Waisenkind escrita por HarpiahAvalon


Capítulo 2
Capítulo 1 - O aniversário.


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora para atualizar, mas eu trabalho, e estava preocupada com a escola... [fiquei de recuperação XD]



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No ano de 1942, havia um sentimento novo ameaçador no ar. Rumores de guerra se espalhavam pelo vento, enquanto Adolf Hitler e os nazistas assumiam o controle da Alemanha. No começo daquele ano, Hitler tinha tomado a Áustria; então marchou com os seus exércitos em partes da Tchecoslováquia. Quem fugia das garras do Fürher, vinha bater à porta da família Brady, para que eles lhe ajudassem.

 

Quase sempre saíam de lá com alguma ajuda em dinheiro e alimentos. À noitinha, Naomi e Sharon iam para a cama, enquanto Elisheva e Caleb ouviam as noticias no rádio. Muitas vezes, o melhor amigo de Caleb – O senhor Gordon – se juntava à eles, juntamente com a sua esposa Simone para que discutissem o que iriam fazer:

 

- Vocês têm que sair daqui – dizia Gordon com um semblante preocupado – Não é seguro para judeu nenhum que fique aqui.

 

- Nós não podemos sair daqui. – dizia Elisheva, com as mãos na cintura.

 

- E porque não? – perguntava Simone com um semblante calmo.

 

- Porque é nosso lar! Nós construímos tudo isso aqui!

 

- Mas agora eles vão destruir tudo. Além do mais, são capazes de fazer mal as suas pequenas filhinhas. – dizia Gordon, escolhendo cada palavra com todo o cuidado.

 

Elisheva deixou uma pequena lágrima escorrer, mas Caleb tomou a palavra:

 

- Vamos fazer de tudo para que isso não aconteça.

 

Simone e Gordon respiraram fundo. Agora era com eles.

 

Naomi e Sharon ficaram muito preocupadas. Não queriam ter que sair de lá. Isso significaria o fim da felicidade que tinham.

 

As duas voltaram para cama, mas ao contrário de Naomi, Sharon não dormiu. Ficou pensando em como seria a sua festa de aniversário de 12 anos. Nenhum alemão podia comparecer. Isso significaria não ver seus dois melhores amigos.

 

*-*-*

 

- O que você acha que seria legal o bastante para dar pra ela? – pergunta um rapaz de cabelos louros e curtos.

 

- Não sei – responde o outro que é quase uma cópia – o que acha de fazermos alguns doces? Ela gostaria muito.

 

- Eu só sei ferver água... – responde o louro de cabelos grandes.

 

Os dois ficaram pensando nisso durante bastante tempo, quando um deles que se chamava Bill diz:

 

- Já sei! Que tal darmos um diário?

 

- Boa idéia!

 

Os dois então foram até a venda da esquina com algumas moedinhas sem-vergonha, a cara e a coragem; para deixar alguma lembrança feliz à Sharon, que já não podia mais nem conversar com seus amigos.

 

Certa vez, os três foram ao cinema assistir “Branca de neve e os sete anões”, quando se depararam com uma placa dizendo:

 

                                

 “Não é permitida a entrada de judeus”

 

 

Sharon saiu de lá com o rosto fervendo, e os meninos, também indignados, seguiram-na com ódio no olhar. Sharon ficou o caminho todo a olhar para o chão, sentindo raiva de tudo o que lhe acontecera. Tudo por causa do Hitler.

 

Porque isso acontecia? Era tão simples deixar todos ficarem unidos! Eram coisas que Sharon não entendia.

 

A noite se foi tão rapidamente quanto veio. Sharon tinha vestido o seu melhor vestido: uma veste até o joelho toda cor-de-rosa, cheia de babados. Seus sapatos eram pretos e muito bem engraxados, brilhando ao sol.

 

Elisheva foi recepcionando os convidados com toda a calma. Seus irmãos chegaram com um pacote bem grande para sua menina, que tinha olhos brilhando de curiosidade e contentamento.

 

Sharon estava radiante e agradeceu muito aos tios pelo presente lindíssimo que tinha ganhado, já que naqueles tempos o céu predominava cinza e sem graça.

 

Tão logo se felicitou, logo se entristeceu ao ver a família naquele estado. Ela parecia amarga, tão diferente de tempos anteriores; que era grande e animada. Muitos primos e tios tinham sido levados para os lugares que ninguém ousava dizer o nome com medo de ser alguma azaração ou coisa parecida.

 

A saudade já a castigava muito, mas por enquanto, nada podia ser feito:

 

- Mas quem será? – perguntou em voz alta Elisheva.

 

Todos estavam jantando. Uma janta escassa, mas feita com amor e carinho para a aniversariante. Até sua irmã estava satisfeita por ver seus parentes reunidos.

Mas alguém batia na porta de trás. Todos ficaram se perguntando: ‘Quem será?’. Os convidados e os anfitriões estavam petrificados de medo; estariam todos mortos se fosse a Gestapo¹. Mas para o alívio geral não era nada disso:

           

- Oi Sharon! – disse um loiro de roupas largas.

           

- Parabéns - falou o seu gêmeo com roupas curtas e um pouco mais apertadas.

           

- O... O que fazem aqui? – pergunta Sharon, petrificada.

           

- Viemos te prestigiar oras. – disse Tom com cara de dã.

           

Sharon estava no último lugar da mesa e se levantou vagarosamente até a porta. Era uma loucura o que os gêmeos estavam fazendo. Eles eram os filhos de Simone e Gordon, um casal liberal que sabia lutar pelos seus direitos e que sonhava com o dia em que o Hitler cairia.

           

Os dois sabiam que se fossem pegos na casa de judeus, seriam presos e seus pais seriam mortos sem dó nem piedade. Então eles tinham que ser rápidos:

 

- Vamos Sharon! – dizia o de roupas curtas que se chamava Bill.

 

- Não podemos demorar! – reforçou seu gêmeo, Tom.

 

Sharon andou a passos largos e foi até a porta rapidamente. Bill lhe entregou um pacote embrulhado em papel vermelho cintilante com um sorriso enorme:

 

- Abra!

 

Sharon abriu cuidadosamente o pacote e encontrou um caderno muito lindo. Os olhos dela brilhavam:

 

- Um diário! Eu sempre quis um diário! – dizia ela quase pulando de alegria.

 

Todos da mesa estavam com medo, mesmo sabendo que eles eram alemães amigos. E se eles fossem pegos? E se eles fossem mortos?

 

Sharon abraçou os gêmeos com carinho, e os seus familiares sentiram ainda mais medo. E se eles fossem traidores e trouxerem mais problemas para a família? A dor de perder mais um ente seria demais:

 

- Agora precisamos ir. – disseram os dois quase ao mesmo tempo – Tchau Shar.

 

- Tchau... Tchau... – disse ela com o diário na mão.

 

Os dois gêmeos saíram em disparada. Sharon fechou a porta e abraçou o presente no peito. Ela se sentou enquanto todos terminaram de comer rapidamente e tratavam de dar o fora o mais rápido possível. E se alguém tivesse visto?

 

- Obrigada pelo jantar – dizia todos – Meus parabéns pequenina! 12 anos, hein?

 

- Muito obrigada.

 

Já não tinha mais nenhum convidado em casa, e Elisheva foi botar as meninas para dormir. Caleb sentou-se numa cadeira e refletiu durante muito tempo sobre eles terem que sair da Alemanha ou não:

 

- Querido? Venha se deitar – dizia Elisheva depois que colocou as meninas na cama.

 

- Hum... – ele parecia perdido em seus pensamentos – ah sim, já vou Sheva.

 

Caleb ficou sentado por mais alguns minutos e depois resolveu se levantar para se deitar. Amanhã ele teria um dia cheio.

 

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- Durma bem Sharon – falou Naomi para a irmã que se deitou na cama ao lado.

 

- Durma bem Naomi – respondeu a pequena para a irmã, feliz pelo desejo sincero.

 

- Sei que nós temos nossas desavenças – começou ela – mas eu te amo de verdade. Acho que na maioria das vezes não é o que parece... Mas eu sempre tive um pouco de ciúme e inveja de você porque você é linda demais.

 

Sharon corou, mas logo falou para a sua irmã:

 

- Você é linda Naomi. E não tem motivo para ter inveja de mim.

 

Naomi sorriu e se virou, tentando dormir. Sharon olhava sem sono para o teto do seu quarto. Os acontecimentos do dia foram muito especiais para ela, então ela ficou deitada relembrando. Um tempo depois o sono veio. Pesado e irresistível.

Sharon se entregou a ele sem medo. Pena que daquele dia em diante, eles nunca mais seriam os mesmos.

           

Depois de alguns minutos de sono, ela começou a suar. O que era estranho porque ela nunca suava enquanto dormia, mesmo sendo nas noites mais quentes.

Ela estava tendo um pesadelo. Talvez um dos piores da sua vida.

 

 

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A Gestapo era a garantia do completo domínio da população pelo Partido nazista.Ela foi a polícia política da Alemanha nazi.Um dos métodos de atuação de seus membros era disfarçando-se de operários e indo "trabalhar" nas fábricas; lá, eles aguçavam os outros operários para uma revolta contra o governo, a polícia secreta passava uma lista onde os operários que estavam a favor assinavam seus nomes. Durante a noite os operários que assinavam a lista recebiam uma visita de alguns policiais fardados e com um botton de um crânio e uma águia de ferro no quepe. No dia seguinte o operário era substituído por outro, pois ninguém mais o via. O bótom em forma de crânio é a caveira símbolo das SS, ou "totenkopf", em alemão. Foi inspirada no emblema de guardas prussianos do século XVIII. A Gestapo também era famosa pelo jogo de "gato e rato" que fazia com todos aqueles que julgava suspeitos. Em outras palavras, jamais prendia alguém imediatamente; mas estimulava suas supostas atitudes subversivas, para pegar não somente um suspeito mas, se possível, todos aqueles que com ele tivessem ligação.

Os métodos de interrogatório incluíam repetidos afogamentos de prisioneiros em uma banheira de água gelada; choques elétricos ligando os fios às mãos, pés, orelhas e genitália; esmagamento de testículos; levantamento do prisioneiro pelas mãos amarradas atrás das costas, causando a luxação do ombro (prática conhecida durante a Inquisição católica como o pêndulo); espancamentos com cassetetes de borracha ou chicotes e queimaduras com charutos ou ferro de soldar.

 


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Notas finais do capítulo

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