A busca por memórias perdidas escrita por cute


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o primeiro capítulo. Espero que gostem.



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Vamos voltar um pouco.

Dizem que quando estamos em coma ouvimos tudo que falam ao nosso redor. Pois bem, eu ouvia. Era frustrante ouvir o que as pessoas falavam e não poder responder. Se imagine no meu lugar, deitada em uma cama de hospital, ouvindo as pessoas entrarem, conversarem sobre você e sobre sua vida o tempo todo e ter que ficar parada e calada. Não que eu tivesse muita opção, certo?

No momento em que eu acordei foi uma surpresa para todos. E com isso eu quero dizer a mulher que estava ao meu lado, os médicos e enfermeiros e bem, eu mesma.

Acho que depois de cinco anos de espera, as pessoas desistem. Algumas. Tânia, a mulher que estava ao meu lado, ficou comigo grande parte do tempo nesses cinco anos. Ela disse que é a minha mãe. E o que eu posso fazer? Argumentar? Não tenho argumentos nem mesmo memórias. Só me resta acreditar.

Essa semana foi a mais longa dos últimos anos porque tive que ficar em observação. Mas a parte boa é que agora eu posso ir para casa. Não que seja muito aconchegante levando em consideração que eu não sei onde é nem como é mas é melhor que um hospital.

Troquei minha roupa, arrumei minhas coisas e fui ao encontro da minha mãe. Realmente precisava sair daquele lugar. Engraçado como as coisas são, não é? Em um dia você está super bem, no outro acorda de um coma. Perdi exatamente cinco anos da minha vida. Não sei quem eu era, nem o que fazia, nem o que gostava de fazer. Não sei quem eram meus amigos e não reconhecia minha mãe. Minha vida foi para o ralo.

–Você está bem, querida? – Tânia, ainda não me sentia bem em chamá-la de mãe, estava com uma certa preocupação no olhar, como se estivesse incomodada com o meu silêncio.

–Estou sim, bem, só um pouco pensativa. Isso tudo não é fácil. – e realmente não era.

Ficamos mais uns minutos em silêncio, apenas apreciando a paisagem. Como será que eram esses lugares antigamente? Será que estão iguais ou mudaram muito?

Chegamos em casa, que na minha opinião era grande, muito grande.

–Sua irmã vai ficar feliz em vê-la. – como assim eu tinha uma irmã? Acredito que minha cara de susto foi tão grande que ela resolveu esclarecer as coisas – ah sim, claro. O nome dela é Clara e é um pouco mais nova que você.

Então eu tinha uma irmã caçula. O que mais me esperava?

Entramos em casa e ela era incrivelmente linda e bem organizada. A primeira coisa que se passou na minha cabeça foi que deve ser um saco limpar tudo isso, sério.

Tânia, quer dizer, mamãe me mostrou meu quarto. Embora fizesse alguns anos que estava parado, estava super limpo e organizado. Ela realmente tinha esperanças que eu acordaria e saber disso era um alívio.

–Bem, querida, é aqui que você vai dormir. Tudo que precisa está aqui, afinal, essas coisas são todas suas. – ela deu um breve sorriso e saiu, me deixando sozinha.

O quarto era bem aconchegante, tinha um tom de rosa bebê nas paredes, várias estantes de livros, uma cama de casal com alguns ursinhos de pelúcia, uma bancada com um computador e alguns materiais em cima e um mural de fotos. Percebi que nela havia muitas em que eu estava aos beijos com um garoto. Eu tinha um namorado, anotado.

Coloquei minhas coisas em cima da cama e me aproximei do mural. Havia muitas fotos mas percebi que a maioria ou eu estava com o meu namorado, ex-namorado, sei lá, é confuso, ou com uma garota ruiva muito bonita. Como será o nome deles? Quem era a menina?

Sentei na cama. Estava exausta. Olhar todas essas pessoas e nem saber quem são é realmente frustrante. E minha irmã? Como será que ela é? Será que é ela nas fotos? E meu pai? Passei tanto tempo tentando assimilar as coisas que nem lembrei desse “detalhe”.

Resolvi tomar um banho e colocar uma das minhas antigas roupas. Só espero que elas ainda sirvam. Peguei uma calça de moletom, uma blusa branca lisa e um casaco confortável e entrei no banho. Fiquei um tempo pensando e deixando a água escorrer pelo meu corpo. Como serão as coisas daqui pra frente? Tenho que seguir a vida, não posso ficar parada, preciso descobrir o que eu cursava, quais eram as minhas amizades, o que eu fazia no meu tempo livre e principalmente, recuperar o que perdi: todas as minhas memórias.

Sai do banho e desci para conversar mais com a minha mãe. Quando cheguei lá tinha mais uma menina com ela, muito bonita. Se parecia comigo, era morena, tinha olhos azuis, porém seu rosto era um pouco mais redondo que o meu e ela tinha mais “curvas” que eu. Na hora que eu vi tive a certeza que esta era a minha irmã, descartando a hipótese de que a menina das fotos fosse ela.

–Oi filha, descansou um pouco? – mamãe me perguntou enquanto se sentava à mesa, que por sinal estava cheia de comida.

–Sim, tomei um banho e fiquei vendo minhas coisas, tentando me lembrar de algo.

–Bom, Ísis, essa é sua irmã, Clara. Se lembra dela? – sim, meu nome é Ísis, a única coisa de que me lembro e não, eu não me lembrava da Clara.

–Para ser sincera, não, mas é muito bom conhecê-la. – eu disse estendendo minha mão para a Clara, que olhou para ela, olhou pra mim e virou o rosto sem nem mesmo me cumprimentar. Abaixei a mão envergonhada, e me sentei.

–Pare de ser mal-educada e cumprimente sua irmã, Clara. – mamãe logo viu o que aconteceu e se manifestou, mas não teve muita diferença já que a resposta foi um “não to nem aí”.

Eu não podia esperar que todos fossem simpáticos como a Tânia, vulgo mamãe, mas esperava mais da minha irmã. Não sei o que eu fiz mas agora não é a hora de descobrir.

–Acredito que você queira saber o que aconteceu, não é filha? – mamãe perguntou.

–Sim, eu quero. – isso era o que eu mais queria no momento.

–Bom, foi um acidente – ela começou – e você e seu pai estavam voltando de ônibus da casa de seu avô no interior mas chovia muito e a estrada estava perigosa. A viajem era longa mas o motorista não quis parar. Era de madrugada e a chuva só aumentava. Eu me lembro de estar em casa deitada e rezando para que nada acontecesse mas aconteceu. O motorista perdeu o controle e o ônibus caiu de um barranco. Tinham 38 passageiros mas apenas 6 sobreviveram e mesmo estes ficaram gravemente feridos. O motorista não sobreviveu, nem seu pai.

Mamãe já não segurava as lágrimas que caiam pelo seu rosto. A dor era visível, como uma ferida aberta. Clara também deixava escapar algumas lágrimas, e minha dor e surpresa eram tão visíveis que poderiam estar escritas na minha testa.

Então foi isso. Meu pai faleceu e eu sobrevivi, fiquei em coma por anos e não me lembro de nada. Por mais que tenha sido a um tempo atrás, tudo parecia tão recente, não só pra mim mas para elas também.

Após descobrir tudo perdi a fome, pedi desculpas e subi. Deitei em minha cama e fiquei olhando para o teto. É horrível imaginar que eu tinha um pai, e não me lembro dele. Ainda mas morreu ao meu lado, morreu no meu lugar. E foi assim que eu passei meu dia, pensando. Acabei adormecendo ali mesmo, e espero que amanhã essa dor que eu estou sentindo desapareça.

Gostaria de acordar e descobrir que tudo não passou de um sonho.

Mas infelizmente era real. É real.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Deixem comentário, por favor :)



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