The New Continent escrita por Weezzi


Capítulo 32
Capítulo 31 – Regressão.




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Will

1 Março, 2200, 06:23.

Tudo parecia tão escuro, sombrio e melancólico. Era como se eu estivesse vivendo o nada e o nada fizesse parte de mim. – Será que eu estou morto? – Aquilo não parecia nem o céu nem o inferno, era como se eu estivesse preso em uma espécie de limbo. O tempo não existia, pois era como se eu fosse dominado por um transe sem fim. – Onde eu estou? – O lugar não havia qualquer som ou luz, tudo era imaterial. Contudo depois de viver toda aquela experiência eu conseguia ouvir uns sussurros ao longe, eles gradativamente iam se tornando cada vez mais latentes, com isso, a cada som eu tentava decifrar as palavras e aos poucos eu consegui entender:

— Will acorde! Vamos logo querido já está na hora. – De repente meus olhos se abriram me trazendo novamente a realidade. Com a visão ainda um pouco turva eu conseguia reconhecer aquela voz e aquele borrão, era a minha avó. – Will levante de uma vez ou você irá se atrasar.

Minha visão voltara ao normal e eu conseguira ver seu rosto com nitidez. Era ela mesma, com aquele olhar sereno e sorriso sincero. – Como aquilo era possível? – Ela estava sentada sobre a minha cama e tudo o que eu conseguia avistar em volta, era o meu quarto. - Eu estou em casa? - Vê-la me trouxera uma mistura de sentimentos que resultou em um forte abraço apertado. Não conseguira conter tanta saudade.

— Eu te amo avó, a senhora estava certa, sempre esteve. – As lágrimas escorriam desesperadas pelo meu rosto.

— Querido, eu também te amo, mas você poderia deixar o abraço para depois e ir logo se arrumar. - Soltei-a de meus braços e conforme eu me afastava meu cérebro era infestado de memórias. Steve, Loren, Cory, Ralf e todos os outros, um a um invadiram minhas lembranças como uma explosão. Logo, contorcia-me na cama dominado por uma pressão exorbitante sobre a cabeça numa espécie de convulsão. – Querido o que está acontecendo, você está bem? – Ela tentava me segurar.

— Água... Eu preciso de água. – Balbuciei as palavras enquanto me contorcia de dor. Minha avó em prantos, saiu do quarto apressada em direção a cozinha.

Depois de uma série de ataques, minha respiração se tornara ofegante e meu corpo parecia ter travado uma batalha contra ele mesmo. Entrelaçado entre os lençóis, levantei-me rapidamente e fui até a janela, fechei os olhos, respirei fundo na tentativa de me acalmar. Gradativamente a adrenalina se esvaia e o coração voltava a bater em ritmo normal. – O que foi isso? – Perguntava a mim mesmo.

—Will – Foi quando de repente uma voz gritou dentro da minha cabeça.

Assustado, assim, que abri os olhos e olhei a paisagem pela sacada. Lá estava a minha ilustre cidade natal com ruas largas e grandes edifícios, no entanto não era o entorno que me chamava atenção e sim uma mulher que caminhava pela rua apressada. Fitei-a atenciosamente sem ao menos ter um motivo para tal e numa virada de esquina pude com precisão avistar seu rosto. – Eu conhecia aquela garota. – Quando finalmente me concentrei, percebi que aquela era Tina. Sem ao menos pensar corri para fora do quarto descendo as escadas em direção a saída.

— Will o que está fazendo? – Gritou minha avó enquanto passava por ela pelo corredor deixando cair o copo de água no chão.

Quando saí de casa atravessei o jardim e corri em direção a Tina que estava curvando a última esquina que pudera avistar. Assim eu atravessei uma das ruas, fui atropelado por um carro que tentou frear assim que me viu. A gravidade da batida não fora tão grave, porém caí no chão com alguns arranhões. O automóvel era um táxi, com isso, o taxista desesperado saiu do carro para me ajudar.

— Você está bem? – Perguntou o homem aos prantos.

— Eu estou bem, foram apenas alguns arranhões, eu acho.

— Você quer ir ao médico? Eu posso te dar uma carona.

— Já terminou com o garoto? Eu não tenho tempo para esperar. – Gritou uma mulher de dentro do táxi gesticulando com os braços para fora do vidro.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem, eu moro logo ali. Vá logo que a madame lhe espera. – Ironizei.

— Tudo bem, agora uma dica olhe por onde anda. Tome cuidado! – Orientou o taxista enquanto me ajudava a levantar.

Em seguida ele entrou no carro, enquanto eu fui para calçada. Fitei ao redor e Tina já havia desaparecido. Enquanto isso, rapaz ligou o carro e estava partindo e, assim, que o carro atravessou por mim o vidro traseiro abaixou e então eu e a mulher que estava no carro trocamos um intenso olhar que durou por alguns segundos, mas pareceram horas. – Eu também conheço essa mulher. – Puxei pela memória e finalmente lembrei-me. Aquela era Pietra. Contudo antes que eu pudesse pensar em reagir e correr atrás do carro, o táxi já havia partido para longe.

Cambaleei até em casa com meus pensamentos confusos. – Eu não sei o que está havendo comigo. – Antes que eu entrasse minha avó já me esperava na porta com um péssimo olhar:

— Aonde pensa que vai? O que está acontecendo com você? E por que estava correndo? – Ela me encheu de perguntas que nem eu mesmo sabia responder. – Afinal o que aconteceu com você? Está todo ralado.

— Não se preocupe, eu só tive uma pequena queda, não foi nada.

— Como não foi nada?! Suas roupas estão cobertas de sangue.

— Não exagere, nem está tão feio assim, eu só preciso me lavar.

— Ande logo, ou então, se continuar assim vai se atrasar para entrevista no CAIG.

— CAIG?! – Escutar aquelas palavras gerou um estalo em meu cérebro. – Só um instante, que dia é hoje?

— Como assim que dia é hoje? Seu calendário e todo rabiscado para este dia. Hoje é dia primeiro.

— Primeiro de fevereiro?! – Isso é impossível. – Quer dizer, então, que eu estou atrasado para minha entrevista?

— Will me diga uma coisa querido. Por uma acaso você andou se drogando? Eu estou um pouco preocupada com você. – No mesmo instante um turbilhão de pensamentos invadiu meu cérebro.

— Muito obrigado avó, mas infelizmente eu tenho que me arrumar para sair. – Beijei sua testa e saí correndo em para dentro de casa. Ela tentava chamar a minha atenção, mas eu não tinha tempo.

Quando entrei em casa, subi as escadas correndo e fui até o banheiro. Liguei o chuveiro, retirei as roupas e me prepara para um banho rápido, limpei as feridas enxaguei o corpo e, logo, já estava de banho tomado. Fui até o meu quarto e coloquei uma roupa limpa, contudo antes de sair passei pelo calendário e realmente a data estava correta. – Isso quer dizer que tudo foi um sonho? Será que meu nervosismo me fizera sonhar coisas loucas?

— Salve-me. – A voz em minha cabeça mais uma vez sussurrou em meus ouvidos.

 Sentei em minha cama e fitava todo o quarto. – O que está acontecendo? – Parei por alguns segundos tentando escutar mais uma vez a voz, no entanto nem o som do vento quis se apresentar. – Será que depois de tudo eu enlouqueci? – Cansado de esperar por alguma resposta desci as escadas apressado, calcei meus calçados e antes que eu pudesse partir minha avó aparece na porta carregando sua bolsa.

— Ah você já está pronto. Eu só preciso desligar a cafeteira para podermos ir. Aliás, você quer um cafezinho antes de ir? Você não comeu nada.

— Então, na verdade eu combinei de ir para lá com um amigo. A senhora não precisa se incomodar.

— Do que está falando, você ficou me lembrando a semana inteira para que eu fosse com você.

— Sim, me desculpa, mas foi de última hora e parece que eu me esqueci de avisar, mas não se preocupe, eu vou ficar bem. – Antes de abrir a porta para partir, eu abracei-a forte e tentei dar meu melhor sorriso.

— Tudo bem, mas você ainda não vai fugir de mim, temos muito que conversar, inclusive sobre as drogas. – Troquei um breve sorriso e fechei a porta.

Saí de casa apressado e fui correndo até a estação mais próxima de metrô, desci as escadas da estação e caminhei até a bilheteria para comprar minha passagem, e por um tremendo azar, todas as filas estavam enormes. Entrei em uma das filas e esperava ansioso para que chegasse a minha vez, no entanto aquele pequeno tempo me fizera raciocinar tudo que havia acontecido nesta manhã.

Eu não tinha a menor ideia do que eu estava fazendo, mas de alguma forma eu seguia meus instintos, pois era como se eu estivesse tendo uma segunda chance. Perdido em meus pensamentos a fila gradativamente ficava menor, porém ainda em meus devaneios, fui atraído por uma voz vinda da bilheteria.

— Boa viagem Sr. Cory. – Disse uma mulher ruiva de dentro de uma das cabines a um rapaz de sobretudo que estava de costas para mim. Ele se virou e seu rosto era imprescindível, era ele mesmo sem quaisquer dúvidas. Em seguida, ele atravessou uma catraca que dava a outra cessão do metrô.

Essa era a minha chance de esclarecer as coisas. Quanto mais a fila ia se sucedendo mais ansiedade crescia dentro de mim. Quando chegou a minha vez corri até um rapaz que estava na cabine e pedi apressado as minhas passagens. Parecia que quanto mais eu ansiava, tudo se tornara mais lento. O rapaz me deu a passagem e eu corri para atravessar a catraca.

Do outro lado, havia uma multidão de pessoas esperando pelo metrô. Enfiei-me no meio da multidão para procurá-lo, no entanto passaram-se alguns minutos e nem um sinal dele, o metrô havia chegado e não podia mais esperar para procurá-lo. Por isso, entrei no metrô na esperança de que ele tenha entrado também. Com isso, caminhei por alguns vagões e parecia que aquele não era o meu dia de sorte. Então, sentei-me em um dos últimos vagões e tentei esvaziar a cabeça e pensar no que eu estava acontecendo.

— Steve – A voz novamente voltou a se repetir.

 Já estava ficando irritado por não ter respostas. Antes de ser completamente vencido pela frustração eu tentava juntar o quebra-cabeça. – “Will”, “Salve-me”, “Steve”– Será que essas palavras significam algum tipo de aviso. - Cory, Tina e Pietra. Todos eles o que estão fazendo aqui? – Passo a passo eu tentava montar um esquema. – Dia primeiro de fevereiro! – O dia em que eu fui aprovado pelo CAIG e que consequentemente apareci em Alfalumia. Entretanto, se hoje é dia primeiro e nada daquilo aconteceu, então, isso quer dizer que só existem apenas algumas hipóteses que eu de alguma forma acredito serem surreais.

Por um viés mais óbvio, cheguei à conclusão de que Alfalumia e todas aquelas pessoas não passaram-se de um simples sonho aterrorizante. Pois, talvez minha ansiedade e meus pensamentos brincando com a minha própria mente despertaram os meus maiores medos materializando o imaginário. Por outro lado, o fato de Alfalumia ter sido tão real a ponto de por em dúvida meus questionamentos, baseei-me em uma outra hipótese que envolveria viagens no tempo. Será que eu estou no passado para concertar as coisas? Será que o destino me deu uma segunda chance? Mesmo sabendo que o passado não possa ser alterado. – Como eu me lembraria tão bem de Cory e os outros.

Por último a que mais eu repudiava a acreditar, mas que de alguma forma parecia responder mais partes do quebra-cabeça. - Será que eu tive alguma espécie de visão do futuro? Será que eu sou uma espécie mística de escolhido para salva-los? – Isso de algum modo explicaria porque eu os vejo, mas não consigo contatá-los. Por fim, entre todas elas de uma coisa eu tenho certeza, Alfalumia existe mesmo que no imaginário. Baseado em teorias eu não reparei os minutos passarem até o alto falante mencionar a próxima estação.

— Bem-vindos a estação Companhia CAIG! – Já estava na hora de sanar todas as dúvidas.

Saí do metrô e fui correndo até as escadas, subi e logo pude ver o enorme prédio de arranha-céus da companhia. Em seguida atravessei a rua e só então notei que não havia a enorme fila. – Onde estavam os candidatos para a entrevista? – A única pessoa no local era a mesma mulher loira sentada ao lado da porta lendo uma revista. Por mais irônico, era a mesma que havia chamado o meu nome da outra vez. Vê-la só me fizera alimentar a teoria de que tudo não tenha sido um simples sonho, mas que tudo realmente tenha um propósito em que eu estava determinado a cumprir. Aproximei-me da tal e antes mesmo que eu pudesse perguntar qualquer coisa:

— Chegou tarde. As entrevistas já acabaram. – Disse a mulher com desprezo sem ao menos olhar para mim. Infelizmente eu havia sido pego de surpresa. Eu não sabia o que fazer, mas tentei agir por impulso.

— Perdão eu não vim aqui me inscrever. Eu só estou aqui para visitar uma pessoa.

— Quem? – Ela finalmente largou a revista e olhou para mim.

— O senhor Steve Darison. Você o conhece? – Tentava disfarça enquanto a mulher me encarava com um olhar sério.

— Sim eu o conheço. No entanto, qual é o seu nome e qual o assunto?

— Meu nome é Tony Pillar e eu vim a negócios.

— Negócios?! Sei... Você é um pouco novo para fazer negócios com o chef, mas tudo bem, eu vou chamá-lo. – A mulher retirou um Walk Talk do cinto e fez uma chamada. – Guarda 6 na escuta, senhor Darison, tem um garoto aqui chamado Tony Pillar que quer falar com você, o garoto diz ser a negócios. – A mulher desligou o aparelho. – Pronto agora é só esperar ele responder. – Alguns minutos de suspenses me deixavam cada vez mais nervoso, antes dele finalmente responder.

— Desculpe guarda, mas infelizmente eu não marquei negócios com ninguém hoje. Pode dispensar o garoto. – Aquela voz nitidamente era a de Steve.

— Então, garoto você escutou o que ele disse. Vá logo embora daqui. – Antes que eu pudesse me revirar para ir embora...

— Persista! – A voz mais uma vez retornou. Eu não sabia o que fazer então eu decidi improvisar.

— Não isso deve haver algum engano. Talvez seja porque não são bem negócios, na verdade são serviços. Eu fui contratado para concertar um defeito na tubulação ali atrás do prédio. – Disse apontando para um beco que dava para a área lateral do prédio. – Eu só fiquei com vergonha de dizer que era isso, por favor, fale com ele de novo.

— Eu não vou interrompê-lo de novo. Mostre-me os canos que eu tento retornar a chamada.

— Tudo bem. – Eu não tinha a menor ideai do que eu estava fazendo, eu esperava que as coisas fossem mais fáceis.

Quando chegamos ao beco havia alguns tanques de descargas presos em alguns reservatórios e logo em seguida algumas lixeiras ao fundo.

— Onde está o vazamento? Para mim parece tudo normal. – Disse a mulher impaciente.

— Ele está atrás das lixeiras, só um minuto porque eu vou ter que arrastá-las. – Fui andando até as lixeiras e meu corpo exalava pavor. Quando cheguei a uma das lixeiras eu comecei a arrastá-la para fora da parede em um ângulo em que ela não conseguisse ver os canos de longe. – Pronto, está aqui. – A mulher foi se aproximando e abaixou-se para ver os canos.

— Não estou vendo nenhum problema aqui. Você está querendo brincar comigo garoto. – Nesse instante eu fui tomado por um pânico exorbitante o qual nunca houvera sentido em toda a minha vida. Eu não sabia o que fazer. Foi, então, como um reflexo, minhas mãos puxaram os cabelos da mulher indo contra ao metal da lixeira. Antes que ela pudesse reagir, choquei a cabeça daquela mulher diversas vezes em desespero enquanto o sangue escorria em minhas mãos. Eu não conseguia parar mesmo sabendo que provavelmente ela estivesse morta.

Eu havia sido tomado pelo terror, continuava a insistir naquele ato mesmo sabendo que ela havia morrido. Por fim, perdi as forças, arrastei-me até o canto do muro e me encolhi transtornado ainda com tudo o quê havia acontecido. – Eu acabei de matar uma pessoa. – Minhas mãos e minhas vestes eram revestidas de sangue, os meus olhos estavam cobertos de lágrimas e meu corpo não conseguia parar de tremer. Eu mesmo não conseguia acreditar no que acabara de acontecer.

Fiquei alguns minutos estático tentando assimilar tudo em minha volta, principalmente a minha reação. Eu não conseguia entender nem ao menos explicar. Eu voltava a olhar todo aquele sangue e só conseguia sentir nojo. Esfregava minhas mãos uma na outra na tentativa falha de apagar meu erro. Ainda sim eu tentava de alguma forma me acalmar, porém dentro da minha cabeça eu só conseguia escutar: Assassino.

Cansado de não conseguir reagir, abri a enorme lixeira de metal, peguei a defunta caída no chão e a joguei para dentro do lixo. Sentia-me sujo e desonrado por desfazer-me de uma pessoa como um objeto sem valor, no entanto de alguma forma meu inconsciente mandava eu esconder todas e quaisquer provas. Em seguida, fitei ao redor e parecia que eu estava sozinho, sem qualquer testemunha para me condenar de tal fato.

Depois disso, eu não sabia mais o que fazer. – Ir embora? – Não, eu já houvera chego longe demais para tentar decifrar o que está acontecendo, além disso, algo dentro de mim me pedia para prosseguir. Por outro lado, meus pressentimentos me levaram a loucura a qual culminou em tal insanidade. Aquelas dúvidas perduravam pela minha cabeça até que eu decidi ir em frente e acabar de uma vez com essa história

Logo após, peguei meu celular no bolso da calça e comecei a digitar uma mensagem para a minha avó. - “Se eu não retornar até o meio dia chame a policia.” – Antes de entrar no prédio, eu peguei o cartão de acesso das portas no bolso da segurança e parti para o interior do edifício. Entrei pela porta dos fundos que dava para uma espécie de escada de incêndio. Subi as escadas até encontrar algum andar que estivesse completamente vazio.

Depois de tanto subir degraus eu finalmente encontrei. Ninguém poderia ver minhas roupas cobertas de sangue, eu precisava urgentemente de um banheiro para tirar as manchas. Sendo assim, andava pelo corredor olhando para todos os lados a procura de algum banheiro, entretanto a busca por ele foi interrompida no momento em que vi dois homens de jalecos caminhando e conversando e minha direção em um corredor ao lado.

Corri desesperado pelo corredor em busca da primeira porta e ele estava logo ali a alguns passos de mim. Sem ao menos hesitar, eu entrei no cômodo e me escondi. O cômodo era estreito e escuro, cheguei até a tropeçar em alguns utensílios espalhados pelo chão. Peguei meu celular para iluminar o local e lá estava eu no quarto da faxina. Havia alguns baldes, vassouras, rodos e pás, contudo o que mais me chamou atenção foi o uniforme de serviço pendurado em um cabide no canto da parede.

A ideia veio no ar. Peguei o uniforme de faxina e substitui pelas minhas roupas. Juntei alguns panos, uma vassoura e um balde e saí dali em direção ao corredor. Depois disso, fui direto para o elevador no fim do corredor, pois se meus sentidos estão certos, eu ainda lembro bem onde ficava o escritório do Steve. Desci até o primeiro andar e comecei a andar pelos corredores. – O prédio é realmente enorme. – Mesmo assim, depois de tanto caminhar finalmente achei a sala da luz branca que me fez perder a consciência e ir parar em Alfalumia. A partir dali eu já estava reconhecendo o caminho, todavia antes de ir eu tentei abrir o cômodo que estava completamente trancado.

 Chegando à porta do escritório do Steve, antes de entrar eu respirei fundo e prossegui. Quando eu abri a porta Steve estava sentado em sua mesa folheando alguns papeis. Ao notar a minha presença ele continuou folheando os papéis e sem ao menos olhar para mim:

— Você pode ir, o dia da faxina não é hoje. – Ele continuava sua tarefa ainda olhando fixamente para os papéis. Foi, então, que me aproximei e sentei na cadeira a sua frente.

— E então, já escolheu o próximo coitado?

— Do que está falando? Você não está autorizado sobre os assuntos gerencias da empresa. – Ele finalmente olha para mim e leva um susto. – O quê está fazendo aqui? Quem é você?

— Não se lembra de mim Steve, sou eu Will, não está mesmo me reconhecendo. – Desdenhei.

— Por um acaso você foi contratado sem a minha permissão? – Perguntou Steve assustado.

— Não, foi você que me contratou para fazer parte da sua jaula... Mas, então, me diz de uma vez quem foi o coitado que você mandou para Alfalumia agora? 

— Alfalumia?! O que você sabe sobre Alfalumia? – Ele parecia ficar cada vez mais nervoso.

— Sei de tudo, pois eu já estive lá e saiba que o lugar não é nenhum um pouco agradável.

— Anda logo, o quê veio fazer aqui? Veio atrás de dinheiro? Emprego? Anda diz logo o quê você quer.

— Eu quero que vocês soltem todos eles de lá, retire-os um a um daquele lugar horrendo. Ninguém merece estar naquele lugar.

— Eu não posso fazer isso. Não tenho esse poder. Aliás, lá é um lugar ótimo... – Nesse momento fui tomado pela raiva e do outro lado da mesa eu puxei a gravata de Steve para perto de mim.

— Chega desses seus sarcasmos. Eu já estou farto de tudo isso. Ou você os tira de lá imediatamente ou... – Nesse instante a sala foi invadida por seguranças armados apontado suas respectivas armas em minha direção.

— Ou você vai fazer o que hein? – Ironizou Steve enquanto observava meu semblante sendo completamente tomado pelo pânico.

— Solta ele agora! – Gritou um dos seguranças. Steve tirou minhas mãos de sua gravata e se recompôs.

— Chegaram tarde. Levem logo o garoto. – Eu não conseguia imaginar uma fuga. Estava cercado de guardas. – Até logo Will. – Os Seguranças me agarram e me algemaram levando-me para fora do escritório.

— Não, não, peguem ele. Ele é o vilão. – Gritava relutante. – Me soltem, por favor, socorro.

Os brutamontes me arrastavam pelos corredores como um objeto e conforme eu seguia o caminho, percebi que eles me levavam até o quarto da luz branca. – Não, eu não vou voltar. – Parecia que eu estava revendo a cena mais aterrorizante da minha vida em uma versão muito pior. Quando a ciência diz que não podemos mudar o passado, bom, ela parecia estar certa. Quando finalmente chegamos ao corredor do quarto branco eu começava a me esgueirar para trás.

— Anda logo garoto. Nem pense em tentar alguma coisa. – Disse um dos guardas.

— Não eu não vou continuar. – Relutei. – Você não vai me fazer entrar naquele... – Antes mesmo que eu pudesse continuar o guarda puxou um aparelho de choque elétrico e aplicou em mim. Eletrizado eu caí de joelhos no chão.

— Anda logo, levanta. – Disse outro guarda logo à frente se preparando para abrir a porta.

— Não, eu não entro ai de jeito nenhum. – Como previsto, levei mais uma série de choques, porém dessa vez eles pareciam letais. A frequencia elétrica fizera com que eu nem eu menos sentisse meus membros.

— Ei vocês! – O guarda chamava atenção de outros dois guardas que estavam atrás dele. – Levem ele.

Sem conseguir reagir eles pegaram-me no colo e me levaram até a porta do quarto. Quando a porta se abriu fui surpreendido não pelo clarão branco, mas por um breu sem fim. Eles entraram no cômodo e me colocaram em uma espécie de assento e, em seguida, saíram do quarto fechando a porta e deixando-me na escuridão. Naquele momento eu não sabia o que esperar ou sentir, pois era como se eu já houvesse perdido o controle de tudo.

Antes mesmo que eu tivesse tempo de assimilar tal situação. A escuridão desapareceu em meio a um forte clarão, parecia que eu estava rodeado de gigantescos holofotes de um estádio de futebol. A luz era tão forte que eu não conseguia abrir os olhos. – Mas que merda eles estão fazendo? Eu preciso sair daqui. – Dessa vez eu esperava por alguma voz na minha cabeça, porém ela não apareceu.

Conforme o tempo passava, eu conseguia retomar o movimento dos membros, no entanto eu percebi que estava amarrado numa espécie de cadeira metálica. – Droga! – Mexia meus pulsos na tentativa de me soltar, todavia a única coisa que eu consegui foram alguns arranhões. Depois de muitas tentativas frustradas um barulho na porta me chamou a atenção. As luzes do cômodo se apagaram e eu escutava passos em minha direção:

— Levem o garoto. – Disse uma voz grave e masculina.

— O que estão fazendo comigo? – Perguntei em pânico.

— Calma garoto, você vai ficar bem. – Respondeu o mesmo. – Aqui é a policia. - Suas últimas palavras pareceram revirar minhas emoções e naquele momento eu não sabia se aquilo podia ser algo bom ou ruim, contudo de qualquer forma eu senti um grande alivio por não estar indo para Alfalumia.

Os policias me desamarraram e me levavam para fora do prédio. Durante o percurso eu não conseguia abrir meus olhos e a minha visão estava completamente turva, com isso, só conseguia enxergar alguns borrões. Quando deixamos o edifício à poluição sonora da cidade me trouxera uma paz, pois naquela situação aquilo era melhor do que escutar o som da natureza e das marés de Alfalumia. Em seguida, os policias me colocaram em um automóvel no banco traseiro com mais dois deles me vigiando. Um deles dirigia o carro e outro o acompanhava no banco carona.

Não demorou muito para que chegássemos até a delegacia. O carro foi estacionado na parte dos fundos do recinto e eles me encaminharam até a sala do delegado. Os policias colocaram-me sentado em uma poltrona aguardando o delegado chegar. Sendo assim, acomodei-me no assento e fiquei observando o cômodo. Ele era enfurnado de câmeras, havia vários armários com enormes pilhas de papéis, um vaso de planta no canto das paredes, um mural com várias fotos E uma janela com uma porta que dava para outro cômodo. Cansado de esperar, fiquei alguns minutos observando o ventilado de teto girar até que, por fim, o delegado finalmente saiu de dentro do cômodo misterioso:

— Guardas já podem tirá-lo daqui. – Gritou o delegado a alguns policias que estavam no corredor.

Os policias entraram na sala e foram até o outro cômodo. Alguns segundos depois eles saíram de lá com um garoto. O garoto e eu trocamos um breve olhar e em seus olhos sombrios eu conseguia enxergar o terror. De repente, um flash surgiu em meu cérebro afetando minhas lembranças.. – Eu o conheço. – Os guardas passaram rapidamente por mim e saíram para o corredor foi, então, que eu finalmente lembrei, aquele era o Ralf.

— Para onde estão levando ele? – Perguntei ao delegado que organizava alguns papéis em sua gaveta.

— Ele está indo para cadeia. – Respondeu o mais velho sem nenhum receio.

— E o que ele fez? – Perguntei curioso.

— Ele foi pego por praticar um atentado em um restaurante no centro. Doze mortos, quinze feridos e dois ainda desaparecidos, mas afinal qual é o seu interesse nisso tudo rapaz?

— Não é nada, só curiosidade.

— Senhor delegado, a ficha dele está aqui. – Disse uma mulher entrando na sala e entregando uma pasta para o delegado.

— Ótimo, muito obrigado Nancy. – Ele pegou a pasta sentou na poltrona em frente a mesa e começou a folhear os papéis. – Bom, agora eu estou curioso para saber o que você está fazendo... Pelo que vejamos você não tem ficha uma ficha criminal, isso é um bom sinal. – Ele fechou a pasta e olhou fixamente para os meus olhos. – Agora eu quero saber por que você invadiu o CAIG? Ficou com raiva de não ter conseguido a vaga?

— Se eu contar você não vai acreditar em mim.

— Você poderia tentar? Eu estou aqui para te ouvir.

— O CAIG não é o que parece ser. As viagens, as experiências e todo o intercâmbio. Nada. Nada daquilo é real. Eles levam as pessoas para um lugar chamado Alfalumia e usam-nas como parte de objeto de pesquisa. Somos prisioneiros naquele lugar.

— Somos? Por um acaso você já esteve lá? – Aquela pergunta por um momento me deixou confuso e eu hesitei um pouco antes de responder.

— Sim eu já estive lá. Steve era meu monitor, e nós se comunicávamos por uma espécie de chamada virtual.

— E quem é Steve?

— Steve é um supervisor, ele deve ser o chef da sede na Austrália. Foi esse cara que me arrastou para aquele lugar.

— E como conseguiu fugir dela? – Nesse momento eu havia paralisado. – Presumo, então, que você é um fugitivo deles, com isso, porque um fugitivo iria diretamente ao inimigo ao invés de ir primeiramente a policia? – Eu não sabia como responder, todas as minhas provas não se passavam de suposições mentais.

— Eu não sei explicar.

— Como não, tente. – Ele debruçou-se sobre a poltrona.

— É...Que...Na verdade eu não sei mesmo como explicar.

— Ótimo, você comete um delito ao invadir uma propriedade privada baseado numa teoria maluca e não sabe explicar como veio parar aqui. Acho que estamos com alguns problemas. – Desdenhou o delegado.

— Não eu... Preciso que acreditem em mim. Façam uma investigação e vocês irão descobrir tudo. – Insistia.

— Garoto você está querendo zombar da minha cara. Eu não tenho tempo para isso. Baseado em que você tem coragem de pedir uma investigação? Num sonho? Na história de um filme?

— Aquilo não foi só um sonho? – Retruquei irritado. – Droga! – Pensei alto.

— Só um minuto! Quer dizer que tudo isso foi um sonho seu? – Pergunto o delegado sarcástico. – Você deveria usar essa sua criatividade para escrever um livro. Quem sabe os leitores acreditem.

— Por favor, antes de encerramos o assunto. Converse com o garoto que acabou de sair daqui. Talvez ele poça esclarecer as coisas e...

— Por um acaso você conhece aquele cara? Pois saiba que você só está piorando as coisas.

— Eu o conheço sim. Ele estava lá comigo.

— Você sabe que o tempo de um policial e precioso não sabe?! Então, porque você não me polpa disso tudo e me conta logo a verdade.

— Essa é a verdade.

— Você tem certeza disso? – Eu simplesmente olhei para ele e assenti. – Eu já volto, mas quando eu voltar eu espero que você goste um quadrado de concreto com grades.

Quando ele saiu da sala eu finalmente pude respirar fundo. Meu corpo tremia, minhas mãos suavam e minha alma estava estilhaçada. Eu tinha que acreditar que tudo daria certo. Não demorou muito tempo até finalmente o delegado entrar na sala. Ele sentou em sua cadeira novamente e pegou minha ficha fazendo uma espécie de suspense.

— E então? O que ele disse? – Perguntei ansioso.

— Ele nem ao menos sabia o seu nome. Eu lamento senhor Hendson, mas eu tentei ajudar, mas infelizmente você está preso.

— Não isso é impossível. Talvez eles nos substituam... Sim, isso faz todo o sentido, por isso nossos familiares não vão atrás de nós, talvez possa ser um tipo de clonagem... - Nesse momento Nancy abriu a porta do cômodo.

— Delegado, encontraram uma mulher no local. Ela foi encontrada morta na caçamba do lixo do prédio. – Nesse momento meu corpo inteiro gelou. Eu estava perdido.

— Corra. – Finalmente a voz em minha mente voltou.

Desesperado eu empurrei a mesa contra a cadeira do delegado e rapidamente levantei-me e com as algemas eu as entrelacei pelo pescoço de Nancy e a fiz como refém. Abri a porta do cômodo e rapidamente íamos até a saída dos fundos, no entanto logo fui cercado por uma enorme quantidade de policias.

— Não tem como você fugir daqui. Entregue logo ela e eu prometo que vai ficar tudo bem. – Disse o delegado correndo em nossa direção.

— Por favor, eu só preciso que confiem em mim.

— Como espera que confiemos em um assassino?

— Eu não quis fazer aquilo, eu fui obrigado. – Eu não conseguia conter as lágrimas de desespero. – Façam uma investigação e ela sai daqui ilesa, combinado? – Antes mesmo que o delegado pudesse responder no meio dos policias:

— Will, largue essa moça. Não faça isso. – Minha avó aparece assustada.

Naquele momento meus braços afrouxaram e minha mente surtou e, de repente, eu senti um tiro e caí no chão, meus olhos se fecharam e eu simplesmente desmaiei. O tiro não havia sido de uma arma letal, mas de uma arma anestésica que me fez desmaiar.

Eu não sei exatamente por quanto tempo eu fiquei desacordado, mas quando finalmente recobrei um pouco da memória eu estava sendo carregado por alguns corredores escuros. Em volta havia várias pessoas vestidas de branco que gritavam desesperadas. Os gritos assustadores de alguma forma me fizera despertar e observar melhor o lugar. Tudo aquilo parecia várias celas para pessoas loucas, no entanto o que mais me chamara atenção é que eu conhecia todos ali. Mike, Berry, Zenaya, Nofre, Jihan. Todos que conheci em Alfalumia. Todos estavam ali encarcerados.

Depois de tanto andar finalmente eu fui jogado em uma cela. E lá deixado sozinho como todos os outros loucos. Talvez aquele fosse o meu lugar. Os verdadeiros loucos são aqueles que se acham normais e hesitam e declarar sua loucura. Sendo assim, essa mesma loucura me impedira de concluir minha missão de desvendar os mistérios de Alfalumia. Conforme o efeito da anestesia ia desaparecendo eu pude me levantar e encostar-me no canto da parede. Nesse momento:

— Will. – A voz novamente me chamava.

— Eu não aguento mais o que você quer? – Gritei em voz alta.

— Olha para mim. – A voz respondeu.

Eu olhei ao redor e percebi que a voz não vinha da minha cabeça, mas de uma menina da cela ao lado. Aproximei-me da grade entre as celas e eu pude ver seu rosto mais de perto. Eu conhecia aquela garota. Aquela era Loren.

— Loren é você? Você lembra-se de mim? – Perguntei eufórico e com um resquício de esperança.

— Will, você precisa voltar.

Aquelas palavras ecoaram no meu cérebro como um coral. Tudo em minha volta, de repente, escureceu e novamente eu estava tomado pela escuridão, todavia uma luz eclodia ao longe e ela me fez despertar. Acordei desesperado levantando de uma das redes e lá estava eu ainda em Alfalumia. Tudo não partiu de um longo e intenso sonho.


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