É isso. Quando você descobre que vai morrer, tudo muda, seus pais, seus amigos, as pessoas, e você. Mas não se desespere, siga apenas o protocolo, se não funcionar, era para ser assim. Algumas semanas depois, já compram o lugar que vai ficar seu caixão. E então, por alguns minutos, você começa a chorar. Fica com um peso sobre seus ombros e seu coração acelera. Mas, é diferente, nesse momento eu não choro. Meu médico está fora da sala, contando para meus pais que não há mais esperança para mim. Eles começam a chorar e se abraçam. Mordo meus lábios e olho para a janela a minha direita. Está nevando, é véspera de Natal. Florença pode ser mais bonito de dia do que a noite, mas dessa vez, as luzes douradas piscavam e as decorações de natal davam um charme para a cidade.

Nesse momento a porta é aberta e vejo minha mãe entrar. Ela estava com o rosto molhado e inchado. Me sinto culpada por isso, se não fosse essa droga de doença, ninguém estaria assim, ninguém estaria chorando, e eu não estaria em uma cama hospitalar.

– Oi – Ela diz engolindo o choro que estava por vir. Apenas assenti. – Eu nunca quis que isso acontecesse com você.

– Eu sei – Sorri fraco e segurei sua mão que ela logo apertou e não soltou mais.

– Por isso, que vou lhe deixar livre – Ela comenta e sorri. Eu franzi a testa, minha mãe nunca fora de dizer “Bem, você pode morrer agora e nunca mais voltar”. Ela me abraçou levemente. – Agora vamos logo, se não eles vão nos pegar!

Eu arregalei os olhos. Ela chamou meu pai que logo apareceu. Ele me abraçou e disse que me amava e me pegou em seus braços. Eu não entendia nada, então apenas notei que ambos estavam com medo. Minha mãe correu até em frente e abriu as portas da varando do Hospital. O vento frio logo chegou bruscamente fazendo com que meu pai andasse mais rápido. Quando estávamos na varanda, minha mãe foi até uma mochila e veio até mim. Meu pai me colocou em um banco e olhou para mim.

– Vista isso – Minha mãe me deu uma blusa verde de lã e fiz oque ela pediu.

– Oque está acontecendo? – Perguntei curiosa. Eles ficaram calados.

– Você pode fazer algo muito importante para nós? – Papai perguntou. Assenti depressa.

– Diga que você acredita na esperança, e em Neverland – Minha mãe disse. Franzi a testa.

– Porque? – Perguntei decepcionada.

– Você assentiu que faria – Meu pai alertou. Bufei.

– Precisa fazer isso por nós, Ellen – Minha mãe sussurra.

Assenti para mim mesma e cogitei as palavras calmamente:

“Eu acredito na esperança, e em Neverland”

Meus pais começaram a ficarem angustiados. Mamãe colocou a mochila em minhas costas e me deu um forte abraço. Meu pai beijou minha testa e ambos os dois disseram “Eu Te Amo”.

Por um momento, eu achei que eles fariam algo louco, como me jogar do prédio de 5 andares ou eles se jogarem. Mas meus olhos se arregalaram e eu não sabia mais como se respirar. Uma sombra de uma pessoa apareceu entre a escuridão de Florença e veio até mim, ele hesitou quando olhou para meus pais mas continuou chegando até mim. Eu não respirava, meu coração estava parado e eu me desliguei do mundo. A sua mão tocou a minha e eu deixei que a sombra me pegasse em seu colo.

– Nós te amamos querida! – Minha mãe gritou.

– Eu também amo vocês! – Eu gritei de volta. Havia chegado minha hora, minha hora de ser esquecida por todos. Um anjo negro havia me buscado, e eu acreditava em tudo. Eu não conseguia ficar assustada ou com medo. De alguma forma, eu sentia que fazia parte de outro mundo.