Sagira escrita por Senjougaha


Capítulo 2
Capítulo 2 - Sendo morta!




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Quando consigo parar de tremer, ele me arrasta pelo mundo dos humanos. Eu vivia ali. Não havia motivo nenhum pra ter sido levada ao hades quando tinha uma vida pacífica com humanos. Japoneses também são humanos!

– Ainda não entendi porque estou presa a você – resmungo enquanto o sigo.

Aguardo alguma resposta ríspida, como as que sempre tive até agora. Mas recebo o silêncio. Suspiro.

– Você tem uma facilidade muito grande de se infiltrar em outras culturas e causar problemas – ele disse por fim.

– Não causei problema algum no Japão – eu digo pensativa.

Não causei, certo?

Tanatos parou de andar e acabei dando de cara nas suas asas.

– Tsukuyomi ter se apegado a você foi problema o suficiente – ele resmunga mal humorado – seu pai me deu muita dor de cabeça por causa disso.

– Tsukuyomi? – pergunto tentando me lembrar de quem é.

Tanatos me lança uma carranca.

– Aquele deus da lua japonês? – pergunto me encolhendo diante do seu olhar dourado e fulminante.

– Sim. Aquele deus da lua japonês – ele me imita numa voz irritante.

– Nos tornamos amigos e é só isso – semicerro os olhos apesar de me lembrar de alguma confissão.

Ele me encara.

– Além do mais, isso não é problema perto do que meu pai mesmo fez – dou de ombros – não tive filhos com nenhum deus de outra cultura.

Ele puxa a corrente, mas dessa vez sua intenção é realmente me machucar. E conseguiu. Meu pescoço já deve estar sem pele, pela ardência na nuca. Gemo e resisto ao instinto de passar a mão onde dói.

Consigo compreender através disso, que aquele assunto era proibido. Na verdade apenas compreendo que deuses gregos são egoístas.

Paramos em frente a uma casa vitoriana. Uma mansão, melhor dizendo.

– Observe tudo o que eu faço com atenção – ele ordena – talvez eu encontre utilidade pra você.

Arqueio a sobrancelha. Nada melhor que ser a assistente de Tanatos.

Ele abre o portão gigante com facilidade, emitindo um ruído. As plantas nesse lugar parecem estar sem ver um jardineiro a um bom tempo, mas sei que não é pra aparar as flores que estamos aqui.

Sinto cheiro de alguém morrendo e faço cara feia. Tanatos me repreende.

– Consegue encontrar a pessoa pelo cheiro, certo? – ele pergunta.

– Eu não vou farejar ninguém se é o que está pretendendo – resmungo.

Ele puxa a corrente, mas dessa vez estou preparada e acompanho antes de ser arrastada bruscamente. Paro bem perto dele, que está surpreso e dou um sorriso singelo. Mas logo ele se recupera e volta a me arrastar.

Pelo jeito, ele não consegue encontrar o velhote.

– Ele está tentando escapar da Morte – Tanatos ri sarcasticamente.

Reviro os olhos e puxo a corrente na direção do cheiro. Tanatos franze o cenho.

– Ele está ali – digo cheirando o ar – o cheiro está forte.

– Pensei que não fosse farejar nada – ele zomba.

Dou de ombros e dessa vez vou na frente. Me sinto envergonhada, realmente pareço uma cachorra agora.

Sigo o cheiro de podridão e agora me deparo com um outro jardim. Este está mais bem cuidado e o cheiro de flores confunde meu nariz. Rosno.

– Vou matar esse velho – resmungo.

– Velho? – Tanatos pergunta curioso.

– É um velho – digo com toda certeza do mundo – tem cheiro de velho.

– Você é estranha – ele afirma antes de chutar uma pedra.

Finalmente consigo localizar o cheiro novamente. Vem de um amontoado de crisântemos. Ótimo!

– A família do velho não precisará comprar flores pro enterro – penso em voz alta e inesperadamente, Tanatos ri.

Paro diante dos crisântemos e me agacho, fazendo sinal para que Tanatos faça o mesmo.

– Não estamos caçando, Sagira – ele diz hesitante, mas faz o mesmo.

Logo, vejo um velho por entre as folhas. Ele está sentado, com expressão triunfante de “vivi até agora, não será agora que morrerei”. Ele sabe que estamos aqui. Tem uma espada de bronze celestial ao lado dele, sendo segurada firmemente por suas mãos senis.

Tanatos se levanta e suspirando faço o mesmo. Mas o velho é muito mais rápido do que imaginávamos. Ele me puxa, me surpreende com uma arma de choque e me deixa imobilizada, apontando a espada para a minha garganta.

– Serei o humano que matará a morte! – ele exclama louco.

Não consigo me mover um milímetro. Que tipo de arma de choque esse velhote carrega pra cima e pra baixo? Eu suportaria o triplo do que um humano poderia.

– Solte ela – Tanatos pede, calmo.

O velho franze o cenho e percebe que não sou Tanatos e que o mesmo está intacto bem à sua frente. Decepcionado, ele olha meu rosto, como avaliador.

– Você é bonita, mas... Não tenho utilidade pra você quando estou na beira da morte – ele diz e corta minha garganta.

E eu caio, jorrando sangue.

Tanatos entra em desespero. Mas não o entendo. Ele mesmo disse que sabia que eu não morro.

– Vai morrer mais cedo – Tanatos diz antes de torcer o pescoço do velho, que cai no chão com os olhos sinistramente abertos.

Desmaio, mas pelo jeito, acordo logo. Ainda há sol e não estamos no submundo, o que é bom.

Viro meu corpo para cima e olho para baixo. Estou com roupas limpas, o que me faz ficar irritada. Odeio acordar com roupas diferentes quando sei que não fui eu que me troquei.

Me sento e luto contra a tontura que sinto antes de me levantar cambaleante.

– Você demorou acordar – Tanatos diz, me assustando.

– Olha, acabei de voltar – reclamo colocando o cabelo comprido atrás da orelha – não me mate de novo.

Ele sorri e dá um leve puxão na corrente.

– Você faz isso porque não é no seu pescoço que tem esse treco preso – reclamo - não fica andando por aí e se sentindo um cachorro.

Ele fica quieto. Levanto o olhar para ver o que o mantém calado, quando me deparo com seu olhar de culpa e um pedido mudo de desculpas. Fui pega de surpresa.

– Vamos voltar – digo eu tentando mudar o assunto.

Ele assente e viaja nas sombras.

Dessa vez ele pega no meu braço, ao invés de deixar a coleira me arrastar. Já é um começo.


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