Loving In The Dead escrita por Miss Jackson


Capítulo 6
Um sonho...


Notas iniciais do capítulo

imaginem algo daora aqui



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Naquela manhã nós passamos fome. Eu havia acordado com Carl batendo na “minha” porta, chamando-me para ir em busca de suprimentos com ele. Eu guardei meu livro na mochila, joguei-a sobre as costas e dei uma olhada no meu reflexo no espelho. Eu não era mais a mesma.

Meus olhos – que pareciam duas esmeraldas – perderam o brilho e a felicidade. Meus longos cabelos castanho-avermelhados ficaram ainda maiores, estavam bagunçados. Meu rosto estava machucado e mais pálido do que o normal. Eu estava suja. Estava diferente. Eu perdera a alegria da vida, perdera todos os meus motivos para viver. Por que eu vivia, então? Seria tão fácil me matar. Os zumbis faziam plantão, eu poderia só me jogar para eles e dizer adeus, vida – ri com esse pensamento –, mas eu ao mesmo tempo não tinha tanta coragem. Alguma coisa me impedia de simplesmente me atirar aos Errantes. E eu adoraria descobrir o que era.

– Vi um mercado ali na esquina – disse Carl normalmente, como se nada tivesse acontecido, enquanto caminhávamos em busca de suprimentos.

– Típicos mercados na esquina – comentei, soltando uma risadinha.

– Tava mais pra bar.

– Bah – ri novamente. – Imagine os Errantes bêbados? Errantes bêbados que conseguem falar! – E imitei uma voz grossa: – Eu não quero cachaça, quero cérebros, quero órgãos. – E: – E aí, Zé. Me vê uma dose de sangue masculino aí.

Carl gargalhou.

– Seria hilário – disse ele, eu assenti em concordância. – “Uma dose de sangue masculino”, essa foi boa? Aí imagine nós chegando lá, dando tiros em todo mundo e os Errantes querendo nos pegar. “Órgãos, órgããããooooosssss”.

Nós dois gargalhamos.

Eu me sentia normal ao lado de Carl.

Só um pouquinho.

– Claro. Somos super desejáveis.

– Qualquer pessoa é desejável para os Errantes – retrucou Carl, apontando para um bar. – É ali. Cuidado, menina desejável.

– Cuidado, eles querem uma dose de sangue masculino.

E entramos no bar. Um Errante veio em nossa direção. Parecia aqueles homens velhos e gorduxos que vivem bebendo em bares. Cortei a cabeça dele antes que Carl pudesse suspirar. Nós dois abrimos as nossas mochilas e começamos a jogar suprimentos úteis para dentro delas.

Ouvimos o chiado de outros Errantes se aproximando.

– Rápido – disse Carl. Terminamos de pegar coisas úteis e saímos para a rua. A cena seguinte pareceu cena de filme: Eu golpeando os Errantes com a minha espada, os cabelos voando atrás de mim enquanto pingava suor do meu rosto. Carl golpeando-os com sua faca, também com o rosto pingando suor.

– Moleza – comentei, acertando um Errante bem na barriga com minha espada. Ele ficou preso. Comecei a rir, balançando a espada, e comecei a girar. O Errante parecendo irritado. Ah, qual é? Era divertido! – Dançando com Errantes.

Carl também riu. Continuei dançando até me cansar e largar o Errante, cortando sua cabeça e finalizando minha brincadeira. Embainhei a espada, nem ligando para os outros Errantes que se aproximavam, e eu e Carl apressamos o passo para a casa novamente.

– Pai? – chamou Carl, e nós entramos na casa. Rick estava ofegante, apoiava uma mão na cintura e seu corpo estava curvado para frente. – Pai!

– Rick! – Exclamei, largando a mochila e correndo até Rick ao lado de Carl. Segurei um lado de Rick e tentei entender o que está acontecendo. – Rick, Rick, respire.

– Não... Dá... – Disse ele, sempre tossindo, parecia estar prestes a vomitar.

– Ele tem asma? – perguntei para Carl, que balançou a cabeça negativamente. – Ei, ei, Rick, respire. Vamos, xerife. Expire, inspire, expire, inspire... – Fui imitando a expiração e inspiração. Rick me imitou. – Muito bem, xerife. Expire, inspire, expire, inspire... Ótimo! – Sorri, incentivando-o. Rick começava a melhorar. – Muito bem, muito bem! Continue assim. – Olhei para Carl. – Busque água para ele.

Carl me lançou um olhar admirado antes de ir até sua mochila, pegando uma garrafa de água que tínhamos na Prisão e entregando para Rick. Guiei Rick até o sofá e fiz ele sentar-se suavemente. Abri a garrafa e a entreguei para ele, que bebeu-a como se fosse a última coisa que ele fosse fazer na vida.

– Mais devagar, você pode se afogar – adverti, soltando um suspiro de alívio quando Rick gesticulou positivamente para mim, avisando que estava tudo bem. – Você foi ótimo, Rick. É assim que se faz. Se acontecer novamente e eu não... – Hesitei. – E eu não estiver presente, é, lembre-se disso. Expire e inspire.

– Expire e inspire – repetiu ele. – Obrigado, Lindsey, não sei o que me deu.

– Relaxe, Rick. Descanse agora, o.k? Vou ver se tem como eu preparar alguma coisa para você comer.

– Sopa – disse ele subitamente. – Minha garganta está arranhada de tanto que eu tossi.

– Como quiser. – E peguei minha mochila e a de Carl, indo para a cozinha e despejando tudo o que conseguimos no bar em cima da mesa. – Sopa enlatada novamente. Acho que vai dar certo... – Murmurei, abrindo a latinha de sopa e mexendo-a com uma colher para misturar um pouco as coisas. Deixei a colher ali dentro e assim que ergui a cabeça para porta Carl estava ali, escorado na porta, os braços cruzados sob o peito e as sobrancelhas erguidas em um tom irônico.

– Não sabia que você conseguia curar as pessoas tão... Bem.

– Eu disse que minha mãe era enfermeira – disse eu, dando de ombros. – Meu pai tinha asma e não trabalhava. Quando a mamãe saía para trabalhar eu ficava tomando conta do meu pai. Ele parecia um bebezão. – Eu ri sozinha. – Era assim que eu o chamava. Ele me chamava de “minha bebezinha”. Mamãe me ensinou o que fazer quando ele tivesse crises de asma. Disse que eu tinha que ser uma heroína, seguir o exemplo dela. Sempre fazer o bem.

– Bonito.

– É, agora dá licença, vou levar a sopa para o Rick – disse, indo até a sala e entregando a sopa para o Rick. – Qualquer coisa grite. Vou estar lá fora dando um jeito nos Errantes.

– Leve o Carl junto.

– Não – recusei. – Melhor, deixe-o com o senhor. Mas já disse, se precisarem gritem.

– Lindsey, não é seguro ir lá sozinha e...

– Xerife – interrompi-o. – Eu sei o que estou fazendo, o.k? Amadureci cedo demais. Lidei com esses monstros sozinha até então.

– Mas você tinha a Ruby.

– Não toque no nome dela – pedi, mas minha fala mais parecera uma ameaça “Não toque no nome da minha cadela ou eu te afogo em um vaso sanitário”. Era isso que eu dizia para meus colegas de escola depois que meu pai morrera, só que era sobre ele, óbvio. “Não toquem no nome do meu pai, jamais, ou eu afogarei vocês em um vaso sanitário”. Era engraçado ver as caras de espanto deles. O pior é que eu faria isso mesmo, se fosse necessário.

Saí para a rua.

Insegura e agressiva, foram as palavras mínimas que minha professora de geografia me descrevera no sétimo ano. É, até que, de certa forma, sempre fez sentido. Mas foi ficar bem mais claro quando a Praga começou.

Naquela noite eu tive um pesadelo.

Eu estava de volta ao momento de que minha mãe estava se transformando. Meu irmãozinho chorava loucamente no meu colo. Ele esperneava. Acho que até mesmo para ele, uma criança de um ano, a cena de ver a mãe se transformando à um monstro quase decapitado era perturbadora. Sua cabeça tombara para o lado e, mesmo morrendo, minha mãe chorava loucamente, o que só fazia eu e Miles, meu irmão, chorarmos mais ainda.

– NÃO – berrei. Ruby, que estava deitada ao lado da minha mãe, olhando-a tristemente, deu um pulo de susto. – M-M-Mãe...

Não sei como ela conseguira falar com a cabeça quase decapitada. Mas ela falou, em uma voz rouca, mas clara:

– Lindsey, meu amor...

– Mãe, não! Por favor, você me ensinou o básico de como salvar as pessoas, eu posso... Posso tentar te... Te salvar.

– Eu ensinei o básico. Você não pode salvar uma pessoa decapitada, não com essa idade.

– Não, não, não! – Eu balançava minha cabeça negativamente. Miles fungou e se calou, mas as lágrimas ainda escorriam por seu rostinho gorduxo. – Mãe, por que as coisas precisam morrer? Todas as coisas com vida... Elas... Elas morrem.

– Porque é a lei da vida, Lindsey. Nascer. Viver. Morrer. Foi o que Deus quis para nós. Nunca contrarie Deus, confie sempre nEle, pois Ele vai te salvar, acredite. – Fez uma pequena pausa e continuou: – Salve-se, minha querida Lindsey. Orgulhe sua mãe. Não deixe a Praga te mudar. Você sempre vai ter um coração bom, querida. Prometa-me.

Em seguida eu falei, em uma voz insegura e chorosa:

– Eu prometo, mamãe.


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