Eu estava atordoado...

Não! Eu estou atordoado! Eu Ron Weasley, 16 anos, grifinólio, estou encostado no parapeito da janela do meu dormitório olhando através do vidro para o nada. Perdido em pensamentos, ora rindo a toa, ora sofrendo de tédio, medo, confusão e...saudade.

Sempre foi ela, eu sempre soube, mas não conseguia admitir pra mim mesmo. Éramos, somos – ou éramos, não sei – amigos. Eu sempre brincalhão e desleixado. Ela certinha e concentrada. Eu ruivo. Ela morena. Eu alto. Ela baixinha. Mas nada disso impediu que a gente se aproxima-se e juntos vivêssemos tantas aventuras ao lado de Harry, e crescêssemos .... sim, agente cresceu. Fala-vos um menino gigante e sardento, possuidor de uma fome de hipógrafo. Já ela é uma mulher linda de sorriso meigo e curvas escondidas em um uniforme escolar, cabelos cheios, porém definidos em cachos do tipo mola, sabe? que balançam quando ela anda. E eu a amo, embora eu me nega-se a ver tudo isso, e pra completar, após ‘O’ jogo de quadribol, eu me deixasse levar pelo beijo da loira Lilá Brown e começasse com ela um namoro.

Bem, Até aqui tudo estava indo, mesmo sentindo que no fundo tinha algo errado, algo faltando, eu até que estava bem, até a minha Hermione ter uma idéia, ou atitude, ou reação – ainda não consegui classificar direito – incomum e nada inteligente.

“Incomum? nada inteligente? Tudo bem, não é uma coisa que esperássemos de Hermione Granger .... mas ‘nada inteligente’? Ron eu sei que nós não somos um poço de esperteza, mas isso já é demais!”

Agora sim! A minha consciência resolveu se meter na história! Pois bem então, me explique porque foi uma atitude acertada, nos levar ao céu em dia, e no outro nos deixar nesse misto se incerteza e solidão?

“Não há dúvidas, meu amigo, não depois do que aconteceu! E você me dirá que não foi atitude mais ousada, apaixonada, e arrisco dizer até sensata que a Mi já teve em relação a nós? Atitude esta que nós nem ensaiamos em tomar, diga-se de passagem .... foi brilhante! Ela não simplesmente nos conquistou ou seduziu, Ron, ela nos arrebatou!! Não há mais Lilá, Fleur, veelas, ruivas, loiras, negras.... apenas ela, a nossa morena no universo inteiro, no nosso universo! E nem vem com essa que não se sente o mesmo Ron, não depois de ontem a noite......”

“As coisas estão diferentes nessa casa vermelha e dourada. Ok, eu sei que estou em um estado civil totalmente novo – namorando – , e que meu melhor amigo e minha irmã andam se pegando por ai – tudo bem eles se amam, mas é difícil acostumar. Mas não são elas que estão chamando minha atenção, e sim as mudanças numa certa menina de olhos e cabelos chocolate.

A Mione ta diferente. Eu nunca fui muito sensível, talvez um pouco observador, mas ela ta mais.....solta, mais leve....e ao mesmo tempo mais escorregadia, com um mistério no olhar, entende? Ela tá mais sensual também, e não, ela não encurtou a saia ou deixou propositalmente os dois primeiros botões da blusa do uniforme abertos....tá nos gestos, no andar, nos movimentos do corpo, na forma como joga os cabelos. E tudo isso esta me intrigando e enlouquecendo ao mesmo tempo, principalmente porque não fui eu apenas que percebi essa mudança. Outro dia, dobrando um corredor, escutei um sextanista da Corvinal falando com o Simas: ‘viu como ela ta diferente?’ ‘se vi...ela também anda meio ocupada, sei lá, nem esta mais aquela monitora –chefe tão chata’ ‘ ah! e os cabelos cara, além de mais arrumados tem um cheiro maravilhoso....’

Estaquei no lugar. Diferente. Monitora-chefe. Menos chata. Cabelos mais arrumados. Mione. Espera ai, cheiro maravilhoso?? Quem esse filho da(!) pensa que é? Então eu percebo que sim, ele pode ser alguém, afinal tem alguma coisa que esta mudando Hermione, e por mais que esta idéia me irrite, essa coisa pode ser, sim, um cara (que terá o nariz quebrado e um olho roxo, só pra ressaltar). Mas quer saber, eu sou monitor, ela também, e hoje temos ronda, e eu vou tirar essa história a limpo.

Noite em Hogwarts, hora da ronda, e eu não encontro Hermione em lugar algum, e minha garganta seca ao imaginar onde ela possa estar, ou com quem, ou com quem e aonde! Vasculho os corredores praticamente correndo e a encontro num corredor vazio, com as mãos na parede, uma expressão curiosa no rosto.

Tento parecer bravo, quando estou na realidade aliviado e intrigado:

- Hermione! Onde você estava? Estou ter procurando a horas! Ou será que a certinha sabe-tudo esqueceu suas responsabilidades?!

Esperava um olhar fulminante e uma resposta à altura. Mas ela apenas me olhou nos olhos e sorrio de canto:

- Não esqueci não Ron, eu estava apenas descobrindo....

Descobrindo? O que? Não pensa besteira Ron....eita!, ela me chamou de Ron, e não gritou comigo, mas a gente não estava brigado??? Ok, eu estou assustado!

- Descobrindo o que num corredor vazio Hermione? - meu ciúme já era claro em minha voz, mas não tentei controlá-lo, e nem tive tempo, pois Mione tirou uma mão da parede e me chamou silenciosamente com o dedo. Me aproximei meio que hipnotizado por seu gesto e ela me puxou, colocando também minha mão na parede.

- Os sentidos, Ron, os sentimentos......vê, as pedras não são tão frias quando parecem. Elas nos levam a tantas épocas, situações e pessoas que por elas passaram, que nelas tocaram......

A Mi esta bem??? Estamos nós dois encostados na parede de um corredor vazio da escola no meio da noite constatando que as paredes não são apenas frias? Agora eu estou realmente assustado!!! Mas antes que eu consiga formular algum comentário aceitável ela volta a falar:

- Elas são como nós Ron, sempre queremos dizer algo, embora nem sempre consigamos.....mas mesmo sem palavras, nós podemos expressar o que queremos....

Ela pôs sua mão em cima da minha, e foi o toque mais quente que eu já senti...nos olhamos e ela (assim como eu, tenho certeza) estava corada, mas não havia dúvida em sua expressão. Sem tirar os olhos dos meus, caminha em minha direção e eu me viro pra ela, que põe as duas mão em meu peito e sobe uma delas para meu rosto. Contorna minhas sobrancelhas e eu fecho meus olhos em expectativa. Passeia seus dedos delicados por meus olhos, bochechas, boca, e seu toque, outrora quente, agora ferve.....e minha, digo, nossas respirações estão descompassadas.

- Viu Ron, nossos corpos reagem aquilo que realmente queremos....nossas bocas não falam, mais podem demonstrar.....

- Hermione voc....

Mas eu sou calado, calado com um beijo, um simples selinho que me amoleceu, e eu não só desmaiei naquele momento, pois senti a necessidade de apertar Mione em meus braços quando ela colou nossos corpos e me abraçou pelo pescoço.

Pois é, a Mi estava certa mais uma vez. Os corpos reagem ao que realmente querem, ao estimulo certo, e caramba! Se eu já queria a Mione sem tocá-la, a cada movimento nosso eu tinha certeza que necessitava dela. Nosso beijo parecia uma guerra, entenda, não era violento. Era intenso e desesperado, era macio e gostoso, com um que de molhado, um gostinho de mel, um toque de saudade daquilo que eu nunca tive, mas sempre quis ter, tudo liberado naquele beijo, e aquela altura eu não sabia mais o que era autocontrole, nem queria saber......quando nossas bocas se descolaram, desci a minha para seu queijo e pescoço, e Mione me deu espaço jogando a cabeça pra trás, enquanto nossa mãos buscavam cada parte alcançável de nós. Quando dei por mim minha blusa estava sendo aberta enquanto eu admirava as curvas perfeitas e antes escondidas da minha Mione cobertas apenas por um sutien azulzinho rendado, em alguma sala pro qual fui arrastado (e a arrastei) naquele corredor.

E sim, sim, sim! Nós fizemos amor, e eu não sei se consigo definir o que aconteceu. Nós dois ali, ansiosos, livres, sem medo, em cima de uma mesa em uma sala de aula......cada toque, cada beijo, os cabelos (maravilhosamente cheirosos) dela em meus dedos, a pele (e que seda!), as carícias, o corpo (e que curvas!), as pernas dela envolta da minha cintura, e sua voz entrecortada dizendo em meu ouvido que me queria, sempre fora eu, eu, enquanto repetia pra mim mesmo que aquilo não era um sonho, que meus desejos sendo realizados era muito real, que Hermione em meus braços era maravilhosa e incrivelmente real, e que ela é minha mulher, meu coração, meu desejo, minha princesa, minha vida, meu amor...”

Pois é. E alguém pode me perguntar então qual o porquê da minha agonia. Não! Eu não me arrependo! Amo Hermione mais que tudo, e lamento apenas não ter assumido isso antes. E sei que ela também não se arrependeu...estava escrito em seus olhos quando separamos nossas mãos, nos beijamos e nos despedimos, sem palavras, aos pés do dormitório feminino, onde eu ainda fiquei um tempo, depois de ela ter subido, processando tudo que minha mente e me corpo ainda sentiam. O problema veio depois...

De manha acordei cedo, depois de recuperar minhas forças e sonhar a noite inteira com mel e chocolate. Me arrumo sorrindo e desço varrendo o salão comunal com os olhos em busca dela. Mas ao invés dela, meus olhos focalizam uns fios loiros e eu me lembro com desgosto do meu estado civil.

- Bom dia Won Won! – como eu odeio este apelido! – dormiu bem?

Lilá veio até mim e me deu um beijo que foi correspondido um rápido (rápido mesmo) selinho.

- Dormi sim, e você?

- Ah como um anjo! Dormi tanto que acordei com fome, vem tomar café comigo?

NÃO! Eu preciso encontrar Hermione, e terminar com a Lilá, e pedir Mione em namoro, e não deixá-la escapar nunca mais! Mas por hora eu digo:

- Ahm, eu comi alguma coisa na cozinha ontem à noite, não estou com muita fome.....porque não vai indo na frente com a Patil?

- Hum, ta bom Won Won. Te espero na aula então.

Ótimo, tempo pra achar Mione! Me afasto dela com um meio sorriso sem brecha pra beijos e caminho até Gina e Harry.

- Gina, a Mione ainda esta no dormitório?

- Não, quando eu acordei ela já tina saído.....por que o interesse Roniquinho?

- Por nada Gina, nada não. – paro um instante pra pensar e minha mente se ilumina. Só há um lugar onde ela possa estar....

Chego à biblioteca, praticamente vazia e com um cumprimento rápido a Madame Pince me enveredo pelas estantes empoeiradas em busca do meu sonho.....e a encontro, em pé com um livro nas mãos. Jeans, tênis, blusinha colada de manga e lenço, os cabelos num rabo de cavalo......ela não deveria estar de uniforme? Mione não senti minha presença, me aproximo sorrateiramente e a abraço por trás, beijando seu pescoço. Ela sufoca um gritinho e relaxa em meus braços, mas não totalmente.

- Ron.....

- Oi princesa, senti sua falta.

- Ron – ela tenta se livrar do meu abraço – não, alguém pode nos ver....

- Não tem ninguém aqui mi, e não se preocupe, hoje mesmo eu vou conversar com a Lilá, resolver essa situação e agente vai poder ficar juntinho.

- Mas... – a calo com um beijo, e já ia encostando-a na estante mas próxima quando ela descola nossas bocas e empurra meu peito. – Ron escuta... – ela suspira – eu amo você, e te escolhi porque queria ser e te fazer feliz, independente do que aconteça...e por querer te ver feliz acima de tudo eu me pergunto se você quer realmente terminar com a Lilá, afinal – a vi engolir em seco – foi ela que você escolheu.....

Inferno sangrento, o que foi isso? Ela me ama...independente do que aconteça...me ver feliz...eu escolhi a Lilá???

- Hermione eu.....eu namorei a Lilá pura e simplesmente pra te fazer ciúmes! Não a amo, não a escolhi, e se é da minha felicidade que estamos falando e bom saber que a minha felicidade é você! Você é minha vida Mione, minha escolhida, minha mulher... eu te amo!

Mione pisca algumas vezes e entreabre os lábios de mel.

- V-Voce me ama? Mesmo?

- Ah Mi, onde foi parar a minha sabe-tudo, hein? - beijo a ponta do seu nariz – Você ainda duvida?

Ela balança a cabeça negativamente com os olhos marejados: - Eu também te amo Ron...

Tento beijá-la, mas ela me afasta novamente e olha para o chão. Franzo meu cenho.

- O que foi amor? – ela me olha nos olhos, morde o lábio inferior – Eu vou viajar Ron. Vou representar a escola fora da Inglaterra...

Eu gelei, sério, que era isso agora?

- Como assim viajar? por que? pr - pra onde?..... por quanto tempo?

- Profa. McGonagall escolheu a mim e mais duas meninas pra representarmos Hogwarts em alguns países da Europa por um mês...é um tipo de intercâmbio de conhecimentos.

Agora faz sentido.....os pergaminhos estranhos, as cartas com selo diferente, ela sempre ocupada, cochichando com a Gina, sem uniforme em dia de aula....

- Quan... quando você vai?

- Hoje...Não era pra ser, mas a viagem foi adiantada, não pude nem avisar a Gina, tive que arrumar minhas coisas as pressas e.....

- Não ia falar comigo? Se despedir?

- Eu ia te procurar depois do café da manhã...antes da primeira aula.

Me desespero. Eu me acerto com minha melhor amiga, o amor da minha vida, de uma forma espetacular, e de repente ela vai embora?

- Não faz assim morena...fica, não...não quero que vá, não agora...

- Ron, eu já estava conformada que você não me amava, não da mesma maneira que eu te amava, e iria respeitar sua decisão, mas, agora que sei que meu coração estava certo todo esse tempo....também não queria ir Ron, não desse jeito, mas...eu dei minha palavra, não posso voltar atrás.

Suspiro. Ela alisa meu rosto e sorri pra mim. Nos beijamos. E por mim eu não sairia daquele beijo nunca mais, e embora isso não pudesse ser possível, não a largo até a bendita hora de ela precisar ir embora. Planos, risos, confissões, beijos, carinhos, despedida. Tudo bem Ron, é apenas um mês, somente um longo mês sem minha Mione....Um mês que vai parecer um ano! E eu já estou com saudades..inferno! Pense em outra coisa Ron, aulas, NIENS, Mione, não, namoro, eu deveria tela pedido em namoro....namoro, Lilá.

A encontro na saída de uma aula e numa conversa um tanto conturbada da parte dela (devo dizer escandalosa mesmo, ela odiou a idéia e eu agradeci tê-la levado para os jardins da escola!) termino nosso, ahm, namoro...

Agora me encontro aqui, olhando para o nada no dormitório masculino, perdendo aula por sinal (Mione odiaria isso, e eu sorrio com o pensamento), pensando como eu vou viver um mês sem ELA.

***

Um mês depois chocolates e porção do amor levaram Ron e Harry a um brinde de hidromel, um envenenamento, e um período na enfermaria, justamente no dia que Hermione retornaria à Hogwarts.....deitado naquela cama, ao imaginar, mesmo que em seus sonhos, aquela voz doce como mel, Ron só pôde pensar em um nome:

Her-mio-ne.