Secrets and Photos escrita por Makoto


Capítulo 1
O Príncipe negro e a Descolada antiquada


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, não me matem agora! Eu sei que eu tenho que terminar Margem Distante, mas essa ideia tava coçando na minha cabeça, então decidi postar.Mas eu vou deixar o prólogo por enquanto, quando Margem Distante estiver no décimo nono, vigésimo capítulo, eu continuo essa OK? Pra não ficar um monte de capítulos para eu atualizar .Boa leitura!



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Secrets and Photos

Capítulo um: O Príncipe negro e a Descolada antiquada.

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As gotas de chuva caíam sonoramente sobre o vidro da janela, reproduzindo pequenos baques enquanto estilhaçavam. Umas seguravam-se às outras, seguindo o caminho que lhes restavam, acompanhadas das semelhantes. Outras já percorriam a superfície solitárias, lentamente aguardando o fim, onde desapareceriam, perderiam a própria identidade em meio às poças.

Retirei os óculos, impaciente, e os joguei em cima da mesa. Traguei o cigarro levemente, que já estava encontrado o fim. Sim, conhecia todo o discurso sobre fumo e doenças pulmonares, mas que se dane toda essa merda, não conseguiria parar meu pequeno vício. Após um desgraçado da escola recomendar, caí na tentação e não voltei a ter pulmões saudáveis. Depois de quase morrer com uma parada respiratória, sustentava a mania com apenas um ou dois destes por mês; fumar aliviava as tensões, desviava pensamentos desnecessários.

Afrouxei a gravata violentamente, xingando aos ventos todos daquela maldita escola. Insistem tanto em teclar o mesmo assunto, repetindo os tópicos para os mais burros conseguirem acompanhar. Metade dessas inutilidades serão jogadas fora no final de tudo. Preferia estudar e adiantar conteúdos por eu mesmo; assim, não precisava perder tempo, e o merda do Ichinose não apareceria aqui com um envelope cheio de dinheiro.

O conselho pessoal sobre essa coisa de adolescente, arranjar montes de amigos e sair soltando arco-íris pela bunda. Jamais minta para alguém sobre você, nunca! Deixem saber o quanto você é uma merdinha, que deixa a cueca pendurada no banheiro quando termina de se banhar. Não importa o quão decepcionante seja pôr esperanças em você; ou pode acabar que nem eu.

O barulho repetitivo e irritante interrompeu-me os pensamentos, tomando conta do amado silêncio. Novamente a porcaria do celular, ninguém nesse inferno pode me dar descanso para reclamar da vida? ‒ A pirralha ainda completa a dosagem mudando o toque para essa música estridente e agitada...

‒ Aquela garota... mexendo no meu celular como se fosse amostra grátis. ‒ puxei o resto do cigarro da boca, jogando-o no chão, em seguida pisando, fazendo as cinzas mancharem o carpete. Que se foda. Agarrei o aparelho com raiva, controlando-me para não o jogar no triturador. Número desconhecido... ‒ Alô? ‒ balbuciei gentilmente, engasgando um pouco por mudar tão repentinamente o tom. Não é dupla personalidade, fingir ser uma merdinha gentil faz parte da rotina... uma rotina irritante e sem graça.

Este maldito disfarce que uso, para manter as aparências da família Ichinose. ‒ Uma vaga lembrança surgiu, enquanto esperava a resposta no outro lado da linha. Trouxe de volta do aperto na garganta, a tremedeira nas pontas dos dedos. Quase conseguia escutar com nitidez os murmúrios daquele dia, como se estivesse presenciando tudo novamente. Não saíam dos meus pensamentos, jamais sairiam...

‒ O- Oi! Ichi- Ichinose! ‒ despertei-me de súbito, endireitando a coluna. A voz do outro lado era nervosa e trêmula, um pouco mais fina do que esperava. Uma garota...? De novo...? ‒ Sou Tomori Aya, uma colega de classe. A gente fez o trabalho de matemática junto. ‒ não queria parecer rude, mas sendo sincero, jamais escutei esse nome em todo tempo que permaneci sem nenhum efeito de álcool. Deveria ser mais uma das inúmeras que estudam comigo, mas não importa. Essa Saya... Naya... Aya, tanto faz; deveria ter escolhido um momento menos inóspito para encher o saco.

‒ Desculpe Aya, é rude da minha parte dizer que não recordo. ‒ afastei o telefone da orelha impacientemente, suspirando comigo mesmo. Lá vem mais uma daquelas frases problemáticas. ‒ Foi bem gentil de sua parte me ligar. Obrigado. ‒ quase enfiei a mão na própria cara. Mesmo acostumado com essas atitudes, estava sem paciência naquele momento.

Quando finalmente pensei que voltaria a ficar em silêncio, a garota começou uma conversa sem precedentes, basicamente gaguejando a mesma coisa umas vinte vezes. Como não podia destroçar a imagem de “pessoa compreensiva”, larguei o celular em cima da cama, no viva voz, e fiquei respondendo Sim ou Entendo. Por isso não divulgo meu número, iriam ser conversas produtivas iguais a essa.

‒ B- bem, tenho que des- desligar. A- até amanhã, Ichinose! ‒ e desligou, enfim. Não sabia se existiram vários assuntos, ou se tentara apenas terminar a mesma frase. Somente sei que coloquei o celular no silencioso e bem longe do campo de vista. Posso até imaginar como essas garotas conseguiam meu número. Quem mais poderia oferecê-lo em troca de “favores”? Quando o encontrar, tomarei conta de que não consiga mais pronunciar uma sílaba.

Após o agradável incidente, resolvi tomar uma ducha demorada. Ao chegar no banheiro, deparei-me com o espelho de tamanho exagerado, revelando a figura lamentável, eu mesmo. Esta aparência abriu portas para mim, mas nada arrancaria tudo o que fiz a outras pessoas. Importantes ou não. Cometi diversos pecados, em tão pouco tempo de vida. ‒ abri a familiar caixinha de metal que depositava-se sobre a pia, observando o conteúdo minuciosamente. Deixei escapar um meio sorriso, enquanto encarava a personificação da decadência.

Dizem que somos o que somos, mas não temos que ser.

Era relaxante sentir o peso familiar sobre os dedos, o soar do “click!” repetitivo, a captura e a ruptura do tempo das mais belas paisagens. A sensação de poder parar o tempo usando apenas um botão. Aquilo enchia-me de uma ansiedade agridoce constante, uma calma que não poderia experimentar com nenhum outro passatempo. Fotografar era uma das maneiras que achei para escapar da realidade diária e monótona.

Torno momentos efêmeros, em enquadramentos eternos.

Uma cerejeira perdendo as flores, depositando uma a uma pelo ar, onde rodopiavam e dançavam a favor do vento, rosadas e delicadas; formava um belo cenário, romântico e refrescante. Apliquei um pouco de zoom na lente, espalhei um leve desfoque no fundo, dando destaque as manchas rosadas que caíam mais a frente, as pessoas atrás formavam borrões coloridos e manchados, dando a impressão de movimento.

Click!

Mais uma para a minha coleção das favoritas. Verifiquei para ver se tinha saído tudo como queria, e suspirei levemente, aliviada. ‒ Amava sair ao fim da tarde para capturar as melhores imagens, sem excesso ou falta de claridade, totalmente nos tons alaranjados do entardecer, ou o cinzento de uma tarde nublada. Viajava entre o quente e frio, adaptando o humor a cada uma delas.

Amarrei o suéter na cintura, para amenizar o tamanho da saia, ou a falta dele. Lavei o rosto numa pequena fonte ali, onde reuniam-se casais apaixonados ou não para apreciarem a chegada da primavera. O rosto ficou bem mais leve sem a maquiagem, dando-me uma sensação de alivio momentânea. Dedilhei a pele da nuca, sentindo a brisa acariciar onde antes havia o comprimento dos fios. Acabei cortando-os, sendo levada pelo momento, acho que tenho uma ponta de arrependimento; mas sempre se camufla quando sinto a brisa fazer cócegas no pescoço.

Estava bastante confortável para continuar.

Poderia repetir mil vezes que me sentia desconfortável em agir de maneira diferente na escola, somente para impressionar outras pessoas, para fazê-las gostarem de mim. Tenho medo da rejeição, da solidão, caso descubram sobre meus gostos peculiares ou não. Passei por uma situação semelhante antes, e aprendi que a maioria da sociedade vive sobre um padrão específico de ações e aparências; olham para a carcaça exterior e ignoram o que está dentro.

A vista dela, sou uma garota desleixada, mais desastrada e desatenta, gulosa e ignorante, que usa maquiagem cara, como todas as outras que estão na minha idade. A garota feliz que vive num castelo no fim do arco-íris. Que anda no próprio mundinho, com roupas arrumadas e bonitas, sempre fica ao lado de todos, mesmo quando estão errados ou injustos; concordando com tudo, alheia a tudo, acenando a cabeça para cima e baixo. Completamente neutra.

Não era verdade.

Não gostava de toda aquela maquiagem, das roupas caras e desconfortáveis. Não era tão alegre ou espontânea como dizem, nem desastrada ou desatenta. Todos possuíam os próprios segredos, não importando a magnitude destes. Por trás de conhecidos, ando sem maquiagem, sem me preocupar em misturar xadrez com listras. Com uma mania por limpeza, detesto ver coisas fora do lugar. Obcecada por fotografias, coisas antigas, tarefas domésticas, culinária.

Era o lado que não queria que conhecessem.

Somente aqueles que convivem comigo presenciam meus hábitos, e não se importam com eles, mas basicamente são a própria família. Afinal, após o “desparecimento” dos meus pais, eu e meu irmão começamos a viver às custas dos nossos avós, com o dinheiro que mandavam. Por isso, não tinha tempo para sustentar todos os luxos que a sociedade impunha, aquilo que tinha já fora da minha mãe, as roupas e maquiagem. Por isso prezava os momentos que passava longe dos padrões, sentia-me livre.

Click!

Capturei mais uma. A de um gatinho cor de carvão, com algumas machinhas brancas e olhos dourados. Tentava pegar uma pétala de cerejeira, com as patinhas levantadas e as costas deitadas sobre um banco. Lembrava-me Marshmallow, meu gato de estimação e membro oficial da família. Estava comigo desde que era criança. Com insistência minha, meus pais acabaram adotando o bichano. Era pretinho e tinha olhos azulados. Marshmallow foi ideia do papai, que pôs o nome ironicamente.

♚ ♛

Duas realidades.

Distintas e semelhantes.

Gentil, popular com garotas, inteligente e pertencente a uma família influente... Rude, impaciente, indelicado, cheio de cicatrizes. Ichinose Usui.

Desleixada, destaque na escola, amiga de todos, vaidosa, com mistérios que nem a mesma conseguia desvendar... Dona de casa, cuidadosa, sensível, apaixonada por fotografias. Asami Kei.

Segredos e Fotos serão revelados para ambos.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram do prólogo?! Se gostaram comentem, assim saberei que a história pode continuar!Desculpem qualquer erro, avisem se tiver algum ok?Até o próximo!