava dizendo que era tarde e ele ainda estava na rua.
Quando a minha mãe falava essas coisas eu simplesmente ignorava e desligava o telefone sem me despedir. Agora me arrependo.
Antonio se ofereceu para acompanha-lo até em casa, disse que poderia conversar com a mãe dele.
- Não precisa se preocupar, ela só está preocupada. Acha que eu sou desligado demais e que a qualquer instante vou ser assaltado! - debochou inocente
Aquilo me fez ficar com muita raiva. A mãe dele só estava cumprindo o seu papel, ele podia ficar irritado com isso as vezes, mas pelo menos tinha uma mãe presente.
Antonio e eu nos despedimos e fomos pra casa também, agora morávamos juntos. Corei com a lembrança.
Ele me abraçou pelo ombro.
- No que está pensando? - pergutou ligeiramente preocupado. Sorri torto, ele sempre sabia quando eu estava assim
- Nada não. - neguei sem olhá-lo diretamente
Estávamos passando por uma rua pouco movimentada
- Então, por que está chorando?
Não havia notado isso até ele falar, mas eu estava chorando.
- Não fica assim Gab... Eu sei que deve estar sentindo falta dela, que queria poder dar um presente também. Mas você ainda pode! - ele tentava me confortar. Antonio me abraçou e, ali mesmo, no meio da rua, ele me beijou. Algo simples e sem pensar. Secou as lágrimas e começamos a andar de mãos dadas.
Chegamos em casa e fomos nos preparar pra dormir, dividíamos o mesmo quarto, a mesma cama.
Lembro-me de quando ele apareceu na minha porta dizendo que iria morar comigo, ele confessou que também me amava e então começamos um namoro.
- O que você faria, caso ela estivesse viva? - perguntou pensativo, demorei a responder
- Eu primeiro ia abraçá-la e dizer que a amava muito. Iria agradecer por tudo que ela fez por mim, me desculpar pelos meus erros, que foram muitos. Passar o dia com ela fazendo coisas das quais sei que gosta, como passear ao ar livre, cozinhar, conversar...
Me bateu uma nostalgia, de repente me passou pela cabeça tudo o que fiz com a minha mãe. Eu não conversava muito com ela, e nos últimos meses não dizia eu-te-amo com frequência...
O Vitor pode reclamar da mãe dele, pode dar presentes... Mas não vê que o mais importante, acima de tudo, é estar com ela. Ali, todo dia, convivendo com a sua mãe, conversando com ela sobre notas, podendo dizer que a ama. Será que a mãe dele sabe que ele a ama? Será que o Vitor já disse isso a ela hoje?
***
- Vitor onde você estava até agora?!
- Não enche mãe, estava com o Antonio e o Gabriel. Eu estou bem, não voltei machucado nem nada. Vou tomar um banho agora.
- Ok...
Ela voltou pra cozinha, estava terminando de lavar a louça.
Vitor ainda não tinha se dado conta de quão curta a vida pode ser. No dia seguinte a sua mãe teve um AVC, foi levada ao hospital e ficou sob os cuidados médicos. Vitor passou horas na sala de espera, tinha avisado a Gabriel e agora ele e Antonio estavam lá também.
- Vitor, quando a sua mãe for transferida para o quarto, diga a ela que a ama. Aposto que não disse isso ontem. Aproveita as pequenas chances que você tem diariamente para demostrar o seu carinho por ela. - aconselhou Antonio - Esse é o melhor presente que você pode dar.
Todos os anos, todos os dias. No meio dessa correria nós acabamos nos esquecendo de dizer Eu-te-Amo para as pessoas especiais a nossa volta, principalmente para a nossas mães, que sempre se dedicaram a nós, nos educaram, nos amaram. Mesmo que a sua mãe seja dura com você, ela te ama. E faz tudo pensando em nós. Mães erram, cuidam, protegem, perdoam. Os filhos muitas vezes são ingratos e acabam não dando importância... Até que essa imagem de mãe se vá e eles vejam a falta que ela faz. Até que seja tarde demais.
***
Gabriel
- Obrigado... Por ir comigo até o hospital.
- Não há de que, pequeno. Está melhor?
- Estou sim.
Agora ele vive me chamando de nomes carinhosos...
- Antonio?
- Sim?
- Eu te amo.
Ele sorriu com a declaração.
- Eu também te amo, pequeno.
Me beijou carinhosamente. O beijo ficou mais intenso, as mãos desceram pelos corpos...
Esse ano o Dia das Mães foi diferente. Tanto para Gabriel quanto para Vitor.
Você já disse eu-te-amo pra sua mãe hoje?
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