Um conto sobre o amor de um guerreiro escrita por Winchesterosa


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dedicado à Ana Cintia Sales Pereira.



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Ali, no centro daquela épica batalha, eu era o comandante. Meus soldados me reverenciaram antes de começar montar a tropa e me juraram lealdade acima de qualquer coisa que acontecesse ali. Os pelos do meu corpo se arrepiaram inteiros quando um deles me disse que eu seria o melhor líder para aquela legião de romanos sedentos por sangue, e que se dependesse deles, eu ganharia a guerra.
Tudo que eu consegui enxergar naquele momento, eram minhas vontades. Eu tinha vontade de sumir, de me enfiar embaixo de uma rocha bem grande, para que todo meu corpo fosse encoberto. Eu queria vencer aquilo logo, pra poder voltar pra casa. Eu queria ser rei, mas acima de tudo, queria uma chance de ter de volta tudo aquilo que deixei para assumir o posto de general do exército romano.
Eu e minhas tropas montamos nossa estratégia de batalha, centrada em mim e na linha de frente. Tínhamos apoio de base, catapultas, homens o suficiente e muitas espadas e lanças. Mas sabíamos, que aquela guerra de bárbaros seria vencida por muque. Meu muque. Minha força de vontade.
Seguimos viagem rumo à concentração, e aquela cota de malha pesava mais do que deveria. Nela estavam centrados todos os meu medos internos, minhas dúvidas de capacidade, minhas fugas improvisadas e toda a responsabilidade que eu tinha de comandar todos aqueles homens rumo à uma invasão perigosa.
Estava clareando o dia. O sol pouco a pouco deixava as montanhas e se juntava as nuvens. Naquela caminhada de sete quilômetros e meio, tudo que eu via era seu rosto. Um rosto lindo, com olhos quase negros e excitantes. Cabelos vermelhos, lisos e longos esvoaçando e um sorriso sapeca que só ela exibia. Minhas pernas fraquejavam mas eu não demonstrava. Meus homens precisavam saber que seu comandante era forte e que resistiria a tudo por eles e por sua nação.
Andando num ritmo acelerado e pulsante, meus pés agiam sem o meu controle, coisa que raramente acontecia. Eu viajava no tempo, pra um tempo onde eu era apenas um príncipe louco, que viajava por milhares de quilômetros em busca de aventura. Mas em uma dessas aventuras, encontrei muito mais que procurei. Ela veio até mim, com seu jeito encantador e me mostrou um lado de mim que nem eu mesmo conhecia. O lado da liderança.
Seu jeito inibido porém chamativo. Receoso, porém corajoso, e seu beijo que podia curar até o ferimento mais terrível me mostraram minha verdadeira vocação. Eu não servia para me sentar e assistir. Eu nasci para agir.
A luz do sol cada vez mais forte começava a me cegar, mas eu fingia não me importar. Gritava com os meus homens para que marchassem direito, e para que tivessem forças para aguentar o que vinha pela frente. Um de meus soldados caiu no chão, não suportando a fadiga. O tirei do chão e o chamei de volta dizendo para que aguentasse mais alguma centena de metros. Depois de alguns passos, ele novamente caiu. Chamei meus dois soldados mais fortes e pedi que o carregassem. Na minha tropa, ninguém seria abandonado no meio do caminho.
Novamente ouvi a sua voz, do nada em meus ouvidos. Lembrei de seus cabelos soltos esvoaçantes e de como eles mexiam comigo de uma forma que eu não saberia explicar com palavras. Tudo que eu queria ela tinha, uma força excepcional, e um caráter sincero e afetuoso.
Seu toque era suave, ao mesmo tempo encontrava meus pontos fracos com uma rapidez avassaladora. Eu a fazia gemer baixo nos nossos melhores momentos e isso era uma coisa da qual as pessoas iam se lembrar em um momento como esse.
Chegamos ao campo de concentração. Meus homens se largaram no chão, abrindo seus cantis de água e de álcool, tomando alguns goles generosos. Evitei sentar-me. Permaneci apoiado em minha lança, que estava comigo desde minha primeira batalha.
Meus ossos doíam, mas não doíam tanto quanto pensar nela. Uma lembrança veio-me à mente.
“Era um final de tarde de verão. A praia estava coberta de um sereno leve que caia das folhas das arvores próximas. As pedras e seus musgos pulsavam em verde vivo, e o vermelho de seus cabelos contrastavam com todas as cores que aquele lugar poderia oferecer. Ela corria de mim, e ria, enquanto me pedia para parar. Mas era apenas charme, pois ela sabia que eu não pararia até beijar seus doces lábios.
Alcancei-a em poucos segundos, segurando-a pela cintura. Seus olhos fixaram-se nos meus, tirando de mim qualquer outra imagem que eu pudesse perceber. Quando dei por mim, estávamos deitados naquela areia, acima do mar a lua surgia, lenta e preguiçosa, como eu queria que fosse a passagem do tempo. Seus beijos molhados me circundavam de prazer, e eu me sentia cada vez mais apaixonado por tudo que conhecia dela.
- Você sabe que eu vou voltar pra você não é? Custe o que me custar.
- Não me faça promessas que você não pode cumprir. Apenas siga seu destino.”
E foi lembrando-me destas palavras, que criei forças. Eu ia voltar a ver aqueles olhos. Eu ia voltar a ouvir aquela voz a me chamar de meu amor. Eu ia ter aquela mulher de volta nos meus braços. Era tudo que eu mais queria.
Com os soldados todos à postos, dei meu sinal. A fila de mais de duzentos homens se estendia lateralmente por mim, e eu apenas gritava incentivos a eles, para que mantivessem-se sãos. Ao bater das minhas botas no chão de terra batida, soei o sino que libertava meus soldados de suas posições. Avançamos em direção ao inimigo, sem dó, sem culpa, sem remorso. Mil homens comandados por um, que ao invés de proteger-se, estava na linha de frente. Mas como ela havia me mostrado, eu nasci para agir.
Seu rosto me vinha em mente, de tempos em tempos, no meio da gritaria e da barulheira que se forma em uma guerra. Minha lança era enfincada em vários peitos e pescoços, porém nenhuma espada era capaz de me atingir. Eu era um demônio lutando, daqueles que parece ser vestido de sombras, inatingível. Ao meu lado, sons de espadas e escudos se chocando me embalavam a continuar mesmo sobre pressão.
Meu peito doía a cada morto que minha lança deixava ao chão, pois nada daquilo realmente me interessava. Sem sombras de duvidas eu era bom no que eu fazia, mas realmente este não era o local em que eu queria estar. Era nos braços dela.
Então uma dor aguda me atingiu. Minha costela se abriu com o golpe da espada do inimigo, enfincado na lateral direita do meu corpo. Fazia sentido ser atingido ali, afinal enquanto eu utilizava minha lança, meu flanco totalmente desprotegido estava exposto de uma forma fenomenal.
Eu cai, sentindo o mundo esvair ao meu redor. Eu suava, e minha testa melecada com meus cabelos louros caindo sobre ela me dizia que aquele era meu fim.
E tudo que eu pensei antes de fechar os olhos, foi em pedir desculpas a ela, afinal, eu nunca voltei.


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