Loyalty escrita por Breno Velasco


Capítulo 1
Capítulo I - Lealdade


Notas iniciais do capítulo

Espero conseguir a atenção de vocês! Os primeiros capítulos serão testes. Espero de verdade que vocês gostem. Se gostarem, continuo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/503782/chapter/1

CAPÍTULO I - LEALDADE

Então, como estava dizendo... Lá estava eu, sozinho, sentindo o gosto de sangue e cuspindo-o para fora, aumentando a poça de minhas células mortas.
Nada fiz além de olhar para o avião que estava prestes a decolar, e a sombra do Hangar 3 consumir mais e mais minha alma. Não era preciso pensar muito para perceber que eu estava varrendo-me deste mundo.
Minha visão começou a ficar turva e vermelha, ao longo de que via Ele andando até as escadarias da aeronave. Tentei ajoelhar-me entre tossidas. Mesmo afogando-me em meu sangue, consegui encará-lo - aquele rosto espantado, evitando olhar para os meus olhos mas não conseguindo.
Dei uma boa olhada na minha arma, M1911 - passamos por tanto juntos. "Harx" em ouro sempre brilhava em meus olhos à medida que deparava-me com os detalhes em prata dela. Eu ia chorar, mas sou homem e orgulhoso demais para isso.
– Lester! - Ouvi alguém gritar. Pelo menos ela estava lá por mim.
Mas já era tarde, segui meus instintos, mirei minha arma e puxei o gatilho.
Escuridão, apenas.

–----------------------------------------------------------------------------------------

14 de Junho de 2007.

Nada que eu ali fazia conseguia aquietar meu espírito.
Já fazia um tempo que deixei a Angel's Liberty para trás - desde quando eles começaram a me colocar para trás também. Lutar uma luta sem perdedor tampouco vencedor, não é uma luta, e sim perda de tempo.
Agente, assassino, "O cara que faz o que deve ser feito", pode me chamar do que quiser, mas eu tenho um nome: Lester Jiudish Harx, da família Harx muito bem conhecida nessas regiões do Norte. Uma família de domínio econômico impressionante, mas não é algo que muitos se lembram todos os dias - As pessoas me veem como um filhinho mimado e é bom manter essa impressão.
Passei por tantos campos de batalha, conflitos, guerras, infiltrações... Mas nada do que se vê em filmes - é pior, é nojento, sujo, inacreditável.
Mas eu gosto.
Bebo um pouco mais de Cognac Jenssen Arcana, e satisfaço um pouco mais a minha insatisfação. Levanto-me, e vou até uma cadeira próxima a uma janela. Sento-me, abro o vidro, e acendo meu cigarro Malboro.
– Posso lhe trazer alguma coisa? - Pergunta o senhor devidamente uniformizado.
– Claro, eu gostaria de um cinzeiro. E mais Cognac.
– Pois não. Permita-me oferecer também um charuto cubano, especial da casa.
– Certo, claro - Sorrio.

Ouço um sininho vibrar meus ouvidos; vejo-o cintilando, para todos os lados - da porta aberta, aparece ele: Lenn, meu chefe. Ele se aproxima, e senta na minha frente, logo à mesa.

– Boa tarde Lester.
– Já é boa noite - Olho para ele como quem vai a sorrir mas não o faz.
– Provavelmente - Os risos dele lembram muito os de um velhinho, mesmo ele não sendo nem fazendo esse tipo.
– O que te traz aqui, Lenn? - Olho o copo vazio, esperando por mais doses.
– Estou curioso a respeito de você, Harx. Três meses sem contato, nove sem trabalhar... Pensei que a ideia da demissão era tudo uma brincadeira ou algo que fosse passar. Como você tem vivido ultimamente? E por que estamos conversando no Novo México a uma hora dessas? Era para você estar em Nova Iorque.
O garçom aparece com meu cognac, e na outra mão um charuto com cinzeiro.
– Aproveite - Ele sorri.
– Obrigado - Retribuo.
– Então...? - Lenn espera minha resposta, enquanto ouço o bem tocado Can't say goodbye to Yesterday, por algum velinho qualquer do bar.
– Pois bem, não tenho feito nada que preste. Muita bebida, muitas prostitutas... E basicamente isso - Acendo o charuto e coloco-o na minha boca - Tenho trabalhado como instrutor num campo de tiro, ganho bem, e é isso.
– E você está satisfeito com essa vida? - Os olhos cansados dele me inspiram na resposta.
– Sim, muito.
– Por que não volta, Lester? Você sabe que o Angel's Liberty é igual a nada sem você por lá. Além do mais, até a ONU está preocupada com o balanço nacional americano sem você para fazer algumas coisas acontecerem, se é que me entende.
– Não mato mais sem uma devida causa. Meus últimos meses na organização foi matar alvos que eu nem sabia quem eram, e nem encostava em seus históricos físicos.
– Lester, estou aqui pessoalmente, convocando-te para algo além de tudo o que você fez na Angel's Liberty, e preciso que você me ouça com muita atenção.
– Fala aí - Tomo minha bebida.
– Você já teve vários mestres; pessoas que te treinaram como filhos. Não sei quantos, mas sei de um: Ryan, um velho amigo meu.
– Sim, o que tem ele?
– Ele está se voltando contra o nosso próprio sistema. O capitalismo, o lucro de guerras, controle de capital, enfim. Digamos que ele está se abrindo a novos pensamentos, e como ele é um homem muito poderoso, isso é perigoso demais para nós do Norte do mundo, e principalmente para a Angel's Liberty.
– Por quê seria? - Respiro a fumaça.
– Porque o Ryan já foi meu melhor amigo, e depois da nossa briga, tenho certeza que ele irá querer vingança de mim - de nós, como um todo.
– E ele está certo. Eu deveria juntar forças com Ryan ao invés de você - que possui uma organização suja e sanguinária.
– Você tem um ponto - mas nós, da Angel's Liberty, estabelecemos um equilíbrio. O objetivo dele, por outro lado, é quebrar esse equilíbrio, ir diretamente contra nós, e virar um exército tão grande quanto dos EUA, Coréia do Norte e Rússia juntos. Ele quer estabelecer a paz, mas por meio de eventos a nível de destruição em massa!
– Como pode ter certeza? - Assim que termino minha pergunta, Lenn tira do bolso de seu terno uma folha, e estende sobre a mesa.

– Viu?
– E o que é isso? - Pergunto.
– Uma das bases dele. Ele já construiu Três de Cinco, e essa é a menor e primeira.
– Qual é o objetivo dele?
– Controle mundial.
– Mas ele quer paz, depois de tudo isso?
– Sim. Ele quer alcançar a paz por meio de sangue, e isso--
– Então é válido! Se ele quer paz, então está ótimo.
– Lester, você não está me acompanhando aqui...

Meu charuto estava para acabar - e que charuto bom era aquele.
Percebia aos poucos as movimentações dos garçons e os olhares disparados a mim. Estariam eles ouvindo nossa conversa e dando atenção para esta num movimento bar do centro? Olhei para o meu charuto, sorri, e dei mais uma inspirada.

– Lenn, sabe me dizer se Ryan já tem agentes para espionar membros da Angel's Liberty?
– Sim, recebi a confirmação hoje de um agente nosso. Ele começou a avaliar algumas estátisticas de--
– Ok, só queria saber disso mesmo. Pois bem, estamos sendo vigiados.
– Como assim?
– Veja.

Levantei-me, e mostrei mais de perto um risco manipulado no charuto - uma falha. Os garçons olhavam para mim constantemente.
Dei uma última tragada e, com as pontas dos dedos, joguei o charuto na mesa da recepção.
Todos eles gritaram, seguido de uma explosão que devastou metade do bar.
Civis gritavam desesperadamente, tropeçando nas cadeiras até a saída de emergência. Pouco a pouco, o lugar ia ficando mais claro pelo fogo que crescia de forma desorientada. Os garçons retomavam a consciência à medida que o calor alcançava suas peles.
Segurei o braço de Lenn e corri até a cozinha, que estava perto da janela.
– Que porra foi essa!? - O velho gritava como se tivesse ganhado em uma partida difícil de Bingo.
– Emboscada.
– Apareça logo, Lester! - Um dos garçons gritava, em meio a tossidos.
– Trouxe alguma arma, Lenn? - Perguntei, quase que murmurando.
– N-Não!
– Então use a minha. Vou tentar acabar com eles com a faca. Dê-me cobertura.

Corri pela porta e deslizei no chão infestado de cacos de vidro. Alguns fincaram na minha perna, mas tentei ignorar ao máximo a dor. O inimigo que estava logo à minha frente tentou atirar mas foi rapidamente surpreendido - segurei pelo pescoço dele, e o virei, posicionando-o como refém.
– Não atirem, não atirem! - O coitado gritava ao perceber que minha faca estava a um movimento de seu pescoço.
Todos os poucos civis que ali estavam conseguiram escapar entre gritos, mas sobraram 3 garçons que miravam constantemente em mim. Ajoelhei-me com o refém, e peguei a arma dele que havia caído no chão - uma Makarov - levantei e mirei em direção aos outros. Começaram a atirar, matando o próprio companheiro, fazendo com que eu tomasse abrigo atrás das mesas.
– Apareça! - Gritou o homem que deveria estar servindo meus drinques.
Lenn apareceu e atirou às cegas, acertando por sorte um deles na perna. Aproveitei a situação e atirei na orelha de um, que caiu no chão em prantos. Mirei no outro e consegui atingir seu peito, mas ele estava com colete.
Minhas balas acabaram, então usei a própria arma a meu favor - Joguei no "garçom" que foi atingido, e consegui causar dor a ele por um instante, o suficiente para correr e poder atacar seu braço com minha faca. Finquei-a, sem puxar de volta, ouvindo apenas gritos.
Lenn apareceu gritando de alegria, quando foi atingido na barriga por um inimigo que estava deitado, com a perna sangrando. Ele estava ao meu lado, então chutei sua cabeça quando percebi. Seu nariz quebrou e ele ficou desacordado.

– Seu idiota! - Gritei, ao mesmo tempo que ouvia os gemidos de Lenn, num repetitivo "Ai ai ai ai".
Fui na tentativa de salvar o velho, que ao invés de passar a mão sobre meus ombros, tentava agarrar a barba do meu queixo. Um tapa foi necessário para que pudesse colocá-lo em minhas costas. Segurei minha M1911 que estava caída no chão e fui até a saída.
Já com ele nas costas, fui surpreendido por homens fortemente armados. Pareciam da Marinha mas suas roupas eram pretas, e não havia farda tampouco identificações. Um "Parado" fez eu seguir a ordem. Joguei a arma no chão e levantei meus braços, enquanto ouvia os gemidos de Lenn.

– Sabemos da sua história, Lester! - Um dos soldados falava, enquanto outros soldados traziam civis para o local. - Você vai me dar umas respostas, e os civis viverão. É bem simples.
– Fale logo.
– Qual é o seu nome inteiro, e para qual organização você trabalhava?
– Lester Jiudish Harx. Sou membro da Angel's Liberty.
– Hmm... Isso requer atenção! - O soldado retirou sua pistola e atirou em um civil, que caiu feito pedra no chão.

Aquilo tirou tanta minha atenção... Fiquei com muito ódio, raiva, rancor, arrependimento... Deveria ter agido diferente? Deveria ter feito algo antes? Enquanto eu via aquele corpo caindo, nada podia fazer senão olhar e não me contentar com a situação estática em que eu estava. Por mais arrogante e mesquinho que eu possa ser, sempre lutei pela paz, e nunca matava qualquer um.
A injustiça era minha pior inimiga.
Sem pensar, fui a pegar a arma que estava no chão. Quando alcancei-a, ouvi um disparo. Olhei para trás e só havia sangue. Minha perna estava cheia de sangue, e algumas partes de carne saíam pelo buraco.
– Você se acha espertinho, né!? - O soldado gritava e continuava, mas meus ouvidos já não ouviam.
Tudo o que eu ouvi foi um disparo mais agudo, mais forte. Um tiroteio começo mas rapidamente se cessou - todos os 4 soldados ali presentes faleceram.
– Lester! Lester!!
Eu conhecia aquela voz. Mas tudo o que eu podia ouvir de fato eram os gemidos de Lenn. A dor que eu sentia na perna causava uma irritação calorosa no meu peito, que como uma agulha gigante, penetrava nos meus olhos trêmulos de ansiedade e força para lutar. Tentava me levantar pouco a pouco, presisionando a mão no furo, enquanto sangue escorria pelas minhas unhas.
– Você está bem, cara!? - O foco vinha lentamente quando eu olhava para ele.
– Sim, Aldrick.
– Vamos logo, preciso tirar você daq-- Ele falava mas o interrompi.
– Carregue o Lenn. Eu consigo me virar.
– Mas--
– Vá!

Aldrick segurou Lenn pelas costas, como um bebê, e correu rumo à rua. Eu fui também, mancando, mas consegui.
À minha frente, alguns prédios. A rua se estendia pela minha esquerda e direita. Não sabíamos o que fazer, tampouco as pessoas que olhavam para nós. O lugar pegava fogo, e precisávamos tomar distância.

– Morpho, responda! Precisamos de evacuação imediata!
– Aqui é Morpho. Indo ao local o mais rápido possível.
– Lester, o helicóptero chegará daqui a pouco. - Fiz sinal de OK para Aldrick.

Tudo o que eu queria era tomar algo e fumar, e agora estava fugindo de garçons assassinos. Eu preciso sair dessas férias.
Os que viam, se aproximavam e perguntavam se queríamos ajuda, ou se estava tudo bem - mas a maioria olhava para o fogo no bar, que não parava.

– Hey, vamos subir o prédio. O helicóptero não conseguirá pousar aqui.

Eu e Aldrick, com Lenn, entramos pelas portas principais do prédio, alcançamos as escadarias e começamos a subir. A única pessoa que eu podia confiar estava arriscando sua vida por mim e pelo nosso chefe - é um clichê dramático que eu não podia largar mão de ter, no mínimo, uma vez por mês.
No quarto andar, ouvimos um "Bum" que, sem dúvida, foi o bar desabando. Eu ainda vou enterrar aquele corpo inocente.
Chegamos no terraço. Morpho estava se aproximando e demos o sinal.

– Aldrick... Como sabia que eu estava aqui?
– Desde quando você saiu da Angel's Liberty, Lenn requisitava minha ajuda como guarda-costas dele. Sem você na organização, ele passou a ter medo. Foi então que eu vi o tiroteio e agi imediatamente.
– Você demorou para vir. O que estava fazendo?
– Flertando uma donzela.
– Um feitio seu que vai acabar em mortes.
– E acabou em alguma morte, por algum acaso?
– Não sei, como a moça está?

Aldrick me socou, mas não doeu.
Morpho praticamente encostava no prédio. Subi primeiro para poder dar assistência a Lenn. Deitei-o em três bancos. Segurei a mão de Aldrick, e puxei-o para o helicóptero. Este, ascendeu-se, que começou a cortar o ar. Já estávamos voando para um lugar mais seguro, quando vimos outro helicóptero a nossa busca, disparando na casca.

– Continue, continue! - Aldrick gritava para o piloto.

Eu, com uma faca, retirava a bala fincada no meu músculo. O processo foi doloroso, mas aliviador. Passei álcool na ferida, uma pomada de cicatrização, apliquei os pontos e enfaixei.

– Por que você está agindo como se não se importasse com os tiros, Lester!? - Aldrick estava louco.
– Porque eu não me importo - Respondi.

Nosso helicóptero estava começando a soltar fumaça. Abri a porta e pulei. Ouvi os gritos de Aldrick no processo.
Aterrissei, com muitos rolamentos, num prédio que estava à 5 metros de distância do voo. Bati meu corpo de forma muita rápida, abrindo os recém pontos que eu havia colocado na perna, e jorrando o sangue novamente - mas eu tentei ignorar ao máximo, então estava bem. Levantava-me como se tivesse em câmera lenta, apenas encarando para o helicóptero que não nos deixava em paz.
Ele parou, tentando acertar seus disparos em mim. A máquina estava logo acima da minha cabeça quando eu pulei e alcancei as barras de pouso. O piloto passou a fazer manobras evasivas, para que eu caísse - mas eu segurava tão forte que não sentia as mãos.
Do helicóptero aliado, Aldrick passou a disparar no vidro frontal do inimigo, trincando-o, mas não acertando o piloto. Para o vidro ter aguentado um impacto de calibre 7.62, deveria estar muito bem blindado - logo, não importando o que Ryan estava com a cabeça, ele estava nisso a sério.
Abri a porta do piloto. Vi ele tentando pegar sua pistola mas fui mais rápido que isso - peguei-o pelo pescoço, e joguei-o para fora. Subi no banco do piloto, e olhei para os botões. O helicóptero estava perdendo o controle, e do vidro, eu podia ver e ouvir pessoas assustadas e gritando com uma máquina pronta a colidir com eles. Consegui fazer o helicóptero subir mas ainda estava em estado de alerta - ele ia colidir e eu não podia fazer nada.

– Zulu 10, responda! Zulu 10! - Em meio a vários bipes de helicóptero e um sinal de DANGER gigante na minha frente, ainda podia ouvir o que a caixa de som me dizia.
– Aqui - eu encarava melancolicamente o chão que estava a vir.
– Qual suas condições?
– Eu ainda estou vivo seus filhos da p--
Por um tempo fiquei inconsciente, mas não demorou muito para a explosão se tornar um zunido interminável.
–---------------------------------------------------------------------------------


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.POR FAVOR, comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Loyalty" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.