Na província de Weverly, uma jovem havia sido praticamente despachada do restaurante onde trabalhava para entregar sua ficha. Scarlett arrastou sua irmã consigo, para não precisar ficar naquela fila sozinha e ainda mais aborrecida. Mas a irmã parecia não querer facilitar as coisas.

— E se você for uma Selecionada? Já conseguiu imaginar? — o tom da jovem Lorraine não era nem de longe animado, ela falava serenamente.

— Lorr, eu só estou fazendo isso pelo nosso pai! — Scarlett suspirou — Você sabe que eu jamais diria não para ele.

— Nenhum de nós, Scar — a mais nova respondeu — Não para o papai.

Scarlett se lembrou do acidente do pai. Se lembrou de como ela não conseguiu disfarçar o susto de ter visto seu pai numa cadeira de rodas. Várias cenas se repetiram na cabeça dela, concluindo com o pai lhe implorando para se inscrever na Seleção e com a mãe e o irmão mais velho de caras amarradas.

— Bem, eu disse que tentaria. — arranjou uma fala, antes que o silêncio entre as duas se tornasse perturbador — Mas não quer dizer que eu vá conseguir. Nem de longe.

— Não esquece que você é... — Lorraine não terminou de falar.

— Scarlett Allison — uma voz grave surgiu — Joga essa ficha no lixo e vamos para o restaurante!

Nem Scarlett e nem Lorraine conseguiam acreditar que Nathaniel estava tendo uma crise de super-proteção no meio de uma rua lotada.

— Fica quieto, Nate! — Sacrlett pediu, num sussurro.

— Você não tem que fazer isso. Não é uma boa ideia. O príncipe é um idiota. E se ele fizer algo que você não goste? — Nathaniel pensou por um momento — E se ele fizer algo que eu não goste? — perguntou, dando ênfase no “eu” — Ele é um idiota. — repetiu, para reforçar a ideia.

Scarllet e Lorraine se olharam e começaram a rir. E ainda notaram algumas meninas rindo e outras, que a Scar notou terem uma certa paixão pelo príncipe, fazia cara feia e murmuravam seus “que horrores”.

— Maninho, não precisa se preocupar. Primeiro, porque eu sei me cuidar; segundo, porque eu provavelmente nem entrarei no castelo.

–

O clima Pré-Seleção havia tomado conta de todas províncias. Na escola, em Whites, a jovem professora ensinava as crianças. Ou melhor, tentava ensinar, mas mal conseguia concentrar-se na explicação que dava, com a conversa de duas alunas.

— Willow e Delay — a professora lhes chamou a atenção, fazendo as duas a olharem assustadas.

— Sim, Senhorita Brönte? — as duas responderam em uníssono e com o mesmo tom de tédio na voz.

— Meninas, estou tentando dar aula, será que vocês poderi... —antes de completar a frase o sinal soou e todas crianças começaram a sair rapidamente.

Sophie suspirou, por tantas vezes que esse bendito sinal cortara suas palavras. Juntou suas coisas com calma. Mesmo que a bagunça de crianças saindo e o barulho de passos e cadeiras arrastando já tivessem acabado, Sophie sabia que não estava sozinha. O peso que aqueles dois pequenos olhos exerciam sobre ela, era quase palpável.

— O que é, Willow? — perguntou, ainda sem tirar os olhos de suas coisas.

— A senhora já levou a inscrição? — a aluna quis saber.

Sophie pegou algo dentro de sua pasta, um grande envelope no meio de seus papeis e mostrou para Willow, balançando o envelope no ar.

— Não é a resposta que eu gostaria de receber — a menina disse, cabisbaixa.

— Willow — Sophie disse, sentando-se em uma carteira ao lado de sua aluna — Eu não entendo porque isso é tão importante para você. Não é algo que eu esteja realmente querendo no momento.

— Mas professora, a senhora não entende. Eu nunca vou poder participar de uma Seleção. Minha mãe já me disse que essa minha vontade de ser princesa vai passar, mas eu não queria que passasse! — Willow suspirou — Se eu pudesse, seria a primeira a entregar a ficha, mas não dá. E a senhora é a única pessoa próxima a mim que eu sei que seria uma princesa maravilhosa.

— Ah, Willow! Você é uma fofa!

— Eu sei. — a garotinha respondeu, rindo — Olha bem todos os lados! Você vai só tentar agora. Se não conseguir, segue dando aula e fazendo o que você realmente está querendo. — falou, repetindo as palavras de Sophie — E se conseguir, lute pelo príncipe ou pela coroa. Já vai estar lá, não vai ter nada a perder!

Sophie olhou para a pequena, mas sua mente não estava ali. Primeiro pensava em como uma criança poderia ser tão esperta dessa forma. Depois, já pensava nas palavras de Willow. Ela poderia tentar, de qualquer forma, afinal. Se conseguisse, seria uma grande surpresa e ela iria de boa vontade; se não conseguisse, isso não a deixaria nem um pouco abalada, já que não é algo que ela quisesse de verdade.

— Você está certa. — disse, por fim.

— Eu sei que estou.

— Então... — Sophie levantou-se — Quer ir lá entregar essa ficha comigo?

Willow arregalou os olhos e abriu a boca, pasma. Ela tinha esperanças, mas não achou que fosse conseguir. Logo, começou a pular e dançar, fazendo Sophie cair na risada.

As duas caminhavam juntas, Sophie em silêncio enquanto Willow fazia mil planos para a professora; incluindo o vestido que ela deveria usar quando se casasse com o Príncipe Isaac Schreave.

— Pelo o que você lutaria, Willow? — Sophie perguntou, querendo tirar o foco de si — O Príncipe ou a coroa? Independente de um ser consequência do outro.

— Como a senhora disse, o que eu conseguir vai me dar o outro. Lutaria por qualquer um. — respondeu, pensando um pouco — Se bem que, a senhora já viu o príncipe? — perguntou, arqueando as sobrancelhas, fazendo Sophie rir.