Sob as Asas escrita por FoxChan


Capítulo 5
Capítulo 4 - Tentação




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Fui até ele em três passou e o beijei abraçando-o pelo pescoço. Ele de início abraçou minha cintura e começou a retribuir meu beijo, mas quando eu levei a língua à dele, ele se separou de mim, ainda me segurando pela cintura, para que eu ficasse longe.

– Não faça isso – ele pediu.

– Me desculpe. Foi mais forte do que eu... Eu quero você.

Ele apertou minha cintura. Mas desta vez como se tentasse manter distância.

– Não posso. Você não pode.

– Por quê?

– Você é casada.

– E daí? Eu já fui traída. Todos já foram. Não me importo de fazê-lo desde que seja com você.

– Eu importo-me. Eu estou a tentar manter-me no meu canto há anos; não quero confusão. Confusão aqui pode chamar a atenção lá de cima. E temo o que eles me podem fazer.

Eu me afastei. Não sabia que isso podia prejudica-lo. Eu tinha caído na real. Eu nem devia pensar nisso. Tinha um acordo com Leon. Leon estava apaixonado por mim, eu não o queria sofrendo. O que senti por Zophiel foi só desejo, passaria quando eu estivesse longe dele.

– Me perdoe – eu me abaixei um pouco.

– Não faça isso. Eu não sou mais um anjo. Vou pedir a Edkiel que lhe prepare um banho, e esperará a chuva passar para ir.

– Ok.

Eu realmente não queria encarar aquela chuva. Zophiel chamou o virtude, que foi fazer o que lhe foi pedido.

– Zophiel posso te fazer uma pergunta, só de curiosidade? – perguntei.

– Pergunte.

– Se fosse um homem, você teria de beija-lo também? – eu quis saber.

– Sim, eu não estava a me aproveitar de si, Sra. Shaw. Mas posso lhe dizer que eu não ia gostar nada de fazer isso de fosse um homem.

Eu sorri do comentário dele.

Logo eu estava dentro de uma grande tina com água quente e perfumada. Fiquei ali por um bom tempo, quando eu saí tinha um vestido branco magnífico no quarto para que eu vestisse. Eu o fiz. Quando eu estava quase pronta eu ouvi gritos, e reconheci a voz. Era Leon. Droga!

Terminei de me vestir muito rápido e corri para fora. Quando cheguei ao alto da escada eu vi Leon e Zophiel se encarando. Edkiel que estava por ali parecia não saber o que fazer.

– Eu já te mandei dizer onde está minha esposa! – Leon gritava.

– E eu já disse que ela está lá em cima, a tomar um banho, por que chegou aqui encharcada.

– Ora, seu...

Leon levou a mão à espada na cintura.

– Não faça isso – Zophiel avisou.

Leon sacou a espada e o atacou direto no pescoço. Senti um frio na barriga e um medo gigantesco de que Zophiel morresse. Mas isso não aconteceu. Quando olhei direito vi que Zophiel segurava a espada com a mão.

Eu corri escada a baixo.

– Zophiel! – eu gritei.

Leon arregalou os olhos quando me viu. Eu fui direto a Zophiel.

– Você está bem? – eu perguntei.

– Eu estou ótimo. Espadas humanas nunca foram capazes de me ferir.

– Está protegendo ele? Se preocupa mais com ele que comigo? – Leon reclamou.

Eu me virei para Leon, totalmente, irritada.

– Está maluco? Quer morrer? Não devia entrar na casa dos outros e ir atacando as pessoas sem saber.

– Mas ele...

– O que foi a última coisa que eu pesquisei nos livros?

– Anjos...

Então Leon arregalou os olhos. E apontou Zophiel sem nada dizer.

– Exatamente.

– Me desculpe – Leon pediu.

– Sem problemas – Zophiel falou.

– Melhor irmos embora – chamei.

Leon se virou em direção a porta e saiu sem nada dizer.

– Obrigada por tudo. E eu volto.

– Não faça isso.

– Você fala demais essa frase. E vou voltar por outra razão. Ainda esta semana estarei aqui.

Ele ia falar, mas eu me virei só fazendo um aceno e fui saindo.

– Morgan?

Ele nunca tinha me chamado assim, eu me virei.

– Você parece um anjo com esse vestido – ele disse

– Irônico vindo de você.

– Não. Não podia ser mais verdadeiro do que vindo de um anjo. Mas não se preocupe, não penso em si como um, gosto de si humana do jeito que está.

Ele deu um sorriso de lado cheio de charme e tentação.

– Maldito!

Eu exclamei e saí pela porta. Ainda ouvi ele rindo do que eu disse. Era uma risada gostosa aos ouvidos.

Leon me aguardava com a carruagem. Ele devia ter vindo nela. Eu entrei. O cavalo no qual eu tinha vindo estava amarrado ali atrás sendo puxado pela carruagem. Leon estava ali comigo.

– Por que veio aqui? – Leon me perguntou.

– Eu preciso da ajuda dele. Mas não tive tempo de conversar por que você chegou e o atacou.

– Desculpe.

– Ah! Não faz mal. Eu voltou qualquer dia. Mas me deixe resolver meus problemas. Mas o anjo vai ficar para outro dia, amanhã tenho que visitar um órfão.

Leon me olhou sem entender, mas não questionou.

Depois disso, tudo tinha voltado ao normal. Bom, na verdade não. Eu me pegava a todo instante pensando em Zophiel. Eu não sabia o que isso significava. Mas não o tirava da cabeça, tanto que quase me esqueci do caçador; quase, eu ainda me lembrava que ele rondava a cidade.

Acabei levando dois dias para ir encontrar com o garoto Turner. Mas naquela manhã, assim que me levantei, fui atrás de Ray e o mandei me levar até a fazenda Black Roses. Ele sempre relutava em me obedecer, mas nunca tinha deixado de fazer. Essa era a primeira vez.

– Desculpe, senhora. Mas os Sr. Shaw me mandou não levar a senhora a lugar nenhum sem a permissão dele.

Senti a raiva subir a minha cabeça com uma velocidade sem tamanho. Leon estava indo longe demais. Mais uma ordem estranha dessas e ele se arrependeria do dia em que fez aquele acordo comigo. Nesse momento eu comecei a pensar que tudo seria melhor se eu não tivesse feito acordo nenhum. Eu sabia que sem ele tudo seria pior, mas eu conseguiria de qualquer modo. Era melhor Leon não entrar no meu caminho ou ele se arrependeria. Eu não queria mal ou sofrimento a Leon, mas ele nunca tinha tentando me impedir de fazer o que eu queria.

– Ray... Acho melhor você fazer o que eu digo. Não é o senhor Leon Shaw que você deve temer nessa casa. É a mim.

Eu falei calma. Mas o ódio era visível em minha expressão. Ray me olhava sem saber o que fazer. Então ele correu aos fundos e voltou com a carruagem. No momento em que ele apareceu com a carruagem Leon vinha a cavalo chegando em casa. Eu o olhei irritada. Ele se assustou com meu jeito. Eu entrei na carruagem e mandei Ray ir. Ouvi Ray pedir desculpa a Leon. Mas não dei confiança e nem olhei para Leon.

A carruagem já tinha andado por um bom tempo e eu continuava irritada com o acontecido. Eu estava distraída pensando no que levara Leon a fazer aquilo, quando a carruagem parou. Eu logo pensei que Leon tinha vindo atrás de mim.

A porta da carruagem se abriu e uma bengala que parecia um cetro apareceu. A bengala era de madeira negra com uma bola de cristal no alto. Seguido a bengala veio um elegante homem de cartola.

Assim que o homem se sentou a minha frente a carruagem voltou a se mover e eu reconheci o homem. Era Zophiel.

– O que faz aqui? – perguntei.

Eu percebi que deixei minha raiva se extravasar nessas palavras. E pelo jeito ele também, pois ele me olhou com uma sobrancelha levantada e a mão estendida.

Eu, teimosa como sempre, cruzei os braços e o encarei irritada.

Zophiel recolheu a mão, tirou a cartola como se dissesse que não ia a lugar nenhum, passou a mão pelos cabelos loiros para arruma-los, apoiou o rosto em uma das mãos e voltou a me estender a mão.

– Vamos lá – ele insistiu com sua bela voz.

Eu respirei fundo, me dando por vencida, e peguei a mão dele. Assim que minha pele tocou a dele senti todo sentimento ruim me deixar. Eu ainda não gostava do que Leon tinha feito, mas não sentia ódio. Zophiel soltou minha mão.

– Muito melhor assim. Até seu rosto fica mais bonito sem toda aquela raiva.

– Obrigada, eu realmente precisava disso. Mas você não veio aqui só para me livrar do meu ódio.

– Tem razão, eu vim aqui para me livrar da minha maldita curiosidade. Desde o momento em que saiu de minha casa que não consigo parar de pensar em qual seria a razão pela qual voltaria.

Eu sorri.

– Um anjo não devia ser paciente?

– Eu não sou mais um anjo. E antes eu era um espião, é natural que eu tenha curiosidade.

– Também é natural que você saiba muito.

– Sei de tudo de quando ainda estava no céu. Como humano é bem mais difícil descobrir as coisas.

– E o que você sabe sobre mim da época em que ainda era um anjo?

– Hmmm. Deixe-me ver... Você é a segunda filha, nasceu e foi criada nos arredores de Londres. Os seus pais eram pessoas muito boas e sempre trataram você e as suas irmãs com muito carinho. Você batia em Bethan quando era mais nova e apanhava da Megan, mas depois de um tempo você passou a bater em ambas – eu corei nessa parte – Seu pai tinha o desejo de te casar com Leon Shaw desde que você nasceu, e isso já estava acordado desde a época, mas só os pais sabiam disso – dessa parte eu não fazia ideia – Você cresceu sendo criada para ser uma perfeita dama, e você seguiu isso como todas as outras garotas, mas no fundo sempre soube que faltava algo...

Foi então que ele parou e arregalou os olhos. Eu senti meu coração disparar como se eu sentisse medo.

– O que? – perguntei assustada.

– Não sei de devo contar isso.

– Não importa se deve ou não. Agora terá de contar.

Ele me olhou como se tivesse pena e medo ao mesmo tempo.

– Eu...

– Fale logo.

– Ok. Quando você fez dez anos o seu pai entrou numa crise por que uma tempestade acabou com toda colheita. Nessa época, ele conheceu um homem que se apresentava como John Morris. O homem disse que podia ajudá-lo a recuperar tudo e ganhar mais. Seu pai aceitou e fez um pacto com o homem, que na verdade era um demônio. Ele teria mais sete anos de vida cheia de fartura...

– Sete anos? Isso dá no ano que ele morreu atacado por aquele animal!

– Animal? – ele quis saber.

– Sim, uma criatura enorme que parecia um lobisomem, mas maior e com olhos muito vermelhos e cheios de maldade.

– Isso não é um lobisomem. Lobisomens têm olhos âmbar. Isso é um cão do inferno. Mas o que um cão do inferno faz na terra?

– Não faço ideia. Mas eu vou encontrar essa criatura e matá-la – afirmei.

– Está maluca? Você não pode matar um cão do inferno.

– Não, mas você pode.

– O quê? Era para isso que ia atrás de mim? Eu não sou mais um anjo. Não sei mais se posso lidar com essa criatura.

– Você ainda tem muitos poderes.

– Tenho, mas não me posso arriscar tanto.

– Eu nunca disse que te obrigaria a isso. Eu ia fazer um pedido para que me ajude, mas se não pode, procuro outro.

– Não vai achar outro anjo tão facilmente – ele afirmou.

– Acha que não sei disso? Mas vou continuar procurando. Talvez não seja tão poderoso quanto você, mas vou arriscar.

– Vai arriscar a sua vida para isso?

– Vou!

– Então eu aceito.

Ele me olhava diretamente nos olhos, com uma intensidade que me fez corar.

– Por quê a mudança tão de repente?

– Porque sendo eu lá, se não conseguir matá-lo, ainda a posso proteger.

Senti meu coração disparar com essas palavras dele.

Eu não sabia o que dizer. Minha salvação foi que a carruagem parou.

– Senhora, chegamos – Ray anunciou.

Zophiel saiu da carruagem e me esperou à porta para me ajudar a sair. Descemos e seguimos para a grande mansão da fazenda Black Roses.

O garoto Turner sabia tanto quanto eu no início, e ainda se negava a acreditar que o animal era algo além de um animal selvagem. Ele não foi de muita ajuda.

Mas depois de tudo o que Zophiel tinha me contado eu tive uma ideia. De acordo com as lembranças dele podíamos ver quais os nobres que tinham esse contrato e seguir o rastro do bicho através deles.

Não, eu não era um tipo de pessoa obsessiva e sem coração, eu também queria salvar aquelas pessoas, mas Zophiel disse que uma vez que o contrato era de boa vontade de ambos, nem mesmo o anjo mais poderoso poderia desfazê-lo ou salvar aquela alma.

Depois daquele dia na carruagem eu passei a me encontrar com Zophiel com frequência. Íamos a casa dele ou à biblioteca municipal pesquisar. E as vezes que eu ia ao subúrbio de Londres ele estava sempre comigo. O que mais estranhei foi que nessas vezes que foi ao lado pobre de Londres com Zophiel não me encontrei com Flint, na verdade, eu não o tinha visto mais. A aura de Zophiel era forte e espantava a maioria das criaturas, mas ele podia escondê-la.

Minha convivência em casa estava cada vez pior. Leon se tornou um incômodo, tentava de todas as maneiras me prender em casa ou me fazer ficar ao lado dele. Mas a maneira como ele fazia isso só estava me afastando dele. Ele sabia de tudo desde o início, tinha aceitado mesmo assim... Agora teria de aguentar. Meu consolo e abrigo agora era Zophiel.

A parte ruim disso tudo foi que comecei a criar uma necessidade de Zophiel. Eu pensava nele dia e noite, eu queria estar ao lado dele toda a hora. Havia momentos em que eu queria tocá-lo, sentir a pele dele na minha. E mesmo depois de tanta convivência eu sempre sentia um frio na barriga quando ele aparecia com seu lindo sorriso estampado no rosto.

E hoje não tinha sido diferente. Assim que ele surgiu do meio da escuridão perto da porta do muro aos fundos, senti o mesmo frio na barriga.

Estávamos indo para os bairros pobres. Na verdade já estávamos quase lá. Mas pouco antes de estar completamente lá, um homem saiu de um beco bem na minha frente. Zophiel parou e só ficou observando, ainda com seu rosto coberto pelo capuz.

Era um belo e elegante homem de cabelos escuros e olhos verdes, com roupas nobres. Ele deu uma volta ao meu redor e então tirou o meu capuz com a bengala. Me comia com os olhos, mas não ousou me tocar.

– Linda como nunca vi igual. O que faz num lugar destes? É uma bruxa? Não, não cheira a magia – ele continuava a andar à minha volta e não tirava os olhos de mim. – Se você tirasse esse crucifixo...

Ele me dava arrepios de medo, e ao mesmo tempo eu me senti um pouco atraída por ele, mesmo que fosse algo insignificante. Nisso eu percebi que era um demônio, ainda mais depois de ele me ter dito para tirar meu crucifixo. Eu só o olhava sem nada fazer. Enquanto eu estivesse com o colar ele nada poderia fazer contra mim.

– Ela não vai tirar nada, Mantus.

Olhei em direção a Zophiel e ele tinha tirado o capuz. O demônio olhou Zophiel surpreso e debochado.

– Zophiel? Que surpresa. Ouvi mesmo falar que tinha caído. Mas agora eu entendo porque não consigo seduzi-la. Apaixonada por um anjo, nem mesmo eu posso superar isso.

Eu senti o rosto quente. Eu não podia negar, não podia porque eu realmente estava. Já tinha chegado a essa conclusão uma semana depois daquele dia da carruagem. Mas não queria assumir. Baixei a cabeça para não encarrar Zophiel, e essa minha reação fez Mantus dar uma gargalhada. Senti o olhar de Zophiel sobre mim. Eu nada disse, não tinha o que dizer.

– Vá embora, Mantus! – Zophiel mandou.

– Por quê? Meu caro, parece ter perdido os seus poderes.

Zophiel sorriu e eu vi o demônio se encolher e o sorriso de seu rosto sumir.

– Não. Eu só posso escondê-lo – Zophiel contou.

– Percebi. É melhor ir.

O demônio se enfiou no beco outra vez.

– Não a deixe sozinha, Zophiel...

A voz do demônio veio do beco seguida de uma risada que me deu arrepios.

– Não deixarei – Zophiel respondeu.

Eu respirei aliviada, pelo demônio ter ido. A aura deles estava sempre cheia de más intenções.

– Odeio encontrá-los – comentei.

– Sei o que quer dizer, eles dão arrepios.

– Realmente, melhor irmos em frente.

Nós seguimos em frente, desta vez eu estava um pouco à frente.

– Está com frio?

Zophiel levou a mão ao meu pescoço, onde agora estava nu por eu estar sem capuz, eu me arrepiei com isso. Me afastei dele rapidamente.

– Não! Eu... Eu estou ótima...

Eu falei assustada e Zophiel me olhou sem entender. Eu estava com vergonha do que Mantus disse. Eu nunca quis que Zophiel soubesse disso. Ele não precisava disso. Eu não queria atrapalhar a estadia dele aqui. Eu voltei a andar sem ter coragem de olha-lo.

– Morgan? – ele me chamou.

Eu parei e o olhei sem jeito.

– Sim?

– O que tens?

– Nada. Estou bem.

– Não, não estás. Estás assim pelo que Mantus disse.

Eu afirmei com a cabeça.

– Não ligue para isso. Morgan, eu já sabia disso. Sabia desde aquela primeira vez em que foste a minha casa.

– Por que está comigo então?

– Quanta inocência, minha querida. Como eu poderia julgá-la ou mesmo me afastar se sinto o mesmo?

Eu senti o chão fugir dos meus pés. Minha boca abriu em um ‘o’ de surpresa. Aquilo era ao mesmo tempo tão bom e tão ruim. Eu queria poder ficar com ele, mas eu sabia que isso era muito complicado para nós.

– Isso não devia acontecer...

Ele riu do que eu disse.

– Não, minha querida, não devia. Mas não temos muita escolha, temos?

– Não, não temos.

– Então pare de pensar nisso. Vamos fazer o que viemos fazer.

Eu assenti e nós seguimos caminho. Hoje minha intenção era encontrar-me com Lauren. Andávamos tranquilamente pelas ruas enlameadas, quando ouvi meu nome em uma voz masculina, que não era de Zophiel. Quase tive um ataque cardíaco achando ser o demônio de novo. Olhei para o lado e vi, para alivio, que não, era Flint. Mas me assustei ao ver sua situação. Ele estava pendurado em uma parede pelos braços que estavam amarrados, não para cima, mas para trás; escorria sangue de seu rosto e cabelos, as roupas todas rasgas; a capa e o chapéu caídos no chão a baixo dos pés dele.

– Morgan... Me ajude... – ele pediu.

Ele parecia bem mal. Eu arregalei os olhos. Ele teve muita sorte de eu passar ali e estar sem o capuz.

– Flint! O que houve? Meu Deus!

Eu me desviei do caminho e entrei no pequeno beco onde ele estava. Zophiel me seguiu de perto, Flint estava tão mal que nem pareceu notar.

– Me tire daqui... Meus braços doem... Acho que estão quebrados... – ele pediu.

Fiz menção de ir em direção a ele, mas Zophiel colocou o braço na minha frente me impedido. Eu o olhei, mas ele olhava o caçador. Então parei, não me aproximando e isso fez Flint olhar para nós. Ele arregalou os olhos quando viu Zophiel, tenho certeza que pensou o mesmo que eu quando o vi pela primeira vez. Zophiel com um simples gesto fez Flint flutuar e seus braços se desprenderem do gancho que o segurava. Em seguida o desceu suavemente ao chão. Flint caiu de joelho, mas tinha os olhos arregalados e a respiração rápida de medo. Por certo que quem o colocou lá podia fazer o mesmo. Eu tirei a faca de prata que sempre carregava e corri as costas dele para cortar as cordas.

– Cuidado, os braços podem estar deslocados – Zophiel falou.

Eu cortei com a maior delicadeza que consegui e aos poucos os braços se soltaram. Quando estavam livres e Flint os mexeu ele soltou um grito de dor.

– Quem fez isso a você? – perguntei.

– Quem é esse cara? – ele perguntou meio gemido.

Mesmo assim percebi o receio em sua voz.

– Me responda – insisti.

– Foi um demônio, ok? Eu perguntei a ele sobre o animal. Ele começou a me bater, fez o que quis de mim, e disse que era para eu me pôr no meu lugar e não me intrometer em assuntos que não eram da minha conta – ele explicou, meio a contra gosto.

Assim que ouvi isso imediatamente olhei Zophiel, ele tinha compreensão na expressão como se já esperasse a resposta que Flint deu.

– Eu te disse que você estava brincando com fogo, Morgan – Zophiel afirmou.

– Eu sei. Só não imaginei que uma pergunta faria tanto mal...

Zophiel me olhou como se dissesse, agora você está vendo.

– Posso pôr os braços dele no lugar – Zophiel se ofereceu.

– Você é uma demônio! – Flint acusou.

Olhei Zophiel para ver sua reação, e ele sorria. Então levou a mão atrás do pescoço então desabotoou uma corrente não muito grossa com um crucifixo de mais ou menos cinco centímetros de altura e o estendeu para Flint, que o olhou ainda mais assustado.

– Pegue. Que espécie de caçador é você, que nem usa um crucifixo? – perguntou o anjo.

Flint meio que sem ver pegou o colar, com o braço que estava melhor.

– O que diabos é você?

– Vai ficar sem um crucifixo – falei.

– Tenho outro, mas não preciso realmente de um, uso mais por habito.

– Ei! Dá para alguém me dizer o que esse cara é? – Flint reclamou.

Zophiel riu.

– Eu, meu caro, sou um mensageiro de Deus, mais conhecido como anjo. Pode-me chamar de Zophiel. Mas aqui na terra sou Anthony Marshall.

Ele parecia ainda mais abobado.

– Um anjo...

– Quer que eu ponha seus braços no lugar? – Zophiel perguntou.

– Não estão quebrados?

– Não, estão deslocados.

– Bom, não tem outro jeito. Faça.

Zophiel foi até ele e pegou nos ombros dele. Em seguida os puxou para frente torcendo. Flint gritou de dor, mas mesmo assim não parecia ter acabado. Eu olhava aquilo com uma careta. Zophiel então pegou as mãos dele o puxou como se fosse levanta-lo, mais um grito, mais estalos, então Flint já mexia os braços sozinho, lentamente, mas mexia.

– Obrigada. Ainda doem, mas pelo menos agora me obedecem, antes parecia que só doía.

– O que vai fazer agora? Está muito ferido?

– Vou descansar, dormir um pouco. Não, foram só alguns arranhões. Os braços é que estavam mal. Muito obrigada, pelo que fizeram por mim. Aliás, ele é o seu marido?

Zophiel riu da pergunta e eu corei.

– Acho que eu teria comentado se fosse casada com um anjo.

– É, imaginei isso. Desculpe dizer isso, mas tenho pena do seu marido.

– Por que diz isso?

– Por nada. Até mais.

Flint pegou as coisas dele no chão e saiu em direção oposta a que íamos, andando lentamente, mancando.

– O que ele quis dizer? – perguntei a Zophiel.

– Por que tenho eu de saber? – ele falou dando de ombros.

Eu não insisti. Fiz um gesto para que seguíssemos para onde íamos.

Nós seguimos caminho em direção ao galpão onde ela ficava. Era a segunda vez que eu ia atrás dela. Da última vez ela é que tinha vindo atrás de mim. Chegamos ao galpão e entramos.

Estava muito silencio que achei que ela não estava ali. Foi de repente que surgiu à minha frente um homem, eu me assustei e dei dois passos para trás, no ultimo pisei em algo e virei o pé, caindo sentada. Soltei uma exclamação de dor.

Olhei para Zophiel e vi a capa dele cair, como se ele tivesse aberto os braços, mas ele não tinha feito isso. Eu vi ele ir em direção ao vampiro, parecia flutuar. Ele pegou o vampiro pelo pescoço e o tirou do chão.

– Pare! Pare, por favor! – Lauren apareceu gritando – Ele não fará mal, pare!

– Zophiel, largue-o – eu pedi.

Com um movimento mínimo Zophiel o jogou a uns cinco metros de nós. Onde o vampiro caiu, ficou, com a mão no pescoço e tossindo. Lauren foi até ele com quase a mesma rapidez que Zophiel veio até mim.

– Você está bem? – Zophiel quis saber.

– Sim, só torci meu tornozelo.

– Vamos embora – Zophiel falou.

– Não, preciso falar com a Lauren.

– Por que o trouxe aqui? – Lauren gritou.

– Porque ele me protege. Mas isso aqui foi um mal-entendido. Eu não sabia que tinha outro vampiro aqui.

– Ele é novo. Eu não aguentava mais ficar sozinha.

– Tudo bem. Não te julgo por isso. Preciso da sua ajuda.

– Por que eu te ajudaria?

– Lauren, já passamos por isso.

Ela respirou fundo. Ela devia se lembrar bem que salvei a vida dela na última vez que estive aqui.

– Depende – ela mudou a resposta.

– Preciso que vigie a família Smith.

Depois de um bom tempo de pesquisas e com as lembranças de Zophiel nós descobrimos que a próxima família a ter a dívida cobrada seria a família Smith, o pai da família tinha feito um acordo de sete anos há quase sete atrás, era nossa chance.

– Para quê?

– Só fique de olho. Veja se o animal se aproxima deles, mas não interfira.

– Eu não iria intervir nem que você pedisse.

– Não é muito o que te peço. Me mantenha informada. Zophiel não te fará mal, nem ao seu companheiro.

– Ok – ela concordou.

– Eu vou indo agora.

Zophiel me ajudou a ficar de pé, mas quando tentei firmar o pé no chão soltei outra exclamação de dor. Zophiel fez uma careta. Lauren deu um passo em minha direção como se estivesse preocupada, mas desistiu por causa de Zophiel. Zophiel passou o braço pelos meus joelhos e me pegou no colo. Eu tirei a minha capa com dificuldades e joguei sobre ele. Depois escondi meu rosto perto do pescoço dele. Ele se virou e saiu comigo e seguimos em direção a minha casa. Eu percebi que ele se arrepiava com minha respiração. Mas eu não me afastei.

Não demoramos a chegar a porta dos fundos da minha casa.

– Agora eu vou sozinha – falei.

– Tem a certeza que consegue?

– Sim. Não se preocupe.

– Eu vou mandar um médico.

Eu suspirei. Odiava médicos.

– Ok. Acho que não tenho alternativa.

Zophiel beijou minha testa e se foi. Eu entrei mancando, na verdade pulando em uma perna só. Doía demais. Quando cheguei a sala vi Leon ali sentado como se me esperasse.

– Sabe, até agora eu tentei não me importar. Mas começaram a falar, agora eu sou a piada da sociedade. Achou mesmo que não falariam depois de ver tanto vocês juntos? Eu sou o idiota traído com o queridinho do rei. Eu não acredito que está me traindo.

– Olha, Leon. Primeiro, nosso casamento é de fachada, e você sabe muito bem disso. Eu estive com você todo esse tempo porque gosto de você e sentia desejo por você. Nunca foi apaixonada por você, sabe disso. Eu tinha todos os motivos que você pode imaginar para te trair, mas nunca o fiz. Mas você que acredite no que quiser.

Eu ia seguir em direção às escadas para ir ao meu quarto, mas me esqueci do pé e pisei com muita força. Eu quase gritei de dor, eu fiquei meio boba com a dor e me escorei na parede para não cair. Se com isso eu estava mal, fiquei imaginando a dor que Flint tinha sentido.

– Morgan?!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha sido de seu agrado!



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