Sábado. Tarde de primavera. Passaram o dia ajudando Molly na arrumação da casa, escapulindo quando dava para os jardins, com uma desculpa qualquer para simplesmente não descolarem os lábios por alguns minutos (ou segundos, dependendo ou não de quantas vozes se aproximavam), ou apenas para apreciarem, abraçados, o jardim da Toca receber pouco a pouco a estação das flores....Há muito Ron tinha esquecido como o seu lar ficava belo durante a primavera, como era bom sentir o cheiro da flores do campo que entravam pela janela do seu quarto, ou que se misturavam ao cheiro delicioso do café da manha de sua mãe, vindo de um vaso repleto de flores colhidas por Gina e colocado no centro da mesa. Pensou como hoje era engraçado lembrar que ele achava que aquele vaso ocupava um espaço errado.... devia estar na sala, e não no lugar de um prato a mais de panquecas..... mas quando ele foi pra Hogwarts, (nunca admitiria, fato) algumas manhãs ele sentiu falta daquele cheiro.... cheiro esse que estava sentindo tão nítido agora. Instintivamente passou a vista em seu quarto, quem sabe Hermione ou Gina não tivesse colocado um vaso de flores ali também – garotas! Então ele prestou a atenção, e inevitavelmente sorriu.

Sábado. Tarde de primavera. E se ela já sabia como era complicado arrumar a Toca de experiências passadas, arrumar a Toca junto com Ron era definitivamente um trabalho impossível!! Eles se amavam, e Hermione entendeu que todos os amantes se desejam e querem estar juntinhos, a maior parte do tempo. Mas quando se tratava dela e Ron, bem, digamos que as coisas tomavam maiores proporções.... o que era aquilo que ela sentia quando estava com ele?! Era forte e dominador, e principalmente gostoso, não importava se estavam fazendo amor, ou apenas no mesmo cômodo, sozinhos ou não, e então um olhar, o cheiro, um toque e tudo se transformava. ‘Quem diria que eu iria, um dia, além de quebrar regras, gostar tanto da adrenalina deste ato?’, pensava Hermione enquanto saia do banheiro, ainda enrolada numa toalha, com os cachos presos num coque improvisado na tentativa – não muito bem sucedida – de não molhá-los. Viu Ron deitado na cama, com os olhos fechados e a respiração compassada, possivelmente perdido em pensamentos, e pensou em como ele também estava compenetrado quando lhe beijou febrilmente, atrás da garagem improvisada os Weasleys. Tamanha determinação e desejo quase tomaram conta completamente dela, até os dois escutarem as risadas de Gina e Jorge, e por iniciativa dela, de má vontade se separarem, porém não antes de um olhar cheio de promessas.... Balançou a cabeça com um leve sorriso e sentou-se na ‘penteadeira’ do quarto de Ron, se é aquele móvel poderia ser chamado assim, pra dar um tempinho pra si, afinal, depois de um dia com tanto trabalho e adrenalina, ela merecia relaxar um pouquinho. Olhou pros objetosinfiltradosna penteadeira de Ron: escova, creme de cabelo, seu perfume (ou seria de ambos?), desodorante... preferiu começar pelo hidratante corporal.

Sorriu, e não pode deixar de concluir como as coisas mudam, e graças que mudam pra melhor!! Ela estava sentada com as pernas graciosamente cruzadas, parte da toalha de banho amontoada em seu quadril, e suas mãos se moviam delicadamente sobre seus braços e colo. Pegou um frasco maior, que se destacava ainda mais daquelas coisas de mulher que ela havia colocado ali e colocou mais um pouco daquele creme. Pelo espelho ele pode ver suas mãos subirem por sua barriga e chegarem aos seios, num passeio tímido que foi interrompido por ela mesma, colocando as mãos espalmadas na cintura e fitando algo em seus seios, antes de olhar profundamente nos olhos de seu próprio reflexo no espelho.

Ela nunca se acostumou totalmente com aquela marca. Quando, na volta do ministério, ela conseguiu ver o estrago que aquele feitiço infeliz tinha feito nela, ela chorou, chorou e tentou esconder do mundo. Madame Pomfrey tentou como pode curar o corte de forma a amenizar a cicatriz. Sua mãe acabou vendo por descuido, e após saber de tudo seus pais quase a impediram de voltar para o mundo bruxo. Junto com sua mãe Hermione também recorreu a alguns métodos trouxas, dos quais ela percebeu que nenhum deles iria esconder ou faria voltar como era antes, mas alguns poderiam ao menos uniformizar a cicatriz, embora não mudasse nada visualmente. Ainda teve que aguentar uma ou outra piadinha de suas colegas de quarto intrometidas, e acima de tudo, lidar com sua autoestima, e como medo de que os rapazes se assustassem e a rejeitassem por isso. Ainda lembrava-se das palavras de Gina numa conversa de meninas: “Hermione, você é inteligente, altiva e responsável, não precisa de uma cicatriz pra se tornar assustadora aos olhos dos homens... e além do mais, eu sei, e você também sabe, que o Ron gosta de você do jeitinho que você é, não é uma cicatriz que vai fazer ele gostar menos, além de que ele também tem suas marcas... e se ele se incomodar, só vai provar que é mesmo um trasgo incorrigível e que não merece você, ponto final!” No momento ela conseguiu rir, e esquecer a preocupação... e então veio a guerra e outras feridas vieram, no corpo e na alma, e mesmo que algumas já estivessem cicatrizadas ou não, aquela era a que fisicamente mais a perturbava. Fechou os olhos e suspirou, abrindo-os num leve sobressalto quando sentiu dois braços envolverem sua cintura.

Ron poderia fazer uma escultura de Hermione naquele momento: parcialmente coberta, com os cabelos no alto da cabeça, as mãos deslizando por seu corpo, e parado delicadamente ao lado deste, antes de descer lentamente para suas pernas... mas ele não gostou do que viu naqueles olhos. Não gostou da perturbação e ... frustração? que identificou neles. Levantou, caminhou até ela, agachou em suas costas e a abraçou pela cintura, sentindo o corpo nu estremecer ao receber seu toque. Apertou o abraço, cheirou seu pescoço, e descobriu sorrindo de onde vinha o cheiro de primavera que o atraiu, enquanto sentia Hermione ronronar e se virar levemente para olhar em seus olhos. Viu sua boca começar a abrir, mas foi mais rápido:

- O que houve?

- Ah, bem.... – ela se cobria enquanto falava –eu apenas tomei um banho e resolvi descansar um pouco do dia. Desculpe se eu.....

- Ei, não precisa se desculpar, você sabe que pode usar meu banheiro, meu quarto, e a mim o quanto quiser.... não perguntei por isso, perguntei o que houve pra você ficar tensa enquanto passava esse.....esse creme trouxa neles– ela corou quando ele olhou diretamente para os seus seios e levou as mãos a toalha enquanto emendava –e por que esta tentando escondê-los de mim? Já os vi tantas vezes.....

- Não estou escondendo Ron, e...e eu estava apenas hidratando, faz bem pra pele sabia!?

- Faz mesmo? Hum, não foi isso que apareceu no seu olhar enquanto os alisava, e como eu sei que esse tal hidratante é mesmo muito bom– ele passeou as mãos pelas costas e barriga dela, subindo preguiçosamente para os seios macios –eu quero saber o que aconteceu...

Hermione já estava começando a sentir de novo aquela força bem conhecida, mas ainda conseguiu desconversar:

- Não foi nada de mais Ron...

- Mione....

- Deve ter sido impressão sua....

- Amor....

- Er... e além do mais você tava quase dormindo e...

-Mione– ele a fez encará-lo –você me ama?

Ela se assustou com a pergunta.

- Amo Rony, muito, você sabe...

- E confia em mim?

- Mas.... confio amor, a minha vida...

- Então se você me ama e confia em mim, como eu te amo e confio em você, por que você não se abre e divide o que te perturba comigo?

Hermione absorveu aquela pergunta, e desviou os olhos, envergonhada, e não por estar com o busto nu, mas sim por já ter divido aquela angustia até com a irmã do homem que amava, e nunca ter dado a chance a esse homem de dizer o que pensava sobre aquilo.

Hesitou por um instante, mas levou as mãos à parte inferior dos seios e olhou nos olhos dele:

-Ahh .....você sabe Ron...... essa.....

Ron acompanhou as mãos de Hermione e ficou um tempo tentando entender a que ‘essa’ ela se referia. As mãos dela deslizaram e ele viu. Viu, entendeu, e incontrolavelmente sorriu.

Hermione franziu o cenho e desviou os olhos preparando uma boa resposta, mas quando percebeu já estava sendo levemente puxada. Ron tinha se levantando e sentado com uma perna de cada lado do banco, e com extrema facilidade tinha a levantado e colocado-a na mesma posição, de frente pra ele, com suas pernas sobre as dele, e ela agradeceu por ter colocado a calcinha no banheiro, pois a toalha já estava no chão desde o primeiro movimento.

Sentiu os braços lhe envolverem com carinho e olhou nos olhos do ruivo a sua frente, ele mantinha o mesmo ar risonho:

- Sabe Mione, você acaba de me lembrar algo que eu tinha esquecido.... das nossas cicatrizes.– Ele falou isso e tirou a camisa num gesto rápido. –eu já nem lembrava mais que eram cicatrizes, acho que acabei gostando delas e ....

-Como assim, gostando delas Ron?

- Oras, gostando amor..... no fim eu gostei das cicatrizes que ganhamos ao longo desses anos....

-Mas... oras, as suas você pode até adorar, só destaca mais seus braços e.... e tudo mais– ela falava enquanto passava as mãos pelos braços de Ron, que guardavam as marcas dos cérebros do ministério, bem como do tempo de treino do quadribol –e também sua....

- E também como uma bruxinha muito linda foi esperta e rápida em usar a essência de ditamno quando o seu ‘amigo’ ruivo aqui estrunchou...

Ela baixou o olhar tentou não desviar seu raciocínio.

- Ahh...viu só, até a cicatriz que o Harry tem na mão lembra como ele não se rebaixou pra Umbridge, e as minhas são.....

Ela não terminou a frase, nem pela boca nem no pensamento, pois quando deu por si já estava nos braços de Ron, com sua boca colada a dele, num beijo lento e intenso, com os braços envolta do seu pescoço, e praticamente sentada em seu quadril. Quando o beijo acabou, não por iniciativa dela, abriu os olhos a tempo de ver Ron puxar um dos braços que enlaçava seu pescoço e dizer:

- As suas cicatrizes Mione, são as mais importantes pra mim, e sabe porquê?- ela apenas balançou a cabeça negativamente –Esta– ele beijou o pulso onde estava escrito ‘sangue ruim’-e esta– ele beijou seu pescoço onde ainda se via a marca da lâmina de Belatrix –servem pra eu me lembrar de como eu me senti impotente aquele dia, e da promessa que fiz de nunca, nunca mais deixar ninguém lhe machucar, seja de que maneira for....... e esta aqui– Ron aproveitou que ela ainda estava mole do beijo e a ergueu um pouco, beijando três pontos em seus seios ao longo da sua cicatriz, enquanto ela apenas fechou os olhos com força –servem pra lembrar-me do quando você foi corajosa aquele dia, e do quanto eu te admirei e te amei ainda mais, mesmo quando eu não entendia que era amor o que eu sentia.

- Mas você também foi corajoso na nossa fuga para o ministério, brilhante até, e não só naquele dia.

- Mas fui cego o suficiente pra deixar você sofrer por outros motivos, por mim.... e também na guerra, quando eu era imaturo demais, quando te abandonei, quando não entendia que você era tudo....

- Ron, não lembra essas coisas ..... e eu também não sou perfeita, não sou tudo isso....

- Sim Mi, você é. É minha paz e minha guerra, meu carinho, minha linda sabe-tudo, minha bruxinha enfezadinha e responsável, minha boba que acha que eu vou gostar menos de você por causa de uma cicatriz –ela não conseguiu não sorrir e corar nessa hora, em meio as lagrimas que já caiam, e ele deu um selinho nela antes de terminar– minha princesa, minha mulher....... Você é minha eterna primavera Hermione.

- ..........

- E eu te amo.

- E......eu ......snif...... te amo mais, meu legume..... sensível, lindo...... brilhante, e trasgo totalmente corrigível!!

- Hum ..... ei, dessa última eu não me lembrava, o que...?

Mas Hermione não respondeu, entre risos e lágrimas simplesmente o beijou, e se entregou mais uma vez, como sempre faria, para aquele que ela sabia ser o homem da sua vida..... e se ela era sua primavera, que ele a regasse todos os dias com seu amor.