Sede de Sangue escrita por A solitária


Capítulo 27
Despedida




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O dia estava amanhecendo, Peter havia ligado há uns quarenta minutos, estava cuidando para que John não escapasse, ele ainda estava fraco por conta do feitiço, isto era uma boa notícia, porém seria melhor apreciada se Megan estivesse bem.

Desde que a trouxeram, tudo o que a enfermeira fez, foi voltar, e questionar o que havia acontecido para "a garota chegar em um estado tão grave no hospital".

Kevin permanecia sentado, a tensão lhe dominava... Se tivesse feito com que ela ingerisse seu sangue assim que saiu da fábrica, seu estado seria melhor, ele pensava.

Luna estava em pé, encostada na parede tão fria quanto sua pele. O médico se aproximou. Olhando para Kevin, e em seguida para ela.

–Como ela está!? -Kevin perguntou, se levantando aflito- Ela vai ficar bem!?

O médico permaneceu ali, olhando para ele por um momento, então com um longo suspiro formulou as palavras.

–Eu sinto muito. Infelizmente ela não resistiu.

Luna voltou a se sentar, com soluços de mais uma perda. Kevin fechou seus olhos... Ele não veria ela de novo, não ouviria um eu te amo saindo de sua boca novamente. E tudo era sua culpa? Porque não lhe deu sangue antes.

O médico o olhava, com uma certa pena, pois sabia como ele estava desestruturado naquele momento.

–Realmente, ela era jovem demais... Mas... Infelizmente a morte vem quando menos esperamos, e... -Kevin o interrompeu.

–Eu posso vê-la?

Antes que o doutor dissesse um não, a enfermeira apareceu ao seu lado, com um rosto cheio de compaixão.

–Claro que pode. -Ela se voltou ao médico- Deixe-o entrar, ao menos por pouco tempo, além do mais o hospital é vazio a essa hora.

Aquela era uma das melhores amigas de Marcella no hospital, ela sentia que devia deixar Kevin entrar, e aquilo seria como um favor a Marcella. O médico assentiu, e a enfermeira sinalizou o corredor para Kevin, mas antes que ele fosse Luna o parou.

–Eu... Eu vou avisar ao Peter... -Mais uma vez começou a chorar- Se despeça por mim também... -Ela completou e se virou em soluços.

Kevin continuou andando pelo corredor ao lado da enfermeira. Até que ela parou em frente a uma das várias portas e a abriu. Kevin respirou fundo, e em seguida entrou, mas ela permaneceu ao lado de fora.

–Olha... Pode ficar o tempo que precisar, eu dou um jeito no doutor... Sei que precisa se despedir... -Ela disse e fechou a porta com um meio sorriso.

Kevin olhou para a cama, e lá estava ela, agora coberta por um lençol branco. Ele se aproximou e sentou-se na poltrona ao lado da cama. Guiou sua mão até o lençol, mas hesitou, não sabia se realmente queria vê-la, não daquele jeito. Não morta.

Quando sua mão se afastou, lágrimas desciam pela sua face, ele tinha a certeza de que seria completamente incompleto pelo resto da eternidade. Não era assim que as coisas deviam ser, ela era jovem demais, boa demais para morrer. Ainda mais de uma forma tão cruel.

Ele levantou uma parte do lençol, uma minúscula parte, então segurou sua mão. Aquela mão pequena, e agora mais gelada que nunca. Haviam tantas palavras que ele gostaria de dizer, tantas coisas que ele precisava repetir, como "Eu amo você", e milhares de outras. Mas naquele momento, Kevin simplesmente não sabia se devia ou não dizer.

E por mais que fosse doloroso pensar, ele sabia que não importava o que ele fosse dizer, ela não estava mais lá, não iria ouvir nada do que ele dissesse. Ele decidiu permanecer ali, mesmo com as lágrimas. Ele ficaria ali até quando lhe permitissem.

*

Peter deixou cair o telefone quando Luna desligou, ele se sentia um fracasso. Havia se ausentado de Megan por toda a vida dela, querendo protege-la, e agora estava completamente arrependido por isto. Ele devia ter sido um pai presente, devia ter se esforçado, pensava ele enquanto algumas poucas lágrimas desciam de seus olhos.

–Você esta bem? -Perguntou Frank.

–Ela... Ela morreu...

E seus olhos se encheram de lágrimas, ele não sabia o que fazer, mas queria fazer alguma coisa. Ele limpou os olhos e desceu até o porão. Então abriu uma porta velha de madeira.

–Seu maldito! -Ele disse assim que seus olhos chegaram a John. Ele estava acorrentado a parede.

Metade de seu rosto estava deformado, quase em carne viva. Ele estava fraco, quase como um vampiro recém transformado. Peter o ergueu do chão, e bateu em seu rosto. Ele olhou fixamente para Peter, e seu sorriso se alargou.

–Não consegui matar você fisicamente... Mas pelo visto acabei com seus sentimentos, não é mesmo irmãozinho?

Peter saiu e voltou até aquela sala em menos de dois segundos. Ele segurava uma barra de ferro na mão.

–Não somos irmãos! -Disse ele enfiando a barra de ferro na barriga de John.

Em seguida a retirou e jogou para fora, então socou a parede, sua respiração era de fúria. John voltou a sentar-se no chão, de fato ainda estava fraco. Peter se virou para sair daquela sala.

–PORQUE NÃO ME MATA!? Você é um fraco Peter! Eu matei o amor da sua vida... Matei a sua filha... Mas ainda assim, você tem compaixão sobre mim.

Peter voltou a encara-lo.

–Compaixão? -Peter riu, mas logo ficou sério- Você vai apodrecer aqui até seus últimos dias... -Ele o observou- Que não vão demorar a chegar. Vai ficar sozinho, vai morrer como o monte de merda que você é!

Então se virou, e saiu daquele lugar imundo, trancando a porta e levando a única chave consigo.

*

–Com licença... -Disse a enfermeira entrando no quarto -Você precisa sair, vão levar o corpo.

Kevin permaneceu olhando para a enfermeira, mas logo seu olhar retornou para Megan... Ou ao lençol que cobria seu corpo. Ele soltou sua mão, e a pôs novamente em baixo do lençol. Então respirou fundo e se levantou. Deu aproximadamente três passos e foi interrompido.

–Que porra é essa!? -Disse a enfermeira colocando as mãos na boca horrorizada.

Kevin franziu as sobrancelhas ao ver que ela olhava na direção da cama. Ele se virou rapidamente, e lá estava Megan, com o tronco levantado da cama, a respiração ofegante, como alguém que correu uma maratona sem nenhum preparamento.

Ela estava pálida, muito mais que o habitual. Seu olhar encarava o nada. Mas aos poucos sua mente parecia entrar em ordem. Seus olhos chegaram em Kevin, sua respiração se acalmou, mas ela não disse uma palavra.

Kevin estava estático. Ele a havia transformado... E uma pequena parte sua não sabia se isto era bom ou ruim.

–Como... Como posso estar viva? -Disse Meg, distante. Não dava para saber se era uma pergunta ou um pensamento em voz alta.

A enfermeira saiu do quarto as pressas, Kevin se aproximou de Megan, então começou a tirar lençol de cima dela.

–O que está fazendo? -Ela perguntou.

–Eu dei meu sangue a você, você morreu com meu sangue no organismo.

–Sou uma vampira!?

–Não, mas está em transição. Tenho que tirar você daqui antes que se alimente de alguém.

Kevin a segurou nos braços e passou por todos tão rápido que ninguém notou sua presença. Luna estava voltando para o hospital, até ver os dois. Ela parou com olhos arregalados, porém sentia-se aliviada de certo modo.

*

Kevin abriu a porta e entrou, Peter olhou confuso, até que viu Megan, em pé atrás de Kevin, ela ainda usava as roupas do hospital.

–Filha! -Disse Peter a abraçando -Você... O que aconteceu? A Luna disse...

–Dei meu sangue a ela pouco antes de chegarmos ao hospital. -Kevin interrompeu -Ela morreu e o meu sangue a trouxe de volta.

–Ta. Tudo bem. -Disse Megan -E o que acontece agora?

–Você escolhe. -Disse Kevin -Se você se alimentar, termina a transição e se torna uma vampira.

–E se eu não me alimentar?

–Você... Você vai enfraquecer até morrer.

–Cá entre nós Megan, é melhor você subir e descansar. Depois vamos pensar nisso. -Disse Peter.

Megan assentiu e subiu, ela mal podia esperar para tomar um longo banho, estava confiante, embora tivesse voltado dos mortos, e agora existisse a chance de morrer novamente, embora tudo isso passasse por sua cabeça, ela não tinha medo. A coragem estava a seu favor.

–Você já deu um jeito no corpo de Lexi? -Kevin perguntou a Peter.

–Pedi para que Frank cuidasse disso.

Ambos olharam para trás ao mesmo tempo ao ouvir a porta se abrir, então viram Luna. Ela com certeza estava arrasada por conta da morte de Lexi, porém não demonstraria isso. Kevin abaixou os olhos, enquanto Peter tentava parecer transparente em sentimentos, porém tudo o que Luna enxergava era sua pena... Ou talvez compaixão.

–Ta tudo bem gente. Eu... Eu estou bem. -Ela disse e em seguida foi para seu quarto.

Quase não conseguiu conter suas lágrimas. Elas saíram de um modo intenso, ela não conseguia acreditar que nunca mais veria sua irmã. E onde estava o seu corpo a esta hora? Pobre Lexi, uma vida inteira completamente mal resolvida.

Luna ia se jogar de costas na cama, quando sentiu uma mão em sua boca. Era Max entrando no quarto.

–Está ficando louco!? -Ela disse entre lágrimas e sussurros -Eles vão te ouvir!

–Eu não me importo. Só não quero te deixar chorando.

E ela o abraçou, os dois se deitaram na cama. Ele mexia em seu cabelo enquanto ela desabafava em seus ouvidos. Hora ou outra ele a acalmava com um beijo na bochecha ou mesmo no cabelo. Ela não se sentia mais tão triste, pois sabia que tinha Max ao seu lado.

*

Megan se virou ao ouvir passos no quarto. Era Peter, ele a olhou com um olhar que era impossível ser decifrado, ela sorriu, sabia que devia passar conforto a ele.

–Como se sente? -Ele perguntou.

–Estou bem. Um pouco cansada talvez... Mas bem.

–E quanto a... Bom, você sabe... -Ela o interrompeu.

–Não sei se quero ser uma vampira... Mas... Eu não quero morrer de novo.

–Esta será a maior escolha da sua vida. Então pense com calma.

Megan assentiu, em seguida sentou-se na cama. Realmente ela precisaria pensar.

–Se importaria se eu pedisse pra me deixar sozinha?

–Não, tudo bem. -Ele beijou seu cabelo e saiu do quarto.

Megan se deitou, ela estava tentando refletir sobre aquilo, mas estava sendo a coisa mais difícil que ela já havia feito. Viver eternamente não era nem de longe o que ela havia planejado, tornar-se uma vampira ia contra todos os seus planos.

Porém apenas pensar em morrer de novo já à deixava aflita. Estava escurecendo, ela se levantou da cama para acender a luz. Quando o fez seu olhar encontrou o espelho do guarda roupa. Ela viu seus olhos vermelhos na maior parte, com veias saltadas. Então não pode evitar abrir sua boca, pois havia começado a sentir uma estranha dor, quando olhou ao espelho viu que a dor era por conta das presas que estavam saindo.

Ela trancou a porta do quarto, e então entrou no banheiro. Seus olhos ainda estavam vermelhos, suas presas pareciam crescer um pouco mais, até que pararam dando espaço ao pânico que havia tomado Megan, ela precisava chamar alguém, mas não o fez.

Se encostou na parede e deslizou até o chão. Então segurou a cabeça nas mãos, ela esperava que aquilo passasse... E passou, ela não sentia mais suas presas. Rapidamente se levantou do chão e olhou para o espelho, seu rosto estava normal.

Ela sorriu aliviada, porém não durou muito. Uma pontada em seu estômago a fez gritar. Era uma dor insuportável, e Megan sabia o que era, a fome. Ela nunca havia sentido algo como aquilo. Sua mente se esvaziou, ela só pensava em uma coisa. Sangue.

Ela saiu do banheiro, não sabia o que estava fazendo, mas sabia que beberia sangue assim que encontrasse. Porém antes que saísse do quarto Kevin a segurou.

–Megan! -Ele segurou seus braços e olhou em seus olhos -Você consegue controlar isso, respire.

Ela o encarou, mas respirou fundo uma ou duas vezes, e ali, olhando para Kevin, ela voltou ao normal, voltou a ser humana.

–Eu não consigo Kevin. Não posso ser uma vampira.

–Com o tempo você vai aprender a controlar isso. Eu prometo.

–Eu... Eu não quero controlar, Kevin, eu só quero ser humana... Não posso ser vampira.

–Vai mesmo escolher sua humanidade?

–Eu não seria eu, se não fosse humana. -Kevin abaixou os olhos, Megan respirou fundo, a fim de conter suas lágrimas -Eu amo você, nada vai mudar isso.

–Eu também amo você... Vou sentir sua falta.

Megan o abraçou. Em seguida ambos voltaram a se encarar.

–Eu pensava que você era o meu primeiro amor... Mas me enganei... Você foi o único. -Disse ela.

Kevin deu um meio sorriso, e em seguida a beijou. Megan temia que aquela fosse a última vez que estivesse beijando Kevin. Ela era apaixonada por ele, não sabia o que viria depois que morresse, mas pensar que ele não estaria lá partia seu coração.

Eles continuavam se beijando, na expectativa de que durasse pra sempre. Kevin beijou seu pescoço enquanto ela segurava seu cabelo. E ambos andaram com os lábios colados até a cama. Megan passava suas mãos pela costas de Kevin quando ele tirou sua camisa.

Ele continuava beijando seu pescoço, com a respiração lenta. Megan arranhou suas costas enquanto as mãos dele subiam por suas coxas e logo depois tiravam sua blusa. Ele beijava seu corpo, ela acariciava seu cabelo, e tudo com o pensamento de que seria a última vez.

Ambos despiam-se das roupas no quarto mal iluminado, e entre um beijo e outro, seus corpos se encontraram, e eles se entregaram ao calor do momento, com uma brisa fria que entrava pela janela, mas que nenhum deles sentia. Pois estavam ocupados demais com seu último gesto de amor.

*

–Eu consegui as bolsas de sangue do hospital que você pediu. -Disse Frank entrando na cozinha.

–Ótimo. -Peter respondeu -Se Megan optar por este caminho já tem com o que se alimentar.

–Então... Como vai ser de agora em diante?

–Sobre?

–Sua filha... John não é mais uma ameaça, então você não tem mais que protegê-la...

–Não vou sair sem rumo se é isso o que você esta pensando.

Frank sorriu.

–Não foi isso o que eu quis dizer. Mas... Porque não recomeça? Arranja uma garota legal, se apaixona de novo. Acho que Megan iria gostar disso.

–Não sei... Não consigo me imaginar em uma família novamente.

–Mas, você é um vampiro, tem a eternidade pra conseguir... Bom, agora eu tenho que ir. -Disse Frank saindo da cozinha.

*

Megan estava abraçada a Kevin quando acordou. Ela olhou para o relógio e passava da meia noite, a fome a havia despertado. Ela sentiu uma pontada no estômago, mais forte do que a outra, então se levantou da cama. Fazendo o mínimo barulho para que Kevin não acordasse.

Ela desceu as escadas, e instantaneamente sentiu o cheiro do sangue na cozinha. Suas presas saíram novamente, desta vez não havia doído tanto. Ela entrou na cozinha e aproximou-se da geladeira, rapidamente abriu a porta e tirou pelo menos três das bolsas de sangue.

Megan não conseguia se controlar, ela abriu uma das bolsas de sangue. Não havia nada em sua mente que a fizesse parar. Ela levou a bolsa de sangue até a boca. Então a luz da cozinha acendeu.

–Você não quer fazer isso.

Megan voltou em sí e olhou para Kevin parado em frente a porta. Ele estava com os braços cruzados a encarando. Quando se deu conta que ainda segurava a bolsa de sangue Megan a largou no chão e se levantou.

–Eu estou com muita fome... Quanto tempo isto vai durar?

–É difícil dizer. Vária de cada um.

Ela o abraçou, e sem poder evitar começou chorar.

–Estou com medo, Kevin.

–Eu sei, mas... -Ele parou de falar, não sabia como completar a frase, "mas vai ficar tudo bem"? Bem pra quem?

–Eu... Eu preciso tomar um ar. -Megan disse soltando Kevin e andando na direção da porta.

–Ta tudo bem?

–Sim, só... Só quero ar fresco pra pensar.

Kevin a beijou e a deixou sair, em seguida pegou as bolsas de sangue que estavam no chão e as colocou de volta na geladeira.

–Kevin? -Peter perguntou entrando na cozinha -Onde a Megan esta?

–Lá fora, ela disse que ia tomar um ar. Quer que eu a chame?

Peter assentiu, então Kevin foi até a varanda. Ele olhou para os dois lados.

–Droga!

–O que foi? -Disse Peter parando ao seu lado rapidamente.

–Megan sumiu...


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