A Espiã escrita por MandyCillo


Capítulo 10
Capítulo X




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Enquanto atravessavam Londres, chegando cada vez mais perto do apartamento, a tensão de Molly ia aumentando. Ela tentou se acalmar, dizendo a si mesma que tinha maturidade suficiente para lidar com situações constrangedoras. De resto, Sherlock era um cavalheiro e bastaria falar não para que ele partisse. Essa ideia quase lhe provocou uma gargalhada… assim como ele também riria se houvesse qualquer tentativa de recusá-lo. O CD chegou ao fim e ela se inclinou para trocar. Sherlock, porém, teve a mesma ideia e as mãos deles se tocaram. Molly prendeu a respiração, assustada, como se seus dedos queimassem. Ele, que obviamente percebeu essa reação, murmurou um pedido de desculpas e trocou o CD.

Ao entrarem na avenida que levava ao apartamento, ela precisou usar o máximo de sua força de vontade para manter a calma e continuar representando o papel de mulher sofisticada. Recostou-se no banco, fingindo que dormia.

O carro parou e foi com relutância que Molly abriu os olhos.

— Pegou no sono?

— Quase. Foi um dia tão cheio, muito interessante… — Ela procurou deixar implícito que estava cansada.

Sherlock desceu do carro e deu a volta, para ajudá-la com os pacotes. Além da caixa de tartaruga, ele havia lhe comprado uma bombonnièrede porcelana e um luxuoso álbum com fotografias de Oxford.

Ao chegarem ao apartamento, Molly abriu a porta e se virou para pegar os pacotes, mas ele fez questão de entrar e não houve jeito de se esquivar.

Enquanto via os presentes serem colocados sobre uma mesinha, ela tentou assumir o controle da situação. Sorrindo, apontou os pacotes e disse:

— Você está me mimando demais.

— Bobagem. Mulheres bonitas devem ganhar muitos presentes. Quer ajuda para tirar o casaco?

— Obrigada, mas vou continuar com ele até me aquecer um pouco — ela respondeu, apesar de o aquecimento central estar ligado. Sorriu. — Foi um dia maravilhoso, muito obrigada.

— Foi um prazer — ele respondeu, com certo brilho nos olhos.

— Você sempre visita aquele colégio?

— Não tanto quanto gostaria. Geralmente só vou aos jantares anuais da minha turma.

— Parece divertido. — A resposta foi meio desajeitada e quando percebeu que ele não fazia menção de ir embora, Molly começou a sentir-se ridícula. — Não quer tomar alguma coisa antes de ir para casa? — perguntou, enfatizando o fim da frase.

— Obrigado.

Ela foi preparar as bebidas, voltando logo em seguida.

— Haverá muitos outros dias tão maravilhosos quanto este — disse Sherlock, levantando seu copo num brinde. Mas depois de tomar o primeiro gole, ele acrescentou: — Posso pôr um pouco mais de tônica nisto? Está muito forte.

— Oh, desculpe. Claro, não quero que se arrisque a ganhar uma multa por excesso de álcool no caminho de volta para casa.

Sentou-se numa poltrona, sentindo um calor desconfortável, e tentou desesperadamente manter uma conversa casual até terminar a bebida. Pôs o copo sobre a mesa, esperando que ele entendesse a insinuação e fosse embora. Finalmente, Sherlock também terminou seu gim-tônica e se levantou. Ela prendeu a respiração.

Chegando mais perto, ele lhe tomou as mãos e a fez levantar-se. Sem uma palavra, começou a lhe desabotoar o casaco, e ela o encarou, espantada, incapaz de se mover, enquanto o agasalho ia deslizando até ser atirado para um lado. Depois Sherlock lhe abriu a blusa de seda e deslizou a mão para dentro dela.

— Sua pele está queimando — disse suavemente, acariciando-lhe o pescoço.

Molly tentou responder no tom que usaria com qualquer outro homem, procurando palavras que pudessem manter a situação num nível fácil de lidar. Mas a resposta não saiu e ela só pode fechar os olhos e suspirar excitada, ao sentir os primeiros beijos em seus seios.

— Relaxe, você está muito nervosa — ele murmurou. Depois, endireitando-se, segurou-lhe os ombros. — O que foi?

Essa seria a oportunidade de inventar uma boa desculpa, mas as ideias dela giravam confusas. Tentando fechar a blusa com as duas mãos, ainda conseguiu dizer:

— Eu não quero que você fique…

Uma sombra pareceu cobrir a expressão de Sherlock.

— Venha cá. — Ele a levou para o sofá e a fez sentar-se ao seu lado. — Olhe, eu praticamente mandei que terminasse com Greg Lestrade, mas isso não significa que você seja obrigada a dormir comigo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

— N-não?

— Mas é claro que não. Sua bobinha! — Ele se inclinou e a beijou levemente. — Temos muito tempo para nos conhecer melhor. Todo o tempo do mundo. Não precisamos fazer nada com pressa. — As mãos de Molly começaram a ficar mais relaxadas enquanto ela olhava para Sherlock, mal acreditando no que tinha acabado de ouvir. Ele continuou — Quero você, nem preciso dizer. Você é linda demais, atraente demais, mas vamos deixar isso para o futuro, quando você também me quiser. Por enquanto vamos procurar apenas nos conhecer melhor. Certo?

— Certo — concordou Molly, com um sorrisinho.

— Ótimo. — Ele retribuiu o sorriso, e de repente foi como se tivesse virado um completo estranho. — Claro, do meu ponto de vista, quanto menos tempo levarmos, melhor. — Passou o braço pelos ombros dela. — Fique tranquila, não vai acontecer nada até você também se sentir disposta.

Molly ficou olhando para ele, perplexa. Tinha esperado brutalidade e estava encontrando só gentilezas e consideração, e um sorriso que o fizera parecer humano pela primeira vez desde que se haviam conhecido. Parte da sua reserva se dissolveu e ela o fitou de novo, incrivelmente aliviada por saber que não corria perigo. E, no entanto, agora estava em segurança, desejava loucamente ser beijada por Sherlock. Chegando mais perto, encostou a cabeça no ombro dele.

—Foi um dia maravilhoso — murmurou.

— Eu também gostei muito. Que tal repetirmos amanhã?

— Como você quiser.

— Certo. Então vamos visitar uns amigos meus, eles moram em Kent. Virei te apanhar lá pelas dez horas. — Ele se levantou. — Agora é bom eu ir andando antes que você comece a se preocupar de novo.

Molly o acompanhou até a porta. Ele lhe desejou boa noite e sua expressão parecia conter uma pergunta muda. Com uma risada, ela se aninhou nos braços dele e se deixou beijar, ciente de que estava perfeitamente segura. Em poucos segundos o desejo já lha fervia nas veias e ela precisou se apoiar na parede, meio perdida, quando Sherlock a soltou.

— Não me faça esperar demais — ele disse, com a voz rouca.

O casal amigo de Sherlock morava numa linda mansão do século XVIII que ficava em um dos pontos mais belos de Kent. Chegaram à casa através da alameda que cortava um bosque bem cuidado. Terminava num gramado dividido em dois campos, para jogos de golfe e cricket. Os anfitriões, um casal na faixa dos trinta anos, e seus três filhos vieram recebê-los com muito entusiasmo e depois foram todos para a sala de visitas, luxuosa e acolhedora.

Depois do almoço, foram levados para visitar o resto da casa, que apesar de ser muito antiga, tinha todo o conforto de uma casa moderna. O porão, antes usado como adega e depósito de carvão, havia o transformado num amplo salão de lazer, com mesa de tênis, vídeo, jogos, sauna e aparelhagem de ginástica. Em seguida, deram uma volta para conhecer os jardins, a piscina, o pomar e as cocheiras, onde havia um cavalo para cada morador.

Partiram depois do chá, por volta das seis horas, e Sherlock parecia ter pressa em chegar. Estavam em um Rolls-Royce e Molly agradeceu o fato de haver um bom espaço entre eles.

— O que achou da casa? — ele perguntou depois de algum tempo.

— Maravilhosa. E seus amigos parecem muito felizes lá. Brian está pensando em fazer algumas melhorias.

— Sim, mas infelizmente não vai poder realizar isso.

— Por quê?

— Ele quer vender.

— Que pena! Também, não deve ser brincadeira manter uma casa daquelas.

— Em parte é por causa disso, mas o principal é que a empresa para a qual ele trabalha quer transferi-lo para Nova York. Isso significa que Brian vai ter que ficar morando lá por vários anos. — Sherlock fez uma pausa e depois perguntou — Você gostaria de morar naquela casa?

— Quem não gostaria? É um lugar lindo. Só que também é muita responsabilidade. — Ela se lembrou do papel de mulher rica que estava representando e se virou para Sherlock perplexa. — Por acaso está sugerindo que eu a compre?

— Não, claro que não! — ele respondeu, com uma risada. — De fato, estou pensando em comprá-la para mim.

— Oh! — A resposta a deixou completamente atônita. Sherlock se virou para ela e seus olhares se encontraram. Confusa, ela baixou os olhos rapidamente, sentindo as faces enrubescerem.

Na semana seguinte, saíram juntos todas as noites e também se encontraram algumas vezes durante o dia, para visitar algumas galerias de arte. Ele telefonava todos os dias, além de sempre aparecer com algum presente: flores, chocolates, pequenas peças antigas. E todas as noites Sherlock a beijava, sem que fosse preciso usar qualquer forma de insistência. Mas à medida que a semana ia passando, os beijos se tornavam mais longos e apaixonados e Molly sentia-se cada vez menos capaz de resistir a eles.

Sua mente e seu corpo viviam em constante conflito. Se não tivesse sido alertada, a essa altura estaria loucamente apaixonada por aquele homem. Ele era um namorado gentil e atencioso, companheiro, sempre preocupado em agradá-la. Mas a presença de Sherlock ainda a inquietava, não só pelo fato de estar sempre em guarda para não cair em contradições. Era enorme a atração que sentia por ele, um leve toque bastava para lhe despertar uma ânsia poderosa de amar e ser amada, uma necessidade tão intensa que a deixava exausta e confusa, algo que nunca havia experimentado com outro homem antes.

Tinha prometido manter-se constantemente em contato com Charles, mas com o passar da semana, foi ficando cada vez mais relutante em procurá-lo. O Sherlock que ela conhecia e o que lhe havia sido descrito não pareciam ser a mesma pessoa, ao lado dele era fácil esquecer aquela função de atriz cumprindo um contrato de trabalho.

Porém, na sexta-feira à noite, Charles telefonou para Molly.

— Você anda sumida — foi logo dizendo. — Aconteceu alguma coisa?

— Não. Eu… bem, não tive oportunidade.

— Então crie as suas próprias oportunidades! — A ordem foi firme, ele falava num tom bem diferente do habitual. — Srta Hooper, você não é paga para perder tempo. Até agora deixei muita coisa correr de modo diferente do que gostaria, mas não quero esperar mais. Insisto que dê a caneta de presente para ele o mais cedo possível. Entendeu?

— Sim, está bem.

Naquela noite, foram novamente à ópera e, quando Sherlock veio trazê-la, ficaram sentados no sofá, conversando sobre o espetáculo e fazendo planos para o dia seguinte. Depois de algum tempo, ele a beijou com muito carinho e sensualidade. Molly suspirou e chegou mais perto, enlaçando-o pelo pescoço.

— Ah, minha querida! — Ele a beijou com mais ternura. Fazendo-a deitar-se no sofá, afastou-lhe o vestido do ombro para poder beijá-la melhor. Molly o abraçou com mais força, deliciada com os carinhos que ele lhe fazia nos seios. Sentia o corpo em brasa, como se implorasse pelo toque enlouquecedor daquele homem. Mas logo voltou a si e procurou se recompor.

Sherlock passou a mão pelos cabelos e ajeitou a gravata com um risinho.

— É melhor eu ir embora, antes que esqueça todas as minhas boas maneiras — disse, ficando em pé. — Isso não seria difícil — acrescentou, enquanto ela também se levantava. — Faz tanto tempo que eu gostaria de… — Ele se interrompeu bruscamente.

— O que ia dizer? — Molly lhe passou os braços pela cintura.

— Não tem importância. Ainda não é a hora adequada. — Sherlock afundou a cabeça nos cabelos dela por um instante, e depois se afastou. — Hora de ir embora. — Ao ajeitar o terno, apalpou um bolso interno. — Quase ia me esquecendo. — Tirou uma caixinha de veludo — Mais uma para a sua coleção. Havia um camafeu dentro da caixa, o broche era esculpido com muita delicadeza, cercado de uma fileira de pérolas.

— Que maravilha! O perfil de Napoleão!

— E me garantiram que foi feito para a imperatriz Maria Luiza.

Molly olhou para a joia admirando-a. Tinha ficado muito impressionada com a história do camafeu. Uma coisa que havia sido tocada por Napoleão, usada por uma imperatriz. Enquanto o lado artístico e sensível se deliciava com esse pensamento, seu lado racional a fez lembrar que o broche deveria ter custado uma pequena fortuna.

— Eu vou guardá-lo como um tesouro! — disse, depois de beijar Sherlock. — Nem sei como agradecer, é maravilhoso!

Ele sorriu, satisfeito com o entusiasmo dela.

— Não diga nada. Só pense um pouquinho em mim quando for usá-lo.

Virou-se para sair, mas ela o pegou pelo braço, percebendo que aquela era a oportunidade perfeita.

— Você está sempre me dando presentes, agora é a minha vez. — Foi até a escrivaninha, onde havia guardado a caneta. — Isto é para você.

Sherlock pegou a caixa vagarosamente, com os olhos fixos em Molly. Abriu o pacote e ficou olhando a caneta por um longo instante.

— Mandei gravar as suas iniciais — ela disse, sentindo-se subitamente nervosa. — Espero que você goste.

Sherlock pareceu se recompor, como se estivesse voltando de quilômetros de distância.

— Sim, claro. Obrigado.

— Vai usá-la? — Ela se aproximou, meio sem jeito porque esperava que ele fosse demonstrar mais prazer.

— Todos os dias. — Guardou a caneta no bolso e sorriu, mas havia um brilho estranho no olhar dele. Depois saiu, tendo o cuidado de confirmar o encontro para o dia seguinte.

Molly ficou intrigada ao vê-lo se afastar, tentando descobrir o que teria feito de errado, se haveria motivos para Sherlock suspeitar dela.

Talvez fosse apenas pouco comum nos círculos elegantes uma mulher presentear um homem fora de ocasiões especiais. Bem, agora não poderia mais voltar atrás. Olhou para o camafeu. Era uma joia encantadora e seria um prazer possuí-la, mesmo que por pouco tempo. Logo chegaria a hora de devolver todos os presentes àquele homem. Com um suspiro afastou esse pensamento para longe, para um futuro bem remoto.

O importante agora era ter conseguido um jeito de lhe dar a caneta, o que manteria Charles afastado por um bom tempo. E se a mudança que havia sentido em Sherlock fosse só um simples produto da sua imaginação, do seu nervosismo? Sim, claro, era isso. Aquela noite ficou muito tempo remoendo suas dúvidas, e custou a pegar no sono.


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