A história de Ana e Luca escrita por marlia


Capítulo 4
Capitulo 3




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Luca olha pelo vidro do carro aquela cidade estranha que não lhe diz nada, pessoas estranhas, prédios diferentes de Roma, uma cidade mais nova. Ele fecha os olhos buscando em sua memória lembranças dela... Ana, na garupa de sua moto, de madrugada, depois de um show, ela gostava de colocar sua mão embaixo de sua blusa e acariciar sua barriga enquanto ele pilotava... Luca abaixa sua cabeça e sorri como se pudesse sentir seu toque... Ele ouve o motorista do táxi falar alguma coisa, levanta a cabeça para olhar os olhos dele pelo espelho, depois olha para Senhora ao seu lado.

– O Taxista pergunta se vamos primeiro ao hotel ou ao endereço que deu a ele? – ela traduz o que o motorista havia dito.

Tentando voltar a realidade, e tirar a sensação do ar frio de madrugada em seu rosto e da mão de Ana em sua barriga, Luca fixa o olhar na Senhora que havia contratado como intérprete, ela tinha se juntado a ele em Recife, muito simpática, com seu corte de cabelo curto no rosto cumprido, a armação azul brilhante de seus óculos e o batom cor de rosa choque destacando na pele branca. Figura. Pensa ele.

A Senhora sorri e repete o que havia dito. Ele balança a cabeça.

– Desculpe Sandra. Nós vamos primeiro ao endereço que dei a ele.

O motorista olha novamente o endereço, pega a esquerda no sinal em que estavam parados, sobe por uma avenida com algumas residências e comércio, desce e para em outro sinal. O movimento de carros é constante, eles passam por uma ponte, Lucas observa o rio, é diferente do rio Teveri, que na maior parte do seu curso, dentro de Roma, está cercado pela cidade, este rio não, ainda conserva vegetação a sua volta. Ao longe consegue ver mais duas pontes.

O carro sai da ponte e continua na avenida, ele olha o céu azul, limpo, Sandra comenta alguma coisa sobre a entrada para a Universidade Local, Luca olha para a portaria de entrada sem muito interesse. O táxi continua por uma rua lateral à Universidade, ele não entende porque Ana escolheu morar em uma cidade pequena, longe dos pais, só com o filho. Ele suspira e abaixa a cabeça, talvez não devesse estar ali, mesmo que o filho fosse dele,ele poderia ter mandado um advogado conversar com Ana e assumir sua responsabilidade ajudando o menino, mas não precisava ter vindo tão longe.

O carro diminui a velocidade, Luca levanta a cabeça, alguns garotos jogam futebol na rua, usando duas pequenas traves, eles se apressam e afastam as traves para o carro passar. Com cuidado, o motorista segue pela rua e para em frente a uma casa com o único portão vermelho.

Em frente ao portão, uma Senhora com pouco mais de cinquenta anos, estatura média, cabelos pretos presos em um coque, cintura larga e um pouco acima do peso, conversa com uma moça de uniforme de cozinheira. As duas param a conversa quando Luca e Sandra descem do carro.

– Boa tarde. – fala ele em italiano.

– Boa tarde. – Sandra cumprimenta em português. – Esta é a casa da Senhora Ana Monteiro?

– É a casa dela. – responde a Senhora – Eu sou a Graça, trabalho para ela.

Luca olha em volta, sem interesse na conversa que sua interprete levava com a Senhora. Os meninos da rua param o jogo para olhar para ele. No portão entre aberto, ele vê um menino que olha o movimento com curiosidade. Luca se abaixa e conversa com o menino, tentando chamar sua atenção, para que ele saia e assim possa observá-lo melhor.

– Olá garoto, como se chama? – pergunta em italiano.

O menino sorri para ele e sai para a calçada, ficando próximo a Luca.

– Me chamo Francisco. –ele fala em italiano, mas pronunciando seu nome em português.

Luca abre um sorriso, surpreso ao ouvir o menino responder em italiano. O mesmo menino da foto, seus cabelos cacheados, magrelo, olhos negros. Ele continua a conversa.

– Como está?

– Bem. – Francisco fala em italiano e sorri – Como se chama?

– Me chamo Luca. – Luca responde olhando espantado para o menino. Ele deve mesmo ser seu filho, que outro motivo Ana teria para ensinar italiano para o menino.

Sandra interrompe seus pensamentos.

– Ele fala italiano– pergunta para Luca e repete a pergunta em português para Graça.

O menino sorri para ela.

– Quando estão em casa, Dona Ana conversa assim com ele. – responde Graça.

Luca volta sua atenção novamente para o menino.

– Quantos anos você tem?

O menino olha para ele e estende sua mão, mostrando cinco dedos.

– O Senhor é amigo da mamãe?

– Sim – Luca responde sem saber o que falar. Francisco olha desconfiado para ele.

– Minha mãe fica zangada... – Ele fala em italiano e depois desanda a falar em português. – Toda vez que eu apronto ela briga e fala “Menino! De santo você só tem o nome! – ele imita o tom de voz da mãe, fazendo Sandra e Graça rirem. Ele continua – Se você não me ajudar, minha mãe vai ficar triste. Eu não gosto de ver minha mãe triste.

Luca olha para Sandra esperando pela tradução do que o menino havia dito. A mulher, sorrindo, traduz para ele.

– O que você fez? – ele pergunta sorrindo.

Francisco entende o que ele diz e responde em italiano.

– Eu derrubei tudo. – fala gesticulando – Vem ver. – Francisco caminha para dentro de casa, passa pela porta e no meio da sala para e olha para trás para conferir se Luca o acompanhava.

Luca entra na casa atrás do menino. A sala de estar é mobiliada com dois sofás confortáveis, baixos, uma mesa de centro sem nenhum enfeite, um móvel ao lado com o aparelho de som em uma enormecoleção de cd’s.

Um espaço que dá acesso à escada, separa a sala de estar da sala de jantar. Uma mesa de madeira clara com seiscadeiras, um balcão e a cozinha. Ele para em frente à mesa de jantar e observa os móveis a sua volta, nada de enfeites, nem jarros em cima da mesa, um porta retratos, ou outro objeto qualquer.

– Ei! – chama o menino na porta da cozinha para a área externa.

Luca vai atrás dele, e para admirado assim que passa pela porta. A área está uma bagunça, tudo revirado. A grande sombrinha que cobre a mesa de jardim está no chão, e na queda arrastou com ela alguns vasos que estava a sua volta. A mesa está virada, dois vasos com flor quebraram com a queda e espalhou terra e flor pelo chão, se misturando a outros vasos quebrados. Em pé, só restava uma cadeira. Luca dá um longo suspiro.

– Você fez um grande estrago.

– Minha nossa! – Sandra se espanta com a bagunça.

– Ôh filho, só no tempo que eu fui no portão. – fala Graça, resignada.

O menino fica parado ao lado da mesa caída, olhando para os três adultos a sua frente, esperando deles uma reação.

– Vamos começar! – fala Luca abrindo os braços.

Francisco dá pulos de alegria, tudo estaria arrumado antes da mãe chegar.

Luca se abaixa para levantar a mesa, levanta a sombrinha com dificuldade e a coloca no lugar, ajeita todas as cadeiras em volta. Ele olha o menino ao lado dele, animado por tudo estar voltando ao normal, e tenta imaginar como uma criança tão magrela pôde fazer tudo isso. Ele vê Sandra tentar pendurar um vaso no lugar e corre para ajudá-la, juntos pegam do chão todos os vasos que ainda então inteiros e penduram,depois afastam um vaso grande para que Graça limpe em volta. A Senhora age com destreza, mostrando experiência em resolver aquele tipo de situação.

Luca procura pelo menino e o encontra sentado em uma cadeira, quieto e desanimado.

– O que houve? – ele pergunta se aproximando dele.

– Cansado. –o menino responde em italiano.

Luca sorri, acha engraçado o jeito dele.

– Fazer bagunça deve ser cansativo.

O menino olha para ele e fala com a voz baixa.

– Não... Eu gosto.

Luca dá uma gargalhada, puxa uma cadeira e senta ao lado dele.

– Vocêé bom nisso. Sua casa não tem nenhum enfeite.

– Vaso, foto? – pergunta o menino.

– Sim.

– Minha mãe não coloca. – ele faz uma cara séria. – Para não ficar com raiva.

– Sua mãe é inteligente. – se diverte Luca. O menino balança a cabeça para ele, concordando com o elogio a sua mãe.

Com as coisas já organizadas, Sandra senta em uma cadeira do outro lado da mesa. E respira aliviada.

– Eu vou buscar um suco, vocês gostam de maracujá? – pergunta Graça.

Sandra aceita o suco e traduz a pergunta para Luca. Ele balança a cabeça.

– Se Graça arrumar uma bagunça dessas por dia... – Sandra comenta com Luca.

O menino olha para ela desconfiado, não tinha entendido muito o que ela quis dizer, mas acha que não foi uma coisa muito boa.

– Ela diz que eu sou uma benção. –o menino fala.

Sandra traduz para Luca e os dois riem.

Graça volta com uma jarra de suco e três copos. Luca enche um copo e dá para o menino.

– Você gosta de suco?

Francisco pega o copo, dá um gole e responde

– De todos. – o menino não tira os olhos de Luca, nunca tinha visto esse amigo de sua mãe. Os únicos amigos que falam italiano com ele é o padre Alfredo, que dá aula em seu colégio e o companheiro de seu tio Pedro, que todo ano vêm visitá-lo. Mas esse, parecia legal, tinha ajudado a arrumar a bagunça que ele tinha feito.

Luca também não tira os olhos do menino, lembra ele em algumas de suas fotos de infância. Os cabelos cacheados, os olhos vivos e o corpo magrelo. Só não lembrava de já ter ouvido a mãe reclamar de seu comportamento. Ele não tem dúvida, Francisco é seu filho. Olha para o menino sem acreditar... Um filho.

– Minha mãe chegou! – o menino fala animado, olhando para a porta.

Luca sente o corpo esfriar, se sente estranho. Depois de tudo o que aconteceu entre os dois, depois de anos sem vê-la, ia finalmente se encontrar com ela. Estranhamente agora se sente culpado por ter terminado o namoro de um jeito tão egoísta, agora é um intruso que não merece estar ali, querendo se aproximar, depois de tudo que ela passou sozinha.

O menino pula da cadeira, corre para a mãe e se joga nos braços dela.

– Oi filhote! – Ana agarra ele e lhe dá um beijo. Olha para Luca e fica séria. Sem saber o que fazer, ele levanta, enfia a mão no bolso e fica esperando ela dizer alguma coisa.

Assustada com a situação, Ana aperta o filho em seus braços.

– Ai mãe! Você está me apertando! – o menino reclama. Ana se desculpa e dá um beijo nele. Francisco abraça a mãe e a beija. – Mãe, seu amigo fala italiano como o padre Alfredo.

A mãe balança a cabeça para mostrar ao menino que o ouviu, mas não consegue tirar os olhos de Luca, não acredita que ele está ali, não entende o que ele está fazendo ali. Não é possível que ele tenha descoberto sobre Francisco, seu primo não falaria para ele. Por saudade dela é que não é, nunca tinha tentado entrar em contato com ela, saber como ela estava, saber como ela tinha ficado depois do que aconteceu, depois dele ter mandado ela embora.

Sem saber o que fazer, Ana fica em pé, sem conseguir reagir. Uma vontade enorme de sair correndo com o filho toma conta da cabeça dela, suas pernas vacilam, não ia adiantar fugir, ele está ali por causa de Francisco, tinha que pensar em alguma coisa, mas não conseguia, seus olhos se enchem d’água... Ela aperta os olhos, não podia fazer isso, não podia parecer fraca, não naquela hora. Ana tira os olhos de Luca, olhar para ele não estava ajudando. Ela encontra os olhos desconfiados de uma mulher que ela não conhece, ela olha como se estivesse tentando perceber alguma coisa. Ana não consegue entender porque Luca trouxa aquela mulher. Consegue controlar as lágrimas e volta a olhar para Luca, tinha que enfrentá-lo.

– Graça – ela fala com a voz firme – leve Francisco para tomar banho. – ela coloca o menino no chão, Francisco olha para ela sem entender, afinal, eles estavam com visitas.

Graça pega a mão dele.

– Vem filho.

– Adeus Senhor Luca. – Francisco se despede de Luca em italiano.

Ana fecha os olhos, se arrepende agora de ter ensinado o filho a falar italiano.

– Até breve bambino. – Luca sorri para ele.


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