The Amazing Spider-Man escrita por Leinad Ineger


Capítulo 6
Capitulo 6 - O Medo é a Chave




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/502836/chapter/6

Milhares de mãos o golpeavam simultaneamente, espancando e sufocando. O Homem-Aranha fechou os olhos, aguardando o conforto da escuridão. Mas, quando o ataque finalmente cessou, a escuridão não trouxe nenhum alívio. Mais uma vez ele está no caixão preparado por Kraven, o Caçador. O ar viciado começa a lhe dar náuseas. Ele esmurra o caixão violentamente ("Por que ele não cede?") até se dar conta de que não está sozinho. As batidas de seu coração quase são capazes de abafar o som da respiração do intruso. Um sibilo obsceno, mal-intencionado:
– Somos só nós aqui, Peter.
– Eddie?
– Não, Peter... Nós! Venom!
O desespero tomou conta do Aranha mais uma vez. Ele tenta se afastar do velho inimigo, mas não há espaço para isso ("O caixão é tão pequeno"). Ele chega quase a achar graça da observação, afinal, o caixão não é pequeno. É exatamente do seu tamanho. Como uma roupa.
Ou um simbionte.
Ele se fecha como um casulo ao redor do seu corpo, invadindo sua mente, possuindo sua vontade. Seus sentidos são anestesiados, mas não o suficiente. Ele ainda consegue sentir os golpes de Eddie Brock, o Venom. Ele torce para que Venom quebre seu pescoço de uma vez. Ao invés disso, ele simplesmente continua batendo e batendo e batendo e...
– Não se preocupe, Peter. Nós somos sua única preocupação. Afinal, Norman está lá fora...
Peter sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
– ... com a tia May!
O Espantalho observava atentamente enquanto o Homem-Aranha se debatia. O herói balbuciava alguma coisa sobre responsabilidade, escuridão e mortos que voltavam à vida. Do que teria medo, afinal? Quais seriam seus horrores mais íntimos? O professor Jonathan Crane era movido pela curiosidade, mas seu alter-ego tinha outras preocupações no momento. Como a bomba que estava prestes a mergulhar Manhattan numa onda de terror.
Mas... e quanto ao seu outro cativo?
Todos pareciam arrancar um pedaço dele. Leões, tigres, panteras... E o morcego. Ele ouvia um guincho infernal, ensurdecedor. E o morcego gritava, perguntando onde ele estava quando mais precisou. Por que ele tinha falhado. Como ele foi capaz de dar as costas à Gotham e a tudo que tinha recebido e a todos que confiavam nele. Como Bruce. Bárbara. Tim, Helena, Kory...
Os Titãs.
Jericó.
O Exterminador, pai do Titã Jericó, perguntava "Quem é o herói agora, moleque?", enquanto o empalava junto ao cadáver de Jericó.
E de Jason.
Se ele estivesse lá, Jason não teria morrido. Mas Dick tinha falhado com ele e com Bruce. E com Bárbara. E com seus pais, que continuavam a cair enquanto todos o reprovavam como a cópia que era. Incapaz de ser Robin, incapaz de ser Batman, agora era incapaz de ser Asa Noturna ou mesmo Dick Grayson. E o morcego continuava a estripá-lo, despedaçando bolas de carne e sangue de Asa Noturna, até arrancar o símbolo do morcego de dentro dele.
A insígnia caiu no chão. Jean Paul Valley a pegou, olhou bem no fundo de seus olhos e disse: "Você não merece usar isso". Colocou a máscara de Azrael e começou a espancá-lo.
O Espantalho atarrachava um parafuso no mecanismo da bomba, deliciando-se com o medo de ferir os dedos com a chave de fenda. A adrenalina invadia seu córtex cerebral como uma onda furiosa, um coral de anjos anunciando o juízo final para Nova York. Ninguém conseguiria detê-lo...
O Homem-Aranha estava tentando salvá-la. Puxava o corpo dela, lentamente, da ponte do Brooklin. Rezava para não ser tarde demais. Foi quando finalmente olhou para baixo. Na outra extremidade do fio de teia, tia May sufocava, presa pelo pescoço.
– Tia May! Não! Eu vou salvar você!
– Como você salvou Gwen, Peter? Agora é muito tarde para isso! Hahahahaha...
O herói ouviu a risada do Duende Verde cada vez mais próxima. Levantou a cabeça e o viu, em seu jato-morcego, tirando a máscara e revelando ser o tio Ben. Peter ficou estático. Pensou em desistir. Não havia tempo para se esquivar. Foi quando se deu conta de que o sentido de Aranha não estava em alerta. Sua respiração ficou mais regular, o corpo relaxou e os batimentos cardíacos diminuíram. Despertou do transe induzido pela toxina do medo. Estava com o corpo dolorido. Olhou em volta e viu o estrago que tinha causado. Dezenas de cadeiras foram despedaçadas enquanto se debatia. No fundo do salão, Asa Noturna parecia estar convulsionando. Mas como ajudá-lo? Uma boa opção era nocauteá-lo, afinal, desmaiado, suas funções biológicas relaxariam.
Mas seria o suficiente? E se ele não acordasse a tempo?
Foi quando o Homem-Aranha teve uma brilhante idéia. Bom, talvez não fosse tão brilhante assim...
A bomba estava armada próxima à janela. A toxina se espalharia em todas as direções num raio de 2km, antes de ser levada pelo vento, podendo chegar aos limites do estado antes de amanhecer. Uma nuvem negra de medo e desespero.
O Espantalho sorriu. Nada como uma cidade em ruínas, encurralada pelo pânico, para testar seus experimentos. E se a toxina chegasse à mansão dos Vingadores? Quais seriam os temores do Capitão América? E Thor, o pretenso "deus do trovão"? Teria ele alguma fobia "mortal", como medo do escuro?
Olhou novamente para a bomba, sua obra-prima. Que som faria ao ser detonada? Uma questão fadada a ficar sem resposta, pois, no instante seguinte, ouviu um sibilo desagradavelmente familiar e enxergou tudo escuro. Quando abriu os olhos, estava no chão, a cabeça dolorida. Um bumerangue.
– Acabou, Espantalho! - gritou Asa Noturna.
– Heh. Errado, heróis... É apenas o começo!
– Ah, dá um tempo - disse o Aranha. - Pegamos você e temos sua bomba.
– A bomba? Heh. Não, não têm. Vocês não entendem. Minha toxina do medo é apenas um catalizador. O estrago já está feito, Nova York ruiu e assim que minha toxina se espalhar, toda esperança morrerá! Medo, senhores! Medo é a chave para o que você quer ser! Este mecanismo não é a bomba, é apenas o detonador!
Ao dizer isso, o Espantalho pulou pela janela. A bomba com a toxina estava presa em seu corpo. O Homem-Aranha se lançou atrás dele de imediato, sem dizer uma palavra, na tentativa de alcançá-lo antes que atingisse a rua. O maníaco podia morrer, mas não se importava, desde que infectasse a cidade com sua toxina. Asa Noturna checou o detonador. Não tinha sido acionado ainda, portanto, não representava perigo. Aproximou-se da janela e viu, na rua, o Espantalho preso numa enorme bola de teia feita pelo Aranha.
– Me solte, seu idiota!
– De jeito nenhum - disse o Aracnídeo, enquanto arrancava as ampolas com a toxina da roupa do Espantalho. Eram quatro ampolas, que o Aranha envolveu numa bola de teia que as manteriam seguras. Asa Noturna chegou ao chão:
– Tudo bem, Aranha?
– Só alegria. Pegamos o Espantalho e as toxinas. O que vamos fazer com isso?
– Deixe comigo. Eu vou levar para o Batman analisar. Essa nova toxina é muito perigosa.
– Sem dúvida. Mas vamos deixar o Espantalho para a polícia e cair fora. Foi uma noite cheia...
Horas mais tarde, no alto de um prédio, os dois heróis conversavam sobre o caso que tinham resolvido juntos:
– Vai ser difícil manter os malucos longe daqui depois de tudo que aconteceu. Obrigado pela ajuda, Asa.
– Disponha. Mas ainda vou te dar o troco...
– Não vá me dizer que ficou chateado...?
– Chateado? EU??? Nããão! Apenas não estou acostumado a acordar com um jato de extintor em cima de mim!
– Não tinha outro jeito! O jato de gás carbônico gelado diminuiu seus batimentos e respiração em instantes. Era o que você precisava para se livrar do efeito da toxina do Espantalho.
– Grande, Aranha. Graaande! Com quem você estudou, com o Besouro Azul? Eu quase morri! Por que não me deu um soco para eu desmaiar?
– Não sabia se isso ia funcionar. E depois, você podia acabar demorando muito pra acordar.
– Está insinuando que não agüento uma porrada sua?
– Não! (Hehehe...) Mas ainda acho melhor o gás gelado do que um soco.
– Sei... Escuta, Aranha... Como você fez pra se livrar do efeito da toxina?
– Eu tenho um... sexto sentido. Eu chamo de Sentido de Aranha. Ele costuma me alertar em situações de perigo, mas não estava funcionando durante o transe. É porque não havia nenhum perigo real lá.
– Hmmm... Interessante. É como uma visão periférica?
– Mais ou menos. Ei, Asa, por que você não arruma um Aranharangue pra mim?
– Um o que???
– Aranharangue. Sabe, o bumerangue do Aranha.
– ...
– Só um, vá.
– ...
– Foi fraca essa, né?
– ...
– Você devia ver o Tocha Humana contando piada.
– ...
– Diz aí, Asa: você anda MUITO com o Batman, não é mesmo?
Epílogo 1
Ele correu por horas, rasgando roupas e pedaços de pele para se livrar da teia do Homem-Aranha. Queria arrumar carona antes do amanhecer e voltar para Gotham. Lá poderia planejar seu próximo passo, mas o Aranha... Ah! O Aranha ouviria falar do Espantalho novamente muito em breve!
Epílogo 2
– Peter? É a Tina, tudo bom?
– Tina! Tudo jóia! E você?
– Tudo bem. O que aconteceu? Não apareceu pra trabalhar hoje... Fiquei preocupada.
– Não consegui acordar a tempo. Mas tudo bem, como eu doei sangue, acho que consigo uma dispensa.
"Será que o Dr. Connors faz uma dispensa de trabalho em branco pra mim?"
– OK, Peter! Eu estava preocupada.
– Imagina, Tina. Está tudo bem. Escuta, que tal se saírmos hoje à noite?
– Ora, por mim está ótimo! Mas, depois de tudo que aconteceu... Onde podemos ir?
– Ah, só passear um pouco. Conversar, sabe? Preciso passar no Clarim para entregar algumas fotos, então pego você no fim da tarde.
– Combinado, Peter. Até mais!
– Até.
Peter desligou o telefone e apanhou a edição do dia do Clarim. O jornal fez uma ampla cobertura dos ataques terroristas, com várias fotos suas. Mas o que realmente chamou sua atenção foi o depoimento da advogada Kim Fox, salva pelo Homem-Aranha. Ela se dizia privilegiada por ter sido salva pelo "maior herói de Nova York" e que faria tudo ao seu alcance para que a cidade se lembrasse dele dessa forma. Ela continuava dizendo que queria muito encontrá-lo para agradecer por ter salvo sua vida.
Peter balançou a cabeça, pensando em como quase tinha desistido durante a luta com o Espantalho. Mas, sem o Homem-Aranha, muitas pessoas teriam morrido.
– Peter, querido... Tudo bem?
– Oi, tia. Tudo bem. Eu estava pensando como as pessoas se uniram mesmo após toda essa tragédia.
– Ah, sim. Realmente, nos momentos mais difíceis é que o espírito humano mostra seu valor.
– É verdade. Mas... E se os heróis desistissem? Se o Aranha, Capitão América, Superman... entregassem os pontos?
– Viriam outros. Não é o uniforme que as pessoas seguem, Peter. É o exemplo. Como aquele jovem que faleceu, o Superboy.
– Como é?
– O Superboy morreu, um dos Vingadores também.
Peter ligou a TV e viu as reportagens em homenagem ao Superboy e ao Gigante. Como o Aranha se retirou do local horas antes, sequer pôde ver o ocorrido.
– Tia May, eu...
– Peter, querido... Está tudo bem. Ele sabia o que estava fazendo. Se não fosse por ele, milhares de outros teriam desistido. Ele cumpriu sua missão.
"Ele era meu amigo", Peter quis dizer. Quando o corpo do Superboy foi encontrado, o Homem-Aranha foi para o cemitério de Arlington prestar suas homenagens, ao lado do Superman e outros heróis. Às vezes, o mundo parecia não fazer mais sentido, mas ele sabia que, aos olhos do mundo, era gente como ele que dava sentido à luta e à esperança.
Jamais desistiria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Amazing Spider-Man" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.