Sede de Sangue escrita por A solitária


Capítulo 29
Sexta feira Parte 1




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Noite de sexta-feira.

–Megan... Você fez isso sozinha? -Kevin perguntou boquiaberto, ao ver os corpos ensanguentados espalhados ao redor de Meg.

–Não... Não só estes. Tem mais lá no fundo. -Ela caminhou até Kevin -E diga ao Peter, que eu só estou começando. -Ela sorriu e limpou o sangue de seu lábio inferior com o dedão, em seguida passou no lábio inferior de Kevin e saiu.

Três dias antes

–Ah meu Deus! Você nem penteou o cabelo ainda!? -Disse Luna entrando no quarto.

–Eu já disse que não quero festa Luna... -Megan respondeu colocando o travesseiro na cabeça.

–Pena que o seu pai deseja o contrário. E que tudo já está quase pronto. Temos o lugar, a festa, os convidados... Falta a aniversariante.

Luna se aproximou da janela e abriu a cortina. Os raios de sol chegaram até a cama, cobrindo Megan. Ela se levantou, ainda de pijama.

–Feliz? -Perguntou olhando para Luna.

–Só quando você estiver arrumada.

–Vocês sabem que isso é patético não sabem? Tecnicamente ainda tenho dezessete anos, não dezoito.

–Tecnicamente, você é uma chata. -Elas sorriram -Vista isso... Eu... Comprei pra você, acho que vai gostar.

Luna a deixou sozinha. Megan foi até o banheiro, e depois de lavar o rosto e se maquiar ela tirou o pijama. Quando abriu o presente de Luna, ela o vestiu. Era um vestido azul, com detalhes de renda e um pequeno decote, que caía extremamente bem em Megan.

Ela jogou seu cabelo preto para o lado, ele estava bem longo, mas ela não se incomodava. Brevente olhou para seu pulso, para a tatuagem que havia feito um dia depois de se transformar, graças a ela o sol não a afetava mais... Como era bom poder sair de dia novamente.

Depois de ajeitar uma última vez o seu vestido ela caminhou até a porta, mas quando ia sair... Novamente aquela sensação, ela sabia que não devia ficar no quarto nem mais um minuto, ou então faria de novo. Ela devia sair, ir para a sua festa... Mas não, ela optou por trancar a porta. E quando o fez foi direto para perto de sua cama, pegando a caixa térmica que ela havia posto embaixo.

Ela pegou uma das bolsas de sangue, a única que ainda tinha um pouco, porém não havia restado quase nada. Mas mesmo assim ela tomou todo o restante, e então a jogou junto com as outras várias na caixa... Ela precisava se livrar daquilo sem Peter e os outros descobrirem. O gosto ainda estava em sua boca, aquilo era como uma droga para ela, e a cada gota de sangue, ela sentia ainda mais desejo.

O que Kevin pensaria quando descobrisse? Pois era ele quem estava tentando ensina-la a controlar a sua fome... Talvez fosse melhor ouvi-lo, beber pouco sangue, apenas o necessário para ficar viva. E ela poderia fazer isso... Porém não queria.

Megan desceu as escadas, sendo recebida por uma intensa canção de feliz aniversário. Ela sorriu, o seu deslumbrante sorriso, e lá estava o seu pai, a encarando. Assim como Frank, Luna, e outros vampiros... Era curioso como ela havia feito tantas amizades recentemente, porém apenas com vampiros. Talvez isso fosse se tornar tedioso algum dia.

–Feliz aniversário, querida. -Disse Peter a abraçando.

–Obrigado pai.

–E este aqui é o seu presente. -Ele entregou uma pequena caixa a Megan -Eu... Ia dar pra sua mãe mas eu... -Peter abaixou os olhos.

–Obrigado... Eles são lindos. -Eram lindos brincos de ouro branco.

Em seguida a atenção de Megan foi levada aos outros convidados, todos tinham presentes, alguns mais interessantes que os outros.

–Feliz aniversário. -Megan se virou, encontrando Kevin. Ele tinha um sorriso lindo no rosto e segurava uma pequena caixa nas mãos.

–Obrigado. -Megan sorriu e em seguida abriu a caixa, era uma gargantilha.

–Achei que combinaria com você.

–Obrigado. -Ele a beijou, em seguida colocou a gargantilha.

–Está linda.

Ela sorriu.

Dois dias antes

Megan acordou, seu primeiro sentimento foi fome. Ela pensou em olhar novamente as bolsas de sangue... Talvez ainda houvesse um pouco em alguma, ela sentou na cama, em seguida ia se abaixar.

–Dormiu bem?

Virou-se rapidamente com o susto, como pode esquecer que Kevin estava ali? Ela deu um sorriso sem graça e assentiu com a cabeça. Em seguida se levantou pra se arrumar... Outro dia de aula.

*

–Você não vai hoje? -Megan perguntou a Kevin, ao ver que ele não estava pronto.

–Não. Eu tenho que ajudar o seu pai a resolver um assunto.

–Que assunto?

–Você lembra que havia um outro clã na cidade?

–Eles voltaram a atacar?

–Sim, e parece que a cada dia estão mais confiantes.

–Tenha cuidado.

Ele assentiu e a beijou. Ela desceu as escadas e começou a caminhar. Alguns quarteirões depois estava na rua de sua casa... Sua antiga casa. Um nó se formou em sua garganta. Ela com certeza não havia superado a morte de sua mãe, mas estava tentando ao máximo ignorar o assunto. Ela se virou para trás, podia jurar que ouviu alguém vindo em sua direção... Não tinha ninguém.

Quando percebeu já estava parada em frente a porta. Ela saiu dali, quase correndo, se controlando para não chorar. Logo chegou na escola, estava cheio, ela sentiu ainda mais fome... Por quanto tempo aguentaria? Precisava de sangue, ela sentou em um banco e pegou seu celular.

–Alô?

–Eu preciso de mais. -Disse ela tropeçando nas palavras.

–Mas não faz nem uma semana, você acha que é fácil assim conseguir sangue!?

–Não importa. Preciso de mais, se vira. Você é o enfermeiro.

–Não. Dessa vez não Megan... Você é uma vampira, tem que aprender a se controlar.

–Você não sabe nada sobre vampiros. Agora me escute, quero que você me encontre na praça principal da cidade depois das minhas aulas pra discutirmos os termos. É bom que você apareça! -Ela desligou o telefone.

Estava estressada. Com fome. Kevin dizia pra ela focar em outra coisa quando estivesse com muita fome, mas isso era quase impossível naquele momento. Ela segurou a alça de sua bolsa, e quando ia se levantar olhou para frente. Do outro lado da calçada havia uma mulher.

Ela tinha cabelos cacheados, bem notórios. Usava uma jaqueta marrom e uma saia azul escura. Sua pele era bem morena, ela parecia uma modelo, só que com um ar completamente sombrio. Seu olhar estava na direção de Megan. Por um momento Meg olhou para trás, pra ter certeza se aquela mulher estava ou não a encarando. Estava, pois não havia ninguém atrás de Megan. Mas quem era aquela mulher?

–Oi! -Disse uma garota loira de olhos verdes sentando ao lado de Meg -Você não me conhece, mas sou uma das representantes da escola. -Megan olhou pra ela -Eu vim comunicar você sobre o baile de formatura, não falta muito, apenas um mês. Você vai não é?

–Ãn... É... Pode ser.

Megan olhou para onde a mulher estava parada. Ela havia sumido. O que foi aquilo?

–Ótimo. Qualquer dúvida fale comigo.

Megan assentiu. Então se levantou com o folheto do baile nas mãos... Houve uma época em que isso parecia mais importante. Ela entrou na escola, o sinal havia acabado de tocar, mesmo assim ela foi até o banheiro. Ajeitou o seu cabelo, ele realmente estava longo... Talvez devesse pintá-lo de outra cor... Mudar um pouco. Ela saiu do banheiro, o corredor estava vazio.

Lentamente ela caminhava, estava com um certo desânimo. Porque vampiros tinham que frequentar a escola? Megan ouviu um barulho logo atrás dela. Quando se virou não havia ninguém... O que estava acontecendo hoje? Ela voltou a andar. Desta vez o barulho foi maior, e quando se virou todos os armários no corredor estavam abertos.

–Quem está aí? -Ela quase gritou. -Eu não tenho medo de você!

–Com quem está falando? -Megan se virou e lá estava o diretor.

–Com... Esquece...

–O que foi que aconteceu com os armários!?

–Não sei... Já estavam assim... Eu... Preciso ir pra aula. Tchau.

Megan saiu dali quase correndo. Ela tinha certeza de que alguém a seguia, mas porque? John não era mais um perigo, ele estava sob controle. Quem mais iria querer fazer mal a ela?

Entediada Megan assistiu a todas as aulas.

*

Megan andou até a praça central pra se encontrar com Bobby, o enfermeiro. Quando ela chegou ele já estava lá, sentado em um dos bancos.

–Seja breve. Tenho que trabalhar.

–Você trouxe?

–Não... Eu não consegui Megan. E quer saber? Não dou a mínima, eu dei duro pra conseguir esse trabalho, não vou perder ele porque você está com fome.

–Isso significa?

–Significa que acabou.

–Tínhamos um trato.

–Isso antes de você se tornar compulsiva! Agora licença.

Ele se levantou, e lhe entregou apenas uma bolsa de sangue, em seguida começou a andar. Megan estava furiosa, sentia que não poderia conter sua raiva por muito tempo. Ela correu com toda a sua velocidade sub humana para um beco. Então parou e bebeu o sangue. Todo o sangue. Sentiu-se aliviada. Ela jogou a bolsa de sangue no chão. E então ia sair dali. Quando ouviu um barulho vir do final do beco. Ela caminhou até lá, era a parte onde não havia saída. Se virou novamente, tomando um susto, lá estava aquela mulher novamente, bem a sua frente.

–Desculpe... Te assustei? -Sua voz era um tanto doce... Mas Megan sentia algo diferente.

–Ãn... Tudo bem. -Ela andou mas a mulher segurou seu braço.

–Me falaram tanto de você... Megan!

–Quem é você? Como sabe o meu nome?

–Sou Lydia... Não que isso importe agora.

Ela atacou Megan sem nenhuma explicação. A jogou na parede, e quando estava no chão a chutou. A raiva de Megan retornou, agora focada naquela mulher. Ela a atacou, segurando-a pelo pescoço, e a encostou na parede.

–Quem é você e o que quer comigo!? -Gritou Megan.

–Não me disseram que era uma vampira.

Meg apertou ainda mais sua garganta. Mas a mulher conseguiu se soltar, e a jogou longe sem nem toca-la. Ela levantou as mãos e Megan sentiu sua cabeça quase explodir, lentamente foi perdendo os sentidos.

*

John parecia delirar, não via ninguém há semanas, muito menos sangue. Aquilo era um inferno, seu irmão havia caprichado na tortura. Mas ele ainda iria conseguir sair dali, nem que levasse todo o tempo do mundo. Neste dia não iria mais fazer rodeios, ele mataria seu irmão na primeira chance.

*

–Este é Héctor!? -Kevin perguntou boquiaberto ao vê-lo morto dentro de uma minúscula cabana.

–Sim... O que me faz concluir que o outro clã da cidade não é nem um pouco a favor de John. -Peter respondeu. -Eles se camuflam bem, a cidade não é grande, já devíamos ter encontrado eles.

–Vamos conseguir. -Kevin respondeu saindo de lá, ele precisava falar com Megan.

*

Megan ouviu seu celular tocar, então despertou. Ela mexeu a mão até seu bolso, mas quando pegou o celular alguém o tirou de sua mão. Era Lydia, ela estava bem a sua frente. Meg se perguntou onde estava, olhou ao redor, era um quarto vazio, a não ser pela cadeira onde estava sentada.

–Onde eu estou?

–Cala a boca e vem comigo. O nosso líder quer ver você.

–Líder?

–O líder do nosso clã. Você é bem lenta...

Lydia a segurou pelo braço e em seguida praticamente a arrastou pelos corredores da imensa casa. Ela a levou até uma porta, onde dois homens altos estavam guardando. Eles abriram caminho e Lydia abriu a porta, em seguida entrou.

–Senhor, ela acordou.

Ela deixou Megan sozinha. Havia alguém sentado na cadeira atrás de uma grande mesa, porém estava virado para a janela, Meg não podia ver seu rosto.

–Chega de suspense vocês já me capturaram. Quem é você?

O homem se levantou, em seguida se virou. Joseph!?

–Joseph!? -Megan franziu as sobrancelhas e abriu a boca. Que diabos estava acontecendo!?

–Eu esperava ao menos um... Fico feliz por você não ter morrido.

–Mas... Mas você morreu, eu vi John te matar, ele te acertou com a faca... Como você pode estar aqui agora!?

–Acho que você me subestimou... Eu nunca deixaria minha própria faca me matar. Quando Sarah foi pra igreja, e você estava dormindo, eu troquei as facas... A verdadeira sempre esteve comigo.

–Você... -Megan sentia a raiva em seu sangue -Você está dizendo que eu podia ter matado John, e impedido a morte da minha mãe, mas você trocou a merda das facas!?

Megan chutou uma das cadeiras que estavam perto da mesa. Joseph se aproximou, ele segurou seus braços, e a encarou, ela nunca esqueceu completamente aqueles olhos verdes brilhantes.

–Quando se transformou?

–Já tem algumas semanas.

–O que aconteceu?

–John fez o feitiço... Um feitiço que devia ter matado todos os vampiros que o meu pai transformou. Mas... Simplesmente deu errado. Segundo a irmã de Luna, John e Peter não são irmãos... -Megan teve os olhos distantes -Eu perdi muito sangue... Quando Kevin e Luna estavam me levando pro hospital ele me deu um pouco do seu sangue... Eu morri, e depois acordei.

–Que história tocante.

Ela revirou os olhos.

–Você continua o mesmo babaca, não é?

–Provavelmente... E você e o seu namorado certinho, como estão?

–Eu e Kevin estamos bem, obrigado. Olha Joseph, eu aposto que não quer salvar seu pai... Ou seja, não tem porque eu ser útil. Então se já cansou de brincar de sequestro eu ficaria muito contente em ir embora.

–Haha. -Ele sorriu e ficou sério quase que ao mesmo tempo -Você continua com péssimas piadas... Não foi atoa que pedi pra que trouxessem você. Vou direto ao ponto. Já se perguntou como Lexi sabia que John e Peter não eram irmãos?

–Não. Até porque não me importo.

–Pois devia... Mas enfim, eu contei.

–E como sabia?

–Há um tempo atrás, decidi investigar a família... Mas... Simplesmente não existe uma família Horkfield.

–O que!? Olha... Segundo a Lexi, John não é da família. Meu pai continua sendo filho de Henry.

–Isso foi o que eu disse a Lexi. É o que eu queria que todos soubessem.

Megan franziu as sobrancelhas, estava com muitas dúvidas.

–Ta... Você conseguiu, Joseph. Eu quero saber a história toda.

Megan se sentou e Joseph fez o mesmo logo em seguida. Ela devia ter ido embora? A essa altura nem sabia.

–Quero que saiba que o seu pai, e o meu pai são os vampiros mais velhos e mais fortes que existem, certo?

Megan assentiu.

–Errado. Já notou que ninguém nunca conseguiu contar a história em detalhes de como John e Peter foram transformados? -Megan assentiu novamente -É porque eles passaram todo o tempo escondendo quem os transformou.

–As bruxas transformaram os dois... Não?

–Não. Eu fui mais a fundo. A história dos dois é um completo vazio, ela começou a existir em escrito, apenas quando Groovery Born foi fundada. Antes disso ninguém nunca soube de John ou Peter Horkfield.

–Ta e o que isso quer dizer!?

–Quer dizer que eles foram persuadidos, Megan.

–Hipnose? Porque!?

–Minha teoria. É que os primeiros vampiros da terra, os transformaram. E depois os hipnotizaram para se esquecer deles.

–Fala sério! Porque eles fariam isso?

–Talvez porque estivessem sendo caçados na época... Eu não sei, mas sei que existe algo mais. John e Peter nem sabem disso, o meu palpite é que além de fazê-los acreditarem que são os primeiros logo depois fizeram com que eles esquecem seu passado.

–Ta bem. E o que mais você sabe sobre o passado deles?

–Nada. Por enquanto. É por isso que te chamei aqui, eu preciso que me ajude.

–E porque eu ajudaria?

–Porque se não ajudar, eu o meu clã vamos continuar com as mortes aqui em Groovery Born.

Ela franziu as sobrancelhas.

–O que eu tenho que fazer?

–Eu quero que você liberte o meu pai.

–Você o que!? Não! De jeito nenhum.

–Olha, se isso tudo realmente é verdade. Se os dois foram mesmo hipnotizados, eu vou precisar deles pra saber toda a história.

–Mas você acabou de dizer que eles foram persuadidos a esquecer.

–Por isso tenho uma bruxa, Lydia. Ela vai fazer um feitiço, se tudo der certo eles vão se lembrar do que realmente aconteceu... Então você me traz John, ela faz o feitiço e eu prometo devolvê-lo a você... Seu pai nem vai notar, é só não deixar ninguém ir até o porão.

Megan pensou por um tempo, ela suspirou estressada.

–Eu faço. Mas... Com uma condição.

Joseph a observou minuciosamente, a antiga Megan nunca teria aceitado um acordo que o envolvesse.

–Diga sua condição.

–Depois que Lydia fizer o feitiço... Quero que você o mate. Não importa como, mas eu o quero morto. Essa é minha condição.

–Feito.

–Feito? Vai matar seu próprio pai sem nenhum remorso?

–Tal pai tal filho Megan. Olho por olho.

Megan respirou fundo, ela não sabia se estava pronta para trair seu próprio pai e libertar John. Mas talvez fosse a coisa certa, se Joseph estivesse certo, então Peter merecia saber da verdade.

–Depois de soltar John, pra onde devo leva-lo?

–Solte ele, e leve até a floresta. Eu estarei por lá de manhã bem cedo.

–Ok. -Megan se virou para ir embora -Mais uma coisa Joseph, agora que me envolveu nisso, quero saber todos os detalhes.

–Tudo bem... -Ela abriu a porta -E Megan, não conte a ninguém... Nem mesmo a Kevin.

Ela assentiu, por mais que soubesse que estava fazendo a coisa errada, ela simplesmente não podia parar. Mas soltar John? Isso ia até mesmo contra ela... Quando saiu da casa lá fora já estava escuro, não havia ninguém na rua. Megan se apressou, precisava chegar em casa.

*

–Onde estava!? -Peter perguntou.

–Eu... Eu sai, com algumas garotas da escola.

–Deveria ter ligado, eu estava preocupado.

–Desculpe... Ãn... Pai, o que realmente aconteceu com você e John? -Ela deixou sair, tropeçando nas palavras.

–Porque esta pergunta agora?

–Bom... É que... Hoje eu estava pensando e percebi que você nunca me explicou o que realmente aconteceu.

Peter a encarou, havia uma certa confusão em seus olhos. Ele sentou no sofá e ela fez o mesmo. Esperando que Joseph estivesse errado, esperando que Peter se lembrasse claramente do que havia acontecido.

–Quantos anos você e John tem?

–Muitos, talvez mil. Bom, nós nos transformamos graças as bruxas.

–Kevin me disse... Em Salem, não é? Mas não fazem mil anos que houve a caça as bruxas em Salem.

–Isso porque não conseguiram comprovar... Mas começou muito antes.

A dúvida era aparente. A confusão nos olhos de Peter comprovava que Joseph tinha razão... Alguém fez com eles acreditassem em uma história completamente diferente da verdadeira. Mas quem?

–Pai. Eu vou dormir, até amanhã.

Megan subiu as escadas e entrou no quarto, lá estava Kevin parado na frente da cama, com um ar de raiva. Ele não tirou os olhos dela, devia estar bravo por ela não ter atendido sua ligação.

–Oi Kev. Desculpe mas o meu celular... -Ele a interrompeu com raiva.

–O que significa isso? -Ele empurrou a caixa com as bolsas de sangue na direção dela.

O que diria a ele? Ficou estática por um momento... Droga! Não era pra ele saber, ela não sabia nem pra onde devia olhar.

–Eu fiz uma pergunta e quero uma resposta!

–Eu sei... Eu sei... Eu... Eu não devia ter escondido de você, mas não está dando certo Kevin. Eu não consigo parar de beber sangue.

–Ajudaria você a parar se não obrigasse o enfermeiro a fornecer. -Ele estava muito irritado.

–Eu não acredito, ele te contou!?

Ela queria matar aquele traidor, como pode? Ele não tinha esse direito.

–Quanto você tem tomado?

Ela o encarou confusa, se sentia horrível por saber que ele estava bravo com ela.

–Não sei... Umas três.

–Por dia?

–Por... -Ela abaixou os olhos -Por meio dia... Em um dia inteiro... Sete talvez, me desculpe.

–Não tem que se desculpar Megan. Tem que saber que se continuar com isso você vai perder o controle. É isso mesmo que você quer!?

–Não, claro que não.

Ele respirou alto, estressado. Estava se culpando, mas a culpa era dele? Talvez ele ainda não soubesse que ninguém pode mudar algo que nasceu pra dar errado.

–Você contou ao meu pai?

–Não.

–Porque?

–Não é necessário. Ao menos não se você prometer que vai parar com isso.

–Eu prometo. Desculpe.

Ele a abraçou, acariciando seu cabelo, beijando-o logo em seguida. Ele a amava, isso era tudo o que sabia, seu único instinto era de protegê-la, nem que fosse dela mesma. Eles se deitaram minutos depois.

–Onde esteve o dia todo?

–Eu sai... Precisava me distrair. -Mentiu Meg.

Kevin a puxou para mais perto. Ela queria falar sobre Joseph, mas sabia que era arriscado trair a confiança dele, então logo adormeceu.

Um dia antes

Megan se levantou antes de todos na casa, desceu até o porão, ela sabia onde John estava, não exitou em entrar. Ela o viu acorrentado a parede, vê-lo a fazia lembrar de tudo que havia feito... O desgraçado matou sua mãe! Ela queria matá-lo, mas se controlou. Soltou ele das correntes.

Megan... É você? Ou... Ou estou delirando...?–Sua voz era fraca, um mero sussurro.

–Cala a boca e vem comigo.

Ela jogou o braço dele em volta de seu pescoço e o levou até o andar de cima. Sorrateiramente passou pela sala, observando ao redor para se certificar de que não havia ninguém. Quando viu que era seguro saiu em disparada, correu com sua velocidade máxima até a floresta, ela parou quando chegou a uma clareira... E se Joseph não aparecesse?

–Cheguei a pensar que você não fosse conseguir. -Disse ele vindo de trás das árvores, ele estava acompanhado por pelo menos dez vampiros... E Lydia.

–Fiz o que você pediu, agora eu o quero morto.

–Depois do feitiço eu mesmo o mato. -Os vampiros começaram a sair da floresta, todos na mesma direção, e levavam John com eles... A essa altura ele nem sequer falava. -Vamos? -Joseph perguntou jogando a cabeça para o lado.

–O que?

–Não quer ouvir em primeira mão quando John confessar que não é o primeiro vampiro da terra?

–Eles vão notar minha falta em breve... -Megan não conseguiu disfarçar seu desapontamento -E você não sabe se isso é mesmo verdade.

–Mas vou descobrir daqui há algumas horas. Certeza que não quer vir?

Megan assentiu, um tanto distraída.

–Posso te dar sangue. Já que agora o seu namorado descobriu o seu lado faminto.

Ele estava bem perto dela... Talvez ela fosse uma das únicas que não se sentisse intimidada por ele. Ela franziu as sobrancelhas.

–Como sabe sobre isso!? Você estava ouvindo minha conversa com Kevin!?

–Sim.

–Porque?

–Porque eu queria estar perto quando ele te mandasse embora.

–Do que está falando?

Ele suspirou.

–No mundo dos vampiros, ou você controla a fome, ou ela controla você. No seu caso, é como se estivesse entre as duas coisas... Mas eu sei que você vai ceder.

–Ceder? Acha que vou me tornar um monstro?

–Não, acho que você já se tornou um. -Ele sorriu, então segurou a cabeça dela nas mãos, seus olhos a encaravam atentos -Você se virou no avesso quando se tornou uma vampira... Só que talvez o avesso seja o seu melhor lado. Entende?

–Você... Você está errado. Eu não sou um monstro, sou a mesma Megan de sempre.

–Você mente até pra sí mesma... A Megan de antes nunca teria feito um trato comigo, nem que isso fosse benéfico pra ela de alguma forma.

–Eu posso ter mudado, mas Kevin nunca me mandaria embora, eu tenho certeza que não.

–Esse é um clã de vampiros bons, Megan. Eles não vão medir esforços pra mandar você embora... Mas tudo bem, saiba que sempre será aceita no meu clã.

Ele deu um meio sorriso a ela, e a deixou... Por um momento Meg temeu que suas palavras fossem verdadeiras... Ela não era um monstro, não se tornaria um! Ficava repetindo isso em sua cabeça, droga! Ela não pensava em mais nada. Sangue. Estava perdendo o controle, estava com fome e sabia que logo seria dominada, ela atacaria o primeiro que viesse em sua frente, não iria se importar.

–Megan! -Ela voltou em sí, Kevin estava ali, ele segurou seus braços -O que está acontecendo? Te chamei pelo menos três vezes. Você está bem? Porque está na floresta?

–Por favor não me mande embora! -Ela deixou escapar em meio as lágrimas que agora pareciam uma cachoeira sem fim, ele a abraçou, estava preocupado... Ela estava mudando, parecia confusa em seus sentimentos, ele não sabia o que fazer.

–Eu nunca vou te mandar embora, de onde tirou isso?

Megan o soltou, limpou suas lágrimas. Porém jamais diria que foi Joseph. Ela estava faminta, mas temia dizer isso a Kevin, ela precisava resistir a sua fome.

–Foi só uma coisa que passou pela minha cabeça...

–Eu amo você, nunca te mandaria embora. -Ele estendeu a mão -Vem comigo.

–Eu nem me vesti direito ainda.

–Não importa.

Ele praticamente a puxou, então os dois correram pela floresta, Megan gostava de poder acompanhá-lo, com velocidade igualada.

*

–O que está esperando pra começar o feitiço? -Joseph perguntou a Lydia.

–Pra dizer a verdade está tudo pronto, mas... Descobrir a verdade nem sempre é algo agradável.

–O que quer dizer?

–Quero dizer que se você estiver certo, se alguém realmente usou a hipnose com John e Peter, esse alguém não quer ser encontrado. Então encontra-lo, vai deixá-lo no mínimo furioso. É isso que você quer? Irritar o vampiro mais forte na face da terra?

–Isso não é uma questão de querer, Lydia. Todos precisam da verdade, se vaí ser ou não agradável é algo que não posso controlar.

–Como quiser. Mas lembre-se, a ideia foi sua.

Ela fechou os olhos, John estava na cadeira logo a frente. Quando ela começou a pronunciar o feitiço ele apagou, parecia estar dando certo. E agora Joseph se perguntava se isso era bom ou ruim.

*

–Se lembra desse lugar? -Kevin perguntou. Ele sentou-se no chão, encostado em uma árvore.

–Lembro. Foi aqui, onde você me salvou dos vampiros de John pela primeira vez.

–Isso.

–E também onde descobri que você não era humano.

–Aposto que foi um choque.

–Um pouco, mas só porque eu não sabia que você era um dos mocinhos. -Ela sentou ao lado dele. -Eu sinto falta de ser aquela garota.

–Você ainda é, só um pouco confusa, mas ainda é.

–Como foi pra você? Eu digo... Nunca foi viciado em sangue ou algo do tipo?

–Quando fui transformado, eu pensei ter aprendido a me controlar... Fiquei longe de Frank por um tempo, viajei pra longe... Então eu conheci uma garota... -Ele respirou fundo -Eu pensei que me apegando a uma humana, de alguma forma eu me sentiria como um.

–Então vocês ficaram juntos? -Eles se encararam, Kevin voltou a falar.

–Sim, por um tempo moramos juntos. Eu me alimentava de bolsas de sangue.

Ele abaixou os olhos. Megan perguntou.

–E o que deu errado?

–O sangue acabou... Foi tudo bem rápido, eu me lembro que ela estava na cozinha, eu perdi o controle... Deixei a raiva tomar conta. Ela foi até o quarto ver o que estava acontecendo... Eu a persegui pela casa, e a encurralei. Logo depois me lembro de rasgar sua garganta e beber seu sangue... Todo o seu sangue. -Kevin estava distante, parecia estar relembrando. -Eu a matei, e ela não merecia.

–Sinto muito... -Megan o abraçou.

–Tudo bem... Já faz muito tempo. O que quero dizer é que todo vampiro passa por um fase ruim, essa é a parte ruim da eternidade.

–E o que aconteceu depois?

–Eu me isolei por um tempo, aprendi a controlar meu desejo por sangue... Depois voltei, e me juntei ao seu pai e os outros.

–Acha mesmo que eu tenho chances de me controlar?

–Com toda certeza. Você vai conseguir.

Ela sorriu, Joseph estava errado. Kevin não a deixaria. Eles permaneceram ali por um longo tempo, até decidirem voltar.

*

–Onde estavam!? -Luna perguntou aflita quando eles passaram pela porta.

–Porquê essas caras? -Disse Kevin ao ver a preocupação em todos os vampiros.

–John fugiu.

–O que? Como?

–Não sabemos...

–Ele não fugiu. -Disse Peter chegando na sala -Alguém soltou ele.

–Não tem como alguém ter entrado aqui, Peter... Nós teríamos notado.

–Você está certo, Kevin. Ninguém entrou.

–Está dizendo que alguém do nosso próprio clã o soltou?

–Exato.

–Como tem tanta certeza?

–Ele estava fraco demais pra se soltar sozinho, e a chave estava na porta. Ela não foi arrombada, foi aberta.

–E o que pretende fazer a respeito?

–Não sei. Mas eu vou descobrir quem foi o traidor. E quando descobrir, é bom pra ele que não esteja mais aqui!

Peter saiu pela porta, Luna e vários outros vampiros o seguiram. Kevin encarou Megan, ele percebeu algo estranho em seu olhar.

–Você está bem?

–O que? Ãn... Estou. Espero que encontrem ele logo.

–Vou ajudar nas buscas. Enquanto isso acho melhor você ficar aqui.

–Ok.

Ele saiu, Megan não sabia o que fazer, droga! Isso não devia ter acontecido tão cedo. Ela começava a se arrepender por ter ajudado Joseph. Joseph! Precisava avisar ele. Megan saiu de casa e correu, ela sabia onde encontra-lo.

*

–Alguém quer te ver, senhor.

–Quem!? -Joseph perguntou.

–Megan.

–Deixe-a entrar.

Megan entrou logo em seguida, esbarrando em um dos vampiros, ela chamou Joseph para o canto da sala. Ele a encarou curioso, percebeu a preocupação nela.

–O que aconteceu?

–O meu pai descobriu que alguém ajudou John a fugir.

–Alguém? Agora você fala de você em terceira pessoa?

–Joseph não tem graça!

–Ta, e o que quer que eu faça? -Ela continuou olhando pra ele, cruzou os braços e fez beicinho -Megan, ele é seu pai. Nunca vai desconfiar de você.

–Não está com medo?

–Eu deveria?

–Meu pai tem um clã extremamente forte.

–Não seja ingênua. Ele não vai conseguir me matar.

Megan se preparou para uma discussão, porém foi interrompida por Lydia.

–Deu certo! É hora de descobrir a verdade.


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