The New Continent escrita por Weezzi


Capítulo 44
Capítulo 43 – Sacrifícios – Parte 2.




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Loren / Zenaya / Ralf

17 Março, 2200, 21:42.

O céu era coberto pelas cinzas e o ar parecia ficar cada vez mais pesado. A neve pálida encontrava-se em meio aos destroços sujos da batalha e o som dos gritos e das armas impregnavam um cenário de horror, mesmo assim desistir naquele momento não era uma opção.

Antes mesmo que eu pudesse reagir a corrente entrelaçada em minha perna puxou-me para o chão, e a queda no sólido congelado me fez bater a cabeça, a visão do céu me pareceu irregular por alguns segundos, mas não demorou muito para que ela se estabilizasse e eu fixasse o olhar na mulher amarrando a corrente em minha perna. Antes que ela amarrasse a outra perna eu chutei seu rosto, a menina agachada cambaleou para trás enquanto eu me arrastava com esforço para alcançar o arco e flecha, quando eu consegui apanha-lo e me preparava para atingi-la, a garota já havia levantado e com um chute ela me desarmou e acertou meu rosto.

— Aonde você pensa que vai vadia. – Disse a mulher mascarada em tom irada.

Em seguida, ela pegou a flecha caída e cravou em uma das minhas pernas. Entre gritos e gemidos eu me contorcia de dor no chão, o vermelho manchando a calça me desesperava ainda mais, eu tentava fechar os olhos e me distrair tentando suporta a dor. Porém minhas unhas arranhavam o gelo em agonia e meu corpo inteiro parecia flamejar naquele instante. Em seguida, ela finalizou a corrente em minha perna e começou a me arrastar pelo chão em direção aos enormes portões de entrada da vila, meu corpo deixava um enorme rastro de sangue e minhas costas arranhavam em atrito com gelo desnivelado.

Mesmo exausta eu ainda tentava resistir impulsionando meu corpo para trás, entretanto numa tentativa falha e conforme íamos nos aproximando do portão o som das criaturas enormes que invadiram o vilarejo iam ficando cada vez mais alto. De repente ela pegou pelo meu pescoço e me colocou para a fora da barreira, minha cabeça ficou pendida no ar e me debatia tentando inclinar-me para frente.

— Adeus vagabunda, você devia ter ficado quieta. – Quando ela estava prestes e me empurrar da barreira, uma flecha atingiu se braço. – Droga! – Resmungou a mulher e um gemido abafado.

Quando eu olhei para o lado era Cory atirando com um arco e flecha, ele preparava mais uma flecha para atingi-la, porém ela se levantou e correu em direção oposta, cravou uma lança no gelo e com uma corda que carregava em suas costas desceu pelas paredes de gelo sumindo de meu campo de visão. Em seguida Cory correu até a mim e me ajudava a levantar.

— Isso vai doer um pouco. – Antes que eu pudesse me importar o moreno arrancou a flecha da minha perna. Mais uma vez gritei de dor como se houvesse atingida de novo. Dessa vez ele arrancou a manga da sua camisa e envolveu em minhas pernas amarrando-a. – Eu acho que isso vai resolver, consegue andar?

— Eu não sei, mas eu posso tentar. – Respondi tentando me colocar de pé. Eu me apoie em seus ombros e voltávamos o caminho da barreira. – Aonde você foi? – Perguntei quanto ao desaparecimento minutos antes.

— Eu fui buscar ajuda. – O moreno respondeu guiando seus olhos para baixo. Segui sua visão e vi Xiantong e Mike lutando juntos lá em baixo. – E onde está o Will? - Eu parei por alguns segundos sem saber o que responder.

— Eu não sei, uma construção enorme desmoronou em cima dele por causa daquelas pedras gigantes. – Falei aflita. Os detalhes daquela cena ainda eram perturbadores.

— Precisamos recuar e sair daqui agora, eles estão avançando demais. – Disse o moreno tentando me ajudar a andar o mais rápido possível. Quando chegamos as margens finais da barreira Mike e Xiantong nos aguardavam e me ajudaram a descer.

— O que houve com a sua perna? – Perguntou Mike. Antes mesmo que eu pudesse responder Cory interrompeu.

— Não temos tempo para explicação, eles estão nos destruindo, então, qual vai ser o plano?

— Mike eu quero que vá até a fronte de batalha e peça que recuem, lutaremos melhor dentro do nosso território, assim, teremos uma vantagem sobre eles. Deixem os entrar quando for a hora certa feche os portões. – Explicou Xiantong enquanto apontava para os locais da estratégia.

— E quando eu irei saber a hora certa. – Perguntou Mike

— Não se preocupe com isso. Agora vá antes que não reste mais nenhum de nós. – Mike correu em direção ao início da vila e desapareceu em meio a fumaça.

— E nós o que vamos fazer? – Indagou Cory.

— Vamos atrás dos que estão mais avançados, tentar direcionar os perdidos até a grande cabana e apagar o fogo, assim eles não terão a visão aqui dentro.

— Tudo bem... Loren eu quero que fique atrás daquele arbusto escondida, e não sai de lá até nós voltarmos entendeu?

Eu assenti com a cabeça e Cory me levou até um arbusto congelado eu fiquei atrás dele observando tudo o que acontecia ao redor. Era impressionante como um lugar tão gélido como aquele pudesse estar em chamas. Conforme a adrenalina diminuía, a dor em minha perna aumentava cada vez mais e aos poucos sentia a perda de sangue afetar minha consciência – Eu preciso ficar acordada – repetia várias vezes em minha cabeça. Eu olhava pelo horizonte e via as chamas aos poucos se apagarem, parece que o plano deles estava dando certo. Depois de alguns minutos meu corpo começou a tremer e o frio era quase que insuportável, de certa forma isso me ajudou a resistir por mais tempo alerta. Era agoniante ver o caos e não poder fazer nada e aqueles poucos minutos ali parada pareciam horas de tensão.

De repente, um som instrumental estridente ensurdeceu todo o local, só era possível escutar o som das labaredas. Em seguida, ao olhar para o alto uma nova chuva de insetos gigantes cobriam o céu e um grupo enormes deles vinham em minha direção, eu com muito esforço me afastei rastejando do arbusto, logo depois eles começaram a me atacar, a mordida deles era como se arrancassem a minha pele, eles subiam pelo meu corpo inteiro até os meus cabelos e eu gritava em desespero rolando pela neve até Xiantong aparecer e me segura pelos braços.

— O que está acontecendo? – Ele me segurava no chão.

— Socorro, tira esses insetos daqui! – Eu gritava me rebatendo.

— Calma não existem insetos nenhum você está tendo uma alucinação, abra os olhos e olha para mim. – Meus olhos se abriram e focaram no rosto do líder, de repente, os insetos desapareceram e tudo voltou ao normal. – Viu não tem inseto nenhum eles estão nos atacando com pedras de novo, vem anda logo precisamos sair daqui.

Xiantong me pegou no colo e me levava em direção a cabana com os outros, quando ele estava quase chegando eu só senti seus braços enfraquecerem e meu corpo desabar no chão. Caída na neve eu olhava suas pernas estremecerem, da sua boca ele cuspia sangue e não demorou muito para ele cair junto comigo. Quando ele desabou havia um facão preso em suas costas e logo atrás dele a mulher mascarada.

— Pensou que fugiriam de mim? - Em passos lentos e debochados a mulher ia se aproximando de mim. Eu não conseguia me movimentar, olhava em pânico ela cada vez mais perto e uma áurea sombria parecia acompanhá-la – O grandão já foi, agora não adianta resistir... fim da linha garota. – Ela retirou a máscara e seu rosto me era familiar, demorou alguns segundos para lembrar, mas era ela, Selly, a menina que trabalhava na grande tenda. – Eu quero que olhe bem para o meu rosto antes de ir pro inferno. – Ela brincava com uma faca passeando pelo meu rosto.

De repente uma flecha passou pelo seu rosto fazendo um leve corte nas suas bochechas. Ela se virou e Cory preparava a próxima flecha. Selly me puxou pelos meus cabelos erguendo-me e ameaçava-me com uma faca no pescoço.

— Você não cansa de bancar o herói, verme. Esquece que a loira aqui já era. – Ainda sim Cory atirou outra flecha e mais uma vez ela desviou. – Cansei.

A garota pegou a faca e começou a cortar minha barriga, o sangue começou a escorrer pela minha blusa e mais uma vez eu gritava de dor, Cory abaixou o arco e o moreno parecia não saber o que fazer. Eu desisti de lutar, já começava aos poucos aceitar a morte, afinal não demoraria muito para que todos ali também estivessem. Enquanto meu corpo cai no chão eu vi como um relâmpago o facão de Xin cortar um dos pés de Selly - O líder ainda estava vivo – A garota imediatamente caiu no chão gritando de dor, em seguida sem ao menos hesitar Cory atingiu uma flecha em seu peito e a loira começava a agonizar e se debater até finalmente parar de se mexer mergulhada em uma poça de sangue. Cory correu até nós para nos ajudar, mas o moreno não sabia nem por onde começar.

— Tire-a daqui você não vai conseguir salvar nós dois, anda logo. – A voz abafada de Xiantong.

— Não, tem que haver outro jeito. – Relutou o moreno

— Não seja teimoso, e faça o que eu digo ou nós dois morreremos.

Cory me pegou no colo e me levava a algum lugar, até aquele momento nem eu acreditava que eu poderia sobreviver, aos poucos eu perdia meus sentidos e ia desfalecendo, a última coisa que eu lembro é de sorrir ao escutar o som dos portões da vila se fecharem, parece que parte do plano havia dado certo e Mike houvera conseguido.

 

...

 

O barulho das portas soavam cada vez mais alto, a cancela de madeira quase não conseguia mais resistir a tanta pressão. Cada estrondo nos aproximava ainda mais de um embate real e discrepante. E ainda sim todos ali pareciam assustados, mas nenhum deles parecia temer tal conflito. Recuávamos para o fundo da tenda na esperança falha de escapar da morte eminente.

—Abram logo essa porta e não dificultem as coisas. – Disse uma voz masculina do lado de fora da tenda.

— O que vamos fazer? – Sussurrou Nofre quase que entre os dentes. Eu realmente não conseguia pensar numa saída naquele momento, eu só pressentia o pior acontecer.

— Nós ainda temos algumas armas que não conseguimos carregar. – Disse Jihan correndo silenciosamente até uma caixa no canto da parede.

— Isso não é o suficiente, estamos cercados e não temos quaisquer proteções para um conflito direto, a gente já era. – Disse uma das mulheres feridas que estava sentada no chão.

— Eu preciso pensar. – Falei em voz alta em meus próprios pensamentos, tentando ser o mais rápido possível.

— Você – Disse um dos homens feridos apontando para mim. – Você acha mesmo que eu irei conseguir sobreviver depois disso? – O homem apontava para os vários cortes profundos que havia nas costelas.

—Bem eu...

— Por favor, eu quero que seja sincera – Insistiu o rapaz.

— E que é muito complicado dizer... e eu não tenho como prever tais ações do seu organismo e.... – Respondi como se algo estivesse obstruindo a garganta.

— Por favor, estamos prestes a morrer, não minta para mim e vá direto ao ponto, eu tenho chances ou não? – A voz rouca e falha do rapaz demonstrava tal exaustão de todo o seu corpo.

— Infelizmente não – Disse depois de uma pausa quase que dramática.

— Então eu tenho um plano. – Todos pareciam surpresos e ansiosos em ouvi-lo. – Bem vocês terão de ser rápidos para que tudo dê certo, pois se não podemos escapar, teremos de atraí-los aqui para dentro. Eu quero pedir aqueles que estão feridos e não queiram lutar se escondam embaixo do feno. E aos atirados, vocês devem subir até as estacas superiores de madeira da tenda e esperar a hora certa em que todos irão entrar. Eu irei distrair eles... – O menino começou a detalhar o plano e eu já havia conseguido captar o objetivo de tudo aquilo.

— Eu também irei ser a distração. – Disse um outro homem ao concluir o plano, suas pernas haviam grandes ferimentos profundos que o faziam cambalear.

— Eu também vou. – Em seguida, uma outra mulher junto de mais uma se voluntariaram para seguir com o plano. Todos com ferimentos gravíssimos.

— Atiradores, se posicionem que essa é a única chance de recontarmos essa história. – Disse o feitor do plano.

Assim que começávamos a executar o plano distribuímos as armas para cada um que estava no local, até mesmo para aqueles que ficariam escondidos. Todo plano foi elaborado em grande sigilo pautado em breve sussurros. As portas continuavam a estremecer como se fossem arrombadas a qualquer instante, mesmo assim, fazíamos tudo o mais silencioso e rápido possível. Dois feridos, Kim, Jihan e eu fomos escolhidos para serem os atiradores, enquanto alguns já sumiam debaixo da palha seca. Nos posicionamos nas estacas de sustentação da tenda e esperávamos cuidadosamente cada passo a ser executado. Uma grande aflição consumia todo meu corpo – E se algo desse errado?! – Eu tentava me obrigar a concentrar-me e apartar-me dos pensamentos ruins. No fim, me acomodei no meio da penumbra das estacas e aguardava cautelosamente meus alvos.

Não demorou mais um minuto e a porta despencou do chão. Os distratores se localizam no fim da tenda com suas lanças apontadas para a entrada. Um Rapaz barbudo e com um semblante extremamente sério adentrou o cômodo e depois logo, em seguida, recuou.

— Mate-os – Disse o homem deixando a tenda.

Antes mesmo que pudéssemos pensar em qualquer coisa uma rajada de flechas partiu em direção aos distratores, dois deles morreram imediatamente e os outros dois se esconderam atrás de uma das celas dos animais. Imediatamente uma multidão de pessoas invadiram a tenda e se dirigiam para matar os outros dois, antes mesmo que eles pudessem chegar.

— Atirem! – Alarmei aos outros atiradores. Nós estávamos preparados e a ordem primordial era acertar primeiro os atiradores.

Aos poucos aqueles muitos inimigos pareciam cair e se dividir. Era uma guerra de flechas ao ar. No fim, um dos atiradores feridos foi atingido por uma flecha e caiu e lá embaixo sendo sucumbido por homens com lanças, no entanto depois de todos os atiradores estarem mortos, os homens buscavam se esconder entre as celas, no entanto os feridos escondidos no feno os atacavam de surpresa em uma emboscada. Aquilo parecia inacreditável, os inimigos se disseminavam aos poucos de modo que nos tornávamos cada vez mais fortes. No fim, do confronto tivemos cinco abates, porém comparado a morte dos inimigos aquilo havia sido uma tremenda vitória.

De repente, todo o clima de tensão que havia naquele lugar se esvaia e uma tranquilidade nos ameaçava com uma esperança, contudo um estrondo altíssimo nos tirou rapidamente do pequeno transe e nos trouxe a realidade – Ainda não vencemos. 

— Eu vou ver o que foi isso? – Disse Jihan deixando o cômodo até a saída.

Enquanto isso recolhíamos os corpos e ajudávamos os feridos. Mesmo em grande desvantagem conseguimos vencer, e tudo aquilo parecia de certa forma ser algo extraordinário. Recolhemos as armas dos inimigos e nos preparávamos para criar uma nova escolta de batalha junto dos novos aliados. Quando finalmente deixamos a cabana, tudo aquilo parecia nos aterrorizar novamente, estávamos mais uma vez cercados por um grupo ainda maior de inimigos prontos para nos matar. O homem barbudo que parecia comandá-los, estava à frente do grupo com Jihan ajoelhado logo a sua frente e uma lança apontada para o pescoço do garoto.

— Parece que vocês já se divertiram o suficiente. Agora é a minha vez de brincar. – Suas palavras eram sádicas tanto quanto seu sorriso de escárnio, suas vestimentas eram sujas assim como a de todos do seu grupo. Naquele momento eu não sabia mais o que fazer eu só não podia deixar aquilo acontecer.

— Não faça isso, por favor. – Disse apenas no impulso.

— Vocês já estão todos mortos, então, soltem logo as armas e prometemos que iremos ser bonzinhos. – Antes mesmo que eu pudesse pensar em algum plano uma flecha partiu em direção a um homem logo ao lado do líder inimigo atingindo bem no rosto.

As coisas simplesmente aconteceram tão rápidas, que assim que a flecha o atingiu, Jihan se levantou para correr, no entanto o homem barbudo arremessou a lança contra ele cravando em suas costas. O menino simplesmente caiu no chão e uma poça de sangue se formou em sua volta, aos poucos ele agonizava no chão. Naquele momento eu havia ficado paralisada, um aperto enorme no peito me consumia como se alguém sufocasse o meu coração. Eu só senti as mãos de Kim me puxando para dentro da tenda novamente junto com os outros e depois um borrão tomou conta da minha visão e de meus pensamentos.

— Por que você fez isso – Eu via Nofre gritar e saltar sobre o corpo de um garoto aliado.

As pessoas afastavam os dois de uma briga, enquanto Kim prendia Nofre em seus braços de avançar contra o garoto.

— Não temos tempo, para brigar, temos inimigos reais lá fora ele já se foi garoto. – Uma mulher que tentava separar a briga referia-se a Nofre.

— Eles iam matar todos nós se não fizéssemos nada. Eu salvei a sua vida. – Disse o garoto que Nofre tentou atacar.

Então aquela flecha havia sido atirada por um dos nossos aliados. Por mais que me doesse todo aquele sentimento, o rapaz tinha razão, ele conseguiu ganhar mais tempo. Alguns dos aliados se posicionavam atrás da abertura e contra-atacavam com flechas o grupo inimigo. Ainda sim, precisávamos de um plano de contenção. Eu olhei mais uma vez pela fresta de madeira e vi o corpo de Jihan estirado no chão, mais uma vez um sentimento muito forte me comprimia por dentro, eu queria chegar mais perto e tirá-lo dali, todavia uma ideia me fez saltar do chão e voltar a adrenalina.

— Os corpos – Disse em voz alta. - Peguem os corpos e façam barreiras para os atiradores, eles serão nossos escudos agora. Vamos! – Kim, Nofre e eu pegamos os corpos e começamos a montar a barricada. Aquilo proporcionou alguns ângulos a mais para os atiradores continuarem.

— Não vamos conseguir segurá-los por muito tempo, daqui a pouco estaremos sem flechas. – Disse uma atiradora.

— Segurem eles o máximo que conseguirem, eu preciso bolar um novo plano.

A guerra de flechas durou por mais uns dez minutos depois disso um som alto de um instrumento como uma trombeta tocou e tudo se ensurdeceu. Não sabíamos o que acontecia lá fora, mas pouco a pouco os inimigos se distanciavam da cabana – Por que eles estão recuando? Será mais uma armadilha? – O que quer que seja, não me parecia algo bom.

— Eu preciso ver o que está acontecendo? – Disse em voz alta.

— Não, Zenaya, você não pode ir. –Disse Nofre coberto de lágrimas. – Por favor, ele já se foi, eu não posso deixá-la ir também. – Por alguns segundo eu ignorei as palavras do menino e segui em direção a entrada, aquilo era diferente quase como um pressentimento.

Eu saí da cabana e uma forte brisa no ar me provocou arrepios. De repente, eu olho para o céu e vejo mais uma vez uma enorme bola de pedra em direção a cabana.

— Corram, saiam daí agora. – Gritei para as pessoas que estavam lá dentro.

Algumas delas pareciam confusas e temiam sair, contudo no fim conseguimos retirar todos antes que a enorme pedra esmagasse tudo. Mais pedras caiam e nós corríamos em direção ao final da vila, no meio do caminho nos dispersamos e eu me escondi atrás de uma pedra para retomar o fôlego, entretanto três homens vinham em minha direção com suas lanças enormes. Eu tentei correr para longe dali, contudo outros dois homens vinham na direção oposta, de repente logo atrás de mim Kim apareceu com duas lanças na mão e me entregou uma delas. Nossos olhares se encontraram por alguns segundos e sabia que teríamos de lutar.

Eles nos cercaram em círculo, enquanto nós estávamos no meio como presas a serem atacadas, todavia eu e ele nos posicionamos de costas um para o outro e começamos o ataque, dois deles vieram em minha direção e um deles com a lança preparada para me apunhalar, eu me esquivei para o lado e prendi sua lança entre meu braço, de forma a imobilizar o ataque, em seguida e joguei meu corpo para trás fazendo-o vir para frente contra mim e quando perto o suficiente eu cravei minha lança contra o seu peito. O segundo veio com um contra-ataque veloz, no entanto eu joguei o corpo do primeiro contra ele para ganhar tempo, porém a lança ficou cravada no peito do rapaz e agora eu estava desarmada.

Ainda com mais velocidade o segundo partiu em minha direção, ele parecia desesperado para me acertar, enquanto eu me esquivava. Antes que ele pudesse me acertar, eu corri contra ele e rastejei no chão chutando suas pernas deixando-o cair. Sua lança caiu também a alguns metros de distância e agora estávamos em pé de igualdade, antes que ele pudesse levantar e me atacar eu pulei mais uma vez sobre o corpo dele sufocando-o. Eu imobilizava seus braços com as minhas pernas e via seu corpo inteiro se debater no chão, eu segurava com a maior força que eu conseguia até ver suas pupilas imensamente dilatadas e seu corpo gelado no chão. Eu olhei para trás e via Kim lutando com um outro rapaz, ele já havia dado conta de dois deles. Por trás eu pulei sobre as costas do último homem imobilizando-o enquanto Kim o acertava com a sua lança no peito.

— Bom trabalho – Disse aliviada, o menino apenas me retornou com um sorriso.

Quando eu pensei por alguns segundos que tudo estava bem, uma flecha passou pelo meu braço deixando um leve corte que começou a sangrar. Eu olhei para trás e o líder inimigo carregava um arco e flecha a alguns metros de distância. Ele se preparava para atirar mais uma vez e dessa vez nos esquivamos para atrás de uma rocha.

— Nós somos dois precisamos contra-atacar. Você vai pela direta e eu pela esquerda, agora! – Nós dois partimos em sentidos opostas, porém para a mesma direção do líder.

O Homem parecia confuso e atirava nos dois quase que simultaneamente tentado nos acertar, faltando poucos metros para alcançá-lo dois homens saíram da fumaça e agarraram Kim. O Garoto se debatia no chão tentando resistir aos inimigos, enquanto eu segui em direção ao líder. Cansado das tentativas o líder pegou uma lança no chão próxima dele e começou a correr em minha direção, quando próximo o suficiente ele apunhalou sua lança contra mim e eu a esquivei, e dessa vez com toda a minha força eu chutei a lança contra o chão partindo-a ao meio. No entanto, mesmo assim ele reergueu o pedaço de madeira e me acertou na costela me fazendo cair. Eu olhei ao longe e Kim continuava resistindo contra os rapazes.

Eu levantei rapidamente e me preparava para o próximo ataque, ainda com a madeira nas mãos ele tentava me atingir. Eu defendia seus ataques com os meus próprios braços, enquanto ele atacava com o bastão. Num dos ataques eu novamente prendi o bastão entre meus braços e me impulsionei para trás, contudo esse homem era duas vezes maior e mais forte, e ele nem chegou a cambalear. Novamente numa sequência de ataques com o bastão ele tentava me atingir, meus braços e mãos já estavam doloridos de defender seus ataques, entretanto eu resistia o máximo que eu conseguia. Quando eu achei que estava quase perdendo as forças eu usei minhas duas mãos para defender de um ataque, elas ficaram vermelhas e sangravam gradativamente, contudo com toda força que eu tinha eu puxei o bastão de sua mão e o joguei para longe.

Furioso o homem avançou sobre mim e tentava me sufocar, com uma das mãos ele apertava meu pescoço, enquanto a outra pressionava meu rosto contra o chão lateralmente. Eu sentia todo meu corpo se debater e ficar dormente. Eu olhei ao longe e um dos homens espancavam Kim com socos e ponta pés no chão. De repente, meus pulmões pareceram se esvaziar por completo, minha visão ia desaparecendo junto com o resto dos meus sentidos e parecia que minha alma iria explodir dentro de meu interior. Em seguida, um cheiro forte de sangue começou a contaminar o ar e um líquido começava a escorrer no meu rosto, além disso, uma enorme pressão invadiu meu peito, eu sabia que eu iria desmaiar. Subitamente as mãos que seguravam meu pescoço e meu rosto perdiam a força, eu olhei para frente e eu via um corpo sem cabeça. Nofre logo atrás segurava uma faca ensanguentada em uma das mãos e na outra a cabeça pendida do líder morto. O rosto do garoto estava coberto por lágrimas e seu corpo estava totalmente paralisado, sua expressão era um choro indecifrável, como se ao mesmo tempo houvesse ira e medo. Aquela cena de certa forma despertou meus sentidos e impediu que eu desmaiasse, porém antes que eu pudesse levantar, o corpo de Nofre começou a se debater e em seguida uma flecha cravou-se sobre o pescoço do menino fazendo o balbuciar algumas palavras antes de seu corpo cair no chão contra o meu.

Suas costas estavam cobertas de flechas seu corpo aos poucos desistia de resistir, ainda sim uma chuva de flechas continuou a nos atingir incessantemente até que todos estivéssemos mortos. Os Olhos de Nofre se fecharam e o garoto finalmente parou de se debater.

— Nofre, Nofre, Nofre não, acorda por favor. Nofre! – Eu gritava enquanto um marejar de lágrimas escorriam do meu rosto. – Parem, por favor. – Eu gritava em vão enquanto as flechas continuavam a atingi-lo.

Eu me escorei atrás do seu corpo e o usava como uma barreira para as flechas entre o chão e a neve. Eu segurava as mãos do menino contra o meu peito que soluçava de angustia. – Eu não posso perdê-lo também. – Minha voz já houvera ficado completamente rouca, os sintomas de desmaio começavam a retorna, quando de repente as flechas cessarão um barulho alto ecoou no local e eu não conseguia entender o que estava acontecendo. De repente, a mão de Cory me puxou do chão fazendo-me levantar. Eu olhei ao redor e grande parte do grupo estava ali lutando.

— Você está bem? – O moreno perguntou mesmo tendo consciência do acontecido. Eu preciso muito da sua ajuda agora... você precisa ajudar os feridos.

— O que? – Indaguei confusa, com uma voz rouca.

— Não temos tempo para explicar, venha comigo. – O garoto levou-me no meio do conflito até um escombro.

Antes de ir eu olhei ao redor e o grupo inimigo parecia desmoronar aos poucos como folhas de árvore sendo levadas pelo vento, alguns de nós contra-atacavam os soldados mais um deles em especial me chamou a atenção, ele ia à frente de todos avançando numa velocidade quase sobre humana, e uma força inacreditável desmantelando os inimigos como se fossem pequenos insetos. Ainda no meio da fumaça era difícil enxergar, porém aquele cabelo ruivo era inconfundível, Will tomava a frente de batalha eliminando todos um por um, porém algo estranho o consumia toda aquela audácia emanada por risos sádicos e um olhar extremamente assustador parecia-o ter levado a loucura.

 

...

 

Nossos olhos ainda não conseguiam se acostumar totalmente a escuridão. Aquele escombro sombrio e úmido parecia infinito. As paredes eram sujas de uma substancia empoeirada enegrecida e o caminho era tortuoso e completamente confuso como um labirinto, contudo o som dos altos passos e o ponto de luz das chamas dos inimigos nos guiava dentro daquele caminho rochoso.


Conseguimos acompanha-los por um tempo até nossa presença ser perceptível. Os inimigos, então, apagaram as tochas e seguíamos no breu. Aos poucos nossas visões iam se acostumando a baixa luminosidade, no entanto a única coisa que conseguíamos enxergar eram vultos rápidos e ouvir o barulho dos passos apressados.

Conforme seguíamos por aquele buraco o ar perecia ficar cada vez mais pesado e abafado, as gotas de suor tomavam todas as partes de nossos corpos, era como se estivéssemos sendo guiados por um túnel para o núcleo da terra. O caminho em si também se tornava cada vez mais estreito e com pedras enormes que dificultavam a passagem em certos percursos. Depois de tanto andar o som parecia ficar mais distante e encontrávamos perdidos naquele lugar sem nem ao menos saber como retornar.

Trilhamos por mais dez minutos até novamente escutarmos o som dos passos, seguimos em direção ao som em passos acelerados para alcançá-los e, por fim, chegamos num ambiente da gruta como se fosse uma enorme cúpula semiesférica com uma enorme cavidade irregular profunda ao meio, avistamos os rapazes carregando o corpo de Victor desmaiado sobre um complexo de rochas do outro lado do abismo, corremos em volta da cúpula para alcança-los até que, de repente de uma da paredes surge um dos homens e empurra Tina em direção ao abismo, A morena se agarrou em uma das pedras enquanto ficou pendida. 

 

— Ralf! – Gritou a morena. – Em seguida ele partiu para cima de mim com uma lança, eu me esquivei de dois dos seus ataques até que ele jogou seu corpo contra o meu tentando me enforcar com a lança.

Eu segurava a lança contra a pressão que ele fazia, o rapaz em cima de mim salivava de tanto ódio que havia em seus olhos e ao mesmo tempo que eu tentava resistir eu desviava o olhar para o abismo e a mão de Tina aos poucos ia perdendo a força para se segurar, e um pouco mais distante os outros escapavam por uma fresta na parede rochosa.

— Ralf! – Gritou a morena pela segunda vez. Dessa vez eu vi lentamente suas mãos escorregarem e desaparecerem da borda do abismo.

— Não! – Eu gritei em desespero. Meu coração ficou completamente acelerado, meus olhos e meu corpo foram tomados pela raiva, aos poucos eu conseguia resistir a força do homem e retirei a lança de suas mãos, eu bati com uma das pontas a lança em sua cabeça, fazendo-o perder um pouco da consciência para que eu pudesse me soltar. O homem caiu de joelhos de costas e antes que ele pudesse levantar eu cravei a ponta da lança em suas costas, imediatamente ele caiu por inteiro ensanguentado no chão.

Junto com o corpo eu cai ajoelhado no chão em prantos até mais uma vez escutar um grito.

— Socorro! Me tira daqui – Era o grito abafado de Tina. Eu corri até a borda do abismo e ela estava a poucos metros da superfície sobre uma rocha a beira do enorme buraco.

— Não se preocupe eu já vou te pegar. – Imediatamente eu retirei todas vestes do cadáver e fiz uma espécie de corda, amarrei junto a lança para usá-la de suporte e joguei até Tina. A morena segurou e escalou a parede de pedra. Quando finalmente chegou até o topo eu a segurei com um forte abraço. – Eu achei tivesse te perdido.

— Ainda não grandão – Ela sussurrou em meu ouvido retribuindo o abraço. – Agora vamos, eles ainda estão com o Victor.

Corremos até a fresta e a atravessamos até um lugar que seria o fim da gruta, a abertura dava para as costas da montanha do vilarejo, era um deserto congelado e os rapazes ainda conseguiam ser vistos. Quando nos preparávamos para correr na neve eu chutei uma coisa no meio dela. Era uma das mochilas dos rapazes, eles tentaram esconde-la pare diminuir o peso e conseguirem andar mais rápido. Abri a mochila e tinha um arco com algumas flechas, eu entreguei a Tina enquanto carregava a lança e juntos fomos correndo pela neve até eles.

Aos poucos nossos corpos quentes iam resfriando com o vento gélido. As pernas começavam a fraquejar e a sede a ressecar a garganta, mesmo assim insistíamos em continuar caminhando, logo depois de alguns metros escutamos um grito – Aquela era a voz de Victor. – Continuamos correndo e encontramos novamente os sequestradores, eles pareciam estar parados sobre o mesmo ponto, ágil e sorrateiramente começamos a segui-los em passos apressados e, quando nos aproximamos o suficiente conseguíamos ver que Victor havia acordado do estado inconsciente e resistia a eles, contudo nossa presença foi notada e um deles com um pedaço de pau esmurrou sobre a cabeça de Victor deixando mais uma vez inconsciente dois deles pegaram Victor e o carregavam enquanto os outros pegavam as mochilas e juntos corriam em direção a uma floresta congelada a poucos metros à frente.

— Não podemos deixar eles se despistarem. – Disse correndo junto com Tina em direção a eles.

— Deixa comigo! – Afirmou a morena. Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, Tina apanhou o arco e flecha e atirava enquanto corria.

Uma, duas, três... Na terceira flecha ela conseguiu atingir um deles na perna. O garoto caiu de joelhos, enquanto os demais deixaram para trás, assim como o anterior na gruta. Quando o alcançamos certifiquei de cravar a lança em suas costas e certificar que ele não mais seria um problema. Quatro, cinco... Mais um, dessa vez ela o acertou na cabeça, seu corpo imediatamente se estirou no chão em uma poça de sangue.

— Parece que eu estou ficando boa nisso! – Ironizou a morena.

Seis, sete, oito, nove, dez... ela finalmente atingiu mais um. O último ainda tentou andar em zig zag, mas acabou sendo acertado na coxa e mais uma vez eu o finalizei juntando aos outros cadáveres. Agora só restaram os carregadores de Victor e eles já estavam quase se aproximando das árvores da floresta.

— As flechas acabaram – afirmou Tina, enquanto nos aproximávamos mais deles. – Eu preciso da sua lança agora.

— Toma. – Entreguei a ela a lança.

A morena então tomou impulso e pulou no ar lançando a flecha que cravou perfeitamente nas costas de um dele. Victor, então, caiu não chão e por alguns segundos o último ainda insistiu em carrega-lo, porém desistiu assim que conseguimos alcançá-lo.

— Chega desse joguinho, isso acaba aqui. – Disse retirando a lança das costas do seu parceiro.

— Parece que você me pegou. – Ele se afastou do corpo e levantou os braços. Seu rosto era coberto por uma série de panos que trazia uma voz abafada e escondia seu rosto com apenas seus olhos visíveis - Ela tem uma boa pontaria.

— Cala boca, e vai a acabar com o resto deles. – Disse Tina enraivecida.

— Por que, ficou para morrer? Quem são vocês? E por que a vida do Victor é tão importante a ponto de sacrificar a sua? – Eu precisava de resposta para tudo aquilo.

— Você não mudou nada... – O rapaz retirou a venda revelando seu rosto.

— Herly?! – Disse surpreso, sem ao menos acreditar no que os meus olhos viam naquele momento.

— Então, esse é o Herly? – Deduziu Tina.

— Parece que eu estou famoso... como vai amigo?! Já não nos vemos a algum tempo. – Ele sorriu com deboche. Tentava me controlar para não matá-lo imediatamente. – O que foi? Não vai querer matar a saudade com um abraço?

— Seu desgraçado, o que está fazendo aqui e, por que está envolvido nisso?

— Isso faz parte de algo muito maior. Algo que você jamais entenderia.

— Não me venha com discursos evasivos agora. Eu quero saber o porquê?... Porque vocês estão nos atacando e por que vocês o querem tanto. – Disse apontado para Victor no chão, enquanto Tina tentava acordá-lo.

— Nós já sabíamos de todos os seus planos com o helicóptero, que pretendiam fugir daqui e abandonar Alfalumia de uma vez por todas. Nós temos uma série de espiões lá dentro junto de vocês.

— Nós? Vocês armaram uma guerra, simplesmente para capturar o piloto e o ajudante só para vocês fugirem?

— Não, o plano vai muito além disso, não queremos fugir, queremos dominar. Você como ninguém deveria entender que voltar para aquela zona de guerra paupérrima em que vivíamos é suicídio. Encontramos o paraíso e você infelizmente não consegue enxergar isso.

— Você e suas loucuras com esse lugar. Isso aqui nem de longe é o paraíso. Eu só não consigo entender, então, por que não nos deixam ir.

— Somos Lumianos, isso tudo faz parte dos ideais da anciã.

— Anciã? Do que você está falando? – Indaguei

— Ela é a causa de tudo isso.

— Ele acordou – Disse Tina interrompendo a conversa. – Ele está muito ferido, precisa de cuidados agora.

— Então essa é a nova Quaila? – De repente uma raiva começou a invadir todo o meu corpo, as lembranças vinham à tona e eu já não podia me controlar.

— Eu quero que saia daqui agora Tina e leve Victor com você. – Eu entreguei a minha lança a ela. – E antes que ela pudesse questionar a morena deixou o local carregando Victor em seus ombros.

— Ela também e muito bonita. – Ironizou Herly. Eu não consegui me conter e o agarrei pelo pescoço.

— Cala a boca, seu porco nojento. – Com apenas uma das mãos eu o imprensei contra uma árvore próxima apanhando pelo seu pescoço.

— Eu sou apenas um deles, me matar não vai fazer diferença. – Eu apertava seu pescoço cada vez mais sufocando-o. – Você quer saber o porquê a matei? Aquela vagabunda não era nenhuma santa.

— Cala boca, desgraçado. – Com a outra mão eu soquei seu rosto.

— Acredite eu te livrei de uma maluca. – Quanto mais ele falava mais ataques seu rosto sofria. – Eu não a matei pelo mesmo motivo dos outros, ela era especial para mim também.

— Aonde você quer chegar seu psicopata. – Ele recebeu um soco tão forte que quebrou um dos seus dentes.

— Eu a matei junto com o meu filho. – Depois de uma sessão de esmurro eu finalmente parei. – Isso mesmo que você está pensando, aquela ordinária te traia comigo.

— Você só pode estar louco. – Depois de tanto tempo sem reagir, ele chutou entre minhas pernas e cuspiu no meu rosto para se soltar, em seguida, retirou uma faca pequena de um dos bolsos da cala e apunhalou em minha barriga, me empurrando por fim.

— Ela estava grávida do meu filho, mas te escolheu como pai, e eu não podia permitir que isso acontecesse. – Ele se preparou para mais uma facada, porém desviei e segurei seu braço, eu retorci seu braço até a faca cair no chão e por fim dei uma cabeçada em seu peito para afastá-lo. – Você já teve tudo e não soube valorizar. Não deixaria você pegar o meu filho. – Ele foi tentar me atacar mais uma vez e eu o joguei no chão.

— Esqueceu que eu te ensinei todos esses golpes. – Eu peguei uma pedra de gelo próxima no chão e soquei contra a sua cabeça. A pedra de gelo se partiu em pedaços, seu rosto ficou completamente ensanguentado. Eu peguei a faca caída no chão e me preparava para empunha-la em seu peito.

— Por que você não me mata de uma vez. O que está esperando. - Gritou Herly. Eu fiquei hesitante por alguns segundos até simplesmente desistir.

— Você não merece morrer, merece apodrecer nesse lugar horrendo. – Eu me levantei, olhei mais uma vez fundo em seus olhos e parti caminhando de volta a vila.

— Covarde. – Provocou o rapaz ensanguentado.

Eu não queria olhar para trás, eu simplesmente segui, controlei minha raiva e rancor e comecei a caminhar de volta pela neve. Entretanto, no meio do caminho uma trombeta começa a tocar em um som alto e um tremor pareceu desestabilizar o chão. Nesse momento foi inevitável não olhar para trás, quando me curvo me deparo com um exército de pessoas saindo dos escombros das árvores da floresta e todos eles em um só passo seguiam em minha direção.

Rapidamente comecei a correr, o sangue na minha barriga começava a jorrar mais forte, porém a adrenalina me ajudou a suportar a dor. Meu peito estava acelerado, meus olhos dilatados, e minha mente não conseguia parar de temer eles se aproximando, eu não conseguia pensar em mais nada naquele momento. Eu corri por alguns minutos até avistar a fresta da gruta, aquele era o único caminho de volta.

Quando eu cheguei um pouco mais próximo eu vi a silhueta de alguém próximo à entrada da caverna. – Eu não acredito que Tina não havia conseguido atravessar. – Quando cheguei um pouco mais perto aquela não era Tina e sim Sarah. – O que ela está fazendo aqui.

— Corre, anda logo. – Gritou Sarah para mim. Eu tentei pegar um impulso assim que eu a vi.

— O que está fazendo aqui? E o que houve com o seu braço? – Disse apontando para o seu braço enfaixado.

— Não temos tempo para isso vamos, precisamos impedir que aquele exército passe por aqui. – A morena e eu passamos pela fresta da caverna e começamos a correr.

— Você sabe o caminho de volta? – Perguntei enquanto corríamos. A morena carregava uma tocha junto de si.

— É só seguir essas manchas de sangue. – Apontou a morena para as marcas de sangue no chão.

— Cortou o seu braço para trilhar o caminho?

— Isso é uma técnica que eu aprendi com uma gangue.

— Você viu a Tina e o Victor? – Perguntei apreensivo.

— Sim, eu os ajudei a atravessar, estão seguros, fique tranquilo e quanto a você?

— Eu estou bem. – De repente, Sarah simplesmente parou de correr. – O que está fazendo? Por que parou?

— A minha viagem acaba por aqui. – Respondeu a morena.

— Do que você está falando? – Indaguei confuso.

— Precisamos impedir aquele exército de nos emboscar por trás, ou todos nós vamos morrer.

— E o que você está pensando em fazer? – A morena então retirou umas cápsulas da mochila. – O que são isso?

— Isso aqui vai servir como explosivos. Olhe! – Disse a morena passando a mão pelas paredes rochosa. –Essa substancia negra é feita de pólvora, essa montanha inteira, é uma enorme bomba. Destruí-la vai impedi-los de atravessarem.

— Não, tem que haver outro jeito, você não pode morrer aqui dentro esmagada por essa montanha.

— Esqueci, Ralf, não tem outro jeito, precisamos agir agora. Isso é o certo a fazer ou, então, todos lá do outro lado morrem.

— Não, esquece, eu vou fazer isso.

— Não banque o herói agora, a Tina está lá do outro lado te esperando, pessoas que precisam de você vivo. Você sabe que meus planos aqui já acabaram aqui e acredite, você é muito necessário, obrigado por ter sido um bom companheiro até aqui, mas eu preciso ir agora. – Seus olhos se encheram de lágrimas e a morena, por fim, me abraçou. – Adeus Ralf.

Mesmo odiando tudo aquilo, no fundo eu sabia que aquela ideia não era ruim e principalmente necessária. Eu corri o resto do caminho em lágrimas. Aquele sem dúvida era o pior dia de nossas vidas. Aos poucos a caverna começou a estremecer, as estalactites começaram a desabar, a temperatura ali dentro começou a aquecer subitamente. O plano já estava sendo executado. Mais alguns minutos e eu consegui chegar do outro lado no exato momento em que toda montanha estava ruindo. A cobertura de neve da montanha do lado de fora começou a descolar, o tremor estremeceu toda a vila, quando olho para o alto, vejo uma onda gigantesca de neve.

— Avalanche! – Eu gritei a todos antes de ser soterrado por ela.


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