POV. Steve Rogers

Fico zonzo por um instante, mas logo percebo que estou gritando ordens por todos os lados.

– Thor, leve Sam e Trip para o laboratório. Clint, leve Simmons para lá também; Pietro, leve Fitz também. Wanda, siga-os, faça o que for necessário para curá-los. – Eu estava sentindo minha respiração ficar pesada. Nada podia dar errado. Eu não acredito que isso aconteceu em minha ausência. Qual o meu problema? Que tipo de líder eu sou?

– Stark. – Chamei – Rastreie Ultron como puder. Se ele piscar eu quero ficar sabendo. Toda e qualquer informação eu quero que seja passada para mim. Banner, vá para a oficina. Veja se Ultron levou algo. Cheque se ele deixou alguma pista, por menor que seja. Depois vá ajudar Stark, para então vocês dois tentarem pensar em algo que possa deter Ultron. Fury e Hill. – Chamei, sabendo que eles não estavam assim tão machucados – Vão com Wanda e auxiliem no que ela precisar. Nat, escolte Coulson, May e Ward – Que eu notei não terem maiores ferimentos – para o meu quarto. Eu vou olhar a sala na qual Os Gêmeos e Ward ficavam para ver se tem algo errado. Vão.

– Steve, eu não acho que seja a melhor ideia. – Disse Stark, se aproximando – Precisamos...

– Tony, me desculpe, mas não há tempo para isso. Não temos tempo para discussões. – Retruquei, com tom de quem encerra a conversa; mas aparentemente Stark não deu atenção a isso.

– Realmente não há. Então tente me escutar dessa vez. A gente tem que se focar em entender o que aconteceu aqui. Cuidar deles agora não é a melhor saída, temos que interrogá-los para...

– Não é a melhor saída? Não é a melhor saída?! – Perguntei, me virando para ele com violência – Stark, eu não vou ficar aqui escutando você dizer o que devo ou não fazer. Principalmente quando isso significa pressionar nossos companheiros que já passaram por tanta coisa. – Me aproximei ainda mais dele, ameaçadoramente – Agora vá.

Eu vi que ele ainda queria discutir, mas franziu a boca e finalmente se encaminhou para rastrear Ultron.

Imediatamente depois cada pessoa faz o que mandei fazer, enquanto eu sentia que ia desabar a qualquer momento. Mas me mantive firme, e fui até a sala em que os prisioneiros ficavam outrora – ainda que cambaleando um pouco.

Quando cheguei lá, vi que não tinha nada. As coisas continuavam da mesma maneira que deixamos antes de sairmos. Ele não tinha passado por aqui.

Voltei e me encaminhei diretamente para o laboratório, mas sou interrompido quando Natasha me chama pelo ponto eletrônico:

– Steve, é melhor vir aqui. – E desliga. Eu suspiro e mudo meu rumo para o meu quarto. Eu a encontro junto de Ward, May e Coulson. Ward estava paralisado, aparentemente muito perturbado por não ter conseguido fazer nada para tirar Skye das mãos de Ultron.

– O que foi? – Perguntei, entrando e me sentando ao lado de Natasha.

– Acho melhor ouvir o que Coulson tem a dizer. Pode ser importante para entendermos o que houve aqui. – Disse Nat.

– Bem... – Começou Phil – Houve uma batalha bastante violenta, mas isso não vem ao caso. Depois de lutar um pouco conosco, Ultron avançou em Skye. Triplett foi rápido o bastante para ficar na frente de Skye; Ultron mudou, parece ter ido de modo captura para extermínio, algo assim. Seu corpo brilhou mais que antes e seus dedos se juntaram no braço erguido para frente. Então esse mesmo braço atravessou a barriga de Trip.

Senti Natasha enrijecer os músculos ao meu lado. Eu mesmo me senti tonto por um instante, pensando no acontecido.

– Ele jogou Triplett para longe, fazendo-o bater na parede. Então pegou Skye e falou algo... Que tinha alguém que queria vê-la, e ele poderia finalmente fazer com ela o que ela merecia. E desapareceu. Logo depois vocês chegaram.

– Mas o que diabos ele quis dizer com isso? – Perguntei, depois de um tempo de silêncio absoluto. Natasha permanecia rígida ao meu lado, e eu sabia o que isso queria dizer; eu quase podia ouvir seu cérebro maquinando para tentar desvendar o significado daquilo tudo.

– Não dá para saber ao certo; parece que ele está trabalhando com mais alguém. – Disse May, para minha surpresa. Eu ainda não me acostumei com a voz dela... É tão raro ela se fazer ouvir que demora um pouco para eu decorar.

– E alguém que conhece Skye há algum tempo. Já que ele disse que “finalmente” faria com ela o que ela merecia. – Disse Coulson.

– Eu acho que posso ter uma ideia. – Disse Nat – Skye não disse que...

– Hã, Cap? Pode vir aqui por instante? É, tipo, urgente. – Disse Wanda no ponto eletrônico. Com medo do que iria encontrar lá, – a palavra “urgente” me assustou um pouco – peguei a mão de Natasha e supliquei com os olhos enquanto pedia:

– Pode vir comigo, por favor? – Ela olhou para mim com uma pontada de raiva por ter sido interrompida por mim, mas isso logo sumiu quando ela viu minha agonia. Assentiu e veio comigo, enquanto dizia para Coulson e May que logo voltaria para terminar a conversa.

Eu chego ao laboratório e Wanda logo zarpa para falar comigo. Parecia ansiosa para falar algo. Não sabia dizer se era a ânsia para se mostrar útil ou a aparente seriedade da situação.

– Eu consegui cuidar de Fitz-Simmons fácil, não precisei gastar muita energia. Wilson está bem, mas... Não sei se o agente Triplett... Quer dizer, o estado dele está bem sério. Eu não sei bem o que fazer, e Simmons está se desesperando por também não ter ideia de que atitude tomar.

Sinto meu estômago descer até meu pé. Eu não podia perder Trip. Não. O avô dele serviu comigo, ele estava na minha divisão na Guerra. Eu não podia me dar o luxo de perdê-lo. Que tipo de líder sou eu?! Qual o meu problema?! Eu não posso deixar Trip ir, eu não posso.

– E se... – Comecei, a garganta seca – E se você usasse o tipo de magia que sua energia ainda não permite? Se você fizesse qualquer tipo de saravá (n/a: explicação em https://www.youtube.com/watch?v=R3kA6rHWoDo) que nunca usou antes para tentar...

– Rogers. – Disse Wanda – Seja realista. – Eu vi em seus olhos algo parecido com consolo.

Eu não queria aceitar. Sentia minha respiração ficar mais e mais ofegante. Escuto uma risadinha e, ao olhar, vejo um sorriso no rosto de Trip.

– Ah, qual é, Cap. Não importa. – Ele disse – Eu não ligo. Eu tentei salvar um amigo e isso me dá a paz que preciso. Está tudo bem para mim. Meu avô sempre dizia uma coisa: Quando sua hora chegar, você tem que recebê-la de braços abertos e sorriso no rosto. E é isso que eu vou fazer. Morrer como meu avô morreu: Feliz e conformado. – Ele começa a tossir e eu sinto minhas pernas ficarem bambas – Só tenho dois pedidos: - Disse ele com a voz fraca – Salvem Skye e... E não deixem ela se culpar por isso. Por favor.

Escuto ao meu lado Simmons se desesperar e lágrimas e mais lágrimas caírem de seu rosto. Ela tenta falar alguma coisa, mas não consegue, só balbucia e soluça.

– Não... Simmons. – Disse Trip com um tom de reprovação – Pode parar. Está tudo bem.

Fitz abraça Simmons tentando consolá-la, suas próprias lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Notei seus tiques aumentando cada vez mais na região das mãos.

– Ah, qual é. – Reclamou Triplett – Eu não quero ver lágrimas aqui não, cara. Vocês não são assim. – Sua voz falhou na última palavra e ele começou a respirar mais pesadamente – Estão sempre sorrindo e é assim que eu quero ver vocês. Ah, inclusive: Por favor, abram os olhos. Abram os olhos um para o outro. Estamos todos esperando isso. É só o que peço. – Então olha para mim e diz, um sorriso estampando seu rosto: - Por favor, traga Skye sã e salva. – Então o brilho de seus olhos some.

Ao meu lado, escuto explodir o estardalhaço do desespero de Simmons, condensado em choro. Esse som me fez me sentir tão mal, mas tão mal...

– Trip se foi. – Falei no ponto eletrônico para todos, minha voz sem emoção alguma.

Continuo ouvindo Simmons desabar ao meu lado, fazendo com que a culpa que já sentia fosse crescendo cada vez mais e mais, até se tornar sufocantemente insuportável.

Naquele momento, fiz uma promessa.

Acharia Skye e vingaria Trip nem que fosse a última coisa que fizesse. Custe o que custar.

Ultron acaba de assinar sua sentença de morte.