Queria desesperadamente fugir daquele lugar fechado e se enterrar na neve lá fora. Apesar disso ele continuou jantando com aquele grupo que gritavam entre si. Era um ambiente animado para alguns, mas para ele era barulhento e perturbador. Fez o seu máximo para terminar de comer aquela gororoba que Arme tinha preparado e contendo seu desespero ele se levantou pegando seu prato.

– Onde vai Lass? – disse Lire com seu sorriso habitual. – Não está se sentindo bem?

– Apenas terminei meu jantar e estou cansado Lire – ele a achava a mais tranquila de todos ali e gostava disso. – Vou para meu quarto.

Lire apenas assentiu com a cabeça. Todos ali haviam acabado de voltar de uma missão em Ellia, portanto cansados. Ela tocou seu braço levemente e ele lhe deu um pequeno sorriso. Lothos tentava disfarçar um sorriso quando Arme jogou um copo de suco em Elesis, as duas começaram a discutir e Lass não conseguiu evitar um suspiro.

Saiu da sala de jantar da Grand Chase sem perceber que alguém o observava.

Subiu as escadas de dois em dois e entrou em seu quarto pegando um casaco. Abriu a janela e se apoiou no batente, podia muito bem sair pela porta, mas queria evitar perguntas além de que a altura não era nada assustadora.

Pulou segurando no telhado e escorregou até sua ponta balançando em pouco as pernas antes de se soltar. Caiu com os joelhos flexionados e um pequeno sorriso no rosto. Sorriu para si mesmo e vestiu o casaco. Suspirou pesadamente ao sentir o vento frio no seu rosto.

Era realmente relaxante estar ali. Lass estava com suas adagas em mãos, mas não preparado para atacar era apenas por que elas lhe davam um sentimento de segurança e conforto. Ele as apertou e começou a andar lentamente agradecendo por ninguém o ter visto...

– Onde está indo? – Lass sentiu-se paralisar e engoliu em seco ao escutar aquela voz. – Disse a Lire que iria para seu quarto.

– Resolvi dar uma volta, mas isso não é da sua conta – ele franziu as sobrancelhas e se virou para olhar Lupus. – O que você está fazendo aqui?

Lupus deu de ombros e se deu conta de que nem ele sabia o que estava fazendo ali, apenas tinha visto Lass e suas pernas automaticamente o seguiram.

– Vamos voltar. Está muito frio – e se virou em direção a casa.

Deu alguns passos e percebeu que não estava sendo seguido, se virou pronto para dizer o quanto teimoso e idiota Lass era por estar ali naquele frio, mas qualquer palavra que estava em sua garganta se perdeu ao vê-lo.

O vento havia jogado o cabelo de Lass para trás mostrando completamente suas feições. O menor estava com os olhos fechados e um leve sorriso no rosto e parecia estar em seu todo relaxado. Lupus não conseguiu evitar demonstrar sua surpresa por ver tal expressão no rosto do meio-irmão e respirou fundo.

– Está parecendo uma mocinha mesmo – disse, mas não com o tom planejado. Em vez de algo sarcástico o tom de Lupus era leve e sussurrante.

– Cala a boca – Lass abriu os olhos e Lupus achou sua expressão irritada a coisa mais fofa que já tinha visto. – E o que é esse sorrisinho bobo na sua cara?

– Nada – Lupus continuou a sorrir. – Só acho que você deveria mostrar mais essa expressão.

– O que... – a expressão confusa dele fez a respiração de Lupus acelerar um pouco.

– As meninas “pirariam” ao ver esse seu lado meigo – e riu. Lass ficou vermelho até as orelhas e Lupus achou aquilo simplesmente adorável. – Ah, e se corasse desse jeito também.

– Idiota! – Lass disse emburrado. – Vou voltar para o meu quarto.

– Ué – Lupus agarrou seu pulso no momento em que ia passando por ele. – Não disse que iria dar uma volta?

Lass virou o rosto para o lado e puxou seu pulso de Lupus e queria morrer ao ver que não conseguia se soltar da mão do mais velho. Puxou com mais força, Lupus sorriu e um Lass totalmente irritado puxou sua adaga com a mão esquerda e a encaixou na jugular de Lupus.

– Ei – Lupus agora estava com uma expressão ligeiramente confusa. – O que pensa que está fazendo?

– Tirando do seu rosto esse sorrisinho idiota.

Aproveitando a surpresa de Lupus, Lass abaixou seu braço e fez um pequeno corte no braço de Lupus que o soltou diante do movimento de Lass que logo em seguida subiu seu joelho acertando as partes de Lupus.

– Seu... – Lupus perdeu o ar que tinha e caiu na neve. Lass começou a rir e voltou correndo para a casa sendo praticamente amaldiçoado por Lupus. – Volta aqui seu pivete!

Mas era tarde demais, Lass já havia entrado na casa e não o escutava mais. Lupus retomou um pouco de ar e conseguiu se levantar, tocou seu próprio braço sentindo o sangue começar a descer.

– Idiota, o corte foi pequeno, mas profundo – a dor não era nada para ele, mas estava extremamente irritado com o garoto de cabelos brancos. – Vou matar esse pirralho.

Voltou para a casa pensando em várias formas de acabar com Lass, mas foi interrompido por uma baixinha de olhos verdes agarrando seu braço animadamente.

– Ei Lupus! – Holy disse praticamente pulando. – Nós vamos brincar de Verdade ou Desafio! Vamos? Vamos, por favor!

– Eu... – Lupus matava friamente e com uma rapidez, mas não sabia como reagir àquela garota de olhos brilhantes. Já ia recusar, mas Rey apareceu e disse com um sorriso travesso.

– Vamos lá Lupus! Lass vai jogar também – ela deu um risinho. – Não sei o que Lire disse, mas ele aceitou participar... Não está curioso.

– Não! – Lupus disse rápido demais e Rey deu outro risinho. – Mas vou participar – e tirou Holy do seu braço, ela estava praticamente pendurada nele.

– Eba! – Holy voltou para a sala aos pulos e Lupus soltou um longo suspiro entrando na sala também.

Estavam todos sentados no chão em um circulo e Lass estava ao lado de Lire. Por que eles sempre ficam tão juntos? Lupus se perguntou sem qualquer alteração em sua expressão. Seus olhos se encontraram e Lass, que estava com sua expressão de sempre, deu um sorriso de lado. Lupus sentiu seu coração descompassar e acabou sentando-se ao lado de Ronan e Zero.

– Ok crianças – Lothos disse e muitos fizeram cara de desgosto ao serem chamados de ‘criança’. – Vamos começar, mas antes vamos definir algumas coisas...

– Ah, por favor! – Dio protestou revirando os olhos. – Em Verdade ou Desafio vale tudo, sem regras! Senão não tem graça nenhuma!

– Mas...

– Concordo! – Sieghart disse e todos olharam para ele assustados. – O que foi? O idiota roxo aí está certo.

Lothos ia insistir, mas todos concordaram que não tinha essa de regras.

– Eu giro primeiro! – Arme disse e girou a garrafa. – Bem... Lire pergunta e Amy responde!

E assim se seguiu três rodadas. Amy pediu desafio e Lire a mandou se declarar para alguém ali, mas ela recusou e como castigo teve de dizer que cantava mal, muito mal. Logo depois foi Jin perguntando para Elesis que pediu desafio e ela teve que dar um abraço no Sieghart, os dois pareciam comer limão enquanto se abraçavam. Depois foi Dio perguntando para o Sieghart.

– De um beijo em alguém daqui – Dio disse quando Sieghart pediu desafio. Quando Sieghart ia falar algo ele o interrompeu. – Calma que eu ainda não escolhi quem... – ele olhou para todos e seus olhos pararam no Lass. – De um beijo no Lass!

– O que? – Sieghart fez cara de nojo. – Claro que não!

– Não? – Dio disse com um sorriso estranho. – Pode ter certeza de que o castigo será muito pior se não fizer isso, Sieghart.

Sieghart piscou duas vezes e se deu conta do perigo que foi ter escolhido desafio. Lupus olhou para Lass e em seu rosto restava nada menos do que o desespero.

– Ei! – ele protestou. – Desde quando concordei com isso?

– Deixa de agir como uma virgenzinha Lass – Rey disse revirando os olhos. – É apenas um beijo, não é como se fosse o seu primeiro beijo e...

Todos observaram Lass ficar incrivelmente corado e Rey riu com incredulidade.

– A menos que... Seja! – ela riu e ela olhou para o Dio que assentiu imperceptivelmente.

– É claro que não é! – Lass disse vermelho.

– Então não vejo problema, Lass – Dio disse. Quando queriam, Rey e Dio sabiam como se dar muito bem. – Vamos lá!

– Eu... – Sieghart já tinha se levantado do lugar indo em direção a um Lass desesperado.

– Ok, ok – Lupus se perguntou o que diabos estava fazendo, mas quando percebeu já era tarde demais. Ele colocou uma mão no tórax de Sieghart o empurrando levemente. – Não há necessidade disso.

– Por isso eu queria estabelecer regras – Lothos murmurou, mas ninguém nem percebeu.

– O que foi Lupus? – Rey fez um biquinho. – Está defendendo o seu irmãozinho agora?

Lupus olhou para Lass e sentiu seu coração apertar. Ele estava de cabeça baixa e por causa de sua franja só dava para ver suas orelhas vermelhas, mas Lupus quase sentia que Lass estava a ponto de chorar e deixou escapar um suspiro.

– E se eu estiver? – por essa resposta ninguém esperava e tanto Rey como Dio o olharam surpresos enquanto Lass levantou o rosto com um misto de emoções em seu olhar. – Levanta – ele se colocou entre Sieghart e Lass e estendeu sua mão. – Vai continuar aí?

Lass estava hesitante quando aceitou a mão de Lupus e se levantou, mas ninguém conseguia acreditar que em vez de Lupus soltar a mão de Lass ele a agarrou. Lass fez algum som em protesto, mas Lupus o puxou.

– Ei! – Rey os chamou, já recuperada. – Não façam muito barulho temos crianças aqui!

Lupus parou e o olhar que dirigiu a ela a fez tremer.

– Vá se foder - ele disse e Lothos gritou algo sobre como era proibido falar palavrões, mas Lupus já estava arrastando Lass escada acima.

Os dois entraram no quarto de Lass e Lupus fechou a porta atrás dele.

– Mas o que diabos foi aquilo Lupus? – Lass não estava mais vermelho e olhava para o moreno sem saber o que fazer.

– Tudo foi culpa sua! – Lupus disse apontando um dedo para Lass, ele chegou perto dele e cutucou seu peito. – Se não tivesse feito aquela cara de “socorro” eu não teria feito nada!

– E quando eu fiz essa cara!?

– Ah, me desculpe irmãozinho, mas você a fez o tempo todo! – ele chegou tão perto que a ponta de seus narizes encostaram.

Lass tinha medo de fazer qualquer movimento naquele momento, será que Lupus não percebia o quão perto estavam? Talvez seu olhar o tenha denunciado e Lupus se afastou um pouco e suspirou.

– Você me deixa louco – disse e passou as mãos nos cabelos. Lass achou aquele movimento incrivelmente excitante. – Dá para parar?

– Hum? – Lass o olhou como se só tivesse percebido que ele estava falando naquele momento. – Não estava prestando atenção – Lass piscou os olhos e deu um sorriso culpado. – Poderia repetir?

Como esse pivete muda de humor tão rápido e... Ah que se dane tudo.

– Lupus? – Lass chamou quando percebeu o olhar estranho do maior. – Ei!

Lupus o agarrou pela cintura e encaixou sua cabeça na curva do pescoço de Lass.

– Você não tem noção de como é fofo não é? – disse e qualquer protesto que Lass pudesse fazer se perdeu com o beijo que Lupus deu em seu pescoço. – Você quer saber por que diabos eu fiz aquilo? – ele mordeu o lóbulo da orelha de Lass que se não estivesse sendo segurado por Lupus teria caído. – Por que só eu posso beijar você.

Suas bocas se encontraram e Lass não sabia o que fazer quando Lupus pediu passagem com a língua por isso continuou com os lábios selados.

– Você... – Lupus tinha a respiração ofegante e os olhos entreabertos. – Cooperar, Lass...

– É que... – Não podia dizer que não sabia beijar de língua, iria ser perturbado por ele pelo resto de suas vidas, mas nem precisou dizer nada.

– Não vá me dizer... – Lass abaixou a cabeça, mas Lupus pegou a ponta de seu queixo e o fez olhá-lo. – Lass não desvie o olhar... – Lass suspirou e olhou nos olhos dele. – Não vá me dizer que você nunca beijou?

Lass ficou tão vermelho que Lupus achou que estava passando mal. Ah caramba, Lupus pensou, ele é muito lindo para ser verdade. Ele suspirou e pensou que se Lass nunca beijou imagina ter feito as coisas que estava imaginando? Teria que ir com muita calma.

– Lass olha para mim – disse quando ele desviou novamente seu olhar. – Não faz nada ok? – Lass o lhe deu um olhar interrogativo – apenas faz o que eu fizer ok?

O coração de Lass batia tão rápido que achou que ia explodir. Apenas assentiu com a cabeça e Lupus retomou o beijo, dessa vez partiu levemente seus lábios quando sentiu o toque da língua do mais velho.

Nunca imaginou que um beijo pudesse deixá-lo confuso, quente, tonto e excitado ao mesmo tempo. Quando se separaram Lass respirou fundo.

– Bem... – sua voz era pouco mais que um sussurro. – Se for sempre assim eu não me importo de você ser o único a me beijar.

Lupus demorou um pouco a entender o que Lass estava dizendo, mas poucos segundos depois ele envolveu o menor em seus braços e o apertou contra seu peito. Lass disse que ele o estava sufocando, mas não o largou e logo sentiu os braços de Lass em sua cintura.

Lupus estava sorrindo e Lass também.

Bom... Isso foi um pouco confuso, Lass pensou, mas não me importo.

Acho que sou um idiota, mas não me importo, Lupus pensou.

...

– Eu achei que tinha dito para eles não fazerem muito barulho – disse Rey tampando sua cabeça com o travesseiro. Infelizmente, seu quarto era logo ao lado do de Lass.