Um Conto Amassado escrita por Debs


Capítulo 1
Um Conto Amassado




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Eu ando pelas ruas desertas dessa fria cidade sem saber que rumo tomar. Por mais que conheça as ruas tão bem como a palma da minha mão, me perco de vez em quando em meio à devaneios. Essa noite está com aquele sentimento de algo estranho, diferente das que geralmente eu saio assim, só para não saber onde vai dar. Meus cabelos voam enlouquecidos me cobrindo a visão de tempos em tempos, enquanto minhas roupas batem contra meu corpo sem parar. É uma noite feia, com vento que parece de tempestade. Deveria ter ficado em casa. Mas em casa é tudo tão morno, tão parado, tão sem-graça…
Assim, eu ando. E continuo andando. Por ruas mal-iluminadas onde até o som do trem chega. Acho que não é muito seguro andar por aqui à essa hora… Mas eu continuo. Procurando? Talvez eu esteja procurando algo. Alguma coisa. Alguém. Não sei dizer. Então começo a procurar nos poucos rostos que por mim passam, nas janelas abertas, na praça, nos carros.. Não sei o que procurar. Mas continuo procurando.
Passo uma pontezinha e continuo andando, parece que nunca vou chegar. Vou andando pela estradinha batida de terra enquanto olho às casas ao meu redor. Me espanto com o silêncio dali, muito diferente do lugar onde eu morava. Era calmo e vazio, mas o tipo de calmo e vazio que é confortável e que dá vontade de ficar por ali para sempre, só com o barulho do trem não-tão-ao-longe e do vento batendo nas folhas das árvores. Pronto. Cheguei. Paro em frente à uma casa conhecida com gramado na frente e um portão muito baixo que eu tinha certeza que servia só para impedir o cachorro de sair. Me pergunto se já trocaram a fechadura da porta da frente que estava quebrada. Provavelmente não. Depois de alguns longos segundos, ele abre a porta de trás e me olha de uma forma engraçada. Cabelos bagunçados, xícara de café na mão. Eu rio pensando que isso é bem a cara dele mesmo. Só faltava estar vendo Supernatural. Ou Transformers. Pffs.
-Oi?
-Oi~
Depois de um tempo pergunto se ainda tem café e ele dá o sorriso engraçado de novo e um passo para o lado para que eu possa entrar.
-Então… a gata ainda está por aqui?~
Nos sentamos no sofá, assistimos televisão enquanto tomamos nosso cafés e a gata dele se enrosca entre a gente. Conversamos sobre horas sobre muita coisa e nada em particular. Eu rio das piadas sem graça dele e ele ri da minha retardadisse. Rimos das histórias um do outro e ficamos com nostalgia da época que virávamos a noite conversando. Tudo está tão distante agora. Tão longe… Quando fica muito tarde para lembranças, filmes e tudo o mais, nos deitamos na cama-mais-macia-do-mundo e ele nos cobre com a manta que ele sabe ser minha preferida. Quando finalmente nos aninhamos, ele diz:
-Boa noite, gatinha.
E eu sorrio mais do que eu achava que poderia sorrir. Mais feliz do que achava que poderia ficar. Penso que sou muito monga mesmo. E penso, definitivamente, que era isso que eu procurava.
-Boa noite, lindinho.~


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