Era tarde, todos marcaram numa sorveteria ali perto da escola. Sexta-feira do sorvete, assim eles chamavam. Os quatro adolescentes foram sempre melhores amigos, desde a infância. Suas famílias eram apegadas, tanto na amizade quanto nos negócios. Eles estudavam juntos, eram conhecidos por toda a escola, assim também por todo o bairro. E hoje, era mais uma sexta à tarde que eles iam se encontrar.

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Eu não consegui responder a uma questão de matemática do grupo em que participo, e que, aliás, sou líder. Aquela dúvida me perseguiu durante todo o meu trajeto para casa. Quando me aproximei da entrada, meu celular toca: olho antes para saber quem é. Era Soph.

- Alô. – Falei.

- Mila, eu preciso de sua ajuda! – Soph estava com a voz desesperada, logo fiquei tensa.

- O que aconteceu?!

- Quebrei minha unha quando estava tirando meu sutiã! Aquela alça é do capeta! Preciso que compre unhas postiça para mim, urgente!

- Amiga, eu estou com uma dor de cabeça enorme... – Falei com a voz cansada de propósito. Não estava a fim de ir comprar unha postiça para a Soph, eu queria chegar a minha casa e resolver logo a questão de matemática.

- E agora? O que eu faço? Preciso de uma unha para a sexta-feira do sorvete! – “Meu Deus!”, pensei. Eu tinha esquecido, completamente, da sexta-feira do sorvete.

- Sei lá amiga, coloca macinha... Preciso desligar, ainda não estou em casa, estou a caminho dela.

- Tudo bem, então. Apesar de hoje eu ter treinado muito e meu corpo ter ficado todo dolorido, vou divar com a minha linda presença na sorveteria. Tchauzinho, Mila. – Soph era líder de torcida, logo treinava para os jogos de futebol.

- Tchau. – Percebi que hoje não ia ter tempo para fazer a questão que tanto queria, mas encontrar os amigos depois da escola para tomar sorvete é sempre interessante.

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Fui perguntar para minha mãe se ela, por um acaso, teria usado minhas unhas postiças que guardo justamente para um contratempo como esse. Mas no meio do caminho parei. Pensei bem, e me lembrei de que ela não estava em casa. Ela vive viajando, desfilando. Quando eu crescer quero ser igual a ela: uma modelo de sucesso, mesmo com a idade ultrapassada. Então dei meia-volta, entrei no meu quarto, abri meu closet e fui me arrumar para ir à sorveteria. Estava quase na hora. Antes olhei para o colar que ela me deu, estava escrito “Sophia e Margaret”: o meu nome e o dela.

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Será que alguém me escuta nessa casa? Perguntei-me logo depois que ninguém respondeu à minha outra pergunta, que antes fizera em voz alta. E não, ninguém nem ligou para o que eu disse, estavam ocupados. Então, minha única solução foi ir a pé para a sorveteria. Chegando lá encontrei Edu já sentado esperando os outros chegarem. Aproximei-me e bati de leve em suas costas.

- Quais as novidades, meu jovem? - Falei, logo me sentei do seu lado.

-Como vai, Léo? – Edu estava olhando o celular, então quando levantou a cabeça para falar comigo, ele estava com os olhos menores do que já eram.

- Estou bem, e o senhor? – Eu falava sempre em um tom brincalhão, esse era meu jeito de lidar com as pessoas que eu gosto e, com as que não gosto, sou mais brincalhão ainda.

- Estou bem. Ao que parece, as meninas vão se atrasar de novo.

- Conte-me uma novidade... Espera, lá vem a Mila.

Ela estava bonita como sempre: os cabelos negros, grandes e lisos soltos; seus óculos de grau que enfeitava o seu rosto e uma roupa formal, de menina comportada e inteligente.

- Como vão, garotos? – Ela falou ao se aproximar.

- Olá princesa. – Falei

- Senta aí, Mila. – Falou o Edu, logo ela se sentou do outro lado da mesa, de frente para ele.

- Sabe notícias da Soph? – Perguntei, só faltava ela chegar.

- Ah sim. Hoje mais cedo ela quebrou a unha quando estava tirando o sutiã. – Mila falou isso com um pingo de humor, mas, é claro, eu e o Edu rimos juntos.

- Trágico. – Comentei.

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Eu já estava esperando eles há muito tempo na sorveteria, não queria ficar em casa ouvindo meu pai falar sobre o futebol. Apesar de eu ser um jogador do time da escola, e bem conhecido por isso, não aguentava ele falando disso para tudo quanto é lado da casa. Logo saí mais cedo. E quando o Léo e a Mila chegaram, fiquei mais aliviado. Depois de um tempo a Soph chegou, ela parara em algum lugar para comprar unhas postiças.

- Gente, eu quero tirar uma foto. Tipo: vou colocar numa moldura e depois tirar cópia para nós quatro. – Soph falou.

- Tudo bem, vai ser com o meu celular, cheguem mais perto, vou tirar um selfie. – Léo sempre fora o mais brincalhão, admirava a capacidade dele de ser engraçado mesmo falando coisas simples. Não consigo ser assim, talvez pela imagem que passo para as pessoas: de um garoto durão, que joga futebol e é violento.

Aproximamos-nos dele. Na foto saí com a cara séria, mas com um pequeno sorriso saindo do canto da minha boca. Mila saiu, simplesmente, sorrindo. O Léo saiu piscando um dos olhos, e rindo ao mesmo tempo. A Soph saiu rindo, piscando um dos olhos e colocando a língua para fora, tudo ao mesmo tempo.

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Depois que cada um tomou seu sorvete e bateram um papo, se despediram e voltaram para casa. E no dia seguinte teria aula. Era aula extra, ou seja, facultativo, logo nenhum dos quatro resolveram ir. Combinaram de sair, beber e se divertir... Isso até certo ponto, pois não esperavam o que estaria por vir.