E pela milésima vez, os olhos azuis escuros estavam espiando pelo espaço que os livros mantinham com a estante. A enorme biblioteca refletia a luz alaranjada que o sol proporcionava a eles. Ela olhou no relógio e viu que era quase noite, seus pais iam matar ela. A jovem bufou irritada por tudo aquilo estar acontecendo e revirou os olhos ao se lembrar que seu irmão agora era o centro das atenções. Respirou fundo e ergueu o olhar. Ela precisava daquele livro... Era o ultimo que faltava para ter completado a coleção de livros daquele autor...

A jovem esticou a mão e rezou mentalmente para que o pequeno braço alcançasse o livro... Xingou até a última geração da bibliotecária por ela ter posto aquele livro importante na última prateleira... Ela nunca se lembrava que existia pessoas baixinhas naquela escola? Ou seria algo pessoal?

Só mais um pouco...

O pé já estava na meia ponta e ela agradeceu até o final, o fato da mãe dela insistir para ela fazer aulas de ballet. Os dedos esticados o máximo que podiam, a mão toda hora se virando, tentando procurar um ângulo bom para alcançar o livro. Ela apertou os olhos, como se aquilo fosse ajudar em alguma coisa.

Sem perceber ela se segurou na estante. Talvez se conseguisse um empurrãozinho... Um apoio... Algo fixo para que pudesse se impulsionar... Automaticamente, ela colocou os pequenos pés na ultima prateleira, fazendo com que ela aumentasse dez centímetros... Mesmo assim ela continuou esticada.

Ela jogava força para esticar e aumentar de tamanho. A ponta do dedo do meio sentiu de leve a textura do livro de capa grossa. Aquilo fez com que ela se empolgasse mais ainda e se esforçasse o dobro para alcançar o livro tão esperado. Ela tinha que ser rápida... O sol já estava quase todo escondido, daqui a pouco iriam fechar a biblioteca e ele iria embora...

Mais força em menos tempo.

Deu um leve pulo e finalmente a mão alcançou o livro. Mas assim que ela puxou o livro e pulou para o chão, ela viu a prateleira balançar para frente e para trás, ela engoliu em seco. Ela poderia jurar que viu tudo em câmera lenta. Ela puxando o livro e a estante balançando, na cabeça dela apenas uma certeza: ela seria esmagada.

Ela sentiu o baque do pequeno corpo contra o chão e o livro entre seus braços. Automaticamente, ela se curvou, ficando em posição fetal, esperando a pancada da estante contra si. Ouviu os livros caindo em volta de si, e alguns batendo nela, e aquilo fez com que ela se escolhesse mais ainda. Ela apertou os olhos e ficou esperando pela dor.

Pela dor que não veio.

Ela sentiu algo contra seu corpo e depois uma pressão mais forte e sufocadora. Ela queria se mexer, mas algo a impedia... Algo a cobria. Algo fofo e quente... Parecia um cobertor... Mas cobertores não são pesados ao ponto de não se mexerem... E não respiram e ofegam...

Ela abriu os olhos assustada e virou o rosto, apenas os 90º graus que seu corpo permitia. Ela estava de lado e aquele “cobertor humano” estava em cima dela, mas a cabeça estava atrás da sua...

De relance ela apenas viu... Uma cabeleira loira?

Engoliu em seco... Ele seria louco o suficiente para se jogar na frente da estante e protege-la? Sentiu a pressão das prateleiras sumir. Viu um pouco da luz que era tapada pela estante. O cobertor humano se mexeu e ela se mexeu também, ela acabou ficando em baixo dele, os corpos se encaixando perfeitamente. Os olhos se encarando... Ela sentiu o rosto aquecer quando viu o olhar de preocupação percorrer seu rosto.

- Por... Por que? – perguntou ela nervosa. Ele estava muito perto dela, ela não seria capaz de falar uma frase que tivesse mais de três palavras.

- Não pode me agradecer como uma pessoa normal? – resmungou ele. Ela fechou a cara para ele... Será que ela lia muito romance e imaginou que ele seria diferente?

- Obrigada. – resmungou ela virando o rosto. Não era assim que imaginou que seria.

É... Definitivamente teria que parar de ler romances.