The New Continent escrita por Weezzi


Capítulo 26
Capítulo 25 – Fraquezas.




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Tina

23 Fevereiro, 2200. 16:28.

O dia se tornara sombrio e solitário, era como se uma onda de melancolia inundasse aquele local e toda vitalidade e esforço se esvaíssem como uma pétala de rosas ao chão. Era notória a comoção no olhar de cada um ao presenciar aquela cena, pois ele havia se arriscado por todos nós e infelizmente ainda é difícil acreditar que já é tarde demais.

Ao perceber nossa presença o animal nos olhava pela brecha da rocha e berrava como um ser insaciável. Os berros nos trouxeram as imagens imaginárias e horrendas de como tudo aquilo acontecera. Logo, o animal impulsionava as pedras tentando sair – Precisávamos sair dali o quanto antes. – As pessoas gradativamente iam se afastando, quando Ralf tomou as rédeas da situação e interrompeu o silêncio:

— Vamos embora daqui. Não há nada o que possamos fazer. – Ordenou. As pessoas pareciam concordar e andavam em direção a floresta.

— Não! – Berrou Loren ajoelhada no chão com o rosto coberto por lágrimas. – Não podemos fazer isso, precisamos olhar dentro da caverna e ver se ele está lá dentro, talvez ele...

— Você viu os ossos, o sangue e as vestes. Não há como ele estar vivo com aquela criatura lá dentro. Eu vi como as pernas dele ficaram presas pelas rochas. Pelo visto ele não teve chance nem ao menos de lutar. –Interrompeu Anne.

— Além do mais, que para entrarmos precisaríamos matar aquele bicho antes disso e não podemos arriscar a vida de mais ninguém. – Mencionou Ralf se posicionando como líder.

— Loren, eles têm razão. – Aproximei-me da loira. – Isso não seria justo com nenhum de nós e remoer essa dor só iria trazer mais ressentimento.

— Tina, por favor, me escuta. Eu não posso viver com essa culpa. Eu preciso ir além e finalizar essa história de uma vez. Não posso viver com o sentimento de que eu podia ter feito mais. Eu tenho certeza de que ele faria isso por mim. Então, por favor... – Os olhos da loira não paravam de escorrer lágrimas. – Por favor. – Não tinha respostas, simplesmente a abracei e de alguma forma eu tentava consolá-la.

— Isso não é culpa sua ouvi. Você não pode evitar o que iria acontecer.

— Mas talvez...

— Shiii, Não pense assim, pois isso vai passar. Você fez tudo o que podia e resistiu até os últimos segundos. Eu não vou deixar que você entre lá, lembre-se que eu estou aqui para te ajudar a superar tudo isso. – Não aguentei e lágrimas também escorriam dos meus olhos. – Você não desistiu de mim e graças a você eu estou viva, então eu não vou desistir de você. – Levantei-me e limpei os joelhos sujos de terra. – Venha vamos embora daqui. Tudo o que podíamos fazer já foi feito. – Limpava as lágrimas.

— Eu não consigo. – O choro se comprimia em seus olhos.

— Venha comigo eu vou te ajudar, mas, por favor, não cometa essa loucura.

Todos nos olhavam esperando por uma resposta. Alguns minutos se passaram, todavia depois desses, ela se levantou, respirou fundo, enxugou as lágrimas.

— Vamos!

Finalmente depois de tanto choro partimos de volta à cabana, o sensação de luto circundava a todos, sendo assim, o percurso se manteve em um silêncio que corroia nossas memórias. Na verdade, era impressionante como a morte naquele lugar se tornara algo banal, tirando de nós a essência humana que nos permitira ser quem somos. Morrer já não era visto como um ato de glória, mas sim como parte de um processo fisiológico da natureza humana, com isso, aos poucos não conseguíamos mais sentir a perda.

Caminhar pela mata vendo todas aquelas árvores e arbustos me fizeram pensar sobre todo aquele lugar. Qual a razão de estarmos aqui? Por que escolheram nossos destinos? Depois de algum tempo não era a morte o que eu mais temia, mas sim a vida. Ansiávamos por um sentimento contrário a nossa natureza humana e morrer talvez não seja lá tão ruim, pois parecia que só com a morte haveria a paz. Por que afinal, o que faz a vida valer à pena?

Cory e Mike estavam à beira da morte. Will já havia partido. Uriel foi como um flash antes mesmo de conhecê-lo. Tudo estava desabando aos poucos, afinal, quem será o próximo a ir para cova? – Eu já quase fui uma vítima. – No meio de tanto sofrimento a questão era que não víamos mais esperanças e parecia que todos os sentimentos que um dia nos dominou nos primeiros dias neste continente voltavam à tona.

Depois de me pegar entre tantos pensamentos pessimistas, finalmente já havíamos chegado à cabana. O dia nos dissera adeus e a noite nos conduzia em seu alento, além disso, a jornada havia sido cansativa e todos nós estávamos vazios e exaustos. Caminhamos pela faixa de areia e quando nos aproximamos da cabana o cheiro de comida no fogo exalava por todos os cômodos – Parece que temos um belo banquete. – Em seguida, lembrei de Berry, provavelmente ela havia preparado tudo.

Famintos e atraídos pelo odor todos foram direto à estufa, entretanto antes de ir retirei os calçados e subi até a alcova do segundo piso, quando entrei no cômodo, Berry estava agachada e estirada sobre o corpo de Cory aos prantos, porém logo que ela pressentiu a minha presença tratou de se recompor numa postura falha.

— Me desculpa eu não sabia que vocês já haviam chegado... – A morena enxugava as lágrimas do rosto. – Vocês devem estar com fome não é mesmo?! Eu acabei de preparar um ensopado, vocês precisam comer. – Ela de alguma forma tentava parecer feliz.

—Tem certeza de que esse ensopado não foi feito pelas suas lágrimas? – Ela soltou um meio riso. - Mas enfim, como eles estão?

— Já se passaram dois dias, e os efeitos anestésicos das sementes já devem estar acabando. Sendo que ela sozinha não tem o poder de cicatrização, ou seja, logo eles poderão acordar e quando isso acontecer irá ser o fim. – Ela falava andando de um lado para o outro. – Ai meu Deus, eu quase me esqueci de perguntar e o Will ele está bem? Precisa de curativos? Ele chegou a quebrar alguma coisa?...

— Will está morto Berry. – Interrompi.

— Como assim morto? Ele só não estava preso, como isso foi acontecer? – O pânico invadia seu olhar.

— A história é longa e não é sobre isso que eu quero falar agora. Eu tenho uma pergunta antes de tudo. - Nos entreolhamos em um olhar fixo por alguns segundos. – Era mesmo esse o fim que você queria?

— Do que você está me acusando?! Acha mesmo que eu planejei tudo isso? Acha que eu sou capaz de querer a morte do meu próprio irmão? – Indignou-se.

— Então, por que fez tudo isso? – Minha voz ficara mais alta – Não me venha dizer que tudo isso foi um incidente. Eu sei que você foi atrás de uma descoberta, mas eu não consigo entender o porquê de você ter feito isso, sem pensar em nenhum de nós. Você não tem idéia como Cory sofreu com isso e nem o quanto cada um de nós.

— E você acha mesmo que seria fácil ele me deixar ir. Saiba que eu não tive outra escolha.

— Escolha? Quer dizer que a insatisfação dos seus desejos era não ter escolhas. Por favor, me venha com um motivo mais plausível. Era difícil deixar um recado ou algo assim? Alias o que foi aquela mensagem ridícula na parede de sangue. Excesso de criatividade para uma morte exuberante?

— Aquela mensagem foi justamente para causar medo em vocês para que não fossem me procurar. Caso fossem a minha busca e acontecesse alguma coisa eu seria culpada.

— E por causa de que não fomos atrás de você a culpa não deixou de ser sua? – Retruquei.

— O que está insinuando?! Que eu sou a culpada de tudo que aconteceu? – A garota indagava indignada.

— Não nego a sua culpa parcial, talvez se você não tivesse ido embora nada disso teria acontecido. Cory não iria se arriscar tanto por uma irmã que ele acha que está morta, e assim, Will não teria ido atrás dessas sementes idiotas que no final de tudo não serviram para nada. Você não sabe o que é perder alguém, por isso, só segue as suas vontades.

— Quer mesmo me chamar de egoísta e individualista? Você não sabe nada sobre a minha vida, meus sentimentos, nada. Então, não venha me dar sermão.

— Você não passa de uma individualista dependente. Seu irmão fez tudo para te proteger. Ele vivia por você

— Viver por mim? Ele vivia por ele e a liderança lhe subiu a cabeça.

— Você e Pietra são iguais.

— Ah então é isso? Está com raiva porque eu não contei a você que eu poderia ter morrido por comer uma semente. Saiba que eu não podia fazer isso. Grande parte da minha descoberta foi para salvar a sua pele. Saiba que seu grande herói Cory iria te deixar em quarentena, você provavelmente seria vigiada e ninguém te trataria como uma pessoa normal, porque afinal quem confiaria numa pessoa que ressuscitou de repente não é mesmo. Por isso, eu precisava provar de uma forma racional que nada daquilo era culpa sua. A obsessão de Cory por sair desse lugar poderia te matar caso ele achasse que você era uma pessoa especial enviada pelo CAIG, então pense bem antes de falar que eu fui egoísta. E talvez nessa história toda você também tenha uma culpa parcial.

— Mesmo assim eu merecia saber? Eu fazia parte disso, sendo assim, as coisas poderiam ser de outra forma. – Relutava.

— Não tinha outra forma. Cory nunca me deixaria ir e quanto menos pessoas soubessem seria melhor. E caso eu morresse, eu não poderia fazer com que você vivesse com a culpa de saber que eu estava indo me matar. Então não há nada o que possamos fazer, eu sou humana também e estou sofrendo ainda mais por ter mandado Will buscar as sementes.

Eu havia perdido a discussão, contudo a questão era que algo dentro de mim ainda me incomodava, talvez seja o fato de que eu queira por a culpa em alguém por reviver a mesma história de algum tempo atrás.

— Eu não vejo mais esperança. – Desabafei.

— Talvez ela esteja escondida em um lugar onde não procuramos ainda. – Um silêncio permeou e ficamos pensativas por alguns instantes.

— Mas uma última pergunta. – A morena assentiu com a cabeça. – Onde foi que arranjaram um corpo para te substituir?

— Corpo? Do que você está falando? – Ela pareceu confusa.

— O corpo usado para a sua morte.

— Eu não sei de nenhum corpo. – Antes mesmo que pudéssemos debater sobre tal assunto, Zenaya apareceu na porta do cômodo com um olhar arregalado de seus olhinhos puxados. – O que foi que aconteceu?

— A Pietra acabou de chegar. – Disse a oriental ainda estupefata

— E o que tudo isso tem demais Zenaya? – Perguntei temendo a resposta.

— O Will, ele está junto com ela.


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