Will

1 Fevereiro, 2200, 13:00.

Uma retrospectiva era passada por meus olhos como um lampejo de uma vida inteira deixada para trás. Meu corpo podia estar vivo, porém a alma encontrava-se assolada entre os montes de terra do interior do planeta. Questionava-me o próprio eu que já havia se desfalecido dentro de mim, atrás de respostas que desafiam a mente humana e seus respectivos entendimentos e ações, sendo assim posicionava-me como um troféu num jogo de sorte ou azar entre a vida e a morte.

Estas foram às primeiras perguntas de reflexão que vieram à mente por estar em um lugar onde encontra-se o desconhecido. Uma confusão de emoções pairava por todo o corpo se pondo imóvel. Sentado sobre a areia fina com o apoio das mãos para manter o equilíbrio, estático fitando o mar de águas tão claras que percorrera todo o horizonte sob o sol escaldante. O medo o sentimento mais visível no momento não me trazia resposta alguma, mas sim preocupações que me deixavam ainda mais aflito. O silêncio transportado pela ventania excessiva fez com que me descontrolasse e soltasse um berro que ecoou todo o local:

— Porque eu? – o gritou se alastrou por todo o perímetro e um esguicho de choro começou a decair sobre meu rosto pálido.

As folhas dos coqueiros próximos movimentaram-se suavemente assim como as ondas marítimas que molhavam os dedos dos pés descalços. O quê fazer num território nunca visto antes sem nenhuma explicação plausível para tal acontecimento, onde aparentemente considerado um paraíso, no entanto pra mim sentia-me que não estava muito longe do inferno. Além da vestimenta, carregava comigo apenas uma mochila equipada e um relógio de pulso, mas o que fazer com essas coisas que nunca houvera visto igual antes, não quis nem ao menos checar o que havia dentro da mochila. Já era tarde demais para pensar no passado e o futuro era algo incerto, era inevitável não pensar no presente e espera que a fome e a sede me mate. Talvez isso seja coisa do destino como algumas pessoas dizem, não sou muito de acreditar em superstições, porém a esperança já havia se esgotado e porquê não analisar todas as hipóteses. Tudo que queria era acordar desse pesadelo, mas pode acreditar eu tentei, me belisquei varias vezes pensando que talvez estivesse em um sonho horripilante.

Passei segundos, minutos e horas olhando para um ponto fixo, refletindo a última frase dita por alguém considerado criador de minha desgraça “Sinto muito em dizer, mas você pode ficar ai para sempre.” Em meio aos meus pensamentos fui surpreendido por um coco que caiu ao meu lado deformando parte da areia fervente e isso fez com que acelerasse meu coração por meio de um susto. O peguei e coloquei o sobre meu colo, ajeitando-me em uma posição confortável, assim o choquei várias vezes contra algumas pedras com brutalidade até que se partisse ao meio. Bebi todo o liquido que havia dentro e com as próprias unhas comecei a arrancar todo o seu mesocarpo, raspando com cuidado, pois além do corpo totalmente enfraquecido não queria correr o risco de morrer sem partes dele. “Juntar a fome com a vontade de comer.” Este ditado se aplicou bem a minha situação momentânea.

Após o termino da refeição junto a isso a imagem do entardecer, os olhos foram se fechando gradativamente até que meu corpo estivesse estirado na areia, agora em uma temperatura agradável, desconecto da vida.