“Caro Almofadinhas,
Fiquei bastante encantada com o convite, é claro que irei. Você deve estar pensando muitas coisas de mim agora, mas acredite, eu não estou indo para aí só porque passar as férias inteiras nesse orfanato trouxa no fim do mundo é péssimo, claro que não. Tudo bem, isso influencia um pouco, mas eu também quero matar a saudade e ficar por dentro dos acontecimentos, ninguém é de ferro.
Estou muito feliz por saber que está bem, finalmente. Você merecia um pouco de descanso. Sinto a falta de todos vocês, por isso estarei partindo amanhã mesmo, pela noite. Dumbledore ligou minha rede de flu, hoje pela manhã, então fiquem avisados e não se assustem quando uma bela garota aparecer do nada na cozinha de vocês.
Ah, antes de entregar essa carta a sua nova coruja, gostaria de deixar bem claras certas coisas. EU NÃO ESTOU A FAVOR DISSO QUE ESTÃO FAZENDO. Reuniões sobre o pobre menino sem ao menos deixar que ele saiba? Espero que saibam do que estou dizendo. É, eu sei que você não tem nada a ver com isso, que queria fazer diferente, mas estou dizendo isso para que saiba e que avise a todos a minha posição.
E é isso.
Com amor,
B. White.”

Beatrice leu, releu, corrigiu sua carta e, quando achou que estava boa o suficiente, enrolou o pergaminho e colocou nas patinhas daquela grande coruja marrom que a encarava da escrivaninha. Ela logo levantou voo e se foi. Mas aquela não era a única carta que tinha de responder.

Assim que despachou a ave, duas outras entraram varadas ao quarto. Ela reconheceu as duas imediatamente. Eram Pichi e Edwiges. Beatrice não pôde deixar de sorrir. A menorzinha tinha pulava de tanto alegria, tinha três cartas no bico, nunca tinha feito tantas entregas de uma única vez. A maior era a conhecida coruja de Harry Potter, alva, belíssima e elegante, com apenas um envelope.

Resolveu pegar primeiro as cartas de Pichi, a coitada estava quase tendo um troço de tanta animação. A primeira coisa que fez foi ler os remetentes. Ron, Hermione e os gêmeos Weasley mandaram a carta de uma única vez. Primeiro ela leria a de Ron, pois era, sem sombra de dúvidas, a menor delas. Depois abriria a dos gêmeos e, por fim, a de Hermione, que era a maior de todas. Pensando bem, ela abriria antes a do Harry... É, abriria a do Harry antes de abrir a da Hermione, a da amiga devia estar realmente imensa. Mas, pensando ainda melhor, era mais sensato acabar com os estoques de Pichi antes que ela morresse de excitação. Decidiu deixar tantos pensamentos de lado e abriu logo a do seu amigo ruivo.

“Bea,
Estamos todos com saudades. Almofadinhas já mandou uma carta dizendo que quer você aqui o quanto antes, então acho que não preciso repetir isso. Hermione está mandando outra carta pra você, discordando do que você disse na última vez que escreveu. Ela pediu silêncio, e eu concordo com ela, melhor não falar nada, como Dumbledore mandou. Até a próxima.
Abraços,
Ron.”

Beatrice decidiu não responder aquela carta. Ela estava tão curta quanto imaginara, um paragrafo fora o suficiente. Riu, ao lembrar-se do jeito do amigo, mas não podia negar a chateação. Pra que esconder tudo do pobre Harry? Ele já não estava sofrendo o suficiente? A animação de abrir a carta de Hermione sumira ao ler a pequena prévia na carta de Ron. Guardou o pedaço de pergaminho em sua “gaveta de cartas”, onde guardava todas as correspondências, e abriu a dos gêmeos.

“Fala, esquisita!
Por que tanta demora a chegar? Você já sabe o endereço da sede há dias e nada de aparecer, estamos ficando preocupados. Queremos discutir os últimos acontecimentos com você, contar as novidades, sem correr o risco de nossas cartas serem extraviadas. Só temos uma coisa a dizer sem perigo: A Gemilidades Weasley está a caminho, nosso kit mata-aula tá dando super certo.
É verdade que você tá querendo botar a boca no trombone e contar tudo a Harry? Vá com calma, garotinha, isso é perigoso. Além do mais, você tem um grande motivo para não fazer isso, e ele é: Você não sabe de nada que está acontecendo, como vai contar para outra pessoa?
Agora é sério, não conte. E isso nós que estamos dizendo, aqueles que não respeitam regra alguma.
Bem, é só isso mesmo que temos a dizer.
Ah, e obedeça o Almofadinhas, chegue logo!
Com muito amor no coração,
Fred e Jorge, os garotos mais legais que você conhece.”

Começou a rir com o que tinha acabado de ler. Queria tanto ver seus amigos, não podia demorar um só segundo. Infelizmente, teria de esperar até o dia seguinte. É, se até Fred e Jorge estavam dizendo para ela não contar nada, é porque a coisa estava realmente séria. Só não conseguia saber o quanto. Resolveu que não responderia aquela carta também. E nem a de Hermione, quando abrisse. Afinal, estaria lá no dia seguinte mesmo, teria bastante tempo para conversar.
Despachou Pichi de uma vez, com um pequeno pergaminho, contendo as seguintes palavras: “Nos vemos amanhã”.

Logo desenrolou o pergaminho de Hermione, tomando um susto. A carta estava realmente grande. Suspirou, apertou a visão e começou a ler.

“Hei, Bea
Como vai? Espero que bem. Imagino que não responda a carta se vier tão cedo como Almofadinhas está falando, mas espero que leia mesmo assim, pois tive um imenso trabalho ao escrevê-la. É bem chato isso, ter de lembrar a você e a Ron que, toda vez que alguém escreve uma carta, é natural que ela seja lida, mas são dois preguiçosos mesmo.
Respondendo sua pergunta da última carta, estamos todos bem. Almofadinhas está radiante, a casa está cheia de gente, cheia de vida. Só precisa de uns retoques, pois ela está bem suja e acabada também. Mais um motivo para você chegar cedo, quanto mais gente para essa faxina, melhor.
Agora vamos a parte séria.
Beatrice, responda a si mesmo essa pergunta “Quem é o maior bruxo de todos os tempos”? Se você pensou em Dumbledore, você tem toda razão. Ele sempre está certo, nunca comete erros, e se ele está pedindo para manter silêncio em relação ao Harry, é isso que todos devem fazer. Isso pode pôr a vida dele em risco, já pensou nisso? Nesse momento, meus dedos estão cruzados, torcendo para que você não tenha falado nada pra ele
Por favor, Bea, apenas faça como mandado. Logo veremos Harry e falaremos tudo o que não podemos falar durante o verão, pense nisso, pense na vida dele. Não é com isso que tanto se preocupa? Concordo com você quando diz que ele vai ficar bem chateado, mas o que podemos fazer? Ele é nosso amigo, uma hora vai entender que tudo que fizemos foi para o seu bem.
Antes de finalizar, tenho uma novidade pra te contar. Ranhoso está na ordem. Se não entendeu, depois conversamos.
Beijos
Hermione.”

Beatrice começou a ficar preocupada. A coisa estava assim, tão séria? A ponto de pôr a vida do Harry em risco? Estremeceu só de pensar. Mas ela não podia evitar, não podia mesmo. Se bem que Fred e Jorge estavam certos, por mais que ela quisesse contar, estava na mesma situação de Harry, não sabia muita coisa. Ou melhor, não sabia quase nada.

Ao ler o final da carta, seus olhos arregalaram o máximo. É claro que havia entendido, mas não era possível. Severo Snape? Na Ordem da Fênix? Isso não podia ser possível! O que Snape, um ex comensal, estaria fazendo em um lugar onde todos lutam bravamente contra Voldemort?? Dumbledore era louco. Será que podia confiar a vida do Harry nele? Ora, Beatrice estava mais preocupada com a vida de Harry do que o normal, não estava se entendendo.

A mente dela estava viajando legal quando ouviu um pio ao seu lado. Era Edwiges. Só aí lembrou-se da carta de Harry. Desenrolou o último pergaminho imediatamente e começou a ler.

“Bea
Obrigado pelos presentes, delícias gasosas são meus doces favoritos e eu adorei os snaps explosivos. É uma pena que eu não tenha ninguém pra jogar, estou realmente sozinho e muito desapontado com duas pessoas. Não escrevo mais pra Ron ou Hermione, o que eles estão escondendo de mim? Deixa, você está na mesma situação que eu. Por isso que confio em você.
Mas vamos especular. Você acha que eles estão no mesmo lugar? Quem mais deve estar com eles? Eles devem estar tratando de algo muito sério, não acha? Que injusto! Quem avisou a todos que ele voltou? Quem lutou com ele? Não foi Dumbledore, muito menos Ron e Hermione.
Queria te ver, mas não sei como vou sair daqui para ir até Liverpool. E nem sei como você conseguiria vir para cá também, é uma situação bastante chata. Se os meus tios não fossem eles e se as coisas aí no orfanato fossem diferentes... Só cartas não são suficientes para tentarmos descobrir o que anda acontecendo.
Espero te ver em breve.
Harry.”

Um sentimento de culpa pesou no peito de Beatrice. Ela não sabia tanto quanto Ron, Hermione, os gêmeos ou Sirius, mas ela sabia mais que o Harry, e ele não fazia ideia disso. Era tão ruim vê-lo nessa posição. Ele tinha toda razão, era completamente injusto isso que todos estavam fazendo. Se não fosse pelo Harry, se ele não tivesse lutado com Voldemort, visto sua volta, essa bendita Ordem não estaria reerguida. Bufou e se jogou na cama. Estava decidido. Ela não sabia de muita coisa, mas tudo que sabia contaria ao Harry.

Edwiges piou mais uma vez. Voou e posou na cabeceira da cama. Beatrice deu a ela uns biscoitos antes de abrir sua janela e despacha-la. Ela arranjaria um jeito seguro de se comunicar, nem que tivesse que ficar acordada à noite inteira pra isso.