400 dias de inverno. escrita por Júlia Dama
Tinha muito mato baixo por volta e por dentre os bancos. Estava completamente abandonado. No lugar dos trilhos ocupavam as folhas secas e algumas flores. O trem estava um pouco à frente da estação, não era grande, era bem pequeno. Acho que quando ele estava ativo o número de pessoas por aqui era bem menor. Depois dos trilhos, atrás dos bancos se via uma parte fechada onde possivelmente era compra de passagem, e o que parecia ser uma minúscula lancheria, ao lado, uma parte demolida que dava passagem para dentro da estação.
Se eu estava com medo de achar mais alguém morto? Sim, mas a curiosidade não permitia ficar só olhando. Caminhei, passei os trilhos do trem, depois de duas tentativas subi na plataforma. Tudo cheirava a ferro. Fui devagar ao espaço aberto e entrei. Continuei com passos leves e devagar, estava tudo sujo e grosso de poeira. O salão era bem largo, mas não comprido. Draco estava ao meu lado o tempo todo, foi só eu olhar para o lado que ele saiu a pulos e direção a antiga lancheria. Corri atrás, meus pés batiam forte no chão e o barulho ecoava. Virei logo para a esquerda na direção que Draco seguiu, mas esbarrei em uma pessoa. Gritei. Medo? Susto? Não sei. Só sei que a pessoa gritou junto. Depois de uns segundos, ele ou ela, falou:
—Nossa... — era uma voz masculina.
—Nossa digo eu, o que esta fazendo aqui? Que tipo de pessoa vem passear aqui? — indaguei, fui grossa sem intenção.
— Diga você, o que está fazendo aqui? — fez se o silêncio.
— Desculpe... Não quis ser grossa. — ele não respondeu
— Merda! — corri pra fora atrás do cachorro que tinha escapado de novo, e por sorte estava ao lado de um banco. — Hey, você, desculpe.
— Está tudo bem, foi um susto. Foi só um susto. — ele estava sem jeito.
— Por que estava aqui?
— Curiosidade, por causa das mortes.
— Você não tem medo não?
— Tenho. — ele me olhou. — E você?
— Também... Escuta... Seu cabelo, ele ta meio... — fiz sinal pra a cabeça dele para ver se entendia sem eu precisar terminar.
Ele sacudiu a cabeça, de onde saiu muito pó. — Sujo? Eu sei, aqui não é limpo, e eu to aqui faz uma hora. O seu também está.
—Onde? — perguntei.
—Ah, em cima. — balancei a cabeça até sair a poeira.
—Mora por aqui? — perguntei, até porque o silencio era constrangedor.
— Sim, faz umas duas semanas.
— Hum. Tu não é de falar muito... — eu estava sendo um pouco indiscreta.... Tavlez.
— Não é todo dia que alguém me vê pela primeira vez gritando igual uma menina. Além disso, é vergonhoso que seja a primeira pessoa que eu conheço aqui até então. – agora que ele falou alto e claro, deu pra ouvir a voz grossa.
— Ah — sorri — Ninguém precisa saber.
— Então, qual o seu nome? — ele sentou na plataforma ao meu lado.
— Anna.
— Só Anna? — perguntou.
— Annabelle.
— Belo nome. — eu ri — Sério. O meu é Anthony, mas me chame de Thon.
— Ok, Anthony. – ele balançou a cabeça.
— Você mora aqui desde sempre?
— Sim. — falei — Cresci aqui. E eu já vou avisando que sinal de internet aqui é muito ruim!
— Eu sei. Mesmo vindo de onde usam bastante eu não me viciei ainda. — ele olhou pra mim e minha cara de curiosidade o fez continuar. — Vim de São Francisco. Meus pais se separaram e eu morei com meu pai lá por um mês, depois viemos pra Kansas.
—Hummmm. Deve ser fantástico São Francisco! — ele não tinha cara de quem veio de lá, e também não sei que cara teria. — Eu tenho que ir, acredito que o almoço esteja quase pronto
—Eu também. Você vai pra que lado? — apontei à direita.
Seguimos caminhando, boa parte do caminho foi um completo silêncio. Depois da minha casa ele seguiu caminhando com as mãos nos bolsos, em passos largos e firmes.
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