Aaron sentou-se na cadeira que puxara para si. Ryan tinha implorado para que ele ficasse na sala e deixasse a garota chorosa em paz. Lucille também parecia chateada e olhava para o namorado como se quisesse que Aaron se opusesse àquela ordem do novo conhecido. Afinal, quem era Ryan para dar ordens aos guerreiros?

À medida que Laýla parava de chorar e se sentia confortada, Ryan percebia a tempestade diminuir de intensidade e o céu clarear. Âmber e Jasper pararam de correr pela rua e voltaram para a varanda cabisbaixos, parecendo tristes pelo fato de a chuva ter parado e acabado com a brincadeira. Ao subirem os degraus que levavam para a casa, sacudiram-se, molhando tudo ao seu redor. Isso despertou a atenção de Aaron, que exclamou:

– Oh, não! Cara, minha mãe vai chegar as oito, se ela ver essa bagunça...

– Por que vocês tinham que trazer esses cachorros para cá, hein? -Emendou Lucille, murmurando chateada.

– A culpa não é nossa! Não podemos obriga-los a ficarem quietos. São apenas cachorros!-Ryan defendeu os cães, se levantando do banquinho no qual estava.

Mal acabou de falar isso, o garoto recebeu um pano de chão. Aaron jogou um para Laýla também, que, imediatamente, pôs-se a enxugar os cães. Ryan teve que enxugar o chão molhado, ajoelhado. Respirou fundo para diminuir sua raiva momentânea e começou a trabalhar. Quando tudo estava enxuto, Ryan e Laýla entraram na cozinha, para estenderem os panos molhados e beberem agua. Aaron estava sentado na mesa, tomando limonada. Lucille não estava à vista, mas Laýla poderia imaginar que a encontraria no andar de cima, onde provavelmente ficavam os quartos. Ryan serviu-se de limonada, sem pedir permissão ao dono da casa. Encheu um copo para Laýla também, deixando-a constrangida pela liberdade adquirida pelo amigo. Ryan sentou-se do lado de Aaron, deixando uma cadeira do outro lado da mesa para Laýla.

– Ainda falta muito para minha mãe chegar, então eu pensei... Se você não gostaria de lutar. Eu pratico artes marciais e está na hora do treino. Quer me acompanhar? - Aaron perguntou, provavelmente planejando uma vingança ao novo amigo.

– Aceito, por que não? Afinal, você não vai conseguir ganhar de mim! - Ryan respondeu sorrindo, comemorando sua vitória precipitadamente. Olhou para Laýla e novamente para Aaron. Parecia preocupado com ela.

– Sua namorada pode ir também, é claro! - Acrescentou Aaron, com um sorriso de lado. A afirmativa deixou Laýla muito envergonhada. O sangue subiu-lhe às faces e ela abaixou a cabeça, deixando os cabelos caírem sobre o rosto.

Lucille estava no pé da escada ouvindo a conversa. Quase que imediatamente, subiu os degraus pulando de dois em dois, sorrindo. Âmber e Jasper correram atrás dela, instigados pelo movimento, mas logo desistiram e voltaram para a cozinha, deitando-se aos pés de Laýla. Aaron achou que poderia ser divertido levá-los para o treino, e Ryan concordou, com um aceno de cabeça.

Os três esperaram Lucille descer, trazendo um estojo ornamentado com joias, o qual parecia muito leve em suas mãos. Aaron guiou a turma inteira até uma casa com um jardim magnífico na frente. Lá, Lucille entrou e saiu, trazendo outro estojo, mais simples, que parecia ainda mais leve do que o que estava nas mãos de Aaron. Entraram todos em um carro, que foi em alta velocidade até o estacionamento do Parque Perry. O vento estava forte, balançava as folhas e batia nos troncos, assobiando e fazendo muito barulho. Os quatro jovens adentraram na mata.

As arvores não traziam muitas lembranças boas para Laýla, mas ela se forçou a continuar andando. Dessa vez, Ryan ia à frente com o casal de namorados guerreiros. Âmber ia perto de seus pezinhos e Jasper corria de um lado ao outro da trilha. Podia-se ouvir cantos de pássaros e imaginar quão bonitas suas penas podiam ser. A alguns metros à frente, podia-se ver uma clareira. Uma cicatriz natural no meio da imensidão verde do Parque.