The New Continent escrita por Weezzi


Capítulo 33
Capítulo 32 – O despertar.




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Will

1 Março, 2200, 14:32.

Era inacreditável olhar o passado e imaginar que a um mês atrás eu estava chegando nesse lugar. O tempo havia passado tão depressa que eu ainda não conseguia me acostumar com aquela nova vida. É como se tudo nesse lugar fosse um mistério incompreensível e cada dia fosse uma peça de quebra-cabeça a ser encaixada.

Acordei com o peito em chamas, a respiração ofegante e os olhos recheado de lágrimas. Fitava o teto e todas as redes em volta da alcova. Eu estava sozinho. Levantei da rede e cambaleei até a abertura da janela, a paisagem de Alfalumia só me fizera recordar os horrores daquele pesadelo. Eu era tomado pela amargura e raiva por lembrar a todo instante que eu ainda estava preso naquele lugar. Tentado pela ira, eu chutei algumas mochilas deixadas no chão e me encolhi no canto do cômodo atordoado. – O que está acontecendo comigo? - Eu sentia ódio de mim mesmo.

Espantada com o barulho das mochilas, Loren, apareceu na entrada da alcova perplexa ao me ver no canto do cômodo.

— Will. – A menina sussurrou meu nome antes de correr até mim e me abraçar. – Will você conseguiu. Você está vivo. – As lágrimas escorriam no seu rosto tanto quanto no meu. – Por que está aqui? Por que está chorando? – O abraço de Loren em meio aquilo tudo era reconfortante, no entanto parecia que eu ainda precisava de forças para pronunciar as palavras.

— Eu mereço estar aqui... Eu sou louco. – Ela pegou a minha cabeça e nossas testas se confrontavam.

— Não, não. Ei olha para mim. – Eu levantei a cabeça de encontro aos seu olhos azuis. - Nós vamos sair daqui. Ninguém merece estar nesse lugar.

— Mas eu matei uma mulher. Ela era inocente. – As lágrimas escorriam cada vez mais.

— Não, você não matou ninguém. Você estava sonhando, foi só isso.

— Não, não foi um sonho comum. Eu matei aquela mulher. Eu senti tudo aquilo. Eu estava tão cego que... – Soluçava. – eu não consegui parar de bater a cabeça dela contra a lixeira.

— Will, isso foi só um pesadelo. Eu tenho certeza de que o que você sentiu vai passar.

— Loren, eu tive coragem de matar aquela mulher. E por um instante eu não tive receio nenhum. E se eu enlouquecer nesse lugar e começar a matar as pessoas...

— Escuta, isso jamais vai acontecer. Você só está em pânico. Eu não sei o que aquelas sementes têm, mas parece que todos vocês acordam enlouquecidos. Fique tranquilo que eu estou aqui para te ajudar, ouviu? – Ela novamente me abraçou e ficamos assim por um bom tempo até que eu conseguisse me tranquilizar. – Agora vem, anda! Vamos descer. As pessoas lá em baixo devem estar loucas para te ver.

Loren, por fim, me ajudou a levantar e enxugou as minhas lágrimas. Sendo assim, juntos descemos até o térreo e fomos em direção a estufa. No meio do percurso passamos pela entrada principal e lá fora eu consegui avistar a construção da barreira. – Eles conseguiram. - Parece que muita coisa havia acontecido enquanto eu não estava aqui. Quando chegamos na estufa, Tina estava cortando alguns frutos sentada a mesa. A morena pareceu levar um susto ao me ver.

— Will! – Tina se levantou deixando os frutos no chão e vindo me abraçar. – Ai meu Deus, eu não acredito que você está vivo. Sentimos tanto a sua falta.

— Mas parece que muitas coisas aconteceram enquanto eu não estava aqui. Acho que não sentiram a minha falta tanto assim. – Ironizei.

— Você está falando das barreiras? – Assenti. – Isso é só o começo. Você fará parte de muitas construções ainda.

— Agora onde estão os outros? – Perguntei olhando ao redor.

— Algumas pessoas saíram com o Mike para buscar suprimentos. Eles partiram bem cedo, então, acho que não devem demorar muito... – De repente, um grito gemido invadiu o cômodo.

— O que foi isso? – Perguntei confuso.

— Will eu preciso da sua ajuda. – Afirmou a morena. Ela nos levou até a alcova do primeiro andar e lá estava Jihan deitado em uma das redes se debatendo. – Will eu preciso que me diga. Onde você encontrou as sementes vermelhas? – Inicialmente aquela pergunta me pareceu estranha, no entanto uma série de flashes de memória vieram a minha mente.

— Eu não lembro muito bem ao certo, mas os arbustos ficavam perto de uma caverna.

— Aquela caverna que você estava preso?

— Sim, mas aquela caverna possuí uma outra entrada. Eu vou pegar minha mochila e logo eu estarei de volta.

— Will, não. Você ainda está se recuperando. Eu só preciso que você diga a localização o mais correto possível.

— Você instalou o programa de comunicação? – Perguntou Loren desacreditada.

— Sim eu aceitei o programa. – A menina apertou alguns botões no relógio e iniciou uma chamada. – CP 6 na escuta. Mike eu preciso da sua ajuda urgente.

— Por que não me contou que aceitou o acordo?

— Eu não preciso te contar tudo o que eu faço.

— Aqui é o Mike na escuta. Aconteceu alguma coisa por aí Tina? – A voz do Mike saí de dentro do relógio da Tina.

— Eu preciso que pegue um coisa para mim. Você está perto do vale das sementes?

— Como você conseguem se comunicar pelos relógios? – Perguntei perplexo.

— Tina não estamos na rota do vale das sementes, mas acho que não fica muito longe daqui. Mas o que exatamente você quer? - Perguntou Mike.

— Eu preciso que você vá atrás das sementes vermelhas do Will. Jihan não está nada bem.– Ela mandou o recado na comunicação, então, finalmente me respondeu. – Will, a história é longa e complicada. Como você mesmo disse muita coisa aconteceu enquanto você estava “dormindo”, mas agora eu só preciso que você explique com a maior quantidade de detalhes o caminho para o Mike pegar as sementes.

— Tudo bem, mas...

— Mas como vamos encontrar aquelas sementes? Você sabe onde encontrá-las? -  Interrompeu Mike.

— Eu não, mas o Will sabe. - Ela levou o relógio em direção a minha boca. – Pronto, pode falar.

— Mike eu preciso que você chegue ao vale das sementes o mais rápido possível e vá em direção a caverna em que eu estava preso. As sementes ficam a poucos metros da outra saída da caverna, no entanto eu acho melhor não descer o vale e caminharem acima do vale no percurso da caverna, pois vocês podem se perder ou ser pego por animais lá dentro. Sem contar o tempo que vocês economizaram de caminhada. Os arbustos são pequenos e as sementes são bem visíveis.

— Entendi. Estou muito feliz que esteja bem Will. Eu vou desligar, precisamos correr. Cambio desligo. – A chamada encerrou nos restando apenas a esperança.

— Will. – Sussurrou Jihan. Aproximei-me do garoto e fiquei ajoelhado ao seu lado.

— O que foi? – Perguntei.

— Se eu morrer e vocês conseguirem sair daqui. Eu quero que diga a toda minha família que eu tentei... E eu quero que você não deixe o Nofre desistir. Ele se espelha muito em você.

— Não diga isso. Você vai estar vivo e conosco para nos ajudar e impedir que isso aconteça.

— Eu acho que eu não vou conseguir.

— Eu não vou desistir de você. E agora eu quero que poupe todas as suas energias e continue resistindo, ouviu?! – Ele assentiu com a cabeça, fechou os olhos e tentou dormir. – Meninas eu preciso que vocês façam alguma comida com o máximo de nutrientes para ele.

— Mas não sabemos nem ao menos o que e são esses frutos direito. – Declarou Tina.

— Eu preciso que tentem.

As garotas foram até a estufa, enquanto eu me dirigi para fora da cabana. O sol estava radiante e junto a ele uma brisa fresca mantinha uma temperatura agradável. Caminhei pela areia até o mar e mergulhei nas águas do meio da barreira. Aquilo era como uma enorme piscina natural. Eu nadava no meio da água fresca como se estivesse me purificando de todos os males daquele lugar. Era como se eu estivesse me libertando aos poucos, pois a última vez que eu lembrara de ter tomado banho havia sido nos meus sonhos. Depois disso, fiquei boiando de olhos fechados no meio daquelas águas cristalinas relaxando e recuperando as forças para continuar a sobreviver.

Depois de algumas horas me banhando no mar eu finalmente saí da água e caminhei até a cabana. Fui até a alcova e peguei uma muda de roupas secas da caixa e as substituí pelas minhas. Em seguida fui até a estufa, Tina e Loren já haviam terminado de fazer a refeição de Jihan. Então, novamente saí da cabana e fui caminhar pela faixa de areia. No final da praia eu conseguia avistar algumas pessoas, com isso, caminhei até eles e percebi que aqueles eram Zenaya, Nofre e Frank. Eles estavam num espécie de treinamento golpeando o ar como se ele fosse um adversário real. Fiquei observando eles se exercitarem até a minha presença finalmente ser notada.

— Will! – Exclamou Zenaya surpresa. Os meninos curiosos virados de costas viraram-se para mim e arregalaram os olhos.

— Will! – Gritou Nofre vindo me abraçar. – Como você está? Sentimos tanto a sua falta. Parece que nosso líderes enlouqueceram sem você aqui.

— Líder? Mas eu não sou nenhum líder. – Disse enquanto sentava em um tronco de árvore deixado na areia

— Eu sei, mas talvez isso não seja uma má ideia.

— Mas ,então, o que estão fazendo aqui? Quando foi que você e o Frank decidiram aprender a lutar? – De repente o sorriso no rosto de Nofre desapareceu.

— Não escolhemos nada. Isso foi ideia do Mike e do Ralf, pois eles não nos acha forte o suficiente para proteger o grupo caso um acidente como aquele aconteça de novo.

— O quê?! Eles obrigaram vocês a aprenderem a lutar?

— Não, não foi bem assim. Foi uma decisão do grupo. E parece que todos concordaram.

— E você concordou com isso? – Referi-me a Zenaya.

— Eu não estava aqui quando essa decisão foi tomada. A única coisa que eu posso afirmar e que hoje cedo antes do Mike partir com os outros, ele me pediu para ensinar alguns ataques aos meninos.

— Meninos me escutem. Vocês não são obrigados a fazerem nada do que vocês não queiram, ouviu? Eu acho que o treino já pode acabar por hoje. Vocês podem ir descansar.

— Mas o Mike...

— Sem mas! Não somos ditadores aqui. Vocês podem ir. – Os meninos confuso foram caminhando novamente em direção a cabana.

— O que você está fazendo Will?! Queira você ou não, Mike é o líder agora. – Mencionou Zenaya.

— Onde você estava quando essa decisão foi tomada?

— Eu estava sozinha na mata. Perdida. E pelo visto ninguém foi atrás de mim. Então nem pense em tentar me dar qualquer lição de moral.

— Desculpa... Mas como conseguiu voltar? – A menina suspirou fundo e finalmente resolveu se juntar a mim e sentar na areia.

— Depois de alguns quilômetros caminhando pelo rio eu encontrei o Kim desmaiado há alguns centímetros da margem. Eu o levei a um lugar seguro e quando ele finalmente acordou , tentamos voltar.

— E como sabe que não foram a busca de vocês?

— Aquela barreira ali. – Disse a menina apontando para a barreira de madeira do outro lado da praia. – Nós desaparecemos a dois dias, e esse foi o tempo que deve ter levado para aquilo ficar pronto, então, eu acho que eles tiveram outras prioridades além de nós.

— Bom... percebo agora que muita coisa mudou enquanto eu estive fora.

— Talvez as coisas não tenha mudado. Quem sabe, não foi você que mudou. – Suas palavras me tocaram de uma forma estranha a embaralhar meus pensamentos. – Eu só quero ir para casa.

— Nós vamos, eu ainda tenho esperança de que um dia teremos um final feliz.

— Eu espero que você esteja certo. – Sussurrou a oriental.

— Agora vamos. – Disse enquanto me levantava. - Eu quero que me ensine alguns golpes.

— O quê?! Mas você...

— Anda logo, eu estou fazendo isso porque eu quero.

A menina, por fim, levantou e começamos, então, nosso treinamento. Ele me ensinou alguns golpes básicos de auto defesa e cada vez mais eu me sentia familiarizado em aprender.Ficamos ali por algumas horas até finalmente eu estar cansado. Sendo assim, sentamos na areia apreciando o mar em silêncio por um tempo até que Loren caminhou até onde estávamos e nos interrompeu com o aviso do almoço. Fomos, então, juntos até a cabana e ficamos todos reunidos na estufa. A refeição parecia ter-me dado toda energia que eu precisava depois de dias em coma sem comer nada.

Quando a refeição finalmente acabou eu fui novamente a alcova para ver o estado de Jihan. Nofre estava em uma rede ao lado do menino que ainda dormia repousando como eu havia lhe pedido. No entanto, seu coração batia cada vez mais devagar, o período de entrada de ar nos pulmões aumentou substancialmente e sua pele ficava cada vez mais pálida e fria. – Ele não pode estar morrendo.

Então, fui até a caixa e peguei alguns panos e usei como um coberto. Nofre, por fim, me olhou com um olhar solitário. Parece que nossa esperança não se mantinha tão forte assim como antes. Mesmo assim, eu abracei o menino e disse que tudo daria certo tentando de alguma forma confortá-lo. No entanto, depois disso eu fui até a a sacada da cabana e fui tomado pela tristeza e o choro. Eu não conseguia mais acreditar nas minhas palavras.

Apesar disso, quando tudo parecia obscuro eu finalmente avistei o grande grupo retornando para a cabana. Eles carregavam uma caixa e suas mochilas estavam cheias. – Parece que eles tiveram sorte na caçada. – Com isso, alguns se dirigiram direto para fogueira para acender o fogo. Por outro lado, Anne veio na minha direção com as sementes já nas mãos.

— Olá Will! É muito bom te ver, mas onde é que ele está? – Perguntou a menina sendo o mais direto possível.

— Ele está lá dentro na alcova.

— Está são mesmo as sementes. – Disse a loira enquanto me entregava uma delas. Eu apenas confirmei e então ela seguiu para dentro da cabana. Logo atrás dela estava Cory me olhando com um sorriso estampado no rosto.

— Parece que temos um grande guerreiro por aqui. – Disse o moreno descontraído partindo para um abraço. – Eu gostaria muito de te agradecer por ter salvo a minha vida.

— Mas eu não fiz isso sozinho. Devia agradecer a sua irmã também. – Por um momento eu olhei ao redor e não a encontrei. – Aliás, aonde ela está? – A expressão do moreno pareceu se transformar de repente. – O que foi? Aconteceu alguma coisa? – Antes mesmo que ele pudesse responder o gritou de Mike nos interrompeu.

—Ei, fiquem atentos. Parece que temos visita. – Disse Mike em voz alta para o grupo.

Novamente eu olhei ao redor e avistei duas pessoas caminhando pela faixa de areia em nossa direção. Conforme elas iam se aproximando ficava mais fácil identificar aqueles dois estranhos. Eram dois garotos que eu nunca havia visto antes, eles carregavam consigo suas mochilas nas costas e uma lança nas mãos. O semblante sisudo dos dois criaram um clima de tensão no ar como se uma bomba estivesse prestes a explodir. Por fim, quando eles chegaram próximos o suficiente:

— O que vocês querem? – Perguntou Mike se destacando do grupo e retribuindo o olhar aos dois.

— Você conhecem alguma Tina Suermita? – Disse um dos garotos olhando fixamente para nós.

— Sou eu. – Disse Tina dessa vez se destacando. – O que vocês querem?

— Isso quer dizer que chegamos ao lugar certo. Você é o líder? – Disse o menino com desdém apontando para o Mike.

— Diga logo o que você quer e vá logo embora daqui. – Retrucou Mike furioso.

— Acho melhor ficar calmo valentão. Estamos com uma de vocês e eu acredito que vocês não queiram que ela acabe com a cabeça cortada. – Parece que todos nós entramos em choque. – Então eu acho melhor você ficar bem mansinho e me tratar com bastante carinho.


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